Questões de Concurso
Sobre problemas da língua culta em português
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I - Há dez dias do encerramento do prazo de inscrição de novos projetos, poucas pessoas demonstraram interesse em participar.
II - Estou a anos-luz de distância de compreender a alma humana.
III - O assassino ainda estava a dois metros de distância de sua vítima.
IV – A pouco fiz uma visita a meus parentes que não via havia tempos.
V - Já havia tentado uma oportunidade dessas a muito tempo.
Não podia deixar de ir, porque3 considerava aquela uma acusação inadmissível. Por que4 mesmo estaria sendo acusado de “inimigo da lei e da ordem”? Precisava saber. Precisava urgentemente saber por quê5.
Leia as justificativas sobre os diferentes usos do “porquê” que aparecem no texto acima e julgue-as certo ou errado
I – (1) Sequência de preposição mais pronome relativo, equivalente a “por qual razão.
II – (2) Usado como substantivo.
III – (3) Conjunção que inicia oração coordenativa explicativa, ou subordinada adverbial causal.
IV – (4) Sequência de preposição mais pronome interrogativo, frase interrogativa.
V – (5) Usado em final de frase ou imediatamente antes de pontuação.
Na linha 13, a substituição do vocábulo “senão” por se não, embora gramaticalmente correta, prejudicaria o sentido do texto.
O que fizeram com a poesia brasileira
Iumna Maria Simon
Por um desses quiproquós da vida cultural, a tradicionalização, ou a referência à tradição, tornou-se um tema dos mais presentes na poesia contemporânea brasileira, quer dizer, a que vem sendo escrita desde meados dos anos 80.
Pode parecer um paradoxo que a poesia desse período, a mesma que tem continuidade com ciclos anteriores de vanguardismo, sobretudo a poesia concreta, e se seguiu a manifestações antiformalistas de irreverência e espontaneísmo, como a poesia marginal, tenha passado a fazer um uso relutantemente crítico, ou acrítico, da tradição. Nesse momento de esgotamento do moderno e superação das vanguardas, instaura-se o consenso de que é possível recolher as forças em decomposição da modernidade numa espécie de apoteose pluralista. É uma noção conciliatória de tradição que, em lugar da invenção de formas e das intervenções radicais, valoriza a convencionalização a ponto de até incentivar a prática, mesmo que metalinguística, de formas fixas e exercícios regrados.
Ainda assim, não se trata de um tradicionalismo conservador ou “passadista", para lembrar uma expressão do modernismo dos anos 20. O que se busca na tradição não é nem o passado como experiência, nem a superação crítica do seu legado. Afinal, não somos mais como T. S. Eliot, que acreditava no efeito do passado sobre o presente e, por prazer de inventar, queria mudar o passado a partir da atualidade viva do sentimento moderno. Na sua conhecidíssima definição da tarefa do poeta moderno, formulada no ensaio “Tradição e talento individual", tradição não é herança. Ao contrário, é a conquista de um trabalho persistente e coletivo de autoconhecimento, capaz de discernir a presença do passado na ordem do presente, o que, segundo Eliot, define a autoconsciência do que é contemporâneo.
Nessa visada, o passado é continuamente refeito pelo novo, recriado pela contribuição do poeta moderno consciente de seus processos artísticos e de seu lugar no tempo. Tal percepção de que passado e presente são simultâneos e inter-relacionados não ocorre na ideia inespecífica de tradição que tratarei aqui. O passado, para o poeta contemporâneo, não é uma projeção de nossas expectativas, ou aquilo que reconfigura o presente. Ficou reduzido, simplesmente, à condição de materiais disponíveis, a um conjunto de técnicas, procedimentos, temas, ângulos, mitologias, que podem ser repetidos, copiados e desdobrados, num presente indefinido, para durar enquanto der, se der.
