Questões de Português - Flexão verbal de modo (indicativo, subjuntivo, imperativo) para Concurso

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Q2472523 Português
Ética e a vocação para a excelência


       Realização, felicidade. Quem não quer? Mas como chegar lá sem saber exatamente no que consistem a realização e a felicidade? Diversos sistemas filosóficos se ocuparam deste tema e ofereceram as mais diversas respostas, muitas vezes opostas entre si. Para uns, a felicidade estaria na fruição ilimitada dos prazeres; para outros, na negação completa destes mesmos prazeres. Para uns, a felicidade de uma pessoa é indissociável da felicidade dos demais; para outros, a felicidade individual pode justificar até mesmo que se passe o outro para trás. Em comum entre todas essas noções está a constatação de que a felicidade e a realização passam pelo modo como nos comportamos.
 
          Atualmente, fala-se em ética quase tanto quanto em felicidade ou realização. E a ética é frequentemente associada a um conjunto de normas, uma lista de “certos” e “errados” que balizam nosso comportamento no relacionamento conosco mesmos, com nossa família, nossos círculos de amigos e de trabalho, e no espaço público. Ser uma pessoa “ética” significaria se comportar de acordo com essas normas. Não é exatamente uma maneira errada de enxergar a questão, mas é uma maneira insuficiente.

      Uma ética entendida assim, em termos normativos, tende a se tornar uma ética negativa, uma ética de limites, em que a grande preocupação é traçar (e testar) a linha do “não pode”, o limite que separa o certo do errado, com a convicção implícita de que simplesmente estar do lado “bom” desse limite será suficiente. Para fazer uma analogia com a vida escolar, é claro que ser aprovado com a média mínima exigida pode ser aceitável quando a disciplina é especialmente difícil. Mas deveríamos transformar o “passar raspando” em um ideal, na chave da realização de um estudante? Deveríamos nos contentar em “passar raspando” pela vida?

      E a consequência de pensar na ética como a delimitação de linhas separando o certo e o errado é acabar olhando as situações no esquema “preto ou branco”: matar uma pessoa num acidente de trânsito se torna tão grave quanto ordenar um genocídio; uma “mentirinha social”, como aquele elogio nada sincero, é tão condenável quanto uma traição. A vida não é assim: dentro das ações condenáveis, há aquelas mais ou menos graves, e o mesmo vale para os atos louváveis.

      Uma ética normativa tende também a ser vista como um saber de especialistas, de experts, que sabem lidar com um complexo de normas, interpretá-las e aplicá-las às situações concretas. Ora, a experiência universal nos mostra que pessoas muito simples, sem qualquer formação especial, são com frequência muito mais retas que outras que usam sua formação para distorcer e justificar o injustificável. Por fim, para cada um de nós, uma moral entendida assim, em termos normativos, acaba dando à ética a condição de algo útil, necessário, mas “que me limita”. Ou seja, como uma exigência externa, requerida pela vida em sociedade, mas não tão grata, nem tão iluminadora da minha existência.

        Mas haveria alguma alternativa a essa visão, limitada e pouco atraente, que é a mais difundida e que chamamos de normativa?

      Sim, mas é preciso um bom recuo no tempo. É entre os antigos gregos que se encontra uma intuição acerca da moral que nos parece fascinante. Vários de seus mais ilustres pensadores viam essa questão – e influenciaram amplamente seus contemporâneos – de um modo bastante diverso do que apresentamos acima. Quando, entre eles – e entre os antigos em geral –, se refletia acerca do que depois se passou a chamar de ética, não se pensava em um conjunto de regras, em um emaranhado de normas que importasse conhecer.

       Em que se pensava? Em excelência, na busca do melhor e mais perfeito. Pensava-se na ciência da indagação sobre o que o homem está chamado a ser, sobre o que é a realização integral e plena do homem. A ética não era questão de cumprir normas, de se perguntar “posso ou não posso?”. Entendia-se a ética como a resposta à pergunta “o que devo ser?”. E a resposta, simples, mas profunda, era: o indivíduo é chamado a ser o melhor que ele puder ser; a não se contentar com menos do que com a excelência.

        De que excelência se tratava? A que, especificamente, a palavra arete (excelência moral) se referia? A todas as que podem ser alcançadas pelo homem? No estudo, no trabalho, em um hobby, enfim, em qualquer atividade humana? Não precisamente. Há muitas “excelências”: no esporte, na arte, nos estudos, na ciência. Mas o desempenho excepcional em certos campos não está ao alcance de todos: poucos serão, um dia, campeões olímpicos ou prêmios Nobel. Mais do que isso, ainda: o fato de se alcançar tal nível de performance nesses campos parciais, setorizados, não torna uma pessoa necessariamente melhor como pessoa. Todos temos experiência e notícia de como muitos gênios são canalhas.

          A ética, portanto, não trata dessas “excelências”, mas de um tipo muito específico de excelência que, sim, está à mão de todo homem ou mulher, e que, sim, os torna melhores como pessoas. Quem no-la descreve é um autor estoico do século 3º, o imperador romano Marco Aurélio: “muitas coisas dependem por inteiro de ti: a sinceridade, a dignidade, a resistência à dor, (...) a aceitação do destino, (...) a benevolência, a liberalidade, a simplicidade, a seriedade, a magnanimidade. Observa quantas coisas podes já conseguir sem que caiba alegar pretextos de incapacidade natural ou inaptidão, e por desgraça permaneces voluntariamente por baixo das tuas possibilidades. Por acaso te vês obrigado a murmurar, a ser avaro, a adular, a culpar o teu corpo, a dar-lhe satisfações, a ser frívolo e a submeter a tua alma a tanta agitação, porque estás defeituosamente constituído? Não, pelos deuses! Faz tempo que podias haver-te afastado desses defeitos”.

         Marco Aurélio está se referindo às virtudes, e a famosa obra de Aristóteles Ética a Nicômaco é exatamente isso: um tratado sobre as diferentes virtudes, qualidades que se adquirem, que se forjam e que, em todas as épocas, foram admiradas (ainda que por vezes se desse mais atenção a umas que a outras). A elas se refere à ética e, para toda a experiência do ocidente e boa parte do oriente, as virtudes foram vistas como o fim da educação do homem.

       E isso nos traz de volta ao tema da realização e da felicidade, que, para Aristóteles, consiste em ser aquilo para o qual se foi chamado – o famoso “torna-te aquilo que és” do poeta Píndaro. Isto é, justamente a excelência na virtude. O homem cabal é, sobretudo, o homem virtuoso, mesmo quando seus dotes intelectuais ou sua formação cultural não sejam os melhores ou mais completos. E, se as virtudes são inúmeras, ainda mais variados são os caminhos para a excelência – tantos quantos há seres humanos, poderíamos dizer. Cada pessoa, com seus talentos e circunstâncias, tem sua maneira particular de atingir este ideal. O que une todos esses caminhos é a certeza de que na vivência das virtudes em alto nível (a eupraxia, ou o agir bem) está o caminho para a felicidade. Recuperar essa ética da excelência é um passo importantíssimo se queremos construir uma sociedade preocupada com o bem comum.




(Disponível em: gazetadopovo.com.br. Acesso em: 10/02/2024.)

Em relação à colocação do pronome oblíquo e às flexões verbais em “[...] torna-te aquilo que és [...]” (12º§), assinale a alternativa correta.
Alternativas
Q2472520 Português
Ética e a vocação para a excelência


       Realização, felicidade. Quem não quer? Mas como chegar lá sem saber exatamente no que consistem a realização e a felicidade? Diversos sistemas filosóficos se ocuparam deste tema e ofereceram as mais diversas respostas, muitas vezes opostas entre si. Para uns, a felicidade estaria na fruição ilimitada dos prazeres; para outros, na negação completa destes mesmos prazeres. Para uns, a felicidade de uma pessoa é indissociável da felicidade dos demais; para outros, a felicidade individual pode justificar até mesmo que se passe o outro para trás. Em comum entre todas essas noções está a constatação de que a felicidade e a realização passam pelo modo como nos comportamos.
 
          Atualmente, fala-se em ética quase tanto quanto em felicidade ou realização. E a ética é frequentemente associada a um conjunto de normas, uma lista de “certos” e “errados” que balizam nosso comportamento no relacionamento conosco mesmos, com nossa família, nossos círculos de amigos e de trabalho, e no espaço público. Ser uma pessoa “ética” significaria se comportar de acordo com essas normas. Não é exatamente uma maneira errada de enxergar a questão, mas é uma maneira insuficiente.

      Uma ética entendida assim, em termos normativos, tende a se tornar uma ética negativa, uma ética de limites, em que a grande preocupação é traçar (e testar) a linha do “não pode”, o limite que separa o certo do errado, com a convicção implícita de que simplesmente estar do lado “bom” desse limite será suficiente. Para fazer uma analogia com a vida escolar, é claro que ser aprovado com a média mínima exigida pode ser aceitável quando a disciplina é especialmente difícil. Mas deveríamos transformar o “passar raspando” em um ideal, na chave da realização de um estudante? Deveríamos nos contentar em “passar raspando” pela vida?

      E a consequência de pensar na ética como a delimitação de linhas separando o certo e o errado é acabar olhando as situações no esquema “preto ou branco”: matar uma pessoa num acidente de trânsito se torna tão grave quanto ordenar um genocídio; uma “mentirinha social”, como aquele elogio nada sincero, é tão condenável quanto uma traição. A vida não é assim: dentro das ações condenáveis, há aquelas mais ou menos graves, e o mesmo vale para os atos louváveis.

      Uma ética normativa tende também a ser vista como um saber de especialistas, de experts, que sabem lidar com um complexo de normas, interpretá-las e aplicá-las às situações concretas. Ora, a experiência universal nos mostra que pessoas muito simples, sem qualquer formação especial, são com frequência muito mais retas que outras que usam sua formação para distorcer e justificar o injustificável. Por fim, para cada um de nós, uma moral entendida assim, em termos normativos, acaba dando à ética a condição de algo útil, necessário, mas “que me limita”. Ou seja, como uma exigência externa, requerida pela vida em sociedade, mas não tão grata, nem tão iluminadora da minha existência.

        Mas haveria alguma alternativa a essa visão, limitada e pouco atraente, que é a mais difundida e que chamamos de normativa?

      Sim, mas é preciso um bom recuo no tempo. É entre os antigos gregos que se encontra uma intuição acerca da moral que nos parece fascinante. Vários de seus mais ilustres pensadores viam essa questão – e influenciaram amplamente seus contemporâneos – de um modo bastante diverso do que apresentamos acima. Quando, entre eles – e entre os antigos em geral –, se refletia acerca do que depois se passou a chamar de ética, não se pensava em um conjunto de regras, em um emaranhado de normas que importasse conhecer.

       Em que se pensava? Em excelência, na busca do melhor e mais perfeito. Pensava-se na ciência da indagação sobre o que o homem está chamado a ser, sobre o que é a realização integral e plena do homem. A ética não era questão de cumprir normas, de se perguntar “posso ou não posso?”. Entendia-se a ética como a resposta à pergunta “o que devo ser?”. E a resposta, simples, mas profunda, era: o indivíduo é chamado a ser o melhor que ele puder ser; a não se contentar com menos do que com a excelência.

        De que excelência se tratava? A que, especificamente, a palavra arete (excelência moral) se referia? A todas as que podem ser alcançadas pelo homem? No estudo, no trabalho, em um hobby, enfim, em qualquer atividade humana? Não precisamente. Há muitas “excelências”: no esporte, na arte, nos estudos, na ciência. Mas o desempenho excepcional em certos campos não está ao alcance de todos: poucos serão, um dia, campeões olímpicos ou prêmios Nobel. Mais do que isso, ainda: o fato de se alcançar tal nível de performance nesses campos parciais, setorizados, não torna uma pessoa necessariamente melhor como pessoa. Todos temos experiência e notícia de como muitos gênios são canalhas.

          A ética, portanto, não trata dessas “excelências”, mas de um tipo muito específico de excelência que, sim, está à mão de todo homem ou mulher, e que, sim, os torna melhores como pessoas. Quem no-la descreve é um autor estoico do século 3º, o imperador romano Marco Aurélio: “muitas coisas dependem por inteiro de ti: a sinceridade, a dignidade, a resistência à dor, (...) a aceitação do destino, (...) a benevolência, a liberalidade, a simplicidade, a seriedade, a magnanimidade. Observa quantas coisas podes já conseguir sem que caiba alegar pretextos de incapacidade natural ou inaptidão, e por desgraça permaneces voluntariamente por baixo das tuas possibilidades. Por acaso te vês obrigado a murmurar, a ser avaro, a adular, a culpar o teu corpo, a dar-lhe satisfações, a ser frívolo e a submeter a tua alma a tanta agitação, porque estás defeituosamente constituído? Não, pelos deuses! Faz tempo que podias haver-te afastado desses defeitos”.

         Marco Aurélio está se referindo às virtudes, e a famosa obra de Aristóteles Ética a Nicômaco é exatamente isso: um tratado sobre as diferentes virtudes, qualidades que se adquirem, que se forjam e que, em todas as épocas, foram admiradas (ainda que por vezes se desse mais atenção a umas que a outras). A elas se refere à ética e, para toda a experiência do ocidente e boa parte do oriente, as virtudes foram vistas como o fim da educação do homem.

       E isso nos traz de volta ao tema da realização e da felicidade, que, para Aristóteles, consiste em ser aquilo para o qual se foi chamado – o famoso “torna-te aquilo que és” do poeta Píndaro. Isto é, justamente a excelência na virtude. O homem cabal é, sobretudo, o homem virtuoso, mesmo quando seus dotes intelectuais ou sua formação cultural não sejam os melhores ou mais completos. E, se as virtudes são inúmeras, ainda mais variados são os caminhos para a excelência – tantos quantos há seres humanos, poderíamos dizer. Cada pessoa, com seus talentos e circunstâncias, tem sua maneira particular de atingir este ideal. O que une todos esses caminhos é a certeza de que na vivência das virtudes em alto nível (a eupraxia, ou o agir bem) está o caminho para a felicidade. Recuperar essa ética da excelência é um passo importantíssimo se queremos construir uma sociedade preocupada com o bem comum.




(Disponível em: gazetadopovo.com.br. Acesso em: 10/02/2024.)

“Mas haveria alguma alternativa a essa visão, limitada e pouco atraente, que é a mais difundida e que chamamos de normativa?” (6º§) Quanto à flexão do trecho anterior, assinale a afirmativa correta.
Alternativas
Q2472518 Português
Ética e a vocação para a excelência


       Realização, felicidade. Quem não quer? Mas como chegar lá sem saber exatamente no que consistem a realização e a felicidade? Diversos sistemas filosóficos se ocuparam deste tema e ofereceram as mais diversas respostas, muitas vezes opostas entre si. Para uns, a felicidade estaria na fruição ilimitada dos prazeres; para outros, na negação completa destes mesmos prazeres. Para uns, a felicidade de uma pessoa é indissociável da felicidade dos demais; para outros, a felicidade individual pode justificar até mesmo que se passe o outro para trás. Em comum entre todas essas noções está a constatação de que a felicidade e a realização passam pelo modo como nos comportamos.
 
          Atualmente, fala-se em ética quase tanto quanto em felicidade ou realização. E a ética é frequentemente associada a um conjunto de normas, uma lista de “certos” e “errados” que balizam nosso comportamento no relacionamento conosco mesmos, com nossa família, nossos círculos de amigos e de trabalho, e no espaço público. Ser uma pessoa “ética” significaria se comportar de acordo com essas normas. Não é exatamente uma maneira errada de enxergar a questão, mas é uma maneira insuficiente.

      Uma ética entendida assim, em termos normativos, tende a se tornar uma ética negativa, uma ética de limites, em que a grande preocupação é traçar (e testar) a linha do “não pode”, o limite que separa o certo do errado, com a convicção implícita de que simplesmente estar do lado “bom” desse limite será suficiente. Para fazer uma analogia com a vida escolar, é claro que ser aprovado com a média mínima exigida pode ser aceitável quando a disciplina é especialmente difícil. Mas deveríamos transformar o “passar raspando” em um ideal, na chave da realização de um estudante? Deveríamos nos contentar em “passar raspando” pela vida?

      E a consequência de pensar na ética como a delimitação de linhas separando o certo e o errado é acabar olhando as situações no esquema “preto ou branco”: matar uma pessoa num acidente de trânsito se torna tão grave quanto ordenar um genocídio; uma “mentirinha social”, como aquele elogio nada sincero, é tão condenável quanto uma traição. A vida não é assim: dentro das ações condenáveis, há aquelas mais ou menos graves, e o mesmo vale para os atos louváveis.

