Questões de Concurso
Sobre problemas da língua culta em português
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TEXTO V
SOTAQUE MINEIRO: É ILEGAL, IMORAL OU ENGORDA?
Gente, simplificar é um pecado. Se a vida não fosse tão corrida, se não tivesse tanta conta para pagar, tantos processos — oh sina — para analisar, eu fundaria um partido cuja luta seria descobrir as falas de cada região do Brasil.
Cadê os linguistas deste país? Sinto falta de um tratado geral das sotaques brasileiros. Não há nada que me fascine mais. Como é que as montanhas, matas ou mares influem tanto, e determinam a cadência e a sonoridade das palavras?
(...)
Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem: pó parar. Não dizem: onde eu estou?, dizem: ôndôtô?). Parece que as palavras, para os mineiros, são como aqueles chatos que pedem carona. Quando você percebe a roubada, prefere deixá-los no caminho.
(...)
Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro — metaforicamente falando, claro — ele é bom de serviço. Faz sentido...
Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: cê tá boa? Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa, é como perguntar a um peixe se ele sabe nadar. Desnecessário.
Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: — Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).(...).
Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta. Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz: — Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.
(...)
Mineiras não dizem apaixonado por. Dizem, sabe-se lá por que, apaixonado com. Soa engraçado aos ouvidos forasteiros. Ouve-se a toda hora: Ah, eu apaixonei com ele.... Ou: sou doida com ele (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro). Elas vivem apaixonadas com alguma coisa.
(Texto de Felipe Peixoto Braga Netto - Crônica extraída do livro "As coisas simpáticas da vida", Landy Editora, São Paulo (SP) -
2005, pág. 82. Publicação retirada do site: http://goo.gl/ajNZpc. - Acesso em 14.6.2015).
Preencha as lacunas das frases a seguir, conforme a “norma-padrão” da língua portuguesa em uma das opções abaixo.
O Reitor e o Diretor do Campus ______ à cerimônia de formatura dos cursos superiores. A formanda estudiosa ______ esperanças da família.
Já ______ duas assembleias de estudantes durante o semestre. ______ em dois ou mais anos que os prédios novos recebem os alunos.
Fui eu quem ______ a pesquisa institucional e nó
Essa informação foi divulgada pela imprensa carioca. O desvio normativo que nele se identifica enquadra-se no âmbito da:
Chove chuva
Água, água e mais água. É tudo o que eu tenho a oferecer. Escrever o maior número de vezes a palavra mágica, na certeza de que águas passadas não movem moinhos, mas podem, de tanto serem sugeridas, sensibilizar os céus e fazer com que elas desabem sobre nós. E que depois se faça o arco-íris. Que depois apareça, toda de branco, toda molhada e despenteada, que maravilha!, a coisa linda que é o meu amor,
Eu gostaria de repetir a dança da chuva, a coreografia provocativa dos cheyennes, tantas vezes vista nos filmes. Falta-me o requebro. Temo também que o ridículo da cena faça o feitiço ir água abaixo. Eu gostaria de subir aos ares, como um Santos Dumont tardio, bombardear as nuvens com cloreto de sódio. Se não desse certo, pelo menos chegaria perto do ouvido de São Pedro e, com piadas do tipo “afogar o ganso” e “molhar o biscoito”, faria com que o santo relaxasse e abrisse as torneiras.
De nada disso, no entanto, sou capaz. Fico aqui, no limite do meu oceano, jacaré no seco anda, escrevendo e evocando as águas que passaram pela ponte da memória. Lembro, vizinha à minha casa, na Vila da Penha dos rios transbordantes, a compositora Zilda do Zé, de “As águas vão rolar”. A sua força ancestral, grande sambista, eu evoco agora, mesmo sabendo que a letra da música se refere à água que passarinho não bebe.
Todas as águas devem ser provocadas nesta imensa onda de pensamento positivo, e eu agora molho reverente os pés do balcão com o primeiro gole para o santo. Finjo-me pau d’água e sigo em frente. Nem aí para os incréus, nem aí para os que zombam da fé, esses insensatos. A todos peço que leiam na minha camisa e não desistam: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura".
[...]
O sonho acabou há tempo, e lá se foi John Lennon morto. Agora chegou a nostalgia da água, de torcer pelo volume morto e sentir saudade de ver um arco-íris emoldurando o Pão de Açúcar depois da pancada de verão. Como explicar a uma criança que sol e chuva é casamento de viúva? Como explicar a deliciosa aflição de dormir se perguntando “será que vai dar praia?”, se agora todo dia é dia de sol?
A propósito, eu li o grande poeta sentado no banco da praia e sei que a sede é infinita, que na nossa secura de amar é preciso buscar a água implícita, o beijo tácito — mas acho que é poesia demais para uma hora dessas. Urge, como queria Benjor, que chova chuva. Canivetes. Gatos e cachorros. Se Joseph Conrad traduziu a guerra com “o horror, o horror, o horror”, chegou a vez de resumir o nosso tempo com “a seca, a seca, a seca” — e bater os tambores na direção contrária. Saúdo para que se faça nuvem, e a todos cubra com o seu divino manto líquido, a saudosa Maria, a santa carioca que a incomparável Marlene viu subindo o morro com a lata d'água na cabeça.
2015 promete ser terrível, mas há quem ache
bom negócio refletir sobre os valores básicos da
sobrevivência, o que o homem está fazendo com o
meio ambiente. Vai ser o ano de valorizar como bem
de consumo insuperável não o Chanel n° 5, mas o
cheiro da terra molhada depois do toró de fim de
tarde. Que assim seja. Que se cumpra a felicidade de
ouvir Tom Jobim ao piano, tecla por tecla, gota a gota,
celebrando a cena real de, lá fora, estar chovendo na roseira.
Ah, quem me dera ligar o rádio e escutar o formidável português ruim da edição extraordinária. Aumentar o som para deixar o locutor gritar — os clichês boiando molhadinhos pelo tesão da notícia — que chove a cântaros em todos os quadrantes da Cidade Maravilhosa.
(SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Chove chuva. In: O Globo, 26.01.2015.)
A Copa do Mundo começa em 12 de junho. Está _________apenas seis meses de distância. As obras em muitos dos estádios da Copa estão muito atrasadas. E os custos de acomodação e viagem para os torcedores que irão _________Copa já são previstos como astronômicos. A Copa do Mundo é um dos poucos eventos internacionais que atrai pessoas em todo o planeta. E em junho o mundo todo estará observando o Brasil.
(Kenneth Maxwell, O ano que nos aguarda. Folha de S.Paulo, 28.11.2013. Adaptado)
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e respectivamente,
com:
Obrigado por ligar. Sua ligação é muito importante para nós. Se desejar serviços de instalação, tecle 1. Para reagendamento de visita, tecle 2. Para verificação de dados cadastrais, tecle 3. Para informações sobre plano de pagamento, tecle 4. Para falar com um de nossos atendentes...
Não, você não conseguirá falar com um de nossos atendentes. Mas poderá ouvir, durante 25 minutos ou mais, sucessos como “Moonlight Serenade” e o tema de “Golpe de Mestre”.
Também, quem mandou você não ter em mãos o número de seu cartão eletrônico, de sua matrícula no SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente), de seu cadastro na Comunidade NetLig?
Muitas coisas mudam de forma e de nome, mas no fundo permanecem iguais. A peregrinação que temos de fazer de tecla em tecla é a mesma que, antigamente, nos levava a passar horas nas filas de uma repartição burocrática.
Cada tecla, afinal de contas, não passa de um guichê, e o cartão que devemos ter por perto ou a senha que se impõe saber de cor equivale ao papel, à guia, ao documento que nos exigem e que nunca está a contento do funcionário.
É a burocracia sem papel, a burocracia dos impulsos eletrônicos. Claro, há vantagens: não é preciso sair de casa e, enquanto você espera atendimento, com o telefone encaixado entre o ombro e a bochecha, sempre poderá fazer alguma outra coisa. Sugestões: pôr os papéis em ordem na gaveta (você poderá encontrar o cartão de crédito cujo desaparecimento tentava comunicar); teclar alguma outra senha de acesso no computador, se tiver internet banda larga (se não tem, disque para nós hoje mesmo); alongar os músculos do pescoço e da nuca; ou entregar-se a outras atividades corporais cujo nome não seria conveniente declinar aqui.
De todo modo, a burocracia eletrônica segue os princípios da antiga. Quanto mais a instituição ou a empresa economizam, mais o usuário perde tempo. No hospital público ou na assistência técnica da máquina de lavar, sempre vigora a lei da seleção natural: eliminam-se os fracos, para que só os mais fortes, ou os mais desesperados, cheguem até o fim do processo.
Claro que, quanto mais procurado o serviço, maior a fila. Se notamos tanta burocracia nas instituições públicas, é porque seu acesso é universal. Em inúmeras entidades privadas vemos a burocracia aumentar, justamente porque passaram a ser procuradas pelo grosso da população. Os planos de saúde particulares constituem o maior exemplo disso, mas bancos e cartões de crédito, cujo universo de clientes se ampliou muito, não ficam atrás.
Experimento reações contraditórias quando vou a um caixa eletrônico. Em comparação com a fila tradicional, sem dúvida ganho tempo. Mas sinto que estou também “trabalhando” para o banco. Passo a senha, digito, confirmo, conto o dinheiro: eis que sou um novo funcionário do caixa, trabalhando de graça, enquanto algum bancário foi despedido em troca.
Tudo bem. Gasto menos tempo no banco. Mas diminuiu também a minha impressão de perder tempo. Todo trabalho, por mais mecânico que seja, faz o tempo passar mais depressa do que a pura espera. Fala-se de democracia participativa, mas a “burocracia participativa” também deveria merecer os seus filósofos.
À medida que um serviço se generaliza, crescem as possibilidades de fraude. Quando uma empresa, pública ou privada, passa do âmbito de uma distinta clientela para o universo multitudinário e turvo da humanidade em seu conjunto, torna-se inevitável multiplicar as precauções contra os indivíduos de má-fé; isso significa mais burocracia.
O que é um antivírus, um firewall ou um anti-spam, a não ser a burocratização do nosso computador? Eu costumava usar um antivírus que tinha rigores de fiscal de alfândega, parecia usar carimbos de Polícia Federal em dia de operação-tartaruga toda vez que se punha a examinar a mensagem que entrava e a mensagem que saía do meu Outlook.
Acontece que o computador, como tudo o que tem telinha (um caça-níqueis, uma TV, um videogame, um caixa eletrônico) sempre oferece ao usuário algo de lúdico, de viciante, de hipnótico.
Já a burocracia telefônica (volto a ela) é muito pior. Seu maior pecado, a meu ver, está na confusão que estabelece entre as categorias de tempo e de espaço. Entre num desses sistemas de “tecle 5 se deseja isto, tecle 6 se deseja aquilo...” e tente corrigir uma decisão errada.
Os sistemas mais extensos e irritantes usam a famigerada tecla 9 -”para mais opções”-, abrindo-se em alternativas que, para serem conhecidas integralmente, exigiriam a vida inteira. Tudo ficaria mais fácil, se o sistema fosse visualizado no espaço, num esquema em árvore, num organograma, num menu de website -ou mesmo num mapa de repartição, com suas ramificações em corredores, departamentos e guichês. No máximo, ficaremos andando de um lado para outro.
O problema do “tecle isto, tecle aquilo” é que ele se desenvolve no tempo, não no espaço. Somos forçados a prosseguir em alternativas que será sempre mais custoso reverter; avançamos em decisões tomadas no escuro, como se navegássemos num fluxo betuminoso, por rios e córregos cada vez mais estreitos, cada vez mais espessos, carregados de todas as opções já feitas, de todo o tempo acumulado e perdido naquela ligação, sem muita esperança de que, na extrema ponta do percurso, uma voz humana venha afinal falar conosco.
É assim que o sistema de ramais automáticos guarda incômoda semelhança com nossa própria vida adulta; tem algo de anacrônico, de auditivo, de analógico. Já as telas da internet, organizadas espacialmente, com seus cliques de mouse, seus compartimentos de todas as cores, seus guichês planificados e seus pop-ups imprevistos e festivos, são um modelo bem alegre em que mirar. Desde que a conexão não caia de repente.
COELHO, Marcelo. Disponível em:< http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1703200416.htm>.Acesso em: 12 abr. 2015. (Adaptado)
CAPÍTULO XIV / O PRIMEIRO BEIJO
Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança, com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.
Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita é que nascera de um letrado de Madri, vítima da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela tinha apenas doze anos.
Cosas de España. Quem quer que fosse, porém, o pai, letrado ou hortelão, a verdade é que Marcela não possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a moral do código. Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlindas; luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes. Naquele ano, morria de amores por um certo Xavier, sujeito abastado e tísico, – uma pérola.
(MACHADO
DE ASSIS, J. M. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Rio de Janeiro: Ediouro, s. d.)