Na cena contemporânea, a tradição já não é o que permite ao passado vigorar e permanecer ativo, confrontando-se com o presente e dando uma forma conflitante e sempre inacabada ao que somos. Não implica, tampouco, autoconsciência crítica ou consciência histórica, nem a necessidade de identificar se existe uma tendência dominante ou, o que seria incontornável para uma sociedade como a brasileira, se as circunstâncias da periferia pós-colonial alteram as práticas literárias, e como.
Não estou afirmando que os poetas atuais são tradicionalistas, ou que se voltaram todos para o passado, pois não há no retorno deles à tradição traço de classicismo ou revivalismo. Eles recombinam formas, amparados por modelos anteriores, principalmente os modernos. A tradição se tornou um arquivo atemporal, ao qual recorre a produção poética para continuar proliferando em estado de indiferença em relação à atualidade e ao que fervilha dentro dela.
Até onde vejo, as formas poéticas deixaram de ser valores que cobram adesão à experiência histórica e ao significado que carregam. Os velhos conservadorismos culturais apodreceram para dar lugar, quem sabe, a configurações novas e ainda não identificáveis. Mesmo que não exista mais o “antigo", o esgotado, o entulho conservador, que sustentavam o tradicionalismo, tradição é o que se cultua por todos os lados.
Na literatura brasileira, que sempre sofreu de extrema carência de renovação e variados complexos de inferioridade e provincianismo, em decorrência da vida longa e recessiva, maior do que se esperaria, de modas, escolas e antiqualhas de todo tipo, essa retradicionalização desculpabilizada e complacente tem inegável charme liberador.
Revista Piauí, edição 61, 2011.
ATENÇÃO! Para as respostas relativas a situações gramaticais modificadas pela Reforma de 2009, são válidas as regras anteriores ao decreto.
Através do esforço de catadores formais e informais, o Brasil reciclou dois milhões de latinhas por hora no ano passado, sendo a maioria delas descartada em São Paulo, onde existem milhares de catadores informais – de certo modo, um retrato da pobreza e da falta de trabalho formal que leva as pessoas a adotar essa atividade como profissão.
Sobre a passagem acima está correto afirmar:
I) Embora seja de uso comum, a locução prepositiva que inicia o parágrafo poderia ser substituída por outra mais adequada: a combinação de preposição PELO.
II) Pode-se pressupor, pela leitura da passagem, que está em São Paulo o maior número de consumidores de refrigerantes em lata do país.
III) O pronome demonstrativo ESSA estabelece uma relação de coesão tendo como referência uma informação anterior e não poderia ser substituído por ESTA.
IV) O advérbio interrogativo de lugar – ONDE – poderia ser substituído, sem prejuízo sintático ou semântico, pela expressão EM QUE.
V) Pode-se concluir, com base nesse excerto, que, no Brasil, faltam empregos formais.
VI) Se a forma verbal EXISTEM fosse substituída por uma equivalente do verbo HAVER, a flexão de tempo e modo permaneceria, mas não a de número.
Quais as afirmativas estão corretas?
ATENÇÃO! Para as respostas relativas a situações gramaticais modificadas pela Reforma de 2009, são válidas as regras anteriores ao decreto.
Entre a palavra e o ouvido
Nossos ouvidos nos traem, muitas vezes, sobretudo quando decifram (ou acham que decifram) palavras ou expressões pela pura sonoridade. Menino pequeno, gostava de ouvir uma canção dedicada a uma mulher misteriosa, dona Ondirá. Um dia pedi que alguém a cantasse, disse não saber, dei a deixa: “Tão longe, de mim distante, Ondirá, Ondirá, teu pensamento?” Ganhei uma gargalhada em resposta. Um dileto amigo achava esquisito o grande Nat King Cole cantar seu amor por uma misteriosa espanhola, uma tal de dona Quiçás... O ator Ney Latorraca afirma já ter sido tratado por seu Neila. Neila Torraca, é claro. Agora me diga, leitor amigo: você nunca foi apresentado a um velhinho chamado Fulano Detal?
