Questões de Concurso
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Setenta anos, por que não?
Acho essa coisa da idade fascinante: tem a ver com o modo como lidamos com a vida. Se a gente a considera uma ladeira que desce a partir da primeira ruga, ou do começo de barriguinha, então viver é de certa forma uma desgraceira que acaba na morte. Desse ponto de vista, a vida passa a ser uma doença crônica de prognóstico sombrio. Nessa festa sem graça, quem fica animado? Quem não se amargura?
O tempo me intriga, como tantas coisas, desde quando eu tinha uns 5 anos. Quando esta coluna for publicada, mais ou menos por aqueles dias, estarei fazendo 70. Primeiro, há meses, pensei numa grande festa, eu que sou avessa a badalações e gosto de grupos bem pequenos. Mas pensei, bem, 70 vale a pena! Aos poucos fui percebendo que hoje em dia fazer 70 anos é uma banalidade. Vou reunir filhos e pouquíssimos amigos e fazer aquela festona nos 80. Ou 90.
Pois se minhas avós eram damas idosas aos 50, sempre de livro na mão lendo na poltrona junto à janela, com vestidos discretíssimos, pretos de florzinha branca (ou, em horas mais festivas, minúsculas flores ou bolinhas coloridas), hoje aos 70 estamos fazendo projetos, viajando (pode ser simplesmente à cidade vizinha para visitar uma amiga), indo ao teatro e ao cinema, indo a restaurante (pode ser o de quilo, ali na esquina), eventualmente namorando ou casando de novo. Ou dando risada à toa com os netos, e fazendo uma excursão com os filhos. Tudo isso sem esquecer a universidade, ou aprender a ler, ou visitar pela primeira vez uma galeria de arte, ou comer sorvete na calçada batendo papo com alguma nova amiga.
Outro dia minha neta de quase 10 anos me disse: “Você é a pessoa mais divertida que conheço, é a única avó do mundo que sai para comprar mamão e volta com um buldogue”. Era verdade. Se sou tão divertida não sei, mas gosto que me vejam não como a chata que se queixa, reclama e cobra, mas como aquela que de verdade vai comprar a fruta de que o marido mais gosta, anda com vontade de ter de novo um cachorro e entra na loja quase ao lado do mercado. Por um acaso singular, pois não são cachorros muito comuns, ali há um filhotinho de buldogue inglês que voltou comigo para casa em lugar da fruta. Foi batizada de Emily e virou mais uma alegria.
E por que não? Por que a passagem do tempo deveria nos tornar mais rígidas, mais chatas, mais queixosas, mais intolerantes, espantalhos dos afetos e da alegria? “Why be normal?”, dizia o adesivo que amigos meus mandaram fazer há muitos anos para colocarmos em nossos carros só pela diversão, pois no fundo não queria dizer nada além disso: em nossas vidas atribuladas, cheias de compromissos, trabalho, pouco dinheiro, cada um com seus ônus e bônus, a gente podia cometer essa transgressão tão inocente e engraçada, de ter aquele adesivo no carro.
Não precisamos ser tão incrivelmente sérios, cobrar tanto de nós, dos outros e da vida, críticos o tempo todo, vendo só o lado mais feio do mundo. Das pessoas. Da própria família. Dos amigos. Se formos os eternos acusadores, acabaremos com um gosto amargo na boca: o amargor de nossas próprias palavras e sentimentos. Se não soubermos rir, se tivermos desaprendido como dar uma boa risada, ficaremos com a cara hirta das máscaras das cirurgias exageradas, dos remendos e intervenções para manter ou recuperar a “beleza”. A alma tem suas dores, e para se curar necessita de projetos e afetos. Precisa acreditar em alguma coisa.
O projeto pode ser comprar um vaso de flor e botar na janela ou na mesa, para contemplarmos beleza. Pode ser o telefonema para o velho amigo enfermo. Pode ser a reconciliação com o filho que nos magoou, ou com o pai que relegamos, quando não nos podia mais sustentar. O afeto pode incluir uma pequena buldogue chamada Emily, para alegrar ainda mais a casa, as pessoas, sobretudo as crianças, que estão sempre por aqui, o maior presente de uma vida de apenas 70 anos.
