Questões de Português - Concordância verbal, Concordância nominal para Concurso
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Leia o texto e responda às questões de números 08 a 14.
Comandante aposentado não deixa o cockpit
Shigekazu Miyazaki está usando o tempo livre de sua aposentadoria a 25 mil pés. Ele foi piloto da maior companhia aérea japonesa por quatro décadas, mas deixou o posto ano passado, ao completar 65 anos, idade-limite para voar pela empresa.
Mas, em vez de jogar golfe ou pescar, agora Miyazaki é piloto de uma companhia regional do Japão. “Nunca pensei que ainda estaria voando aos 65 anos, mas eu continuo saudável, amo voar, então, enquanto eu puder, por que não?”
O envelhecimento dos trabalhadores está forçando um questionamento sobre a trajetória profissional e também sobre a sustentação da Previdência no Japão. O país tem a maior expectativa de vida do mundo, pouca imigração e uma minguante população de jovens trabalhadores, reflexo de décadas de queda na taxa de natalidade.
Isso torna os trabalhadores mais velhos ainda mais importantes para a economia. Mais da metade dos homens japoneses com mais de 65 anos executa algum tipo de trabalho remunerado, comparado com um terço dos americanos e 10% em alguns países da Europa.
A economia japonesa está começando a se recuperar graças à demanda das exportações, mas a escassez de trabalhadores pode limitar esse crescimento. A taxa de desemprego é de 2,8%.
Ao mesmo tempo, a geração que começa a se aposentar pressiona a Previdência Social e força o governo a estudar o aumento da idade mínima para conceder o benefício.
Os trabalhadores mais velhos também ajudam a explicar a estagnação da renda no Japão. Os mais velhos costumam receber muito menos do que o salário do pico de suas carreiras. Essa queda acaba reduzindo os aumentos que um jovem recebe ao longo do crescimento profissional.
Para Miyazaki, por exemplo, a escolha de continuar voando é um luxo. No novo emprego, recebe um terço do salário de antes de se aposentar.
(New York Times. Publicado pela Folha de S.Paulo em 30.07.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa correta quanto à concordância verbal e nominal estabelecida pela norma-padrão.
Todas as frases estão corretas quanto à concordância nominal, EXCETO:
No trecho abaixo, também adaptado de Folha de S. Paulo (07/12/2016), conclui-se que há um:
“Indicadores como esse contribui para a compreensão de um dos dados mais chocantes das inúmeras tabelas divulgadas pela OCDE na terça-feira.”
“A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo, exterioriza-se na concordância (...)” (Celso Cunha e Lindley Cintra). Há erro de concordância verbal na seguinte alternativa:
Marque a alternativa que completa corretamente os espaços:
Neste calor, água gelada é sempre__________.
É _____________ a entrada de estranhos naquela sala.
Paz entre as nações é __________.
Leia o texto para responder às questões de números 01 a 09.
Não há como não ressaltar a fortíssima repercussão – e os aplausos – da encíclica Laudato Si, do papa Francisco, principalmente as questões ali relacionadas com meio ambiente – uma delas, a dos recursos hídricos. Também é instigante verificar a coincidência da encíclica em temas centrais – como o da água – com os enunciados na mesma semana por um novo documento da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos.
Pode-se começar pela questão dos recursos hídricos, com base em estudos da Nasa decorrentes de registros de satélites (pesquisas de 2003 a 2013). Neles se ressalta que “o mundo caminha para a falta de água” e que 21 dos 37 maiores aquíferos subterrâneos do mundo “estão sendo exauridos em níveis alarmantes”, pois a retirada é maior que a reposição. E isso acontece simultaneamente com algumas das secas mais fortes da história, inclusive nos EUA e no Nordeste brasileiro.
A encíclica papal investe pesadamente contra a “crescente tendência à privatização” dos recursos hídricos no mundo, “apesar de sua escassez” – e tendendo a transformá-los “em mercadoria, sujeita às leis do mercado” –, o que prejudicaria muito os pobres. E a água continua a ser desperdiçada, em países ricos e nos menos desenvolvidos. O conjunto de causas leva a um aumento do custo de alimentos – a ponto de vários estudos indicarem um déficit de recursos hídricos em poucas décadas –, afetando “bilhões de pessoas”. Além disso, seria admissível pensar que “o controle da água por grandes empresas multinacionais de negócios” pode tornar-se “um dos fatores mais importantes de conflitos neste século”.
