Questões de Concurso
Comentadas sobre morfologia - pronomes em português
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Leia a tira para responder a questão.
TEXTO I
Anotações sobre uma pichação
Faz provavelmente uns dois anos que topei com a frase pela primeira vez, num muro qualquer da cidade. Em pouco tempo, era impossível deixar de vêla. Da noite para o dia, como uma infecção, onde houvesse um tapume, muro, parede, empena ou porta de ferro, ela aparecia: Não fui eu.
É certo que, pichada num muro de Estocolmo, os sentidos que ganharia seriam outros, e não há dificuldade em imaginar que conteúdos ela traria à tona em Berlim. História e geografia aqui são determinantes. O passado é tudo.
Minha hipótese é de que, no Brasil, a frase é imediatamente lida como um protesto de inocência. A um brasileiro não ocorrerá interpretá-la como manifestação de modéstia, como recusa de um crédito indevido – Não, essa honra não me cabe, ou Não, o mérito não é meu. Como violência, desigualdade e desordem formam a teia de nossa existência cívica, o que se insinua nas entrelinhas de Não fui eu não é a virtude, mas o delito.
Delito dos outros, no caso. A transferência de ônus é o que parece dar força ao enunciado, na medida em que fundamenta uma verdade incômoda sobre nossa condição de cidadãos brasileiros. Como tantos de nós, o autor está tirando o corpo fora.
Ignora-se a identidade do autor dessa frase com a qual o carioca convive há anos e que continua a se disseminar pelas superfícies da cidade. Numa reportagem de 2017 da Veja Rio, ele afirma que se manterá no anonimato: “Se a pichação funciona como uma assinatura que reivindica a autoria, meu trabalho é uma assinatura que nega a própria autoria. Comecei a me interessar pela potência poética que surgia disso e pelas diferentes leituras que a frase poderia ter na rua.”
Fez bem. Não sendo enunciada por ninguém em particular, a frase pertence a qualquer um. A sensação difusa de que ela exprime um éthos*, de que essas três palavras falam de nós, é uma confirmação de que, dado o alheamento geral, o melhor mesmo é jogar a toalha e ir cuidar da vida.
(*Éthos: palavra com origem grega, que significa "caráter moral")
SALLES, João Moreira. Revista PIAUÍ, 2018. (Adaptado)
Leia o texto para responder a questão.
O Clube dos Suicidas
A senhora – o que foi que tomou mesmo? Comprimidos. Não sabe que comprimidos? Gardenal. Tomou Gardenal. Muitos? Cuidado, não pise no fio do microfone. Dez comprimidos. E o que foi que sentiu? Uma tontura gostosa! Vejam só, uma tontura gostosa! Não é notável? Uma tontura gostosa. E foi por causa de quem? Olha o fio. Do marido. O marido bebia. Batia também? Batia. Voltava bêbado e batia. Quebrava toda a louça. Agora prometeu se regenerar. E ela não vai mais tomar Gardenal. Palmas. Olha o fio. Fica ali, à esquerda. Ali, junto com as outras. Depois recebe o brinde. Aproveito este breve intervalo para anunciar que a moça loira da semana passada – lembram, aquela que tomou ri-do- -rato? Morreu. Morreu ontem. A família veio aqui me avisar. Foi uma dura lição, infelizmente ela não poderá aproveitar. Outros o farão. E a senhora? Ah, não foi a senhora, foi a menina. Que idade tem ela? Dez. Tomou querosene? Por que a senhora bateu nela? A senhora não bate mais, ouviu? E tu não toma mais querosene, menina. A propósito, que tal o gosto? Ruim. Não tomou com guaraná? Ontem esteve aqui uma que tomou com guaraná. Diz que melhorou o gosto. Não sei, nunca provei. De qualquer modo, bem-vinda ao nosso Clube. Fica ali, junto com as outras. Cuidado com o fio. Olha um homem! Homem é raro aqui. O que foi que houve? A mulher lhe deixou? Miserável. Ah, não foi a mulher. Perdeu o emprego. Também não é isto. Fala mais alto! Está desenganado. É câncer? Não sabe o que é. Quem foi que desenganou? Os doutores às vezes se enganam. Fica ali à esquerda e aguarde o brinde. E esta moça? Foi Flit? Tu pensas que é barata, minha filha? Vai ali para a esquerda. Olha o fio, olha o fio. E esta senhora, tão velhinha – já me disseram que a senhora quis se enforcar. É verdade? Com o fio do ferro elétrico, quem diria! E dá? Mostra para nós como é que foi. Pode usar o fio do microfone.
(Moacyr Scliar, Os melhores contos, 1996)
• Tomou querosene? [...] Ontem esteve aqui uma que tomou com guaraná. Diz que melhorou o gosto. Não sei, nunca provei. • Olha um homem! Homem é raro aqui. [...] Está desenganado. É câncer? Não sabe o que é. Quem foi que desenganou?
Considerando o emprego e a colocação de pronomes, em conformidade com a norma-padrão, as frases em destaque podem ser assim reescritas, respectivamente:
Com relação aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o próximo item.
O pronome “Isso” (l.3) retoma toda a ideia expressa
no primeiro período do texto.
Acerca de aspectos linguísticos do texto precedente e das ideias nele contidas, julgue o item a seguir.
A correção gramatical do texto seria mantida caso o trecho
“que se consubstancia” (l. 10 e 11) fosse alterado para que
consubstancia-se.
Leia o texto, para responder a questão.
O exorcismo
É correto afirmar que o termo “a”, no trecho “não a ajuda”, é
Leia o texto, para responder a questão.
Frei Caneca e a Virgem Maria
Leia o texto, para responder a questão.
Frei Caneca e a Virgem Maria
Texto CB1A1AAA
A respeito das estruturas linguísticas do texto CB1A1AAA, julgue o próximo item.
Sem prejuízo para a correção gramatical e para o sentido do texto, o trecho “que ele poderia ter-me absolvido” (l. 24 e 25) poderia ser assim reescrito: que ele poderia ter absolvido-me.
Texto CB1A1AAA
A respeito das estruturas linguísticas do texto CB1A1AAA, julgue o próximo item.
Em “reanimando-a” (l.18), o pronome “a” refere-se a
“Dúvida” (l.17).
Texto CB1A1AAA
Com relação às estruturas linguísticas e aos sentidos do texto CB1A1AAA, julgue o item a seguir.
Caso seja suprimido o pronome “lhes” (l.2), a correção
gramatical do texto será mantida, embora o trecho se torne
menos enfático.
De acordo com o Manual de Redação da Presidência da República, a posição das formas oblíquas átonas, dentro do quadro geral dos pronomes pessoais, estabelece entre os pronomes e o verbo um todo fonético, segundo combinações regidas pela norma culta.
Assinale a alternativa em que a colocação pronominal está adequada às normas da linguagem escrita formal:
Debaixo da ponte
Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás porque luz e gás não consumiam. Não reclamavam da falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, receber amigos, fazer os amigos desfrutarem comodidades internas da ponte.
À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de carne.
(Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida. Adaptado)
Debaixo da ponte
Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás porque luz e gás não consumiam. Não reclamavam da falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, receber amigos, fazer os amigos desfrutarem comodidades internas da ponte.
À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de carne.
(Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida. Adaptado)
As crianças e os adolescentes estão vivendo boa parte de seu tempo no mundo virtual, principalmente por meio de seus aparelhos celulares. Em relatório divulgado em dezembro de 2017, o UNICEF usou a expressão “cultura do quarto” para indicar um dos efeitos desse fenômeno. Os mais novos têm escolhido o isolamento do espaço privado em detrimento do uso do espaço público para se dedicarem à imersão nas redes.
Você certamente já viu agrupamentos de adolescentes que interagiam mais com seu celular do que uns com os outros, não é? Pois bem: esse comportamento gera consequências, sendo que algumas delas não colaboram para o bom desenvolvimento dos mais novos. Como eles aprendem a se relacionar, por exemplo? Relacionando-se com seus pares! Acontece que o relacionamento no mundo virtual é radicalmente diferente daquele que ocorre na vida real, o que nos faz levantar a hipótese de que eles têm se desenvolvido com deficit no processo de socialização.
E como se aprenderia a ter – e a proteger – privacidade? Primeiramente sabendo a diferença entre intimidade e convívio social. Explorar o mundo social simultaneamente ao real cria uma grande dificuldade nessa diferenciação. Não é à toa que já se expôs na rede a privacidade de tantas crianças e jovens, com grande prejuízo pessoal!
(Rosely Sayão, As crianças e as tecnologias. Veja, 28-02-2018. Adaptado)
Leia a tira.
Em conformidade com a norma-padrão, os termos que
preenchem as lacunas são, respectivamente,
Combate ao crime
Houve, no Brasil, uma escalada do aprisionamento que, nos últimos anos, levou o país a abrigar a terceira maior população carcerária do mundo, atrás de EUA e China.
Parte considerável das prisões resulta de casos de flagrante, e salta aos olhos a parcela de encarcerados por delitos menores (em especial o pequeno tráfico de drogas) e em regime provisório (40%).
Há anos este jornal manifesta opinião favorável à aplicação de sanções alternativas, de modo a reservar o cárcere para autores de crimes violentos, que representam ameaça à sociedade.
Tal correção de rumos, fique claro, não corresponde à complacência. Especialistas são praticamente unânimes em considerar que a certeza da punição, mais do que o rigor ou o tamanho da pena, é o principal fator de dissuasão.
Deve-se caminhar, ainda, no sentido da integração, com a criação de bases de dados e canais instantâneos de comunicação entre as polícias e outras instituições. Não menos importante, há que investir em redução da evasão escolar e políticas voltadas para a juventude.
Tudo isso depende, claro, da superação da crise orçamentária, em especial na esfera estadual.
(Folha de S.Paulo, 24.04.2018. Adaptado)