      Uma ética normativa tende também a ser vista como um saber de especialistas, de experts, que sabem lidar com um complexo de normas, interpretá-las e aplicá-las às situações concretas. Ora, a experiência universal nos mostra que pessoas muito simples, sem qualquer formação especial, são com frequência muito mais retas que outras que usam sua formação para distorcer e justificar o injustificável. Por fim, para cada um de nós, uma moral entendida assim, em termos normativos, acaba dando à ética a condição de algo útil, necessário, mas “que me limita”. Ou seja, como uma exigência externa, requerida pela vida em sociedade, mas não tão grata, nem tão iluminadora da minha existência.

        Mas haveria alguma alternativa a essa visão, limitada e pouco atraente, que é a mais difundida e que chamamos de normativa?

      Sim, mas é preciso um bom recuo no tempo. É entre os antigos gregos que se encontra uma intuição acerca da moral que nos parece fascinante. Vários de seus mais ilustres pensadores viam essa questão – e influenciaram amplamente seus contemporâneos – de um modo bastante diverso do que apresentamos acima. Quando, entre eles – e entre os antigos em geral –, se refletia acerca do que depois se passou a chamar de ética, não se pensava em um conjunto de regras, em um emaranhado de normas que importasse conhecer.

       Em que se pensava? Em excelência, na busca do melhor e mais perfeito. Pensava-se na ciência da indagação sobre o que o homem está chamado a ser, sobre o que é a realização integral e plena do homem. A ética não era questão de cumprir normas, de se perguntar “posso ou não posso?”. Entendia-se a ética como a resposta à pergunta “o que devo ser?”. E a resposta, simples, mas profunda, era: o indivíduo é chamado a ser o melhor que ele puder ser; a não se contentar com menos do que com a excelência.

        De que excelência se tratava? A que, especificamente, a palavra arete (excelência moral) se referia? A todas as que podem ser alcançadas pelo homem? No estudo, no trabalho, em um hobby, enfim, em qualquer atividade humana? Não precisamente. Há muitas “excelências”: no esporte, na arte, nos estudos, na ciência. Mas o desempenho excepcional em certos campos não está ao alcance de todos: poucos serão, um dia, campeões olímpicos ou prêmios Nobel. Mais do que isso, ainda: o fato de se alcançar tal nível de performance nesses campos parciais, setorizados, não torna uma pessoa necessariamente melhor como pessoa. Todos temos experiência e notícia de como muitos gênios são canalhas.

          A ética, portanto, não trata dessas “excelências”, mas de um tipo muito específico de excelência que, sim, está à mão de todo homem ou mulher, e que, sim, os torna melhores como pessoas. Quem no-la descreve é um autor estoico do século 3º, o imperador romano Marco Aurélio: “muitas coisas dependem por inteiro de ti: a sinceridade, a dignidade, a resistência à dor, (...) a aceitação do destino, (...) a benevolência, a liberalidade, a simplicidade, a seriedade, a magnanimidade. Observa quantas coisas podes já conseguir sem que caiba alegar pretextos de incapacidade natural ou inaptidão, e por desgraça permaneces voluntariamente por baixo das tuas possibilidades. Por acaso te vês obrigado a murmurar, a ser avaro, a adular, a culpar o teu corpo, a dar-lhe satisfações, a ser frívolo e a submeter a tua alma a tanta agitação, porque estás defeituosamente constituído? Não, pelos deuses! Faz tempo que podias haver-te afastado desses defeitos”.

         Marco Aurélio está se referindo às virtudes, e a famosa obra de Aristóteles Ética a Nicômaco é exatamente isso: um tratado sobre as diferentes virtudes, qualidades que se adquirem, que se forjam e que, em todas as épocas, foram admiradas (ainda que por vezes se desse mais atenção a umas que a outras). A elas se refere à ética e, para toda a experiência do ocidente e boa parte do oriente, as virtudes foram vistas como o fim da educação do homem.

       E isso nos traz de volta ao tema da realização e da felicidade, que, para Aristóteles, consiste em ser aquilo para o qual se foi chamado – o famoso “torna-te aquilo que és” do poeta Píndaro. Isto é, justamente a excelência na virtude. O homem cabal é, sobretudo, o homem virtuoso, mesmo quando seus dotes intelectuais ou sua formação cultural não sejam os melhores ou mais completos. E, se as virtudes são inúmeras, ainda mais variados são os caminhos para a excelência – tantos quantos há seres humanos, poderíamos dizer. Cada pessoa, com seus talentos e circunstâncias, tem sua maneira particular de atingir este ideal. O que une todos esses caminhos é a certeza de que na vivência das virtudes em alto nível (a eupraxia, ou o agir bem) está o caminho para a felicidade. Recuperar essa ética da excelência é um passo importantíssimo se queremos construir uma sociedade preocupada com o bem comum.




(Disponível em: gazetadopovo.com.br. Acesso em: 10/02/2024.)

“Faz tempo que podias haver-te afastado desses defeitos.” (10º§) A flexão do verbo “fazer” está de acordo com as normas gramaticais; analise-as.

I. Talvez __________ uma viagem para comemorar a promoção dada pela empresa. II. Acredito que os presentes ____________ em apenas uma caixa. III. Quando as crianças ____________ do projeto, elas ficarão contentes.

Assinale a alternativa que completa correta e sequencialmente as frases anteriores.
Alternativas
Q2471867 Português
Leia o Texto 1 para responder à questão.

Texto 1

Apenas três dos 5.570 municípios brasileiros têm mais pessoas morando em apartamentos do que em casas, de acordo com dados do Censo Demográfico 2022 divulgado hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Santos (SP), Balneário Camboriú (SC) e São Caetano do Sul (SP). São essas as três cidades que abrigam mais habitantes em apartamentos do que em casas. Apesar de 84,8% da população brasileira morar em casas, há uma crescente tendência de viver em prédios. Hoje, são 25,2 milhões de pessoas vivendo em apartamentos.
Em 2022, moradores de apartamentos eram 12,5% do total da população, um aumento em relação a 2010 (8,5%). Na comparação com o Censo 2000 (7,6%), a proporção quase dobrou.
O índice maior é o do Distrito Federal (28,7%). Já no Piauí, a situação é inversa: 95,6% residem em casas. A proporção de paulistanos que moram em apartamentos cresceu 26,6% em 12 anos. O número de habitantes em moradias verticais, na cidade de São Paulo, passou de 2,6 milhões para 3,3 milhões, na comparação com a pesquisa realizada em 2010. São 700 mil pessoas a mais.

Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimasnoticias/2024/02/23/ibge-tipo-de-domicilio.htm>. Acesso em: 23 fev. 2024.
[Adaptado].
O uso do acento circunflexo no primeiro período do texto deve-se ao fato de o verbo ‘ter’ estar conjugado na 
Alternativas
Q2471462 Português
Texto 1 - SOBRE AMAR E OUVIR
Rubem Alves

        Amamos não a pessoa que fala bonito, mas a pessoa que escuta bonito... A arte de amar e a arte de ouvir estão intimamente ligadas. Não é possível amar uma pessoa que não sabe ouvir. Os falantes que julgam que por sua fala bonita serão amados são uns tolos. Estão condenados à solidão.
        Quem só fala e não sabe ouvir é um chato... O ato de falar é um ato masculino. Fala é falus: algo que sai, se alonga e procura um orifício onde entrar, o ouvido... Já o ato de ouvir é feminino: o ouvido é um vazio que se permite ser penetrado.
        Não me entenda mal. Não disse que fala é coisa de homem e ouvir é coisa de mulher. Todos nós somos masculinos e femininos ao mesmo tempo. Xerazade, quando contava as estórias das 1001 noites para o sultão, estava carinhosamente penetrando os vazios femininos do machão. E foi dessa escuta feminina do sultão que surgiu o amor. Não há amor que resista ao falatório.

Disponível em https://www.pensador.com/cronicas_curtas/ acesso em 17 de mar. De 2024.
Marque a alternativa em que o verbo sublinhado está no pretérito imperfeito do modo indicativo:
Alternativas
Respostas
1: C
2: D
3: B
4: C
5: C