Essas causas podem levar também à dramática perda da biodiversidade, que se ressente ainda da ação de produtos químicos nas lavouras. Nesse ponto, a encíclica é muito direta e dura ao ressaltar que na Amazônia e na bacia do Congo “interesses globais, sob pretexto de proteger os negócios, podem solapar a soberania das nações”. Já há até – diz o documento – “propostas de internacionalização da Amazônia, que serviriam apenas aos interesses econômicos de corporações transnacionais”.
A encíclica papal e os estudos da Nasa são dois documentos que nos põem diante das questões cruciais para a humanidade nestes tempos conturbados. Não há como fugir a elas em nenhum lugar. Em termos de Brasil, convém que prestemos muita atenção a documentos como o da Pesquisa Nacional por Amostragem de Municípios, que aponta milhões de brasileiros vivendo na miséria e outras dezenas de milhões abaixo do nível de pobreza. A hora de agir é agora.
(Washington Novaes. O Estado de S. Paulo. 26.06.2015. Adaptado)
Leia as frases a seguir.
O poder e a soberania das nações __________ por interesses globais.
__________ os estudos da Nasa que o mundo caminha para a falta de água.
Já __________ propostas de internacionalização da Amazônia.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas das frases, de acordo com a norma-padrão.
Leia o texto que se segue e responda às questões de 1 a 10.
Degraus da ilusão
01 Fala-se muito na ascensão das classes menos favorecidas, formando uma “nova classe média”,
02 realizada por degraus que levam a outro patamar social e econômico (cultural, não ouço falar). Em teoria, seria
03 um grande passo para reduzir a catastrófica desigualdade que aqui reina.
04 Porém receio que, do modo como está se realizando, seja uma ilusão que pode acabar em sérios
05 problemas para quem mereceria coisa melhor. Todos desejam uma vida digna para os despossuídos, boa
06 escolaridade para os iletrados, serviços públicos ótimos para a população inteira, isto é, educação, saúde,
07 transporte, energia elétrica, segurança, água, e tudo de que precisam cidadãos decentes.
08 Porém, o que vejo são multidões consumindo, estimuladas a consumir como se isso constituísse um bem
09 em si e promovesse real crescimento do país. Compramos com os juros mais altos do mundo, pagamos os
10 impostos mais altos do mundo e temos os serviços (saúde, comunicação, energia, transportes e outros) entre
11 os piores do mundo. Mas palavras de ordem nos impelem a comprar, autoridades nos pedem para consumir,
12 somos convocados a adquirir o supérfluo, até o danoso, como botar mais carros em nossas ruas atravancadas
13 ou em nossas péssimas estradas.
14 Além disso, a inadimplência cresce de maneira preocupante, levando famílias que compraram seu carrinho
15 a não ter como pagar a gasolina para tirar seu novo tesouro do pátio no fim de semana. Tesouro esse que logo
16 vão perder, pois há meses não conseguem pagar as prestações, que ainda se estendem por anos.
17 Estamos enforcados em dívidas impagáveis, mas nos convidam a gastar ainda mais, de maneira
18 impiedosa, até cruel. Em lugar de instruírem, esclarecerem, formarem uma opinião sensata e positiva, tomam
19 novas medidas para que esse consumo insensato continue crescendo – e, como somos alienados e pouco
20 informados, tocamos a comprar.
21 Sou de uma classe média em que a gente crescia com quatro ensinamentos básicos: ter seu diploma, ter
22 sua casinha, ter sua poupança e trabalhar firme para manter e, quem sabe, expandir isso. Para garantir uma
23 velhice independentemente de ajuda de filhos ou de estranhos; para deixar aos filhos algo com que pudessem
24 começar a própria vida com dignidade.
25 Tais ensinamentos parecem abolidos, ultrapassadas a prudência e a cautela, pouco estimulados o desejo
26 de crescimento firme e a construção de uma vida mais segura. Pois tudo é uma construção: a vida pessoal, a
27 profissão, os ganhos, as relações de amor e amizade, a família, a velhice (naturalmente tudo isso sujeito a
28 fatalidades como doença e outras, que ninguém controla). Mas, mesmo em tempos de fatalidade, ter um pouco
29 de economia, ter uma casinha, ter um diploma, ter objetivos certamente ajuda a enfrentar seja o que for.
30 Podemos ser derrotados, mas não estaremos jogados na cova dos leões do destino, totalmente desarmados.
31 Somos uma sociedade alçada na maré do consumo compulsivo, interessada em “aproveitar a vida”, seja o
32 que isso for, e em adquirir mais e mais coisas, mesmo que inúteis, quando deveríamos estar cuidando, com
33 muito afinco e seriedade, de melhores escolas e universidades, tecnologia mais avançada, transportes muito
34 mais eficientes, saúde excelente, e verdadeiro crescimento do país. Mas corremos atrás de tanta conversa vã,
35 não protegidos, mas embaixo de peneiras com grandes furos, que só um cego ou um grande tolo não vê.
36 A mais forte raiz de tantos dos nossos males é a falta de informação e orientação, isto é, de educação. E o
37 melhor remédio é investir fortemente, abundantemente, decididamente, em educação: impossível repetir isso
38 em demasia. Mas não vejo isso como nossa prioridade.
39 Fosse o contrário, estaríamos atentos aos nossos gastos e aquisições, mais interessados num crescimento
40 real e sensato do que em itens desnecessários em tempos de crise. Isso não é subir de classe social: é
41 saracotear diante de uma perigosa ladeira. Não tenho ilusão de que algo mude, mas deixo aqui meu quase
42 solitário (e antiquado) protesto.
LUFT, Lya. Degraus da ilusão. Disponível em http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/lya-luft-vejo-multidoes-consumindo-estimuladas-a-consumircomo-se-isso-constituisse-um-bem-em-si-e-promovesse-real-crescimento-do-pais-isso-nao-e-subir-de-classe-social/. Acesso em 01 de setembro de 2013.
Quanto à concordância do vocábulo ‘estimuladas’ em “são multidões consumindo, estimuladas a consumir como se isso constituísse um bem em si e promovesse real crescimento do país” (linhas 08 e 09), é CORRETO afirmar que se trata de
A frase que segue as normas de concordância verbal encontra-se em:
Pesquisa nacional realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal de educação financeira Meu Bolso Feliz revelou que quatro em cada 10 consumidores não se consideram pessoas organizadas financeiramente e 69% dos entrevistados admitem sentir dificuldade para controlar receitas, despesas e investimentos.
A palavra “revelou” (linha 3) foi empregada no texto para concordar com:
Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.
As máquinas inteligentes e suas regras
01---------Em 1950, o cientista Alan Turing (1912-1954) criava um experimento que entraria para a
02--história. No famoso Teste de Turing, descrito no artigo Computing Machinery and Intelligence, o
03--britânico propunha que um computador e um humano respondessem ____ mesmas perguntas.
04--Caso o interrogador não conseguisse diferenciá-los, a máquina passava no teste, provando a sua
05--inteligência. Com sua validade questionada pela comunidade científica de hoje, o experimento
06--trouxe ____ tona uma indagação perturbadora: a máquina superará o ser humano? Passadas
07--mais de cinco décadas, a questão ainda ressoa na esfera pública, principalmente devido à
08--automação de atividades cotidianas, do transporte ao cuidado de idosos e crianças.
09---------Entu__iasta dos avanços tecnológicos, o docente do Instituto de Informática da
10--Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Edson Prestes, defende que a revolução robótica em
11--curso trará muitos benefícios. Porém, a sociedade civil precisa estar atenta, zelando pela
12--manutenção dos direitos humanos. “É consenso que robôs coe__istirão com os homens nos mais
13--variados ambientes, com as mais variadas funções. Eles impactarão certamente as nossas vidas.
14--A questão que é necessária responder é: de que forma? Se desenvolvermos robôs sem qualquer
15noção ética, certamente o impacto será negativo”, ressalta.
16---------O pesquisador integra a Global Initiative for Ethical Considerations in Artificial Intelligence
17--and Autonomous Systems, iniciativa que reúne especialistas de todo o globo para debater os
18--desafios da inteligência artificial. Essa discussão já toma forma com o desenvolvimento dos carros
19--autônomos, que não necessitam de motorista. Nos últimos dez anos, empresas de tecnologia,
20--como o Google e a Apple, e as tradicionais montadoras têm investido no setor, em uma corrida
21--para chegar ao mercado. Mais do que um benefício para quem não gosta de guiar, a promessa é
22--que esses veículos sejam mais seguros. Segundo estudo da consultoria McKinsey & Company, os
23--carros autônomos poderiam reduzir em 90% o número de acidentes, os quais são causados nos
24--dias de hoje principalmente por falhas humanas como e__esso de velocidade, consumo de álcool
25--e fadiga.
26---------Imune _____ distrações, os novos automóveis trariam benefícios inegáveis. No entanto, há
27--um fator que torna a equação um pouco mais complexa: o acaso. Como o veículo agirá se, por
28--exemplo, um pedestre aparecer de repente em seu percurso? Atropelará ____ pessoa ou desviará
29--para outro local pondo a vida do passageiro em risco? Segundo o gerente de estratégia da Ford,
30--Luciano Driemeier, situações como essas exigiriam a criação de normas de conduta. “O código de
31--ética é uma questão de toda a indústria. Precisamos de abordagens e discussões consistentes, e
32--de todas as partes interessadas – incluindo governo, indústria automobilística, suprimentos,
33--companhias de seguros e grupos de defesa dos consumidores”, afirma.
34---------O físico, astrônomo e docente da universidade norte-americana Dartmouth College,
35--Marcelo Gleiser, concorda que o padrão de conduta dos veículos autônomos deve ser discutido por
36--grupos multidisciplinares, incluindo filósofos especializados em ética. “A boa notícia é que, dada a
37--imparcialidade da máquina, muito provavelmente a melhor decisão será salvar o maior número de
38--vidas possível”, comenta. Esse fator também é ressaltado pelo gerente de projetos da BMW,
39--Henrique Miranda. Ele argumenta que, ao contrário do motorista, a máquina não age “por instinto
40--de sobrevivência”. “O objetivo da tecnologia não é escolher entre vidas, mas proteger todas as
41--vidas”, afirma.
42---------Para que esses carros possam ser inseridos no mercado, também será necessário criar
43--novas leis. Atualmente, por exemplo, ainda não há uma definição clara de quem seria
44--responsabilizado – a empresa ou o passageiro – caso o veículo provoque um acidente.
45--Recentemente, o governo alemão deu o primeiro passo nesse sentido, anunciando uma série de
46--diretrizes relacionadas ao uso de carros autônomos. Outras nações devem seguir o exemplo,
47--e__pandindo a regulamentação para outras áreas. “Diversos grupos em universidades já estão
48--discutindo que regras deveriam guiar o trabalho dos robôs. Afinal, se conseguirmos de fato
49--construir máquinas inteligentes, como garantir que elas seguirão nossas regras e não as delas?”,
50--indaga Gleiser.
(Fonte: Mariana Tessitore – Revista da Cultura – Disponível em:
https://www.livrariacultura.com.br/revistadacultura/reportagens/etica-e-tecnologia - adaptação)
Caso, na linha 49, substituíssemos a palavra “máquinas” por sua forma singular, quantas outras alterações deveriam ser feitas no período a fim de que mantivéssemos as corretas relações de concordância?
A respeito da concordância verbal com os pronomes de tratamento ou do uso dos pronomes possessivos nas redações oficiais, assinale a alternativa correta
Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Estou deitado na margem. Dois barcos, presos a um tronco de salgueiro cortado em remotos tempos, oscilam ao jeito do vento, não da corrente, que é macia, vagarosa, quase invisível. A paisagem em frente, conheço-a. Por uma aberta entre as árvores, vejo as terras lisas da lezíria, ao fundo uma franja de vegetação verde-escura, e depois, inevitavelmente, o céu onde boiam nuvens que só não são brancas porque a tarde chega ao fim e há o tom de pérola que é o dia que se extingue. Entretanto, o rio corre. Mais propriamente se diria: anda, arrasta-se- mas não é costume.