(Armando Fuad. Inédito)
Ao redigir o texto 02, Jorge Amado infringiu uma das normas gramaticais vigentes. Isso é percebido na alternativa
Ao menos dois carros, que estavam no estacionamento, e uma casa da vizinhança foram atingidos. Não houve feridos.
O grupo levou armas, drogas e destruiu arquivos. Artefatos esplosivos foram detonados no interior do predio. Pouco antes, vizinhos contam, que ouviram o barulho de um carro saindo.
Na madrugada de ontem, uma caminhonete chegou a delegacia de investigações sobre entorpecentes, em Botucatú. Um grupo de oito homens sairam do veículo, arrombaram uma das portas e invadiram a delegacia.
Doentes e peregrinos buscam a salvação em templos que praticam o exorcismo em Kerala, ao sul da Índia. Garanto: naquela região se operam, de fato, milagres que salvam vidas diariamente.
Os “milagres" nada têm a ver com os deuses ou demônios.Apenas com homens, responsáveis por uma das mais admiradas experiências sociais já produzidas num país pobre. Como o resto da Índia, Kerala é miserável, sua renda por habitante é de US$ 300 por ano - dez vezes menos do que a brasileira e cem vezes se comparada com a americana.
Primeiro “milagre" num país de 900 milhões de habitantes com explosivo crescimento populacional: cada mulher tem apenas dois filhos (1,7, para ser mais preciso), uma média semelhante à de um casal de classe média alta em Manhattan, Paris, São Paulo ou Rio de Janeiro. Segundo e mais importante: de cada mil crianças que nascem, apenas 13 morrem antes de completar um ano - um nível de mortalidade infantil semelhante ao dos Estados Unidos e quatro vezes menor que o do Brasil.
Até pouco tempo atrás, Kerala era mais conhecida por suas praias, onde os turistas “descolados" se deitavam na areia depois do banho, massageados por moradores que aprenderam de seus ancestrais os segredos da massagem ayurvédica, medicina tradicional indiana. Agora, porém, atrai tipos menos transcendentais da Europa e dos Estados Unidos, decididos a entender e difundir a experiência sobre como um lugar miserável consegue indicadores sociais tão bons.
As pesquisas indicam, em essência, um caminho: graças à vontade política dos governantes locais, em nenhum outro lugar da Índia se investiu tanto na educação das mulheres. Uma ação que enfrentou a rotina da marginalização. Na Índia, por questões culturais, se propagou o infanticídio contra meninas, praticado pelos próprios pais.
Em Kerala, apenas 5%das garotas estão fora da escola, reduzindo a porcentagens insignificantes o analfabetismo. Elas são mais educadas, entram no mercado de trabalho, frequentam postos de saúde, amamentam os filhos, conhecem noções de higiene, sabem a importância, por exemplo, de ferver a água ou aplicar as vacinas,
planejam voluntariamente o número de filhos.
Daí se vê o que significou, no Brasil, termos gasto tanto dinheiro na construção de hospitais, em vez de investir mais pesadamente em medicina preventiva.Muitas dessas obras só ajudaram a saúde financeira dos empreiteiros.
(DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do Futuro - Cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Ática, 2000, p. 46.)
No verso acima, utilizou-se a forma correta porque. Assinale a alternativa em que não se tenha utilizado corretamente uma das quatro formas do porquê.
Assinale a alternativa em que, passando-se o primeiro verbo do verso acima para o imperativo e alterando-se a pessoa do discurso, manteve-se adequação à norma culta.
A respeito do trecho acima, analise os itens a seguir:
I. A expressão em vez de não poderia ser substituída, no trecho, por ao invés de.
II. Ocorre alteração gramatical ou semântica ao se substituir “Claro está” por “Está claro”.
III. Não ocorre alteração gramatical ou semântica ao se substituir “certos Estados” por “Estados certos”.
Assinale: