Questões de Concurso Público SEJUSP-MG 2022 para Policial Penal - Agente Penitenciário
Foram encontradas 6 questões
Ano: 2022
Banca:
SELECON
Órgão:
SEJUSP-MG
Prova:
SELECON - 2022 - SEJUSP-MG - Policial Penal - Agente Penitenciário |
Q1881044
Português
Texto associado
TEXTO I
A resistência (trecho)
Isto não é uma história. Isto é história.
Isto é história e, no entanto, quase tudo o que tenho ao
meu dispor é a memória, noções fugazes de dias tão remotos,
impressões anteriores à consciência e à linguagem, resquícios
indigentes que eu insisto em malversar em palavras. Não se
trata aqui de uma preocupação abstrata, embora de abstrações
eu tanto me valha: procurei meu irmão no pouco que escrevi
até o momento e não o encontrei em parte alguma. Alguma
ideia talvez lhe seja justa, alguma descrição porventura o
evoque, dissipei em parágrafos sinuosos uns poucos dados
ditos verídicos, mais nada. Não se depreenda desta observação
desnecessária, ao menos por enquanto, a minha ingenuidade:
sei bem que nenhum livro jamais poderá contemplar ser humano
nenhum, jamais constituirá em papel e tinta sua existência feita
de sangue e de carne. Mas o que digo aqui é algo mais grave,
não é um formalismo literário: falei do temor de perder meu irmão
e sinto que o perco a cada frase.
Por um instante me confundo, esqueço que também as
coisas precedem as palavras, que tratar de acessá-las implicará
sempre novas falácias, e, como antes pelo texto, parto por este
apartamento à procura de rastros do meu irmão, atrás de algo
que me restitua sua realidade. Não estou em sua casa, a casa
dos meus pais onde o imagino fechado no quarto, não posso
bater à sua porta. Milhares de quilômetros nos separam, um
país inteiro nos separa, mas tenho a meu favor o estranho
hábito de nossa mãe de ir deixando, pelas casas da família,
objetos que nos mantenham em contato. Neste apartamento
de Buenos Aires ninguém mora. Desde a morte dos meus avós
ele é só uma estância de passagem, encruzilhada de familiares
distantes, distraídos, apressados, esquecidos da existência dos
outros. Encontro um álbum de fotos cruzado na estante, largado
no ângulo exato que o faça casual. Tenho que virar algumas
páginas para que enfim me assalte o rosto do meu irmão, para
que enfim me surpreenda o que eu já esperava.
Julián Fuks
(Extraído de: A resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2015)
“Isto não é uma história. Isto é história.” (1º parágrafo)
No primeiro parágrafo, a palavra “uma” é omitida na segunda frase.
O uso e a omissão do artigo, em sequência, configuram um recurso linguístico que destaca o seguinte aspecto da narrativa:
No primeiro parágrafo, a palavra “uma” é omitida na segunda frase.
O uso e a omissão do artigo, em sequência, configuram um recurso linguístico que destaca o seguinte aspecto da narrativa:
Ano: 2022
Banca:
SELECON
Órgão:
SEJUSP-MG
Prova:
SELECON - 2022 - SEJUSP-MG - Policial Penal - Agente Penitenciário |
Q1881045
Português
Texto associado
TEXTO I
A resistência (trecho)
Isto não é uma história. Isto é história.
Isto é história e, no entanto, quase tudo o que tenho ao
meu dispor é a memória, noções fugazes de dias tão remotos,
impressões anteriores à consciência e à linguagem, resquícios
indigentes que eu insisto em malversar em palavras. Não se
trata aqui de uma preocupação abstrata, embora de abstrações
eu tanto me valha: procurei meu irmão no pouco que escrevi
até o momento e não o encontrei em parte alguma. Alguma
ideia talvez lhe seja justa, alguma descrição porventura o
evoque, dissipei em parágrafos sinuosos uns poucos dados
ditos verídicos, mais nada. Não se depreenda desta observação
desnecessária, ao menos por enquanto, a minha ingenuidade:
sei bem que nenhum livro jamais poderá contemplar ser humano
nenhum, jamais constituirá em papel e tinta sua existência feita
de sangue e de carne. Mas o que digo aqui é algo mais grave,
não é um formalismo literário: falei do temor de perder meu irmão
e sinto que o perco a cada frase.
Por um instante me confundo, esqueço que também as
coisas precedem as palavras, que tratar de acessá-las implicará
sempre novas falácias, e, como antes pelo texto, parto por este
apartamento à procura de rastros do meu irmão, atrás de algo
que me restitua sua realidade. Não estou em sua casa, a casa
dos meus pais onde o imagino fechado no quarto, não posso
bater à sua porta. Milhares de quilômetros nos separam, um
país inteiro nos separa, mas tenho a meu favor o estranho
hábito de nossa mãe de ir deixando, pelas casas da família,
objetos que nos mantenham em contato. Neste apartamento
de Buenos Aires ninguém mora. Desde a morte dos meus avós
ele é só uma estância de passagem, encruzilhada de familiares
distantes, distraídos, apressados, esquecidos da existência dos
outros. Encontro um álbum de fotos cruzado na estante, largado
no ângulo exato que o faça casual. Tenho que virar algumas
páginas para que enfim me assalte o rosto do meu irmão, para
que enfim me surpreenda o que eu já esperava.
Julián Fuks
(Extraído de: A resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2015)
No segundo parágrafo, o narrador indica que há uma
expectativa em sua busca.
Em relação a essa expectativa, é possível reconhecer um sentimento de:
Em relação a essa expectativa, é possível reconhecer um sentimento de:
Ano: 2022
Banca:
SELECON
Órgão:
SEJUSP-MG
Prova:
SELECON - 2022 - SEJUSP-MG - Policial Penal - Agente Penitenciário |
Q1881050
Português
Texto associado
TEXTO II
Arte e cirurgia estética
A prática da cirurgia estética, tal como vem sendo
intensamente exercida na cultura contemporânea, visa a adequar
um corpo aos valores exaltados pela cultura. Esta constrói,
assim, um lugar estético previamente definido e exalta-o como
norma; os que não estiverem adequados a essa construção
são marginalizados, estão à margem, isto é, fora do lugar. A
experiência subjetiva – negativa – que provocará a demanda
pela cirurgia estética é portanto a experiência de uma atopia, de
um estar fora do lugar, de um não ter lugar. A cirurgia estética
então aparece como o instrumento que a cultura disponibiliza
para que as pessoas tornem-se adequadas ao lugar, ponham
fim à sensação existencialmente desconfortável da atopia.
Curiosamente, a precondição subjetiva para uma experiência
de arte é muitas vezes também a experiência negativa da atopia.
Os caminhos da arte e da cirurgia estética se originam na mesma
encruzilhada – seus destinos entretanto serão radicalmente
diferentes. O que é a experiência da atopia? A criança que
tem problemas de saúde e cuja debilidade a impossibilita de
participar, normalmente, das atividades corriqueiras das demais
crianças, impedindo-a assim de pertencer a um grupo. É o
caso do grande pianista Nelson Freire, tal como nos conta o
documentário de João Moreira Salles. A saúde frágil cria um
pequeno exílio, um outro lugar que, contudo, não pode ainda
ser experimentado como lugar: não há nada nele, ele se define
apenas negativamente – pela impossibilidade, pelo vazio, pela
ausência, por não ser o “verdadeiro” lugar, isto é, o lugar do
grupo, da aceitação, da norma.
E onde está a arte nisso tudo? A arte é exatamente o meio
pelo qual, na encruzilhada da atopia, preenche-se o vazio do
isolamento dando-lhe um conteúdo e fazendo dele, assim, um
espaço – um lugar. A arte é o meio pelo qual o sujeito nomeia a si
e ao mundo de uma outra forma. Essa renomeação cria um lugar,
na medida em que um mundo renomeado é imediatamente um
mundo revalorado. Isso reconfigura todo o espaço, pois é uma
determinada estrutura de valoração, normativa, que condena a
diferença à atopia.
Francisco Bosco
(Extraído e adaptado de: Banalogias. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007)
De acordo com o ponto de vista manifestado no primeiro
parágrafo, a demanda por cirurgia estética é caracterizada por:
Ano: 2022
Banca:
SELECON
Órgão:
SEJUSP-MG
Prova:
SELECON - 2022 - SEJUSP-MG - Policial Penal - Agente Penitenciário |
Q1881051
Português
Texto associado
TEXTO II
Arte e cirurgia estética
A prática da cirurgia estética, tal como vem sendo
intensamente exercida na cultura contemporânea, visa a adequar
um corpo aos valores exaltados pela cultura. Esta constrói,
assim, um lugar estético previamente definido e exalta-o como
norma; os que não estiverem adequados a essa construção
são marginalizados, estão à margem, isto é, fora do lugar. A
experiência subjetiva – negativa – que provocará a demanda
pela cirurgia estética é portanto a experiência de uma atopia, de
um estar fora do lugar, de um não ter lugar. A cirurgia estética
então aparece como o instrumento que a cultura disponibiliza
para que as pessoas tornem-se adequadas ao lugar, ponham
fim à sensação existencialmente desconfortável da atopia.
Curiosamente, a precondição subjetiva para uma experiência
de arte é muitas vezes também a experiência negativa da atopia.
Os caminhos da arte e da cirurgia estética se originam na mesma
encruzilhada – seus destinos entretanto serão radicalmente
diferentes. O que é a experiência da atopia? A criança que
tem problemas de saúde e cuja debilidade a impossibilita de
participar, normalmente, das atividades corriqueiras das demais
crianças, impedindo-a assim de pertencer a um grupo. É o
caso do grande pianista Nelson Freire, tal como nos conta o
documentário de João Moreira Salles. A saúde frágil cria um
pequeno exílio, um outro lugar que, contudo, não pode ainda
ser experimentado como lugar: não há nada nele, ele se define
apenas negativamente – pela impossibilidade, pelo vazio, pela
ausência, por não ser o “verdadeiro” lugar, isto é, o lugar do
grupo, da aceitação, da norma.
E onde está a arte nisso tudo? A arte é exatamente o meio
pelo qual, na encruzilhada da atopia, preenche-se o vazio do
isolamento dando-lhe um conteúdo e fazendo dele, assim, um
espaço – um lugar. A arte é o meio pelo qual o sujeito nomeia a si
e ao mundo de uma outra forma. Essa renomeação cria um lugar,
na medida em que um mundo renomeado é imediatamente um
mundo revalorado. Isso reconfigura todo o espaço, pois é uma
determinada estrutura de valoração, normativa, que condena a
diferença à atopia.
Francisco Bosco
(Extraído e adaptado de: Banalogias. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007)
A visão construída em torno da arte, no texto, considera sua
função de:
Ano: 2022
Banca:
SELECON
Órgão:
SEJUSP-MG
Prova:
SELECON - 2022 - SEJUSP-MG - Policial Penal - Agente Penitenciário |
Q1881052
Português
Texto associado
TEXTO II
Arte e cirurgia estética
A prática da cirurgia estética, tal como vem sendo
intensamente exercida na cultura contemporânea, visa a adequar
um corpo aos valores exaltados pela cultura. Esta constrói,
assim, um lugar estético previamente definido e exalta-o como
norma; os que não estiverem adequados a essa construção
são marginalizados, estão à margem, isto é, fora do lugar. A
experiência subjetiva – negativa – que provocará a demanda
pela cirurgia estética é portanto a experiência de uma atopia, de
um estar fora do lugar, de um não ter lugar. A cirurgia estética
então aparece como o instrumento que a cultura disponibiliza
para que as pessoas tornem-se adequadas ao lugar, ponham
fim à sensação existencialmente desconfortável da atopia.
Curiosamente, a precondição subjetiva para uma experiência
de arte é muitas vezes também a experiência negativa da atopia.
Os caminhos da arte e da cirurgia estética se originam na mesma
encruzilhada – seus destinos entretanto serão radicalmente
diferentes. O que é a experiência da atopia? A criança que
tem problemas de saúde e cuja debilidade a impossibilita de
participar, normalmente, das atividades corriqueiras das demais
crianças, impedindo-a assim de pertencer a um grupo. É o
caso do grande pianista Nelson Freire, tal como nos conta o
documentário de João Moreira Salles. A saúde frágil cria um
pequeno exílio, um outro lugar que, contudo, não pode ainda
ser experimentado como lugar: não há nada nele, ele se define
apenas negativamente – pela impossibilidade, pelo vazio, pela
ausência, por não ser o “verdadeiro” lugar, isto é, o lugar do
grupo, da aceitação, da norma.
E onde está a arte nisso tudo? A arte é exatamente o meio
pelo qual, na encruzilhada da atopia, preenche-se o vazio do
isolamento dando-lhe um conteúdo e fazendo dele, assim, um
espaço – um lugar. A arte é o meio pelo qual o sujeito nomeia a si
e ao mundo de uma outra forma. Essa renomeação cria um lugar,
na medida em que um mundo renomeado é imediatamente um
mundo revalorado. Isso reconfigura todo o espaço, pois é uma
determinada estrutura de valoração, normativa, que condena a
diferença à atopia.
Francisco Bosco
(Extraído e adaptado de: Banalogias. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007)
“Os caminhos da arte e da cirurgia estética se originam
na mesma encruzilhada – seus destinos entretanto serão
radicalmente diferentes”
A relação entre duas partes da frase acima, delimitadas pelo emprego do travessão, pode ser descrita pelo seguinte par de palavras:
A relação entre duas partes da frase acima, delimitadas pelo emprego do travessão, pode ser descrita pelo seguinte par de palavras: