Questões de Concurso
Sobre problemas da língua culta em português
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(Dik Brownie, Hagar. www.folha.uol.com.br, 29.03.2015. Adaptado)
Considerando a ortografia e a acentuação da norma-padrão da língua portuguesa, as lacunas estão, correta
e respectivamente, preenchidas por:
Se não ______ imagens daquelas guerras, creio que ninguém _______. Quando meu tio _________ o preço do aparelho, ___________ um enorme susto.
“Há dez anos (...), a Coca-Cola não estava preocupada com o derretimento das geleiras..." (linhas 16-17).
Em qual das alternativas abaixo a lacuna NÃO deve ser preenchida com “Há", mas, sim, com “A"?
1 Em 1900, a expectativa de vida ao nascer de um brasileiro era de míseros 33,7 anos.
2 Nossa espécie desceu das árvores nas savanas da África há pelo menos 5 milhões de anos. Passamos quase toda a história abrigados em cavernas, atormentados pela fome, pelas doenças infecciosas e por predadores humanos e não humanos. A mortalidade infantil era estratosférica; poucos chegavam aos 20 anos em condições razoáveis de saúde.
3 Milhões de anos de privações moldaram muitas de nossas características atuais.
4 A mais importante delas foi a maturidade sexual precoce. Vivíamos tão pouco que levavam vantagem na competição as meninas que menstruavam antes e os meninos que produziam espermatozoides mais cedo. Quanto mais depressa concebiam filhos, maior a probabilidade de transmitir seus genes às gerações futuras.
5 A precocidade da fase reprodutiva impôs limites mais modestos à duração da vida. Em todos os animais, quanto mais tarde acontece o amadurecimento sexual, maior é a longevidade.
6 Nas drosófilas - a mosquinha que ronda as bananas maduras -, quando selecionamos para reprodução apenas as fêmeas e os machos mais velhos, em três ou quatro gerações a vida média da população duplica. Se nossos antepassados tivessem começado a ter filhos só depois dos 50 anos, agora passaríamos dos 120 com facilidade.
7 O acompanhamento de cortes de centenários confirma essa suposição: mulheres que engravidam pela primeira vez depois dos 40 anos têm quatro vezes mais chance de chegar dos 90 anos.
8 A segunda característica moldada nas cavernas foi nosso padrão alimentar. A arquitetura das redes de neurônios que controlam os mecanismos de fome e saciedade no cérebro humano foi engendrada em época de penúria. Em jejum há três dias, o homem daquele tempo trocaria a carne assada do porco do mato que acabou de caçar por um prato de salada?
9 A terceira, foi a necessidade de poupar energia. Em temporada de vacas magras, absurdo desperdiçá-la em esforços físicos desnecessários.
10 Somos descendentes de mulheres e homens que lutavam para conseguir alimentos altamente calóricos, porque deles dependia a sobrevivência da família. Como o acesso a eles era ocasional, nessas oportunidades comiam até não poder mais. Bem alimentados, evitavam movimentar-se para não malbaratar energia.
11 Durante milhões de anos, nosso cérebro privilegiou os mecanismos responsáveis pelo impulso da fome e pela economia de gasto energético, em prejuízo daqueles que estimulam a saciedade e a disposição para a atividade física.
12 De repente, veio o século 20, com o saneamento básico, as noções de higiene pessoal, as tecnologias de produção e conservação de alimentos, as vacinas e os antibióticos. Em apenas cem anos, a expectativa de vida no Brasil atingiu os 70 anos; mais do que o dobro em relação à de 1900, feito que nunca mais será repetido.
13 A continuarmos nesse passo, em 2030 atingiremos a expectativa de 78 anos. A faixa etária que mais cresce é a que está com mais de 60 anos. Sabendo que atualmente 75% dessa população sofre de enfermidades crônicas, a saúde pública estará preparada para enfrentar esse desafio?
14 Pelo andar da carruagem, é quase certo que não. Mas não é esse o tema que pretendo tratar neste sábado, leitor: quero chamar a atenção para a nossa irresponsabilidade ao lidar com o corpo.
15 Aos 40 anos, você pesa dez quilos mais do que aos 20. Aos 60, já acumulou mais uma arroba de gordura, não resiste aos doces nem aos salgadinhos, fuma, bebe um engradado de cerveja de cada vez, é viciado em refrigerante, só sai da mesa quando está prestes a explodir e ainda se dá ao luxo de passar o dia no conforto.
16 Quando se trata do corpo, você se comporta como criança mimada: faz questão absoluta de viver muito, enquanto age como se ele fosse um escravo forçado a suportar desaforos diários e a aturar todos os seus caprichos, calado, sem receber nada em troca.
17 Aí, quando vêm a hipertensão, o diabetes, a artrite, o derrame cerebral ou o ataque cardíaco, maldiz a própria sorte, atribui a culpa à vontade de Deus e reclama do sistema de saúde que não fez por você tudo o que deveria.
18 Desculpe a curiosidade: e você, pobre injustiçado, não tem responsabilidade nenhuma?
Dráuzio Varella
Extraído de: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/40970-l... irresponsavel.shtml
Eu me arrependi de ter entrado nesta _______ de cinema. O preço do ingresso estava muito caro, pouco conforto e os atores deste filme aturam muito _______. Isso me deixou ______ chateada.
Pechada
1 O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de “Gaúcho”. Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
2 — Aí, Gaúcho!
3 — Fala, Gaúcho!
4 Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?
5 — Mas o Gaúcho fala “tu”! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
6 — E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer “tu” e pode-se dizer “você”. Os dois estão certos. Os dois são português.
7 O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
8 Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
9 — O pai atravessou a sinaleira e pechou.
10 — O quê?
11 — O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
12 A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.
13 — O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.
14 — Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
15 — E o que é isso?
16 — Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
17 — Nós vinha...
18 — Nós vínhamos.
19 — Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.
20 A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.
21 “Sinaleira”, obviamente, era sinal, semáforo. “Auto” era automóvel, carro. Mas “pechar” o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que “pechar” vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.
22 — Aí, Pechada!
23 — Fala, Pechada!
(VERÍSSIMO, Luiz Fernando. In www.revistaescola.abril.com.br)
“Perguntaram para a professora POR QUE o Gaúcho falava diferente.” (4º §)
No período acima, por norma ortográfica, o termo em destaque, é escrito com os elementos separados. Considerando-se as quatro formas distintas de grafia do referido termo, pode-se afirmar que, das frases abaixo, está INCORRETA:
Pechada
1 O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de “Gaúcho”. Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
2 — Aí, Gaúcho!
3 — Fala, Gaúcho!
4 Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?
5 — Mas o Gaúcho fala “tu”! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
6 — E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer “tu” e pode-se dizer “você”. Os dois estão certos. Os dois são português.
7 O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.
8 Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
9 — O pai atravessou a sinaleira e pechou.
10 — O quê?
11 — O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
12 A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.
13 — O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.
14 — Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
15 — E o que é isso?
16 — Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
17 — Nós vinha...
18 — Nós vínhamos.
19 — Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.
20 A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.
21 “Sinaleira”, obviamente, era sinal, semáforo. “Auto” era automóvel, carro. Mas “pechar” o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que “pechar” vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.
22 — Aí, Pechada!
23 — Fala, Pechada!
(VERÍSSIMO, Luiz Fernando. In www.revistaescola.abril.com.br)
Ao ouvir o erro de concordância na fala do Gaúcho, “Nós vinha...” (17º §), a professora corrigiu: “Nós vínhamos” (18º §).
Nas opções abaixo também foram feitas correções de flexão verbal, erros comuns na linguagem coloquial. A correção que NÃO corresponde à norma culta é:
Os pais perderam a intimidade com as crianças. Esse
e outros efeitos da terceirização da educação e dos
cuidados de saúde
[...]Todos os dias as mulheres provam que são capazes de se dividir em muitas. Elas conciliam casa, trabalho, filhos, estudos, beleza com notável habilidade. O segredo é não almejar a perfeição.
Administro a vida como o equilibrista de pratos daqueles circos antigos. O importante não é manter cada prato girando perfeitamente. O importante é acudir cada um no momento certo para evitar que eles caiam.
Quando o bebê nasce, toda profissional vive o dilema do retorno ao trabalho. E, antes disso, vive o dilema da terceirização dos cuidados. O que é melhor? Deixar a criança na creche, com uma babá ou com a avó?
Todas as possibilidades têm prós e contras.A escolha depende da estrutura familiar e do orçamento do casal. O importante, em todas as opções, é não exagerar na terceirização. Minha filha teve babá. Creches que funcionam em horário comercial não são uma alternativa para jornalistas.Trabalhamos em horários irregulares, frequentemente à noite e de madrugada.
Nossa saída foi criar um sistema de semiterceirização. A babá não dormia no trabalho e folgava todos os sábados, domingos e feriados.
Eu e meu marido fazíamos um revezamento. Um dos dois chegava em casa a tempo de substituir a babá quando a jornada diária dela terminava. Em boa parte das manhãs e nos finais de semana, nossa filha era só nossa. Nunca a babá nos acompanhou ao pediatra, ao supermercado, ao restaurante, ao hotel, ao teatrinho infantil. Pudemos acompanhar o desenvolvimento do paladar. Com alegria, levávamos a Bia para conhecer frutas e legumes no hortifrutti ou na feira. Apresentamos sabores e texturas e hoje nos orgulhamos de ver as escolhas que ela é capaz de fazer. Aos sábados ou domingos, eu preparava cardápios para a semana inteira e comprava os ingredientes. Faço isso até hoje. Facilita a vida, evita desperdício e nos dá a certeza de comer bem durante a semana toda, mesmo que o preparo das refeições seja terceirizado.
Os pais precisam reassumir seu papel na educação alimentar. Durante a entrevista, Becker mencionou contradições comuns. “Os pais se preocupam com vento encanado e pés no chão frio, mas oferecem aos filhos lixo tóxico para eles comerem", afirma. Ao ouvir isso, me lembrei de outra historinha. Quando minha filha ainda estava na fase da papinha e decidíamos viajar de férias, a alimentação era um desafio. A babápreparava as sopinhas da semana em casa, congelávamos em diferentes potinhos e colocávamos numa bolsa térmica. No hotel, transferíamos tudo para o freezer. Como eram viagens curtas, sempre dava certo.
Um dia fizemos uma viagem um pouco mais longa, de carro. Resolvi passar no supermercado e comprar uma papinha pronta, dessas industrializadas, para oferecer a ela quando fizéssemos uma parada num restaurante de beira de estrada.
Planejei tudo direitinho. Só não contei com o apurado controle de qualidade da minha bebê. Tirei a tampa do produto e, na primeira colherada, ela cuspiu a gororoba longe. Fez uma careta horrível, como se eu estivesse oferecendo a ela alguma coisa imprópria para consumo humano.
Como desprezar essa sabedoria? Foi a primeira e última vez que uma papinha pronta entrou no nosso carrinho de supermercado.
Aprender a comer bem é um patrimônio para a vida toda, mas os pais negligenciam esse aprendizado. Acham que isso não é importante ou que não é função deles. Se preocupam mais em comprar o último iPad para os filhos do que em saber se eles reconhecem uma berinjela. Educar é difícil. Ter filhos é conhecer a vida selvagem. Precisamos menos de manuais de instrução e mais de bom senso. Acertamos aqui, erramos ali. É preciso ter serenidade para aceitar isso.
Sou mãe há quase 14 anos. Muita coisa vem por aí. O balanço geral, até agora, deixa a família satisfeita. Não terceirizamos além da conta. Não perdemos o contato. Não nos arrependemos.
Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/cristiane-segatto/
noticia/2013/12/quem-e-bo-seu-filhob.html
Pelo sentido da frase acima, tem de ser usado o verbo CONSERTAR, e não o seu homônimo CONCERTAR (harmonizar, participar de concerto).
Das frases abaixo, aquela em que a lacuna deve ser preenchida pelo segundo elemento do par de homônimos entre parênteses é:
II. A palavra "se", no segundo quadrinho, classifica-se morfologicamente como uma conjunção condicional.
III. O uso de "por quê", no segundo quadrinho, está incorreto; para corrigir, a forma correta seria "porquê"?
Está correto o que se afirma em:
Até o meio-dia e________________ deste domingo, já___________ participado das primeiras competições paraolímpicas cerca de 40% dos atletas inscritos. Desse grupo,muitos são atletas sul-americanos que,____________ semanas,_____________ treinando no país-sede.
Os termos que preenchem, correta e respectivamente,as lacunas do texto são:
Até o meio-dia e______ deste domingo,______ já participado das primeiras competições paraolímpicas cerca de 40% dos atletas inscritos. Desse grupo, muitos são atletas sul-americanos que,_____ semanas,______ treinando no país-sede.
Os termos que preenchem, correta e respectivamente, as lacunas do texto são:
Até o meio-dia e ____deste domingo, já______participado das primeiras competições paraolímpicas cerca de 40% dos atletas inscritos. Desse grupo, muitos são atletas sul-americanos que_____, semanas,_____ treinando no país-sede.
Os termos que preenchem, correta e respectivamente, as lacunas do texto são:
I. ....................... o professor não devolveu as provas?
II. O professor não devolveu as provas ......................?
III. Não sei o ............................ de tantas notas baixas.
IV. O professor não veio ............................... está participando do Conselho de Classe.
1º Só quem é ou foi automóvel pode imaginar o meu desespero, depois daquela batida frontal e do ajuntamento de povo ao meu redor.
2º – Todo mundo foi pro beleléu!
3º – Não escapou ninguém! – disse outra voz.
4º – Morreu muita gente? – perguntou uma voz feminina.
5º – Havia só duas pessoas no carro.
6º Gente corria, gente gritava, carros paravam, guardas apitavam.
7º – Será que a mocinha escapou? – indagou uma voz comovida.
8º – Está se mexendo. Acho que foi só o choque.
9º – Sei lá. Está desacordada. Se escapou, foi milagre.
10º Alguém chegou e reconheceu o motorista.
11º – É o Genésio, aquele doido!