(Lya Luft. Disponível em: http://www.udemo.org.br/Leituras_242.htm. Acesso em: 27/06/2016. Adaptado.)
Sue arrecada doações por meio de sua ONG “Project Dignity” (Projeto Dignidade) e fabrica kits para serem distribuídos nas escolas.
Em 2010, Sue descobriu que garotas de famílias pobres estavam faltando na escola a cada menstruação porque não podiam comprar absorventes. “As garotas estavam perdendo uma semana de escola por mês”, diz Sue, de 49 anos.
Sobre esses trechos, analise estas afirmativas e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas.
( ) As aspas foram utilizadas em ambos os trechos pela mesma razão. ( ) Os verbos “perdendo” e “diz” estão no particípio e no infinitivo, respectivamente. ( ) As expressões “Em 2010” e “por mês” indicam tempo. ( ) A expressão “por meio de” indica o instrumento utilizado por Sue para conseguir as doações. ( ) “nas escolas” e “absorventes” são ambos complementos diretos dos verbos “distribuídos” e “comprar”.
Assinale a sequência CORRETA.
Portanto, tentaram “corrigir” violentamente sua “anormalidade”.
Em relação ao uso das aspas, analise as afirmativas a seguir.
I. Foram utilizadas para relativizar os conceitos das palavras aspeadas. II. Servem para, em outros contextos, marcar ironia por parte do autor. III. Poderiam ser substituídas por parênteses.
De acordo com o contexto em que aparecem e considerando a norma padrão, estão corretas as afirmativas:
Do que são feitos os heróis?
A ciência ainda tateia para entender o que determina ações repletas de altruísmo e coragem.
Neste mês (02/2015), comemoram-se 70 anos do fim do Holocausto, o que nos faz lembrar não só as atrocidades cometidas pelos nazistas como os heróis que se arriscaram para salvar o próximo. Por que em momentos tão perigosos surgem heróis? O herói, frequentemente, ao explicar por que retirou uma vítima de automóvel em chamas ou um barco que afundava, dá a mesma resposta: agiu “sem pensar”.
Em editorial da New Scientist, Michael Bond cita estudos feitos com esses “heróis da vida diária” para entender o que têm em comum. O presidente da Fundação Carnegie Hero Fund Commission, que homenageia quem arrisca a vida para salvar os outros, repete seu fundador, afirmando que o heroísmo é um impulso. Agora, pesquisadores buscam entender como ativá-lo.
O sociólogo Samuel Oliner, que na infância foi salvo do nazismo ao ser escondido por uma amiga da família, passou a vida pesquisando por que alguém ajudaria o outro sem pensar em si próprio. Altruísmo é uma evolução adaptativa de comportamento, pois os grupos onde ele existe tendem a ser mais bem-sucedidos.
Oliner entrevistou 406 pessoas que se arriscaram para salvar judeus durante a Segunda Guerra, e outras 72 que simplesmente viveram na Europa nesse período. Os “heróis” mostraram-se mais empáticos e compartilhavam valores de justiça, compaixão e responsabilidade pelo próximo, conceitos que declararam ter aprendido com os pais. Também eram mais tolerantes com as diferenças, considerando como seu grupo toda a humanidade.
Para Kristen Monroe, da Universidade da Califórnia, que estudou a psicologia dos heróis do Holocausto, “onde a maioria das pessoas vê um estranho, o altruísta vê um amigo em necessidade”. O altruísta tende a ser constante em seus atos. David Rand, de Yale, que estuda jogos de cooperação, descobriu que quem costuma cooperar em um tipo de jogo tende a cooperar em todos, mesmo sem receber benefícios.
Que motivadores tornam as pessoas altruístas ainda está por ser descoberto, mas o que se sabe é que altruístas têm maior senso de igualdade e são influenciados pelo comportamento dos pais. Ou seja, há um componente biológico hereditário e um componente adquirido. Altruístas têm uma região do cérebro, a amígdala do lado direito, maior que o normal. Essa região reconhece faces com expressão de medo. Ou seja, tais pessoas conseguem reconhecer e responder mais rápido ao desespero alheio, ao contrário dos psicopatas, que possuem amígdalas menores. No entanto, ser altruísta é condição necessária, mas não única, para se tornar herói, o qual em potencial precisa também ter uma personalidade que assume riscos.
O heroísmo do dia a dia é difícil de ser estudado, pois é raro. A Fundação Garnegie, em seus 110 anos, condecorou apenas 10 mil deles. Uma saída seria estudar os heróis de guerra. Mas esses são diversos, pois os atos heroicos são inspirados mais por lealdade aos companheiros do que por altruísmo. Estudo feito com 283 soldados israelenses que receberam medalhas pela guerra do Yom Kippur não encontrou características de personalidade diferentes.
Heróis podem também ser forjados. Experiências no início da vida que trazem mais responsabilidades, como a morte de um dos pais ou ser filho mais velho de família grande, aumentam o senso de preocupação com o próximo. Por isso, Oliner propõe que atos de altruísmo sejam discutidos nos primeiros anos escolares, para que seja forjada uma personalidade altruística. Para o neurologista Silas Weir, que há mais de um século motivou seu amigo Carnegie a instituir o prêmio, “o Homem em situações de emergência é um fantoche do seu passado, que subitamente puxa as cordas e determina a ação”.
(TUMA, Rogério. Publicado em 04/02/2015. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/revista/835/do-que-sao-feitos-os-herois-568.html.
Acesso em: 20/01/2017.)
Paciência de Jó
Nesses tempos modernos, andamos muito impacientes.
Durante os anos que passei fora do Brasil, comunicava-me por cartas. Toda noite, sentava na minha escrivaninha e colocava a correspondência em dia. Ia até altas horas respondendo uma a uma, aquelas cartas que chegavam em envelopes verde-amarelos.
Depois de colocada no correio, uma carta levava de sete a dez dias pra chegar ao Brasil. Se a pessoa respondesse na hora, eram mais sete a dez dias pra chegar até Paris. E eu esperava, pacientemente.
Todo dia, acordava de madrugada para ir trabalhar. Meu trabalho era preparar o café da manhã para um batalhão de estudantes num restaurante universitário. Quando voltava pra casa, a primeira coisa que fazia era bater os olhos na caixa de cartas que ficava na portaria do meu prédio. Ela tinha quatro furos na parte inferior e, de longe, já dava pra enxergar se haviam chegado envelopes verde-amarelos.
Era um tempo em que não havia internet, não havia Skype, não havia WhatsApp, e-mail e um telefonema DDD custava os olhos da cara.
Lembro-me bem que quando o meu primeiro filho nasceu, poucas horas depois dei a primeira clicada no seu rostinho com uma Pentax Trip 33. Levei o filme pra revelar numa loja que ficava na Rue Soufflot e esperei cinco dias úteis para que as fotos ficassem prontas.
Fotografias na mão, coloquei dentro de um envelope pardo e despachei, pelo correio, pros meus pais, em Belo Horizonte. Quando eles abriram e viram o Julião pela primeira vez, o menino já tinha mais de vinte dias. Eles esperaram pacientemente a hora de ver a carinha do neto francês, uma grande novidade na família.
O meu pai vivia dizendo que, para levar a vida, era preciso ter uma paciência de Jó. Um dia, fui lá na Bíblia da minha mãe saber quem era o tal Jó.
Fiquei sabendo que, além de ser o mais paciente da turma, Jó tinha sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de boi e quinhentas jumentas. Imagine que só pra contar essa bicharada, é preciso mesmo ter uma paciência de Jó.
Ninguém tem mais paciência pra nada nesses tempos modernos. Se nos anos 70 eu esperava vinte dias a resposta de uma carta, hoje, se alguém não me responde um e-mail em segundos, já começo a perder a paciência.
Aqui em casa, a nossa empregada coloca qualquer coisa 30 segundos no micro-ondas, e fica lá com a mão na porta, impaciente, contando nos dedos a hora de apitar.
No elevador do meu prédio, os moradores apertam o botão, a luzinha acende mas, mesmo assim, eles voltam lá umas três vezes e apertam de novo, impacientes.
Sem contar o carro de trás que sempre buzina assim que o sinal fica verde, o motorista que começa a acelerar quando percebe que já passaram os minutos e que o sinal já vai sair do vermelho e aquele que passa na sua frente e enfia o carro na vaga do shopping porque não tem paciência de ficar procurando um lugar pra estacionar.