Três metros acima da minha cabeça estão presos nos ramos rolos de palha, canalhas de milho, aglomerados de lodo seco. São os vestígios da cheia. À esquerda, na outra margem, alinham-se os freixos que, a esta distância, por obra do vento que lhes estremece as folhas numa vibração interminável, me fazem lembrar o interior de uma colmeia. É o mesmo fervilhar, numa espécie de zumbido vegetal, uma palpitação (é o que penso agora), como se dez mil aves tivessem brotado dos ramos numa ansiedade de asas que não podem erguer voo.
Entretanto, enquanto vou pensando, o rio continua a passar, em silêncio. Vem agora no vento, da aldeia que não está longe, um lamentoso toque de sinos: alguém morreu, sei quem foi, mas de que serve dizê-lo? Muito alto, duas garças brancas (ou talvez não sejam garças, não importa) desenham um bailado sem princípio nem fim: vieram inscrever-se no meu tempo, irão depois continuar o seu, sem mim.
Olho agora o rio que conheço tão bem. A cor das águas, a maneira como escorregam ao longo das margens, as espadanas verdes, as plataformas de limas onde encontram chão as rãs, onde as libélulas (também chamadas tira-olhos) pousam a extremidade das pequenas garras - este rio é qualquer coisa que me corre no sangue, a que estou preso desde sempre e para sempre. Naveguei nele, aprendi nele a nadar, conheço-lhe os fundões e as locas onde os barbos pairam imóveis. É mais do que um rio, é talvez um segredo.
E, contudo, estas águas já não são as minhas águas. O tempo flui nelas, arrasta-as e vai arrastando na corrente líquida, devagar, à velocidade (aqui, na terra) de sessenta segundos por minuto. Quantos minutos passaram já desde que me deitei na margem, sobre o feno seco e doirado? Quantos metros andou aquele tronco apodrecido que flutua? O sino ainda toca, a tarde teve agora um arrepio, as garças onde estão? Devagar, levanto-me, sacudo as palhas agarradas à roupa, calço-me. Apanho uma pedra, um seixo redondo e denso, lanço-o pelo ar, num gesto do passado. Cai no meio do rio, mergulha (não vejo, mas sei), atravessa as águas opacas, assenta no lodo do fundo, enterra-se um pouco.[ ... ]
Desço até a água, mergulho nela as mãos, e não as reconheço. Vêm-me da memória outras mãos mergulhadas noutro rio. As minhas mãos de há trinta anos, o rio antigo de águas que já se perderam no mar. Vejo passar o tempo. Tem a cor da água e vai carregado de detritos, de pétalas arrancadas de flores, de um toque vagaroso de sinos. Então uma ave cor de fogo passa como um relâmpago. O sino cala-se. E eu sacudo as mãos molhadas de tempo, levando-as até aos olhos - as minhas mãos de hoje, com que prendo a vida e a verdade desta hora.
(SARAMAGO, José. Deste mundo e do outro. Lisboa: Editorial Caminho, 1985. p. 35-37)
Vocabulário:
lezíria - zona agrícola muito fértil, situada na região do Ribatejo, em Portugal.
freixo - árvore das florestas dos climas temperados, de madeira clara, macia e resistente.
espadana - planta herbácea, aquática ou palustre, com folhas agudas.
loca - toca; furna; gruta pequena; esconderijo do peixe, debaixo da água, sob uma laje ou tronco submersos.
barbo-peixe vulgar de água doce.
Considerando as regras de regência e de concordância, assinale a alternativa em que a substituição proposta não muda o sentido original e está de acordo com o registro culto da língua.
Eu sei, mas não devia
Marina Colassanti
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma ___ não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, ___ medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez vai pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir ____ comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma ____ poluição. ____ salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter _________ uma planta.
A gente se acostuma ____ coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e ____ no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não ____ muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar ____ pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Leia as frases abaixo:
I- Seguem __________ às fotografias minhas poesias escritas especialmente para você.
II- ____________ convidados compareceram à festa de cem anos da matriarca da família.
III- Água de coco é _______ para a saúde.
IV- Chuva é __________ para a agricultura.
De acordo com as regras de concordância nominal prescritas pela norma culta, assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas das frases:
Eu sei, mas não devia
Marina Colassanti
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma ___ não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, ___ medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez vai pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir ____ comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma ____ poluição. ____ salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter _________ uma planta.
A gente se acostuma ____ coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e ____ no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não ____ muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar ____ pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Está INCORRETA, de acordo norma culta vigente, a concordância verbal em:
Marque a opção em que a concordância nominal NÃO condiz com as normas gramaticais.
O texto a seguir é referência para as questões 02 e 03.
‘Science’: A aposta nas células-tronco tumorais
Pesquisadores esperam que testes clínicos provem teoria controversa e ofereçam novos tratamentos
A Science, renomada revista científica, publicou recentemente um artigo de Jocelyn Kaiser sobre um estudo que vem sendo feito no combate ao câncer. Robert Weinberg é um dos pesquisadores de câncer mais __________ do mundo, graças em grande parte a seu trabalho pioneiro na identificação de genes que baseiam o desenvolvimento de tumores. Ele já viu a esperança para tratamentos de câncer __________. “Estou nesse ramo, para o bem ou para o mal, há 40 anos. Muitas das coisas nas quais trabalhamos se mostraram relativamente inúteis na clínica”. Mas, aos 72 anos, ele está otimista de novo. “Essa é realmente a primeira vez em que eu estou posicionado para ajudar a efetuar o desenvolvimento de um agente ou de agentes que realmente vão beneficiar pacientes de câncer”, diz ele.
O pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) está agora arriscando parte de sua considerável reputação, e quase US$ 200 milhões que __________ por investidores a uma empresa da qual ele é um cofundador, em uma ousada teoria que dividiu o campo do câncer. Weinberg e outros __________ que tumores contêm um pequeno número de células que são distintas porque elas parecem com as células-tronco que dão origem a tecidos normais. Eles acreditam que essas sementes do câncer, capazes de resistir à quimioterapia e voltar meses ou anos depois do tratamento, podem explicar as trágicas recaídas que as pessoas costumam experimentar. Acredita-se que, ao mirar especificamente nessas células-tronco tumorais, será possível manter a doença sob controle.
(Adaptado de: http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2015/02/19/science-a-aposta-nas-celulas-tronco-tumorais/. Adaptado.)
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas, na ordem em que aparecem no texto:
Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.
Seu aparelho de ar-condicionado está deixando o planeta mais quente
1 Sol, praia, calor. O Brasil é tipicamente conhecido por suas características tropicais. Apesar
2 disso, pouca gente nega um bom ar-condicionado em dias quentes. No verão do ano passado, a
3 venda desses aparelhos bateu recorde. Temos, atualmente, um total de 139 milhões de unidades
4 funcionando. Mas não é só o brasileiro que ama um friozinho artificial — Estados Unidos e Japão
5 detêm a maior parte dos exemplares mundiais. Porém, de acordo com um relatório divulgado pela
6 Agência Internacional de Energia (IEA), um irônico paradoxo foi confirmado: o aumento na
7 quantidade de aparelhos de ar-condicionado está deixando o mundo mais quente. No mundo, a
8 quantidade de ares-condicionados está concentrada em um pequeno número de países (nos
9 Estados Unidos, 90% das residências possuem). Mas à medida que a renda aumenta e as
10 populações crescem nas nações emergentes, especialmente em regiões quentes, o uso dos
11 aparelhos se torna cada vez mais comum. E as estatísticas provam: o funcionamento de ares-
12 condicionados e ventiladores já representa cerca de um quinto do total da eletricidade gasta em
13 edifícios de todo o mundo — ou 10% do consumo global.
14 Os números ficam cada vez mais exorbitantes: hoje, temos cerca de 1,6 bilhão de
15 aparelhos funcionando. Para 2050, a perspectiva é de impressionantes 5,6 bilhões. Considerando
16 também o crescimento populacional, na metade do século teremos uma estimativa de um ar-
17 condicionado para cada duas pessoas do mundo. E a demanda pelo uso de climatizadores vai
18 mais que triplicar: eles consumirão a mesma quantidade de energia que China e Índia juntas.
19 Ok, você já entendeu que temos muitos ares-condicionados pelo mundo. Mas voltemos à
20 questão principal: como eles estão tornando o planeta mais quente? Para começar, a população
21 usa “errado”. Os consumidores atuais não se preocupam em comprar aparelhos mais eficientes,
22 que gastem menos energia. A competência média dos exemplares comprados hoje é menos da
23 metade do que está normalmente disponível para venda, com cerca de um terço da tecnologia
24 dos mais eficientes. Isso pode se converter no fator econômico: geralmente os mais baratos são
25 mais simples. Mas a questão crucial é, lógico, a influência que esses bilhões de aparelhos exercem
26 na temperatura do planeta. As emissões de gases estufa liberados pelas usinas de carvão e gás
27 natural ao gerar eletricidade para os ares-condicionados quase dobrariam — de 1,25 bilhão de
28 toneladas em 2016 para 2,28 bilhões de toneladas em 2050. Essas emissões impactariam
29 significativamente o aquecimento global — o que aumentaria ainda mais a demanda por ar-
30 condicionado.
31 Sim, é um ciclo vicioso. O conforto tem um preço, e ele é bem alto. E o relatório cita
32 exemplos bem ilustrativos da situação: quanto mais aumenta a renda de uma família, cresce
33 também o número de eletrodomésticos como geladeiras e televisores. Esses aparelhos geram
34 calor, deixando o ambiente mais quente. Solução: comprar um ar-condicionado. E a maioria dos
35 ares-condicionados funcionam, em parte, “jogando” o ar quente para o lado de fora, também
36 tornando a vizinhança mais quente. Segundo estimativas, o aparelho pode elevar a temperatura
37 durante a noite em cerca de um grau Celsius em algumas cidades. Ou seja, se um número
38 suficiente de vizinhos comprar um ar-condicionado, a temperatura da sua casa pode aumentar a
39 ponto de você precisar fazer o mesmo.
40 Apesar do aparente caos cíclico sem solução, o relatório termina esperançoso. Ele fala
41 sobre o “Cenário de Refrigeração Eficiente”, um caminho que se baseia numa forte ação política
42 para limitar o uso de energia com a finalidade de resfriar os espaços. E, principalmente, fala sobre
43 investir em aparelhos mais competentes. Essa simples atitude pode reduzir a demanda futura de
44 energia pela metade — em comparação com as suposições feitas baseadas no consumo atual.
45 Também torna tudo mais barato: seguindo os padrões do Cenário de Refrigeração Eficiente, pode-
46 se reduzir os custos de investimento, combustíveis e outros gastos gerados por essa indústria do
47 frio em três trilhões de dólares até 2050. E, por último, esse cenário reduziria as emissões de
48 gases estufa pela metade. Ele está de acordo com os objetivos climáticos previstos no Acordo de
49 Paris. Então lembre-se, pelo bem do futuro do planeta, quando for comprar um ar-condicionado,
50 tenha certeza de que as especificações de eficiência são as melhores possíveis.
Texto especialmente adaptado para esta prova. Disponível em https://super.abril.com.br/ciencia/seu-aparelho-de-ar-condicionado-esta-deixando-o-planeta-mais-quente/. Acesso em 17 mai. 2018.
Quanto à concordância verbal, considere a validade das seguintes propostas de substituição para o texto, levando-se em conta o respeito à Norma Culta da Língua Portuguesa:
I. Na frase ”E a maioria dos ares-condicionados funcionam, em parte, “jogando” o ar quente para o lado de fora” (l. 34-35), o verbo “funcionar” não poderia ser flexionado para o singular.
II. Na frase “A competência média dos exemplares comprados hoje é menos da metade do que está normalmente disponível para venda” (l. 22-23), o verbo “ser” poderia ser flexionado para o plural.
