Questões de Concurso Comentadas sobre pontuação em português

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Q1954608 Português

Leia o texto a seguir para responder à questão.


TEXTO



ADOÇÃO NO BRASIL



A adoção no Brasil é entendida legalmente como uma ferramenta de função social que busca garantir o direito ao desenvolvimento pleno da criança. 


      O processo de adoção no Brasil passou por diversos momentos diferentes no decorrer do tempo. Em momentos passados, era uma forma de adquirir mão de obra barata. Uma família “adotava” uma criança sob a condição de que, em troca do abrigo e alimento, ela deveria trabalhar cuidando da casa ou de outras crianças mais novas, geralmente filhos legítimos da família. Muita coisa mudou desde então e, embora essa prática ainda persista, a adoção é hoje vista pelos órgãos judiciais como um artifício usado para garantir os direitos da criança e do adolescente de terem acesso a um meio familiar saudável onde disponham de oportunidades de pleno desenvolvimento social, físico, psicológico e educacional. 


     O jurista e filósofo brasileiro Clóvis Beviláqua (1859- 1944) define a adoção como “o ato civil pelo qual alguém aceita um estranho na qualidade de filho”. Nesse sentido, a adoção é vista como uma forma de estabelecimento de laço familiar indissolúvel; assim, aquele que é adotado passa a ter todos os direitos de um filho biológico. 


      A partir da Constituição de 1988, a adoção passou a ser vista pelo meio jurídico como uma ferramenta de função social, uma forma de proteção aos interesses da criança e do adolescente. A elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) firmou legalmente essa função e, entre suas determinações, estão:


Determinações do Estatuto da Criança e do Adolescente:


• A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa (…);

• O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes;

• A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais;

• A adoção será concedida quando apresentar reais vantagens para a criança ou adolescente em situação de adoção e fundar-se em motivos legítimos;

• O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.


      Embora os avanços legais tenham garantido meios para que as crianças e adolescentes que vivem em abrigos e encontram-se em situação de adoção tenham a oportunidade de novamente se tornarem parte de uma família, as filas de pessoas que desejam adotar continuam a crescer. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2015, existiam cerca de 5,6 mil crianças e adolescentes à espera de uma nova família nos lares adotivos espalhados pelo país. Enquanto isso, segundo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), 33 mil famílias estão cadastradas na fila. Esse estranho fenômeno explica-se ao observarmos que, dessas 5,6 mil crianças e adolescentes, 86% possuem 5 anos ou mais. Ocorre que a grande maioria das famílias que esperam nas filas do CNA exige que a criança a ser adotada seja recém-nascida, saudável e de pele clara, características que apenas 6% das crianças que se encontram nos abrigos possuem. 


      Desse fato também surge outra importante discussão acerca da legitimidade da adoção por casais homoafetivos. Embora, em 2015, ainda não exista lei formal que aborde o assunto, os tribunais e juízes já garantiram, nos casos em que as análises dos órgãos de assistência social recomendavam a adoção, o direito a esses casais de adotar.



Por: Lucas de Oliveira Rodrigues

https://www.preparaenem.com/sociologia/adocao-no-brasil.htm

Desconsideradas eventuais alterações de sentido, assinale a alternativa em que a reescrita da frase do texto apresenta erro de pontuação. 
Alternativas
Ano: 2022 Banca: FURB Órgão: FURB - SC Prova: FURB - 2022 - FURB - SC - Fisioterapeuta |
Q1954266 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.


Internet das coisas: o que é e como funciona

O que você sabe sobre a Internet das Coisas? Já ouviu falar nesse termo antes? Será que é algo novo? É bem provável que você já tenha tido contato com esse modelo de tecnologia em algum momento durante a sua vida.

A expressão foi criada no ano de 1999 por Kevin Ashton, pesquisador britânico do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Sendo assim, é possível perceber que esse conceito não é uma novidade, já existe há mais de 20 anos.


O que é Internet das Coisas?

A Internet das Coisas, em inglês Internet of Things (IoT), é uma referência à habilidade de diferentes tipos de objetos conseguirem estabelecer conexão com a internet - desde eletrodomésticos até carros. Portanto, esses itens conseguem coletar e transmitir dados a partir da nuvem.

Atualmente, já é possível encontrar dispositivos IoT sendo utilizados tanto em situações comuns da vida diária como no âmbito profissional. Desse modo, essas ferramentas tecnológicas estão contribuindo para o acontecimento da transformação digital no mundo.

Os recursos desse modelo de tecnologia estão presentes em diversas áreas, dentre elas, estão os seguintes exemplos:

-Casa: existem inúmeros aparelhos baseados em IoT, por exemplo, a Smart TV, termostatos, geladeiras e fechaduras inteligentes.

-Wearable: são equipamentos "vestíveis", ou seja, acessórios que utilizamos no corpo, como os smartwatches e fones de ouvido.

-Saúde: a tecnologia ajuda na integração com o prontuário do paciente. Com isso, alterações no estado clínico, como na pressão sanguínea e frequência cardíaca são rapidamente atualizadas no registro, otimizando o atendimento médico.