Isso, sem contar que, no restaurante, quando alguém pede uma coca ao garçom e ele demora mais de um minuto, a gente sempre ouve um... “acho que ele esqueceu!”
Sinto que muitas pessoas não têm mais paciência pra ler um texto com mais de cinco linhas. Se você chegou até aqui, considero uma vitória!
Já percebeu que ninguém tem mais paciência de sentar-se na poltrona para ouvir música, pra procurar as três Marias no céu, pra plantar um grão de feijão no algodão e esperar ele crescer. Ninguém tem saco nem mesmo pra jogar paciência.
Já se foi o tempo em que tínhamos paciência até para decorar latim. Quem não se lembra do famoso Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia mostra? Que, em bom português, quer dizer Até quando abusarás, Catilina, da nossa paciência?
(Alberto Villas. Carta Capital, 24 de abril de 2016.)
O caminho a seguir
Como é inútil o exercício de dourar a pílula, convém enfrentar a realidade: os desafios do Brasil para 2017 são imensos. O país precisa voltar a crescer para elevar o padrão de vida material do seu povo e explorar nossa energia criadora em sua plenitude. Precisa aprovar as reformas estruturais para modernizar-se e competir com qualidade no mundo globalizado. Precisa civilizar a vida política, estabelecendo um padrão ético aceitável, e superar as feridas de uma profunda divisão de ideologia e método. Precisa, enfim, reencontrar o caminho da estabilidade institucional, arranhada nos últimos tempos.
Nada disso é fácil, mas há dois aspectos que autorizam os brasileiros a nutrir certo otimismo: o Brasil tem um potencial tão vasto, mas tão vasto que às vezes até gera efeitos prejudiciais à medida que nos permite relaxar, adiar, procrastinar tarefas que todos sabemos essenciais. Mas o potencial está aí, pujante, latente, só parcialmente aproveitado. Está na esplêndida diversidade étnica do Brasil, talvez o único país de dimensões continentais com tamanha capacidade para absorver e assimilar tudo e todos, eliminando diferenças com naturalidade. O Brasil, nunca é irrelevante lembrar, fala a mesma língua, com variações que acrescentam graça em vez de incompreensão. Comunga de valores muito semelhantes, não importam a região de procedência, a cor da pele, o gênero, a religião. Tudo isso – somado à tradição pacifista que cancelou conflitos regionais há séculos e à possibilidade de alçar-se à condição de uma potência ecológica –, tudo isso, repita-se, empresta ao Brasil uma notável originalidade a ser explorada.
Para que todo esse potencial seja posto em movimento, é preciso mais tolerância com as divergências, honestidade de princípios, disposição para o trabalho e, em grande medida, clareza sobre nossa missão como nação: a missão de construir um país livre da pobreza abjeta e da desigualdade obscena e pleno de justiça e oportunidades – um país, enfim, que possa oferecer a todos os seus cidadãos a possibilidade de ter uma vida feliz. [...]
(Carta do Editor. Veja, 28 de dezembro de 2016.)
Ele tinha 250 pontos de QI e se tornou professor da
Universidade Harvard com apenas 16 anos.
Mas sua vida não foi das mais felizes
O americano William James Sidis, que nasceu em 1898 em Nova York, foi a pessoa mais inteligente de todos os tempos – pelo menos segundo os testes de QI. Ele ficou famoso por realizar proezas mentais espantosas e pelo seu quociente de inteligência, que foi estimado em 250 pontos (2,5 vezes maior que a média da população, 100 pontos).
Aos 18 meses de idade, William já sabia ler; aos 2, aprendeu sozinho latim e, aos 3, grego. Aos 11 anos, ganhou uma vaga na Universidade Harvard. Formou-se com louvor aos 16 anos e se tornou o professor mais novo da instituição. Falava 40 línguas. Tudo estava encaminhado para que ele tivesse um futuro brilhante. Mas William não quis. Ele se dizia traumatizado pelo passado como criança prodígio, e decidiu renegar tudo o que lembrasse aquilo.