12º Que era doido eu sabia. Nunca respeitava os sinais, guiava sempre em alta velocidade, parecia estar sempre numa pista de corrida, como ............. desse a menor importância ___ vida alheia. Que ele desafiasse a morte ___ todo momento, o problema era dele. Todo mundo pode ser burro ___ vontade. É direito de quem nasceu não para viver em garagem, mas em estrebaria. Mas ninguém tem o direito de jogar com a vida alheia, cortando fininhos, apavorando os pedestres, tendo gosto em ver o pavor da gente ___ fugir. E muito menos de ...................... um carro como ele fazia. Genésio nunca se preocupou comigo. Era incapaz de supor que eu também era gente. Não lhe passava pela cabeça que havia dois ou três meses que eu vivia de coração aos saltos (Fusca tem coração, tem alma, sentimento...).
13º O mais triste, porém, daquele montão de ferros retorcidos em que eu fora transformado pela estupidez do meu senhor, é que toda gente só pensava nas vítimas humanas: em Genésio e Cidinha.
14º – Será que eles escapam?
15º Em mim ninguém pensava. Não ouvi uma palavra de simpatia. Ninguém parecia ter pena de mim. Nem mesmo os outros carros. Eu olhava agoniado para os colegas. Passou um Fusca novinho que, nem por ser parente, mostrou a menor curiosidade. Passavam carros e mais carros buzinando para abrir caminho. Nem ................. me olhavam. Todo mundo parecia achar natural que eu me esborrachasse daquele modo contra um poste estúpido, que aliás não tinha culpa nenhuma no desastre – e que aguentou como um herói o duro choque.
16º Aliás, se não fosse aquele poste, se ele não tivesse resistido como um bravo ao nosso impacto (íamos a mais de 120!), teríamos apanhado três crianças que brincavam na calçada. E imaginem só o remorso do papai, com aquele peso na consciência... Morrer é duro. Acabar no ferro velho é o mais triste fim de um automóvel, seja Impala, Opala ou Fusca. Eu tenho conversado com muito carro, nesta minha vida atribulada. Fui amigo (e sou) de muito carro de classe, de muito VW, de muito ônibus, até de muito caminhão. Eu sei o que eles pensam, o terror que sentem quando veem povo pela frente, criança ou grandalhão, facilitando. Sei de muita conversa em escuro de garagem, lembrando as agonias do trânsito. E sei como alguns sofrem, recordando o mal que involuntariamente praticaram, às vezes por imprudência dos pedestres, muitas vezes pela inconsciência dos motoristas.
17º Enquanto nós dependermos do homem (ou da mulher) para cumprir a nossa missão no trânsito, não haverá carro feliz neste mundo.
LESSA, Orígenes. Memórias de um Fusca. 6 ed. Rio de Janeiro, Tecnoprint, 1972, p. 13-16.
No século 19, parte dos trabalhadores ingleses decidiu combater o progresso tecnológico, que corretamente viam como uma ameaça a seus empregos, destruindo máquinas. Eram os luditas. Suas ações acenderam o imaginário popular, mas não foram capazes de deter a revolução industrial.
Algo parecido pode estar ocorrendo agora em relação à internet. O fenômeno é variegado e abarca desde um juiz tentando proibir um aplicativo - Secret - que assegura anonimato a quem faz comentários na rede até taxistas protestando contra um programa que promove “caronas remuneradas". Até pode haver lampejos de justiça nessas causas, mas desconfio que a derrota é inexorável.
Mesmo que o aplicativo Secret seja banido do Brasil, não será difícil para o usuário acessar versões estrangeiras das lojas de aplicativos e, assim, burlar a restrição. Quanto aos taxistas, não há muito o que fazer. Não é possível tornar ilegal a venda de algo que pode ser dado de graça totalmente dentro da lei. Se a carona gratuita é permitida, fica muito difícil impedir a carona paga.
Ao contrário de magistrados e taxistas, não estou tão convencido do caráter maléfico dessas novidades. Tecnologias tendem a apresentar-se em tons mais cinzentos, oferecendo diferentes combinações de benefícios e problemas. Mesmo quando são claramente desvantajosas, podem, às vezes, tornar-se um caminho sem volta.
Essa, ao menos, é a tese do geógrafo Jared Diamond, para o qual a adoção da agricultura, embora tenha sido “o pior erro da história dos seres humanos", tendo, num só golpe, destruído a saúde das pessoas e criado as distinções sociais, se espalhou como uma praga pela humanidade. A razão principal é que povos agrícolas eram capazes de produzir muito mais gente do que a concorrência.
Basicamente, quem aposta contra a tecnologia acaba perdendo, mesmo quando tem razão.
(Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo, 31.08.204. Adaptado)
Para o geógrafo Jared Diamond, quando __________a agricultura como principal modelo de subsistência, os seres humanos cometeram o pior erro de sua história: foi ____________ sua saúde e _____________ as distinções sociais.