-Agricultura: os sensores IoT ajudam no monitoramento da temperatura, umidade do solo e do ar, ativando automaticamente os sistemas de irrigação, quando necessário.


Como é o funcionamento da IoT?

De maneira resumida, um dispositivo inteligente é equipado com determinados mecanismos que possibilitam a conexão com uma rede, podendo ser tanto Wi-Fi como Bluetooth e dados móveis (3G, 4G e 5G). 

Desde a sua criação até agora, porém, a IoT sofreu vários progressos e passou a agrupar diferentes funções de outras tecnologias aos seus métodos de funcionamento, dentre elas, a Inteligência Artificial (IA).

Desse modo, os objetos conseguem acessar diversas informações armazenadas na nuvem e aprendem com esses dados, já que utilizam os princípios de Machine Learning, ou Aprendizado de Máquina.

Além disso, muitos aparelhos também recorrem ao Processamento de Linguagem Natural (PLN). Por isso, conseguem reconhecer a escrita em idioma humano ou um comando de voz e compreender o objetivo da solicitação, agindo em harmonia com o pedido.

Entretanto, vale ressaltar que, apesar de a IoT ter ligação com a IA, as duas concepções são distintas, cada uma tem as suas próprias particularidades. 


Texto retirado e adaptado de: TECMUNDO. Internet das coisas: entenda o que é e como
funciona. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/internet/230884
-internet-coisas-entenda-funciona.htm Acesso em: 20 mar., 2022.
Considere as afirmações a seguir a respeito do uso da vírgula no texto "Internet das coisas: o que é e como funciona". Assinale V para as afirmações verdadeiras e F para as falsas:

(__)Em "A Internet das Coisas, em inglês Internet of Things (IoT), é uma referência à habilidade de diferentes tipos de objetos conseguirem estabelecer conexão com a internet", o trecho que está entre vírgulas oferece uma explicação e, portanto, pode ser chamado de aposto.
(__)No trecho "Portanto, esses itens conseguem coletar e transmitir dados a partir da nuvem", a vírgula está sendo empregada para isolar o conectivo que sinaliza conclusão.
(__)No fragmento "Sendo assim, é possível perceber que esse conceito não é uma novidade, já existe há mais de 20 anos", a primeira vírgula tem a função de isolar uma locução explicativa e a segunda introduz uma explicação.

Assinale a alternativa com a sequência CORRETA:
Alternativas
Ano: 2022 Banca: FURB Órgão: FURB - SC Prova: FURB - 2022 - FURB - SC - Enfermeiro |
Q1954247 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.


Internet das coisas: o que é e como funciona

O que você sabe sobre a Internet das Coisas? Já ouviu falar nesse termo antes? Será que é algo novo? É bem provável que você já tenha tido contato com esse modelo de tecnologia em algum momento durante a sua vida.

A expressão foi criada no ano de 1999 por Kevin Ashton, pesquisador britânico do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Sendo assim, é possível perceber que esse conceito não é uma novidade, já existe há mais de 20 anos.


O que é Internet das Coisas?

A Internet das Coisas, em inglês Internet of Things (IoT), é uma referência à habilidade de diferentes tipos de objetos conseguirem estabelecer conexão com a internet - desde eletrodomésticos até carros. Portanto, esses itens conseguem coletar e transmitir dados a partir da nuvem.

Atualmente, já é possível encontrar dispositivos IoT sendo utilizados tanto em situações comuns da vida diária como no âmbito profissional. Desse modo, essas ferramentas tecnológicas estão contribuindo para o acontecimento da transformação digital no mundo.

Os recursos desse modelo de tecnologia estão presentes em diversas áreas, dentre elas, estão os seguintes exemplos:

-Casa: existem inúmeros aparelhos baseados em IoT, por exemplo, a Smart TV, termostatos, geladeiras e fechaduras inteligentes.

-Wearable: são equipamentos "vestíveis", ou seja, acessórios que utilizamos no corpo, como os smartwatches e fones de ouvido.

-Saúde: a tecnologia ajuda na integração com o prontuário do paciente. Com isso, alterações no estado clínico, como na pressão sanguínea e frequência cardíaca são rapidamente atualizadas no registro, otimizando o atendimento médico.

-Agricultura: os sensores IoT ajudam no monitoramento da temperatura, umidade do solo e do ar, ativando automaticamente os sistemas de irrigação, quando necessário.


Como é o funcionamento da IoT?

De maneira resumida, um dispositivo inteligente é equipado com determinados mecanismos que possibilitam a conexão com uma rede, podendo ser tanto Wi-Fi como Bluetooth e dados móveis (3G, 4G e 5G).

Desde a sua criação até agora, porém, a IoT sofreu vários progressos e passou a agrupar diferentes funções de outras tecnologias aos seus métodos de funcionamento, dentre elas, a Inteligência Artificial (IA).

Desse modo, os objetos conseguem acessar diversas informações armazenadas na nuvem e aprendem com esses dados, já que utilizam os princípios de Machine Learning, ou Aprendizado de Máquina.

Além disso, muitos aparelhos também recorrem ao Processamento de Linguagem Natural (PLN). Por isso, conseguem reconhecer a escrita em idioma humano ou um comando de voz e compreender o objetivo da solicitação, agindo em harmonia com o pedido.

Entretanto, vale ressaltar que, apesar de a IoT ter ligação com a IA, as duas concepções são distintas, cada uma tem as suas próprias particularidades.


Texto retirado e adaptado de: TECMUNDO. Internet das coisas: entenda o que é e como
funciona. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/internet/230884
-internet-coisas-entenda-funciona.htm Acesso em: 20 mar., 2022.
Considere as afirmações a seguir a respeito do uso da vírgula no texto "Internet das coisas: o que é e como funciona". Assinale V para as afirmações verdadeiras e F para as falsas:

(  )Em "A Internet das Coisas, em inglês Internet of Things (IoT), é uma referência à habilidade de diferentes tipos de objetos conseguirem estabelecer conexão com a internet", o trecho que está entre vírgulas oferece uma explicação e, portanto, pode ser chamado de aposto.
(  )No trecho "Portanto, esses itens conseguem coletar e transmitir dados a partir da nuvem", a vírgula está sendo empregada para isolar o conectivo que sinaliza conclusão.
(  )No fragmento "Sendo assim, é possível perceber que esse conceito não é uma novidade, já existe há mais de 20 anos", a primeira vírgula tem a função de isolar uma locução explicativa e a segunda introduz uma explicação.

Assinale a alternativa com a sequência CORRETA:
Alternativas
Q1953756 Português

COMO ATINGIR UM SUPERENVELHECIMENTO?


Por que algumas pessoas mais velhas permanecem mentalmente ágeis, enquanto outras não? “Superagers” – termo criado pelo neurologista Marsel Mesulam, que denomina pessoas com um envelhecimento saudável, ativo e produtivo – são aqueles cuja memória e atenção não estão apenas acima da média para a sua idade, mas estão realmente como a de pessoas de 25 anos saudáveis e ativas. No Hospital Geral de Massachusetts (EUA), foi estudado recentemente os “Superagers” para entender o que os faz assim tão fortes mentalmente.

O laboratório do hospital americano utilizou ressonância magnética funcional para fazer a varredura e comparar os cérebros de 17 dessas pessoas mais velhas e mentalmente ágeis com os de outras pessoas de idade similar, mas apresentando envelhecimento padrão. Foi identificado um conjunto de regiões cerebrais que distinguem os dois grupos. Essas regiões eram mais finas para os mais velhos com envelhecimento padrão, um resultado da atrofia relacionada com a idade. Mas, nos indivíduos com um superenvelhecimento, as regiões cerebrais eram indistinguíveis daquelas de adultos jovens – aparentemente intocadas pelos sinais do tempo.

Quais são essas regiões cruciais do cérebro? Se você pedisse à maioria dos cientistas para adivinhar, eles poderiam nomear regiões que são pensadas como “cognitivas” ou dedicadas ao pensamento, como o córtex pré-frontal lateral. No entanto, isso não é o que foi encontrado. Quase toda a ação foi em regiões “emocionais”, como o giro do cíngulo médio do córtex e a porção anterior da ínsula.

O laboratório não foi surpreendido por esta descoberta, porque a neurociência moderna desacreditou da noção de que há uma distinção entre as regiões “cognitivas” e “emocionais” do cérebro. A pesquisa demonstra que essas regiões principais atuam significativamente para um superenvelhecimento. Quanto mais grossas são essas regiões do córtex, melhor o desempenho de uma pessoa em testes de memória e atenção, como memorizar uma lista de substantivos e relembrá-la 20 minutos depois.

Quais as atividades, se houver, que aumentariam suas chances de permanecer mentalmente afiado na velhice? Esta questão ainda é estudada, mas a melhor resposta no momento é: trabalhar ou se empenhar duro em algo. Muitos laboratórios observaram que essas regiões críticas do cérebro aumentam sua atividade quando as pessoas realizam tarefas difíceis, quer o esforço seja físico ou mental. Você pode, portanto, ajudar a manter essas regiões espessas e saudáveis através de exercício vigoroso e ataques de esforço mental extenuante.

No entanto, a estrada para um superenvelhecimento é difícil porque estas regiões do cérebro têm outra propriedade intrigante: quando aumentam sua atividade, você tende a se sentir consideravelmente mal – cansado, frustrado. Pense na última vez que você lutou com um problema de matemática ou empurrou-se para seus limites físicos. O trabalho duro faz você se sentir mal no momento. O Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos tem um lema que incorpora este princípio: “A dor é a fraqueza deixando o corpo”. Ou seja, o desconforto do esforço significa que você está construindo músculo e disciplina. Os “superagers” são como fuzileiros navais: eles se sobressaem ao não desistir de uma atividade por causa do desagrado temporário do esforço intenso.

Estudos sugerem que o resultado é um cérebro mais jovem, que ajuda a manter uma memória mais nítida e uma maior capacidade de prestar atenção. Isso significa que quebra-cabeças agradáveis como o Sudoku não são suficientes para proporcionar os benefícios de um superenvelhecimento. Nem os sites populares de “jogos cerebrais”. Você deve fazer uma atividade que exija bastante esforço, tipo “Faça-a até que doa, e então um pouco mais”.

À medida que as pessoas envelhecem, a pesquisa mostra que se cultiva a felicidade evitando situações desagradáveis. Isso às vezes é uma boa ideia, como quando você evita um vizinho rude. Mas se as pessoas contornarem consistentemente o desconforto do esforço mental ou físico, esta restrição pode ser prejudicial para o cérebro, pois o seu tecido se torna mais fino com o desuso. Se você não usá-lo, você o perderá.

Então, assuma uma atividade desafiadora. Aprenda uma língua estrangeira. Faça um curso universitário on-line. Domine um instrumento musical. Trabalhe seu cérebro.

(www.essentialnutrition.com.br/conteudos/superenvelh ecimento)

“ ‘Superagers’ – termo criado pelo neurologista Marsel Mesulam, que denomina pessoas com um envelhecimento saudável, ativo e produtivo –...”, os travessões utilizados no trecho introduzem uma/um: 
Alternativas
Q1953535 Português
De acordo com as questões gramaticais do texto, a ortografia oficial e o emprego dos sinais de pontuação, assinale a alternativa correta. 
Alternativas
Q1953347 Português

        Minha primeira tentativa de ler Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, foi um fracasso. Eu ainda estava na escola e me confundia com as frases longas e as palavras antigas. Acabei desistindo.

        Anos depois, li do começo ao fim, desfrutando cada página da história daquela dupla inusitada: o cavaleiro idealista determinado a transformar a realidade para que se assemelhe à de seus livros e seus sonhos; e o escudeiro pragmático que tenta manter seu mestre na dura realidade para que ele não se perca nas nuvens da fantasia.

        Tudo é deslumbrante nesse livro, que simboliza melhor do que qualquer outro a infinita variedade da língua espanhola para expressar a condição humana com todas as nuances, a fantasia que leva o ser humano a transformar a vida. Em outras palavras, a forma como a literatura nos defende da frustração, do fracasso e da mediocridade.

        O mundo estreito e provinciano de La Mancha, pelo qual Dom Quixote e Sancho fazem sua peregrinação, pouco a pouco se torna, graças à coragem do determinado cavaleiro andante, um universo de aventuras insólitas, em que se entrelaçam audácia, absurdo e humor, para nos mostrar como a imaginação pode transformar o tédio em aventura e converter o cotidiano em uma peripécia inusitada em que se alternam o maravilhoso, o milagroso, o patético – todos os matizes de que se faz a vida.

        Em livro recente, o crítico Santiago Muñoz Machado analisa as biografias mais importantes do escritor Miguel de Cervantes para saber em que sociedade surgiu Dom Quixote. O leitor da obra de Muñoz Machado encontrará tudo: o aparato jurídico que reinava na Espanha enquanto Cervantes escrevia as aventuras de Dom Quixote, as festas populares, a propagação da feitiçaria, os crimes da Inquisição, a vida elevada dos artistas, a mentalidade militar à sombra da Coroa.

        Cervantes era um homem simples e miserável, aparentemente desde muito jovem. No começo da vida, um crime o leva para a Itália. Como todos os humildes, ele se torna soldado. E guerreia em Lepanto contra os turcos, quando não deveria, por causa de condição de que sofria. E, então, devido a raptores berberiscos, ele passou cinco anos em Argel, onde deve ter sofrido o indescritível, sobretudo depois de suas tentativas de fuga. Padres trinitarianos o salvaram, pagando seu resgate. Na Espanha, tentou ir para a América, mas o Estado sequer respondeu às suas cartas. Ou seja, com ele tudo acontecia de maneira tal que ele poderia muito bem se tornar ressentido. E, no entanto, a generosidade e a hombridade de Cervantes estão mais do que garantidas. Era um homem sem remorso, preocupado em elevar a vida de seus concidadãos. Um homem bom e idealista.

        Quando li Dom Quixote, já havia muito tempo que lia romances de cavalaria, nos quais o formalismo tentava frear os excessos da época. Sob a ferocidade das batalhas, surgiu um mundo de paz e ordem, segundo um plano rígido destinado a acabar com a espontaneidade que mostrava o mundo como ele é: pútrido e irremediável. Será que, depois de tanto sofrer na vida, Cervantes também não tivesse buscado a mesma coisa?

(Adaptado de: LLOSA, Mario Vargas. Disponível em: www.cultura.estadao.com.br. Acessado em: 05.05.2022) 

O emprego das vírgulas indica uma enumeração no seguinte trecho:
Alternativas
Q1952853 Português

Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.


Brincadeiras de criança

  Entre as crianças daquele tempo, na hora de formar grupos pra brincar, alguém separava as sílabas enquanto ia rodando e apontando cada um com o dedo: “Lá em ci-ma do pi-a-no tem um co-po de ve-ne-no, quem be-beu mor-reu, o cul-pa-do não fui eu”. Piano? Qual? Veneno? Por quê? Morreu? Quem? Tratava-se de uma “parlenda”*, como aprendi bem mais tarde, mas podem chamar de surrealismo, enigma, senha mágica, charada...

  Mesmo as nossas cartilhas de alfabetização tinham seus mistérios: uma das lições iniciais era a frase “A macaca é má”, com a ilustração de uma macaquinha espantada e a exploração repetida das sílabas “ma” e “ca”. Ponto. Nenhuma história? Por que era má a macaquinha? Depois aprendi que “má macaca” é um parequema**. A gente vai ficando sabido e ignorando o essencial. O que, afinal, teria aprontado a má macaquinha da cartilha?

  A grande poeta Orides Fontela usou como epígrafe de um de seus livros de alta poesia (Helianto, 1973) esta popular quadrinha de cantiga de roda: 


                                                  “Menina, minha menina,

Faz favor de entrar na roda

Cante um verso bem bonito

Diga adeus e vá-se embora”

  Ou seja: brincando, brincando, eis a nossa vida resumida, em meio aos densos poemas de Orides, a nossa vida, em que cada um de nós se apresenta aos outros, busca dizer com capricho a que veio no tempinho que teve e...adeus. Podem soar fundo as palavras mais inocentes: “ir-se embora”, depois da viva roda... E ir-se embora sem saber mais nada daquele copo de veneno em cima do piano ou da macaquinha da cartilha, eternamente condenada a ser má. Ir-se embora já ouvindo bem ao longe as vozes das crianças cantando na roda.

* parlenda: palavreado utilizado em brincadeiras infantis ou jogos de memorização.

** parequema: repetição de sons ou da sílaba final de uma palavra, no início da palavra seguinte.

(Adaptado de: MACEDÔNIO, Faustino. Casos de almanaque, a publicar)


A supressão da vírgula altera o sentido da seguinte frase:  
Alternativas
Q1952609 Português
Leia o texto a seguir para responder à questão.

TEXTO
A ARTE DE ESCUTAR BONITO

Mirian Goldenberg
Antropóloga e professora da UFRJ


   Desde que a pandemia começou, tive (e continuo tendo) várias fases de depressão, pânico, ansiedade, desespero, tristeza e desesperança. Ainda não consegui encontrar uma saída da concha ou da caverna escura em que me escondi nos últimos dois anos.
  Foram os meus amigos e os meus livros que me ajudaram a sobreviver física e emocionalmente nos piores momentos. Decidi relembrar aqui algumas lições que aprendi em meio a essa tragédia para ajudar quem está precisando de um colete salva vidas ou de um abraço carinhoso, como eu ainda preciso.
  Viktor Frankl me desafiou a construir uma vida com significado. Apesar das circunstâncias dramáticas, ninguém pode destruir a liberdade que temos de escolher a melhor atitude para enfrentar o sofrimento inevitável. Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre me mostraram que não importa o que a vida fez de nós: o que importa é o que fazemos com o que a vida fez de nós, quais são os nossos propósitos e projetos de vida.
   Epicteto me mostrou que a nossa felicidade e liberdade começam com a compreensão de um princípio básico: algumas coisas estão sob nosso controle e outras, não. Devemos sempre fazer o máximo e o melhor que estiver ao nosso alcance. Cada obstáculo pode ser encarado como uma oportunidade para descobrirmos a nossa coragem desconhecida e para encontrarmos o nosso potencial escondido. As provações que suportamos podem revelar quais são as nossas forças e fraquezas. [...]
   Clarice Lispector me mostrou que os nossos piores defeitos podem estar sustentando o edifício inteiro. Ao aceitar as nossas limitações, em vez de lutar contra elas, a gente se torna livre. Com Clarice, desisti de lutar contra as minhas angústias, ansiedades, inseguranças, vergonhas, culpas, obsessões, medos e tristezas, e passei a olhar com mais carinho para a Olívia Palito que se escondia no armário para fugir da violência, gritos e surras do pai e irmãos.
   A minha história familiar me tornou a mulher que escreve compulsivamente para, como Clarice, salvar as vidas dos meus amores e salvar a minha própria vida. Quem eu seria hoje se não tivesse sobrevivido como uma formiguinha com medo de ser esmagada?
   Rubem Alves me revelou que ostras felizes não fazem pérolas: é a ostra triste que, para se proteger do grão de areia que machuca, produz as mais belas pérolas. Ele também me ensinou "a arte de escutar bonito", uma arte que só valorizamos em meio ao sofrimento, dor e angústia existencial.
   Já contei aqui que o meu maior arrependimento é não ter aprendido a "escutar bonito" meus pais para compreender melhor a minha própria história. Tento compensar esse vazio existencial "escutando bonito" meus amigos nonagenários. [...]
   Meu melhor amigo Guedes, de 98 anos, me ensinou: "Tem que ter coragem, Mirian, coragem". Ele nunca me deixa desistir quando me sinto impotente, apavorada e sem força para continuar. Sem ele, eu não teria conseguido enfrentar a depressão, o desespero e o pânico que senti em vários momentos.
   Todos os dias às 18h30, desde o primeiro dia da pandemia, ele telefona para mim: conversamos, rimos, lemos, cantamos, brincamos com as palavras e aprendemos juntos a "escutar bonito". A nossa amizade é o mais belo presente que ganhei da vida, um tesouro que nenhum egoísta, vampiro ou odiador de plantão conseguirá destruir.
   São essas pequenas doses de amor que me dão coragem para continuar escrevendo, estudando e escutando bonito. São essas pequenas epifanias que me socorrem nos momentos em que, como escreveu Clarice, eu acho que tudo o que eu faço com tanta paixão "é pouco, é muito pouco".

Adaptado https://www1.folha.uol.com.br
"Tem que ter coragem, Mirian, coragem". 9º§
As vírgulas empregadas na frase acima separam: 
Alternativas
Q1952556 Português

Instrução: Leia o excerto a seguir para responder à questão.


Imaginemos uma cena possível do cotidiano:

Um garoto vai para a escola levado de carro por seu pai. Ao sinal vermelho do semáforo, surge bem em frente um menino mirrado, com roupas surradas e um nariz de palhaço, fazendo um triste show circense de malabarismo. Outros dois também aproveitam a parada obrigatória para vender balas ou pedir moedas. Rapidamente, o vidro do carro sobe depois da ordem e do comentário do pai: Está vendo, filho, é assim que começa. Daqui a alguns anos, esses moleques vagabundos que não querem estudar e trabalhar estarão roubando e matando. Isso não tem jeito de consertar. Acende o verde e lá vai o garoto para escola um pouco assustado, mas aliviado: Ainda bem que minha família é do bem. Está plantada a semente do preconceito social.

(CARDOSO, C.M. Fundamentos para uma educação na diversidade. In: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/unesp/. Acesso em 20/10/2021.)

O uso adequado da vírgula auxilia na construção de textos mais claros, dirimindo, inclusive, ambiguidades. Leia a charge a seguir. 

Imagem associada para resolução da questão
(Disponível em: https//br.pinterest.com/visaghair/plagiando. In: infoenem.com. 28-01-2016. Acesso em: 23/11/2021.)


A falta de vírgula antes da palavra gente, sintaticamente um vocativo, muda o sentido da frase, efeito intencionalmente buscado na charge. Em qual trecho do texto em análise, o uso da vírgula (ou das vírgulas) justifica-se pela mesma razão que deveria haver vírgula antes da palavra gente?
Alternativas
Q1952491 Português
Na frase: “Naquela casa havia de tudo: flores secas, janelas quebradas, quartos escuros, portas rangendo...”, as reticências no final da frase indicam: 
Alternativas
Q1952115 Português

O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

Do papel para a tela: biblioteca digital escolar ganha espaço na educação brasileira 


Na educação pública brasileira, 43% dos espaços de aprendizagem dedicados ao Ensino Fundamental não estão equipados com biblioteca. Esse número cai para 11,6% no Ensino Médio. Ainda assim, o volume de estudantes sem acesso a esse espaço - fundamental para a alfabetização e aprendizagem - é muito alto. Os dados são do Anuário Brasileiro de Educação Básica 2021, produzido pelo Todos pela Educação.

Essa realidade também mostra como o país está longe de implementar o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014. Uma das metas do PNE assegura o acesso a bibliotecas a todas as escolas públicas do Brasil.

Estimulada pela pandemia, quando as escolas fecharam suas portas e passaram a operar apenas de forma remota, a criação de bibliotecas digitais escolares representa novas possibilidades, tanto aos estudantes quanto aos professores. Ao armazenar e compartilhar livros digitais, utilizando plataformas gratuitas, muitas escolas viram aumentar o interesse dos alunos pela leitura e passaram a estimular os docentes a utilizarem essa ferramenta em suas práticas pedagógicas.

Biblioteca digital escolar: novo conceito para uma nova escola

 É o que acontece no Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Ana Maria Ferreira de Paula, em Planaltina (Goiás). A biblioteca digital da unidade possui um acervo diverso, com títulos que vão desde literatura até cadernos de estudo para o Enem, sempre agregando conteúdos de domínio público.

Segundo a gestora do Cepi, Elisangela Dias Custódio, o processo começou durante a pandemia, com a digitalização de parte do acervo da biblioteca física. Os materiais passaram a ser distribuídos via WhatsApp e, com a alta aceitação do formato pelos estudantes e até mesmo suas famílias, a escola passou a centralizar os livros digitais em um site. "A troca de conhecimento que ela gera é muito interessante. Um dos diferenciais do livro digital é permitir que os conteúdos sejam lidos simultaneamente, em conjunto, e, com isso, o livro passa a ser mais vivo no dia a dia escolar", observa Elisangela.

Até abril de 2021, foram criadas 120 bibliotecas digitais escolares na rede de Goiás, todas nas escolas de tempo integral. De acordo com a superintendente de Ensino Integral da Secretaria de Educação do estado, Marcia Rocha Antunes, o "boom" de bibliotecas virtuais foi estimulado pela reconceitualização do espaço escolar que aconteceu durante a pandemia.

"Antes, ainda estávamos presos à ideia de que a escola era só o espaço físico, era o prédio. Depois tivemos que reconstruir esse conceito, pois a escola ainda estava aberta, porém não tínhamos prédio. Era preciso fazer uma ruptura, e um dos espaços remodelados foi a biblioteca", conta Marcia. "Tínhamos que fazer chegar na casa dos estudantes livros, revistas, jornais, e desde a secretaria coordenamos esse processo."

Curadoria de livros digitais

Foram realizadas formações com os docentes, para apoiá-los no uso das ferramentas e, principalmente, na curadoria dos livros digitais. "Precisamos aguçar esse olhar crítico para o professor entender de que forma esses livros o apoiam em sua metodologia, buscando realizar o que está previsto no currículo. E, acima de tudo, atrelar as atividades às competências previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular)." 

A superintendente afirma que já é possível visualizar resultados concretos da criação de bibliotecas virtuais. Além de um número maior de debates sobre leitura organizados pelas escolas, os próprios estudantes da rede foram encorajados a produzir suas histórias, através de crônicas e contos. "Três obras foram escritas pelos alunos durante a pandemia e passaram a fazer parte das bibliotecas digitais." 

Assinale a alternativa que apresenta correção no emprego de pontuação: 
Alternativas
Q1951925 Português



Carolina Fioratti. Cientistas desenvolvem algoritmo capaz de encontrar padrões ocultos em sonhos. In: Superinteressante,
27 ago. 2020. Internet: <super.abril.com.br> (com adaptações).
Acerca dos aspectos gramaticais e dos sentidos do texto apresentado, julgue o item.

A vírgula presente na linha 23 está sendo empregada para separar termos que desempenham a mesma função sintática. 
Alternativas
Q1951491 Português
Texto para o item.




Internet: <www.oeco.org.br> (com adaptações).
Julgue o item, referentes a aspectos gramaticais do texto. 

A inserção de uma vírgula imediatamente após o termo “investigações” (linha 17) não prejudicaria a correção gramatical nem a coerência do texto.
Alternativas
Q1951488 Português
Texto para o item.




Internet: <www.oeco.org.br> (com adaptações).
Julgue o item, referentes a aspectos gramaticais do texto. 

Na linha 1, estariam mantidas a correção gramatical e a coerência do texto caso a vírgula empregada após “atrativo” fosse deslocada para imediatamente depois de “lucrativo”. 
Alternativas
Q1951367 Português

Texto para o item.



Em relação aos aspectos gramaticais e aos sentidos do texto apresentado, julgue o item.


Se a vírgula empregada no trecho “Sonhos recorrentes, que acompanham a gente a vida toda” (linhas 17 e 18) fosse suprimida, o sentido original do texto seria alterado, pois, nesse caso, a oração adjetiva introduzida pelo pronome “que” passaria a ter sentido restritivo. 

Alternativas
Q1951362 Português

Texto para o item.



Em relação aos aspectos gramaticais e aos sentidos do texto apresentado, julgue o item.


As vírgulas empregadas no trecho “Ouvir em sonho um aviso, um conselho, e dar certo” (linhas 15 e 16) têm a finalidade de isolar um aposto enumerativo.

Alternativas
Ano: 2022 Banca: FGV Órgão: TJ-GO Prova: FGV - 2022 - TJ-GO - Juiz Leigo |
Q1951260 Português

Literatura e justiça


Clarice Lispector



Hoje, de repente, como num verdadeiro achado, minha tolerância para com os outros sobrou um pouco para mim também (por quanto tempo?). Aproveitei a crista da onda, para me pôr em dia com o perdão. Por exemplo, minha tolerância em relação a mim, como pessoa que escreve, é perdoar eu não saber como me aproximar de um modo “literário” (isto é, transformado na veemência da arte) da “coisa social”. Desde que me conheço o fato social teve em mim importância maior que qualquer outro: em Recife os mocambos foram a primeira verdade para mim. Muito antes de sentir “arte”, senti a beleza profunda da luta. Mas é que tenho um modo simplório de me aproximar do fato social: eu queria “fazer” alguma coisa, como se escrever não fosse fazer. O que não consigo é usar escrever para isso, ainda que a incapacidade me doa e me humilhe. O problema de justiça é em mim um sentimento tão óbvio e tão básico que não consigo me surpreender com ele – e, sem me surpreender, não consigo escrever. E também porque para mim escrever é procurar. O sentimento de justiça nunca foi procura em mim, nunca chegou a ser descoberta, e o que me espanta é que ele não seja igualmente óbvio em todos. Tenho consciência de estar simplificando primariamente o problema. Mas, por tolerância hoje para comigo, não estou me envergonhando totalmente de não contribuir para algo humano e social por meio do escrever. É que não se trata de querer, é questão de não poder. Do que me envergonho, sim, é de não “fazer”, de não contribuir com ações. (Se bem que a luta pela justiça leva à política, e eu ignorantemente me perderia nos meandros dela.) Disso me envergonharei sempre. E nem sequer pretendo me penitenciar. Não quero, por meios indiretos e escusos, conseguir de mim a minha absolvição. Disso quero continuar envergonhada. Mas, de escrever o que escrevo, não me envergonho: sinto que, se eu me envergonhasse, estaria pecando por orgulho.

“E também porque para mim escrever é procurar. O sentimento de justiça nunca foi procura em mim, nunca chegou a ser descoberta, e o que me espanta é que ele não seja igualmente óbvio em todos.”
Quando esse segmento do texto é digitado no computador, os vocábulos “E também” aparecem destacados pelo corretor de textos; o problema encontrado nesses vocábulos é que: 
Alternativas
Ano: 2022 Banca: FGV Órgão: TJ-GO Prova: FGV - 2022 - TJ-GO - Juiz Leigo |
Q1951255 Português

Literatura e justiça


Clarice Lispector



Hoje, de repente, como num verdadeiro achado, minha tolerância para com os outros sobrou um pouco para mim também (por quanto tempo?). Aproveitei a crista da onda, para me pôr em dia com o perdão. Por exemplo, minha tolerância em relação a mim, como pessoa que escreve, é perdoar eu não saber como me aproximar de um modo “literário” (isto é, transformado na veemência da arte) da “coisa social”. Desde que me conheço o fato social teve em mim importância maior que qualquer outro: em Recife os mocambos foram a primeira verdade para mim. Muito antes de sentir “arte”, senti a beleza profunda da luta. Mas é que tenho um modo simplório de me aproximar do fato social: eu queria “fazer” alguma coisa, como se escrever não fosse fazer. O que não consigo é usar escrever para isso, ainda que a incapacidade me doa e me humilhe. O problema de justiça é em mim um sentimento tão óbvio e tão básico que não consigo me surpreender com ele – e, sem me surpreender, não consigo escrever. E também porque para mim escrever é procurar. O sentimento de justiça nunca foi procura em mim, nunca chegou a ser descoberta, e o que me espanta é que ele não seja igualmente óbvio em todos. Tenho consciência de estar simplificando primariamente o problema. Mas, por tolerância hoje para comigo, não estou me envergonhando totalmente de não contribuir para algo humano e social por meio do escrever. É que não se trata de querer, é questão de não poder. Do que me envergonho, sim, é de não “fazer”, de não contribuir com ações. (Se bem que a luta pela justiça leva à política, e eu ignorantemente me perderia nos meandros dela.) Disso me envergonharei sempre. E nem sequer pretendo me penitenciar. Não quero, por meios indiretos e escusos, conseguir de mim a minha absolvição. Disso quero continuar envergonhada. Mas, de escrever o que escrevo, não me envergonho: sinto que, se eu me envergonhasse, estaria pecando por orgulho.

“Mas é que tenho um modo simplório de me aproximar do fato social: eu queria ‘fazer’ alguma coisa, como se escrever não fosse fazer.”
Nesse segmento do texto, o termo “fazer” aparece entre aspas para indicar que:
Alternativas
Q1951239 Português
Leia o texto a seguir para responder à questão.

Eu sei, mas não devia

Marina Colasanti

  Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
  A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
   A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
   A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
   A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
   A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
   A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
   A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
   A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
   A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Disponível em:
<http://www.releituras.com/mcolasanti_eusei.asp>.
Acesso em 20 mar. 2020.
Em relação ao emprego da pontuação no parágrafo abaixo, assinale a única alternativa inadequada.
“A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.” 
Alternativas
Ano: 2022 Banca: FCC Órgão: TJ-CE Prova: FCC - 2022 - TJ-CE - Oficial de Justiça |
Q1951056 Português

Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.


Sombra

Sombra, explicava a sabida boneca Emília, de Monteiro Lobato, é ar preto. Criança, não me tranquilizei: do escuro só podiam surgir fantasmas, apagar a luz era dar uma oportunidade aos duendes e demônios do quarto. Só a luz possuía o dom confortante de tocar deste mundo os habitantes do outro.  

No ginásio, estudante de Física, não me tranquilizei. Sombra é o resultado da interposição de um corpo opaco entre o observador e o corpo luminoso, sinal de que muitos corpos luminosos deixam de banhar-nos com sua luz desejável, sinal de que nos faltam felicidades, de que muitos sóis necessários se interromperam em sua viagem até nossos olhos.

Não perguntar o que um homem possui, mas o que lhe falta. Isso é sombra. Não indagar de seus sentimentos, mas saber o que ele não teve a ocasião de sentir. Sombra. Não se importar com o que ele viveu, mas prestar atenção à vida que não chegou até ele, que se interrompeu de encontro a circunstâncias invisíveis, imprevisíveis. A vida é um ofício de luz e trevas. Enquadrá-lo em sua constelação particular, saber se nasceu muito cedo para receber a luz da estrela ou se chegou ao mundo quando de há muito se extinguiu o astro que deveria iluminá-lo. 

Ontem vi uma menininha descobrindo sua sombra. Ela parava de espanto, olhava com os olhos arregalados, tentava agarrar a sombra, andava mais um pouco, virava de repente para ver se o seu fantasma ainda a seguia. Era a representação dramática de um poema infantil de Robert Stevenson, no qual uma menininha vai e vem, rodeando, saltando, gesticulando com seus bracinhos diante de sua sombra, implorando por uma explicação impossível, dançando um balé que será a sua própria vida.

(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte: Autêntica, 2021, p. 211-212) 



Está plenamente adequada a pontuação da seguinte frase:
Alternativas
Respostas
2621: D
2622: C
2623: C
2624: D
2625: C
2626: A
2627: D
2628: E
2629: B
2630: B
2631: E
2632: C
2633: E
2634: C
2635: C
2636: E
2637: B
2638: E
2639: A
2640: B