Pediu demissão e passou o resto da vida pulando entre empregos braçais, que não exploravam sua inteligência descomunal: trabalhou operando máquinas e como chapeiro numa lanchonete. Recusava-se a pensar em matemática ou a resolver equações de cabeça, tarefa impossível para uma pessoa comum – coisa que ele passou a infância fazendo. Para se sentir normal, colecionava miniaturas de bondes e estudava a história de Boston. Tinha nojo de sexo e fez voto de castidade ainda na adolescência. Vestia uma mesma túnica no inverno e verão e não era afeito ao banho. Morreu aos 46 anos, virgem, de hemorragia cerebral.
SANTI, Alexandre. SuperInteressante.
Disponível em:<http://twixar.me/hRn3>
Releia o trecho a seguir.
“[...] maior que a média da população, 100 pontos [...]”
A seguir, analise as afirmativas.
I. A vírgula pode ser substituída por dois-pontos.
II. O excerto destacado é um aposto.
III. A vírgula isola um trecho que explica outro.
De acordo com o trecho e com a norma-padrão, estão
corretas as afirmativas
Ele tinha 250 pontos de QI e se tornou professor da
Universidade Harvard com apenas 16 anos.
Mas sua vida não foi das mais felizes
O americano William James Sidis, que nasceu em 1898 em Nova York, foi a pessoa mais inteligente de todos os tempos – pelo menos segundo os testes de QI. Ele ficou famoso por realizar proezas mentais espantosas e pelo seu quociente de inteligência, que foi estimado em 250 pontos (2,5 vezes maior que a média da população, 100 pontos).
Aos 18 meses de idade, William já sabia ler; aos 2, aprendeu sozinho latim e, aos 3, grego. Aos 11 anos, ganhou uma vaga na Universidade Harvard. Formou-se com louvor aos 16 anos e se tornou o professor mais novo da instituição. Falava 40 línguas. Tudo estava encaminhado para que ele tivesse um futuro brilhante. Mas William não quis. Ele se dizia traumatizado pelo passado como criança prodígio, e decidiu renegar tudo o que lembrasse aquilo.
Pediu demissão e passou o resto da vida pulando entre empregos braçais, que não exploravam sua inteligência descomunal: trabalhou operando máquinas e como chapeiro numa lanchonete. Recusava-se a pensar em matemática ou a resolver equações de cabeça, tarefa impossível para uma pessoa comum – coisa que ele passou a infância fazendo. Para se sentir normal, colecionava miniaturas de bondes e estudava a história de Boston. Tinha nojo de sexo e fez voto de castidade ainda na adolescência. Vestia uma mesma túnica no inverno e verão e não era afeito ao banho. Morreu aos 46 anos, virgem, de hemorragia cerebral.
SANTI, Alexandre. SuperInteressante.
Disponível em:<http://twixar.me/hRn3>
Releia o trecho a seguir.
“Pediu demissão e passou o resto da vida pulando entre empregos braçais, que não exploravam sua inteligência descomunal: trabalhou operando máquinas e como chapeiro numa lanchonete.”
O dois-pontos foi utilizado pelo autor para
Estão corretas as afirmativas:
As mortes violentas entre os jovens
As mortes de jovens por causas violentas no Brasil, na contramão do que se passa nos
países desenvolvidos, superam as causadas por acidentes automobilísticos e suicídio.
O assassinato brutal de um garoto de 18 anos agora em setembro dentro do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, voltou a chamar a atenção para a principal causa de morte de homens jovens no Brasil de hoje: a violência.
Marlon Roldão Soares foi assassinado por dois jovens, que descarregaram ao menos 15 tiros na vítima. Ele se despedia de um amigo que iria viajar. O pai de Soares estava com ele. Dezenas de pessoas estavam no saguão do aeroporto no momento do crime. Até a quarta-feira, dia 21, não estava clara a causa do assassinato, que pelo padrão lembra uma execução. O jovem não tinha antecedentes criminais e não parecia ter relação com o tráfico. No entanto, o bairro em que residia, Vila Jardim, na Zona Norte da capital gaúcha, sofre com a disputa de duas facções criminosas rivais.
Esse conflito parece ter conexão com o ataque. Em um primeiro momento, a polícia trabalhava com a hipótese de um crime passional. O namoro de Soares com uma jovem de outra parte do bairro poderia ter gerado reação do grupo que “domina” a outra área. Outra possibilidade é o garoto ter sido morto por engano. O alvo seria o amigo que embarcava no aeroporto e que teria “desertado” de uma quadrilha de traficantes. O que aconteceu excepcionalmente dentro do saguão de um aeroporto é realidade cotidiana em áreas espalhadas pelo país, territórios com “donos” que não toleram a presença das autoridades. Criam verdadeiros bolsões em que a lei parece não ter vez.