Considere as orações a seguir:
I. Marcela era amiga de dinheiro e de rapazes.
II. Marcela era filha de um hortelão.
Assinale a alternativa em que as orações I e II estão reunidas em um só período de acordo com a norma culta
CAPÍTULO XIV / O PRIMEIRO BEIJO
Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança, com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.
Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita é que nascera de um letrado de Madri, vítima da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela tinha apenas doze anos.
Cosas de España. Quem quer que fosse, porém, o pai, letrado ou hortelão, a verdade é que Marcela não possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a moral do código. Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlindas; luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes. Naquele ano, morria de amores por um certo Xavier, sujeito abastado e tísico, – uma pérola.
(MACHADO
DE ASSIS, J. M. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Rio de Janeiro: Ediouro, s. d.)
Considere os períodos a seguir:
I. Falta dois dias para o final do prazo.
II. Era cinco horas da tarde.
III. Vossa Excelência está equivocado.
Está(ao) de acordo com a norma culta
CAPÍTULO XIV / O PRIMEIRO BEIJO
Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança, com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.
Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita é que nascera de um letrado de Madri, vítima da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela tinha apenas doze anos.
Cosas de España. Quem quer que fosse, porém, o pai, letrado ou hortelão, a verdade é que Marcela não possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a moral do código. Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlindas; luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes. Naquele ano, morria de amores por um certo Xavier, sujeito abastado e tísico, – uma pérola.
(MACHADO
DE ASSIS, J. M. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Rio de Janeiro: Ediouro, s. d.)
Astrônomos acham que a grande descoberta dos próximos 100 anos será a da vida fora da Terra. O Universo está cheio de ETs, avaliam, e já não parece tão difícil encontrar um deles por aí.
O cerco para captar sinais enviados do espaço por possíveis ETs inteligentes aumentou. Durante muito tempo essa missão foi encarada apenas pela Sociedade Planetária, na Califórnia, Estados Unidos, com o seu Programa de Busca de Inteligência Extraterrestre, conhecido pela sigla em inglês, Seti. Este ano, várias outras instituições se integraram à tarefa. Entre elas estão a Universidade Harvard e da Califórnia, nos Estados Unidos, o Observatório Medicina, na Itália, e a Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália. Com o reforço, será possível investigar, nos próximos vinte anos, cerca de 5000 estrelas. É dez vezes mais do que o Seti pôde fazer, sozinho, em uma década e meia de existência. [...]
Alta, cabelos claros, bonita, 55 anos, a astrônoma Jill Tarter dedicou sua carreira ao trabalho de procurar criaturas desenvolvidas em outros mundos. [...] Mas, se existe alguém capaz disso, esse alguém é ela. A astrônoma dirige o principal projeto do Seti, batizado de Fênix, instalado no Observatório de Arecibo, em Porto Rico (mas, de fato, operado pela Universidade Cornell, americana). O objetivo do Fênix é usar a grande antena de Arecibo para captar emissões de rádio vindas de 1 000 estrelas e em seguida analisá-las para achar algum traço incomum. [...]
Mil cópias da Terra girando pela Galáxia
Os avanços tecnológicos que impulsionam a pesquisa de sinais de ETs no Cosmo prometem transformar 2012 num ano de grandes emoções. Nessa data, a Nasa planeja lançar ao espaço o Terrestrial Planet Finder, conhecido pela sigla em inglês TPF, que quer dizer descobridor de planetas terrestres. Mais ou menos na mesma época, a Agência Espacial Européia pretende decolar um irmão do TPF, chamado Darwin.
Esses serão os primeiros telescópios em condições de observar planetas do tamanho da Terra que giram em volta de estrelas a mais de 500 trilhões de quilômetros daqui. Atualmente, a essa distância, só é possível detectar mundos gigantes como Júpiter, dentro do qual caberiam 1 300 planetinhas como o nosso.
Satélite-monstro de 100 metros de comprimento, o TPF ficará estacionado a mais de 1 bilhão de quilômetros do Sol para evitar que a luz da estrela ofusque as lentes do aparelho. Daí, ele deverá encontrar mais de 1 000 planetas parecidos com a Terra – acredita-se que a semelhança aumente a chance de eles serem habitados. A meta é examinar a atmosfera das centenas de cópias da Terra que deverão ser captadas. O ar pode revelar sinais de que na superfície dos planetas existam criaturas. O indício mais esperado é o oxigênio. Como esse elemento é naturalmente raro nos corpos celestes, se ele estiver presente é porque foi produzido por organismos.
Disponível em http://super.abril.com.br/tecnologia/hora-encontro-438346.shtml. Acesso em 30 abr. 2010.
I. Em Perguntando-me a mim mesmo, há duas formas − me e a mim mesmo − que expressam reflexividade da ação, motivo pelo qual uma delas pode ser elidida sem prejuízo do sentido.
II. Em por que processo de associação ela me viera à memória, o segmento destacado está grafado segundo as normas gramaticais.
III. Em não atinei com o porquê, a palavra destacada apresenta erro de grafia: o acento gráfico não é justificável.
IV. Em percebi o sentido disso tudo, a palavra destacada resume as razões citadas após os dois-pontos.
Está correto o que se afirma APENAS em
A disseminação rápida é atribuída à ausência de imunidade na população e à distribuição dos mosquitos-vetores capazes de transmitir o vírus: Aedes aegypti e Aedes albopictus, os mesmos da dengue.
O nome chicungunha veio da língua Kimakonde, com o significado de “homem que anda arqueado", referência às dores articulares da enfermidade.
Como a história da dengue e da febre amarela, a do chicungunha é indissociável do comportamento humano. O aquecimento e a seca que assolaram o norte da África há 5 000 anos forçaram espécies ancestrais dos mosquitos a adaptar-se __________ ambientes __________ os homens armazenavam água.
A febre chicungunha, que emergiu na África, chegou __________ Ásia e __________ Américas.
O chicungunha já é uma ameaça para nós, como de-monstra a velocidade de disseminação na Bahia e no Amapá.
(Folha de S.Paulo, 15 nov. 2014. Adaptado)
"Sua avó estava doente_________ mais de um mês. Veio_______ falecer na semana passada. Devido______morte da avó, ele não compareceu________ aulas."
O LADO NEGRO DO FACEBOOK
(Superinteressante, junho de 2015)
O Facebook é, de longe, a maior rede da história da humanidade. Nunca existiu, antes, um lugar onde 1,4 bilhão de pessoas se reunissem – e 936 milhões entrassem todo santo dia (só no Brasil, 59 milhões). Metade de todas as pessoas com acesso à internet, no mundo, entra no Facebook pelo menos uma vez por mês. Ele tem mais adeptos do que a maior das religiões (a católica, com 1,2 bilhão de fiéis), e mais usuários do que a internet inteira tinha dez anos atrás. Em suma: é o meio de comunicação mais poderoso do nosso tempo, e tem mais alcance do que qualquer coisa que já tenha existido. A maior parte das pessoas o adora, não consegue conceber a vida sem ele. Também pudera: o Facebook é ótimo. Nos aproxima dos nossos amigos, ajuda a conhecer gente nova e acompanhar o que está acontecendo nos nossos grupos sociais. Mas essa história também tem um lado ruim. Novos estudos estão mostrando que o uso frequente do Facebook produz alterações físicas no cérebro. Quando estamos nele, ficamos mais impulsivos, mais narcisistas, mais desatentos e menos preocupados com os sentimentos dos outros. E, de quebra, mais infelizes.
O LADO NEGRO DO FACEBOOK
(Superinteressante, junho de 2015)
O Facebook é, de longe, a maior rede da história da humanidade. Nunca existiu, antes, um lugar onde 1,4 bilhão de pessoas se reunissem – e 936 milhões entrassem todo santo dia (só no Brasil, 59 milhões). Metade de todas as pessoas com acesso à internet, no mundo, entra no Facebook pelo menos uma vez por mês. Ele tem mais adeptos do que a maior das religiões (a católica, com 1,2 bilhão de fiéis), e mais usuários do que a internet inteira tinha dez anos atrás. Em suma: é o meio de comunicação mais poderoso do nosso tempo, e tem mais alcance do que qualquer coisa que já tenha existido. A maior parte das pessoas o adora, não consegue conceber a vida sem ele. Também pudera: o Facebook é ótimo. Nos aproxima dos nossos amigos, ajuda a conhecer gente nova e acompanhar o que está acontecendo nos nossos grupos sociais. Mas essa história também tem um lado ruim. Novos estudos estão mostrando que o uso frequente do Facebook produz alterações físicas no cérebro. Quando estamos nele, ficamos mais impulsivos, mais narcisistas, mais desatentos e menos preocupados com os sentimentos dos outros. E, de quebra, mais infelizes.