III. Na frase “As emissões de gases estufa liberados pelas usinas de carvão e gás natural ao gerar eletricidade para os ares-condicionados quase dobrariam” (l. 26-27), o verbo “liberar”, que está empregado no particípio passado e no plural, poderia continuar no plural e ser flexionado para o feminino.
Quais estão corretas?
Texto
29 anos de democracia
_____Mais de 90 milhões de brasileiros, quase metade da população atual, não eram nascidos quando o último general-presidente, João Figueiredo, deixou o Palácio do Planalto. Outros 30 milhões ainda não eram adolescentes.
_____Maioria crescente dos brasileiros, portanto, terá nascido ou se tornado adulta na vigência do regime democrático. A Nova República já é mais longeva que todos os arranjos republicanos anteriores, à exceção do período oligárquico (1889-1930).
_____Em termos de escala, assiduidade e participação da população na escolha dos governantes, o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, moderno e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência eleitoral anterior.
_____A hipótese de ruptura com o passado se fortalece quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distribuição de oportunidades e de mitigação de desigualdades de hoje. Sozinhas, as despesas sociais no Brasil equivalem, em percentual do PIB, a quase todo o gasto público chinês.
_____A democracia brasileira contemporânea, e apenas ela na história nacional, inventou o que mais perto se pode chegar de um Estado de Bem-Estar num país de renda média. A baixa qualidade dos serviços governamentais está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de políticas públicas social-democratas.
_____Autoritários e populistas do passado davam uma banana para o custeio –e o controle de qualidade– da educação básica. Governos democráticos a partir de 1985 fizeram disparar a despesa. Muito da redução na desigualdade de renda se deve a isso.
_____Ainda assim, a parte da esquerda viúva da ruína socialista vive a defender o “aprofundamento da democracia” e “mudanças estruturais” que nos livrem do modelo de “modernização conservadora” –seja lá o que esses termos signifiquem hoje.
_____Já ocorreu a tal “mudança estrutural”. O Brasil democrático não se parece com seu passado tristonho, embora ainda haja tanto por fazer.
(Vinicius Mota, Folha de São Paulo)
“políticas públicas social-democratas”
Sobre a concordância entre os termos presentes nesse segmento do texto, assinale a afirmativa correta.
Texto
29 anos de democracia
_____Mais de 90 milhões de brasileiros, quase metade da população atual, não eram nascidos quando o último general-presidente, João Figueiredo, deixou o Palácio do Planalto. Outros 30 milhões ainda não eram adolescentes.
_____Maioria crescente dos brasileiros, portanto, terá nascido ou se tornado adulta na vigência do regime democrático. A Nova República já é mais longeva que todos os arranjos republicanos anteriores, à exceção do período oligárquico (1889-1930).
_____Em termos de escala, assiduidade e participação da população na escolha dos governantes, o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, moderno e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência eleitoral anterior.
_____A hipótese de ruptura com o passado se fortalece quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distribuição de oportunidades e de mitigação de desigualdades de hoje. Sozinhas, as despesas sociais no Brasil equivalem, em percentual do PIB, a quase todo o gasto público chinês.
_____A democracia brasileira contemporânea, e apenas ela na história nacional, inventou o que mais perto se pode chegar de um Estado de Bem-Estar num país de renda média. A baixa qualidade dos serviços governamentais está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de políticas públicas social-democratas.
_____Autoritários e populistas do passado davam uma banana para o custeio –e o controle de qualidade– da educação básica. Governos democráticos a partir de 1985 fizeram disparar a despesa. Muito da redução na desigualdade de renda se deve a isso.
_____Ainda assim, a parte da esquerda viúva da ruína socialista vive a defender o “aprofundamento da democracia” e “mudanças estruturais” que nos livrem do modelo de “modernização conservadora” –seja lá o que esses termos signifiquem hoje.
_____Já ocorreu a tal “mudança estrutural”. O Brasil democrático não se parece com seu passado tristonho, embora ainda haja tanto por fazer.
(Vinicius Mota, Folha de São Paulo)
“Mais de 90 milhões de brasileiros, quase metade da população atual, não eram nascidos quando o último general-presidente, João Figueiredo, deixou o Palácio do Planalto”.
Assinale a opção que mostra uma afirmação correta sobre a concordância verbal desse período.