Há uma banalização da violência entre os mais novos. A cena dos garotos saindo do aeroporto, rosto limpo, dando tiros para o alto, pegando “carona” em um carro que os aguardava, sem se preocupar se estavam sendo gravados, revela um desprezo com as autoridades
. As mortes de jovens por causas violentas no Brasil, na contramão do que se passa nos países desenvolvidos, superam as causadas por acidentes automobilísticos e suicídio. É o retrato de uma guerra urbana, que provoca a morte de dezenas de jovens, principalmente garotos, todo dia. As vítimas são majoritariamente pobres, negros e habitantes de periferias.
A sensação de impunidade, a impulsividade típica dessa fase da vida, a busca pela sensação de poder, a escola pouco atraente, o mercado de trabalho retraído, os empregos mal remunerados, o dinheiro “fácil” gerado pelo crime, o uso de álcool e drogas, a ausência de projeto de vida, a desestruturação familiar, história de prisões e agressões envolvendo os pais deixam uma grande parcela da população jovem mais vulnerável às promessas e à sedução do tráfico e do uso da violência. É um ciclo complexo, difícil de quebrar. Mas, sem enfrentar suas causas econômicas e sociais, continuaremos a apenas ficar chocados, dia após dia.
(BOUER, Jairo. Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/jairo-bouer/noticia/2016/10/mortes-violentas-entre-os-jovens.html.Acesso em: 18/10/2016.)
As mortes violentas entre os jovens
As mortes de jovens por causas violentas no Brasil, na contramão do que se passa nos
países desenvolvidos, superam as causadas por acidentes automobilísticos e suicídio.
O assassinato brutal de um garoto de 18 anos agora em setembro dentro do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, voltou a chamar a atenção para a principal causa de morte de homens jovens no Brasil de hoje: a violência.
Marlon Roldão Soares foi assassinado por dois jovens, que descarregaram ao menos 15 tiros na vítima. Ele se despedia de um amigo que iria viajar. O pai de Soares estava com ele. Dezenas de pessoas estavam no saguão do aeroporto no momento do crime. Até a quarta-feira, dia 21, não estava clara a causa do assassinato, que pelo padrão lembra uma execução. O jovem não tinha antecedentes criminais e não parecia ter relação com o tráfico. No entanto, o bairro em que residia, Vila Jardim, na Zona Norte da capital gaúcha, sofre com a disputa de duas facções criminosas rivais.
Esse conflito parece ter conexão com o ataque. Em um primeiro momento, a polícia trabalhava com a hipótese de um crime passional. O namoro de Soares com uma jovem de outra parte do bairro poderia ter gerado reação do grupo que “domina” a outra área. Outra possibilidade é o garoto ter sido morto por engano. O alvo seria o amigo que embarcava no aeroporto e que teria “desertado” de uma quadrilha de traficantes. O que aconteceu excepcionalmente dentro do saguão de um aeroporto é realidade cotidiana em áreas espalhadas pelo país, territórios com “donos” que não toleram a presença das autoridades. Criam verdadeiros bolsões em que a lei parece não ter vez.
Há uma banalização da violência entre os mais novos. A cena dos garotos saindo do aeroporto, rosto limpo, dando tiros para o alto, pegando “carona” em um carro que os aguardava, sem se preocupar se estavam sendo gravados, revela um desprezo com as autoridades
. As mortes de jovens por causas violentas no Brasil, na contramão do que se passa nos países desenvolvidos, superam as causadas por acidentes automobilísticos e suicídio. É o retrato de uma guerra urbana, que provoca a morte de dezenas de jovens, principalmente garotos, todo dia. As vítimas são majoritariamente pobres, negros e habitantes de periferias.
A sensação de impunidade, a impulsividade típica dessa fase da vida, a busca pela sensação de poder, a escola pouco atraente, o mercado de trabalho retraído, os empregos mal remunerados, o dinheiro “fácil” gerado pelo crime, o uso de álcool e drogas, a ausência de projeto de vida, a desestruturação familiar, história de prisões e agressões envolvendo os pais deixam uma grande parcela da população jovem mais vulnerável às promessas e à sedução do tráfico e do uso da violência. É um ciclo complexo, difícil de quebrar. Mas, sem enfrentar suas causas econômicas e sociais, continuaremos a apenas ficar chocados, dia após dia.
(BOUER, Jairo. Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/jairo-bouer/noticia/2016/10/mortes-violentas-entre-os-jovens.html.Acesso em: 18/10/2016.)
INSTRUÇÃO: Leia o texto I a seguir para responder à questão.
TEXTO I
Páris, filho do rei deTroia,raptou Helena, mulher de um rei grego. Isso provocou um sangrento conflito de dez anos, entre os séculos XIII e XII a. C. Foi o primeiro choque entre o ocidente e o oriente. Mas os gregos conseguiram enganar os troianos. Deixaram à porta de seus muros fortificados um imenso cavalo de madeira. Os troianos, felizes com o presente, puseram-no para dentro. À noite, os soldados gregos, que estavam escondidos no cavalo, saíram e abriram as portas da fortaleza para a invasão. Daí surgiu a expressão “presente de grego”.
DUARTE, Marcelo. O guia dos curiosos. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
Texto
No Brasil, entre o “pode” e o “não pode”, encontramos um “jeito”, ou seja, uma forma de conciliar todos os interesses, criando uma relação aceitável entre o solicitante, o funcionário-autoridade e a lei universal. Geralmente, isso se dá quando as motivações profundas de ambas as partes são conhecidas; ou imediatamente, quando ambos descobrem um elo em comum banal (torcer pelo mesmo time) ou especial (um amigo comum, uma instituição pela qual ambos passaram ou o fato de se ter nascido na mesma cidade). A verdade é que a invocação da relação pessoal, da regionalidade, do gosto, da religião e de outros fatores externos àquela situação poderá provocar uma resolução satisfatória ou menos injusta. Essa é a forma típica do “jeitinho”. Uma de suas primeiras regras é não usar o argumento igualmente autoritário, o que também pode ocorrer, mas que leva a um reforço da má vontade do funcionário. De fato, quando se deseja utilizar o argumento da autoridade contra o funcionário, o jeitinho é um ato de força que no Brasil é conhecido como o “Sabe com quem está falando?”, em que não se busca uma igualdade simpática ou uma relação contínua com o agente da lei atrás do balcão, mas uma hierarquização inapelável entre o usuário e o atendente. De modo que, diante do “não pode” do funcionário, encontra-se um “não pode do não pode” feito pela invocação do “Sabe com quem você está falando?”. De qualquer modo, um jeito foi dado. “Jeitinho” e “Você sabe com quem está falando?” são os dois polos de uma mesma situação. Um é um modo harmonioso de resolver a disputa; o outro, um modo conflituoso e direto de realizar a mesma coisa. O “jeitinho” tem muito de cantada, de harmonização de interesses opostos, tal como quando uma mulher encontra um homem e ambos, interessados num encontro romântico, devem discutir a forma que o encontro deverá assumir. O “Sabe com quem está falando?”, por seu lado, afirma um estilo em que a autoridade é reafirmada , mas com a indicação de que o sistema é escalonado e não tem uma finalidade muito certa ou precisa. Há sempre outra autoridade, ainda mais alta, a quem se poderá recorrer. E assim as cartas são lançadas.
(DAMATTA, Roberto. O modo de navegação social: a malandragem e o “jeitinho”. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Rocco, 1884. P79-89, (Adaptado) .
“King, que é vereadora na região londrina de Southwark, disse ter sido a primeira vez que soube dessa modalidade de furto e que divulgou o episódio para alertar outros ciclistas.”
Em relação ao trecho destacado, assinale a alternativa INCORRETA.
Ela disse ter ficado “chateada e chocada” ao perceber o furto.
De acordo com o contexto em que aparecem, as aspas, nesse trecho:
A vida é muito curta para fazer dieta
A vida é mesmo muito curta. Quantas vezes ouvimos falar que o tempo voa, quantas vezes os mais experientes nos disseram que queriam ter descansado mais, viajado mais, aproveitado mais os companheiros, os filhos. A gente nem vê os dias passando, justamente porque prevemos muita vida pela frente. Imagine quanto tempo nós já perdemos negando prazeres, deixando para aproveitar depois mesmo sabendo que nada retrocede. Então, de que adianta sermos prisioneiros de nós mesmos, escravos do tempo? Se sabemos que somos feitos de agora, não faz sentido esperar para desfrutar amanhã.
Do mesmo jeito que a vida é curta para guardar rancor, para ficar de mau humor, para cumprir só com as obrigações, ela também é curta para passar por privações que nós mesmos criamos. Pense bem. É como estar num cativeiro com as chaves no bolso. Caramba. Somos crescidos o bastante para sermos os donos do nosso nariz, do coração, do estômago e do corpo inteiro.
A vida é muito curta para negar prazeres. E comer, definitivamente, é um enorme prazer. Sem contar que a comida aproxima as pessoas, como na casa da avó, onde toda a família se reúne espremida na cozinha para enfiar o dedo no molho, raspar a panela de doce e roubar uma colherinha antes de servir os pratos. Quantos pedidos de namoro foram feitos num jantar à luz de velas? Quantos casamentos começaram entre louças e taças de vinho? Quanto amor surgiu em volta de tabuleiros, quantas histórias compartilhadas entre cafés, sorrisos e pedaços de bolo?
Sinto muito, mas eu não vou tomar sopa e comer clara de ovo com batata doce 365 dias por ano, sozinha, tirando foto do meu prato e compartilhando a minha triste e solitária refeição insossa com as mulheres da academia. Não vou passar os meus dias comendo por obrigação, porque a sensação que me dá é a mesma de um astronauta que se alimenta de pílulas ou um enfermo mantido a caldo ralo. Eu não vou dispensar um vinho com as minhas amigas nem um jantar a dois pensando nos carboidratos. Não vou deixar de tomar cerveja porque dá barriga, e muito menos trocar o bom e velho brigadeiro por uma barra de proteína. Não vou azucrinar o garçom para saber o valor calórico dos bolinhos e da linguiça. Não vou encher o saco doutrinando sobre a dieta paleolítica.
É que não faz nenhum sentido viver sob a pressão de um corpo perfeito, de um modelo de beleza esquálido, só porque as capas de revista esfregam na nossa cara o que é “bonito”. Outra coisa: não existe perfeição, como também não existe um só tipo de beleza, um só tipo de cabelo, uma única cor de olhos. Que mania que as pessoas têm de rotular tudo e todo mundo, dividir em espécies, classificar e, no fim das contas, separar o bom do ruim, o que presta do que não presta.
A vida passa tão rápido que ninguém pensa no tempo que se perde vivendo para ser como os outros e esquecendo de viver para si. Estão todos sozinhos, com pressa, mastigando as suas marmitas sem glúten e pouco sódio. Não é permitido aproveitar o hoje porque é preciso estar linda amanhã. Você deve castrar as suas vontades se quiser ser “gostosa”. Ninguém vai te amar se você tiver a barriguinha saliente e uma dúzia de celulites. Das mais inadmissíveis loucuras para emagrecer aos produtos que inflem os músculos e o ego. É batata. É impossível ser bonita se você não for como elas.
A alimentação não tem que ser um check list que deve ser cumprido. No final das contas, sabe o que eu queria? Eu queria mesmo é que a gente se libertasse das obrigações e dos conceitos que o mundo impõe, começando pela ilusão de que felicidade é privação. Pra mim, ser feliz é justamente o contrário. Felicidade é permitir-se.
[...]
Dizem que aquela mulher que se alimenta a base de shakes é feliz. Eu tenho as minhas dúvidas.
Disponível em: <http://www.revistabula.com/5786-a-vidae-muito-curta-para-fazer-dieta/>.
Leia o trecho a seguir.
“É que não faz nenhum sentido viver sob a pressão de um corpo perfeito,de um modelo de beleza esquálido,só porque as capas de revista esfregam na nossa cara o que é ‘bonito’ .Outra coisa: não existe perfeição, como também não existe um só tipo de beleza,um só tipo de cabelo,uma única cor de olhos.”
Segundo a norma padrão da língua portuguesa,os dois-pontos,destacados no trecho,podem ser substituídos,sem alteração de sentido, por: