Questões de Concurso Sobre redação - reescritura de texto em português

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Q1073966 Português
Ficou dois

    Faz quase 20 anos. Eu estava no mezanino de um auditório prestigiando a formatura de um grande amigo. Ele cursou Direito numa instituição muito qualificada e seu tão esperado momento de comemoração pelo término da faculdade havia chegado. Duas fileiras abaixo e duas cadeiras para a esquerda, um rapaz acompanhava todo o desenrolar do evento. Não informo o nome do meu amigo, da instituição e do rapaz para não criar constrangimentos. Pra falar a verdade, desconheço o nome do rapaz, mas, como sei que hoje qualquer pista leva rapidinho à descoberta de quem é a pessoa, prefiro preservá-la. Não estou aqui para testar a eficiência do jornalismo investigativo, mas para compartilhar uma das situações pitorescas por mim vivenciadas, de modo a refletir sobre ela e, principalmente, aprender com ela.
    No palco e na plateia, havia alegria para dar e vender. De repente, o paraninfo foi chamado para fazer o seu pronunciamento. Por um bom tempo, uma saudação efusiva se manteve até que começasse a falar. Tão logo cessou aquela manifestação calorosa, o rapaz desatou a gritar: “ficou dois!”. A frase deixou subentendido que ele mesmo ou algum amigo dele teria sido reprovado pelo paraninfo. Uma mensagem assim lançada aos quatro ventos naquele ambiente, a priori, depõe contra a integridade do docente. “Carrasco, por que reprovar formandos? Que falta de sensibilidade! – poderia pensar o público”. Revisitando esse episódio nos dias de hoje, eu até conseguiria me colocar no lugar do paraninfo e indagaria: será que esses dois alunos se empenharam ao realizar os trabalhos e provas da disciplina? Caso sim, qual a qualidade desses trabalhos? Como foi o desempenho dos discentes nas avaliações? Será que eles foram assíduos e, mais que isso, foram pró-ativos e participativos nas aulas? Ou demonstraram descaso ao longo do semestre? Supondo que tivessem apresentado dificuldades, será que procuraram conversar com o professor sobre esse assunto? Por fim, deve haver diferença de tratamento entre um aluno formando e um não formando?
    Ninguém é paraninfo por acaso. Trata-se de uma pessoa que granjeia ampla credibilidade e confiança junto aos concluintes da graduação. Não sou do Direito, mas busco agir com justiça na prática do ensino. Creio, sinceramente, que não haja professores com maior senso de justiça que os dedicados ___ área do Direito. Todos, a bem da verdade, somos juízes, e por isso mesmo muitas vezes julgamos fatos e indivíduos com base nas aparências e em poucas ocasiões alicerçados na essência das coisas. É lamentável tal realidade, porém, o importante é que o paraninfo e os dois alunos devem saber o porquê daquelas reprovações. De minha parte, além de dar crédito ao professor e entender que a conduta do rapaz acabou sendo completamente deselegante, lembro-me que me debati demais para não perder a compostura. “Ficou dois! Que pérola! Se o cara ainda for do Direito, sensacional! – avaliava com meus botões, esforçando-me para que risada nenhuma irrompesse naquele instante”. Sim, porque pela gramática tradicional o correto seria dizer “ficaram dois”.
    Acontece que mais tarde compreendi que a gramática deve, de preferência, ser dominada pelos falantes da língua portuguesa, porém em muitos casos ela é simplesmente um livro no qual diversos conteúdos estão sepultados. Já ___ língua, objeto de estudo dos linguistas, quem dá vida é o povo. E nada é mais heterogêneo do que o povo, se considerarmos, especialmente, as regiões e os níveis de escolaridade das diferentes gerações de nosso país. Não podemos esquecer que na praia, no bem-bom das férias, não se fala com a formalidade que uma reunião de negócios demanda. Além disso, a oralidade, invariavelmente, decorre da improvisação discursiva do emissor, ao passo que a linguagem escrita é afeita ao planejamento e à revisão textual. Os sociolinguistas estudiosos da variação diafásica que o digam. Independentemente de seus posicionamentos – que merecem e aqui recebem, de antemão, todo o meu respeito e apreço –, concluo que, na situação de comunicação exposta, o rapaz se pronunciou de modo inadequado. Mais do que isso: perdeu uma ótima oportunidade para ficar calado. Se assim procedesse, para a felicidade dos gramáticos, teria deixado o Rui Barbosa descansar em paz.

(Texto adaptado especialmente para esta prova. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/ficou-dois-tiagopellizzaro/. Acesso em: 13/09/2019.)
No excerto “Uma mensagem assim lançada aos quatro ventos naquele ambiente, a priori, depõe contra a integridade do docente” (2º§), caso o termo “uma” fosse substituído pelo numeral “duas”, quantas palavras ao todo precisariam ter a grafia modificada para garantir a correta concordância verbonominal?
Alternativas
Ano: 2016 Banca: VUNESP Órgão: FUNDUNESP Prova: VUNESP - 2016 - FUNDUNESP - Historiógrafo |
Q1073401 Português
Leia o texto e responda à questão.

As folhas que faltavam

    Grigory Kessel, catedrático de idioma siríaco na Universidade Philipps, em Marburg, na Alemanha, pesquisava textos antigos na biblioteca de um rico colecionador de Baltimore, nos EUA, quando – ao ver um velho manuscrito incompleto, composto por páginas de couro milenares – notou certa semelhança com uma única página solta que vira havia três semanas em uma biblioteca da Universidade de Harvard.
    A obra que ele estudava, sem algumas de suas páginas, era nada menos que a mais antiga tradução já encontrada do importante manuscrito do médico e filósofo greco-romano, Cláudio Galeno – conhecido como Galeno de Pérgamo –, que morreu no ano 200 d.C., intitulado “Das misturas e poderes das drogas simples”.
    O achado da primeira página perdida, feito por Kessel, ocorreu em fevereiro de 2013. A partir de então, foi iniciada uma caçada global às demais seis folhas que faltavam. E elas foram encontradas em diversas instituições mundo afora. Em seguida, iniciou-se a digitalização de toda a obra, finalizada em maio deste ano.
    Agora, especialistas estão começando a explorar os textos, praticamente invisíveis a olho nu. A perspectiva é de que o conteúdo seja totalmente traduzido em um prazo de cinco anos.
    O manuscrito é um palimpsesto, ou seja, um texto antigo recoberto por outro escrito. A prática era comum na Idade Média, como forma de reciclagem. Nesse caso, escribas sírios do século XI rasparam o texto médico de Galeno, que estava no pergaminho, e escreveram hinos religiosos por cima dele.
    Na fase atual, cada página foi fotografada digitalmente em alta resolução, com diferentes cores e configurações de luz, destacando diversas formas de tintas, sulcos da escrita e o próprio pergaminho, e os algoritmos do computador têm explorado essas variações de modo a ampliar a visibilidade do texto que ficou por baixo. As imagens resultantes foram disponibilizadas na internet e podem ser estudadas por acadêmicos para qualquer finalidade não comercial.
    Durante séculos, as diversas traduções de “Das misturas e poderes das drogas simples” foram leituras obrigatórias para aspirantes a médicos, por conter conhecimentos antigos sobre Medicina, cuidados ao paciente e uso de plantas medicinais.
    “Esse provavelmente será um texto fundamental assim que for completamente decifrado. Descobriremos coisas com as quais nem poderíamos sonhar até agora”, entusiasma-se Peter Pormann, especialista em greco-árabe da Universidade de Manchester, que lidera atualmente os estudos do livro de Galeno.
    A descoberta, concordam os pesquisadores, poderá lançar uma nova luz sobre as raízes da Medicina e como ela se espalhou pelo mundo antigo.
(Colaboração de Clébio Silva. http://www.cremesp.org.
br/?siteAcao=Revista&id=823. Adaptado)
Considere a frase do penúltimo parágrafo.
Esse provavelmente será um texto fundamental assim que for completamente decifrado.
Assinale a alternativa em que a frase reescrita mantém o sentido do texto e apresenta a correta correspondência entre os tempos verbais.
Alternativas
Ano: 2016 Banca: VUNESP Órgão: FUNDUNESP Prova: VUNESP - 2016 - FUNDUNESP - Historiógrafo |
Q1073393 Português
Leia o texto a seguir para responder à questão.

Calvície: o melhor remédio é o charme

    Pouca gente nota, mas sou careca. Rasparam meu cabelo quando entrei na faculdade, e de lá pra cá a coisa não melhorou. Conheço o assunto. Portanto, me surpreendi com essa notícia de os japoneses terem descoberto a cura da calvície com o uso de células-tronco. A princípio, desconfiei; são poucos os orientais realmente carecas. Perto de 20% da população (segundo o Japan Times). Então, qual a razão de perder tempo pesquisando? Não é um problema nacional, manja? Segundo a mesma publicação, 41% dos holandeses são carecas – mas eles preferiram inventar uma marca de cerveja do que um remédio para as entradas. Também prefiro.
    De cara, implico com esse termo: “cura”, porque pressupõe que calvície é doença. Me recuso a olhar para esta minha cabeça redonda, graciosa e útil (sirvo de ponto de referência em qualquer Lollapalooza) e julgá-la como patologia. Chamar calvície de doença é coisa de quem nunca foi careca, por exemplo, os japoneses.
    Ser careca é ótimo. Não tem demérito nenhum. E dá trabalho, sim. Um careca cônscio é vaidoso. Tem que raspar, passar protetor solar, hidratante e até cera, se a calva estiver opaca.
    Tomar banho, por exemplo, é ótimo. O pouca-telha sente a água batucando diretamente na cabeça. Na hora do soninho, o travesseiro refresca. Até o cafuné rende mais, já que feito diretamente na pele. A gente se arruma mais rápido, o ralo do nosso banheiro nunca entope.
    Aí o cabeludo, em defesa da categoria, argumenta que cabelo é item de beleza superior e charme: dá pra deixar crescer, tingir de ruivo, fazer trancinha e até coque casal-top model. De fato, carecas não se divertem com o cabelo. Mas usam gorros, de cores variadas e marcas sofisticadas. Se a natureza não foi pródiga, a moda ajuda. É fato: desde que o Bruce Willis apareceu que careca é sinônimo de sedução fashion.
    Falei do Bruce, mas posso citar Kelly Slater, Zidane, Stanley Tucci, Guardiola, Jason Statham – e por aí vai. Temos nosso borogodó. Não somos de jogar fora.
    O único problema do careca é querer renegar a raça. É querer virar as costas para os seus. É querer enganar o próximo. O grande problema do careca é o implante. Ou, Deus nos livre, a peruca. Aí, não. Vamos manter a dignidade. Melhor raspar tudo, passar um perfuminho, adotar um chapéu-panamá. Dá certo também; tem sempre quem goste. Vai por mim, sou careca desde que entrei na faculdade.
(Lusa Silvestre. http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/xavecos-e-milongas/
calvicie-o-melhor-remedio-e-o-charme/. Adaptado)

Considere a frase do segundo parágrafo.

De cara, implico com esse termo: “cura”, porque pressupõe que calvície é doença.

Assinale a alternativa em que essa frase foi reescrita sem alterar o sentido do texto.

Alternativas
Q1073306 Português

Leia o texto para responder à questão.

    

    Outro dia ouvi uma história divertida sobre o pessimismo, narrada por um padre chamado Osman, da Igreja de Santa Terezinha, em Higienópolis. Frei Osman é escritor e leitor voraz. Por isso, em seus sermões, costuma incluir referências a poemas, contos e romances de toda sorte de autores. Suas homilias são pequenas aulas de literatura.

    Recentemente, ao sentir a apreensão crescente em seu rebanho, saiu-se com a seguinte história: um dia estava o poeta Olavo Bilac andando pelo Rio quando encontrou um velho amigo, que pediu:

    – Bilac, preciso vender minha chácara, que só dá dor de cabeça. – E reclamou um monte: “Os pássaros fazem barulho ensurdecedor, não podemos descansar. A calha está entupida pelas folhas que caem das muitas árvores. No verão, o sol exige cortinas novas e no inverno os cobertores não dão conta do frio”. “Por isso”, concluiu, “quero vendê-la. Você me prepara um texto convincente para um anúncio de jornal?”

    Bilac pediu papel e caneta e escreveu: “Vendo uma chácara abençoada. Ao fundo da casa, no bosque, os pássaros fazem diariamente sua sinfonia; à frente, o sol aquece o terraço para iluminar a mente de seus moradores enquanto ouvem o som do regato piscoso”. Entregou o papel ao amigo e se foi.

    Meses depois, encontrou-o novamente e perguntou: “Vendeu a chácara?” “Não, Bilac, quando me dei conta da beleza única e dos benefícios que posso ter em tão lindo lugar, nunca mais considerei me desfazer daquele pequeno paraíso”.

    A lição pregada pelo frei Osman é sábia e vale para um monte de gente. Neste momento em que se aproxima o início de um novo ano, é muito importante observar as oportunidades, para não ser sugado pelos problemas.

    Por isso pergunto: e você, também tem pensado em vender um pedaço de sua felicidade?

(Leão Serva. Em 2016, não dê felicidade ao pessimismo. Em: Folha de

S.Paulo, 28.12.2015. Adaptado)

Assinale a alternativa em que a reescrita do texto altera o seu sentido original.
Alternativas
Q1073196 Português
Ai, que preguiça!
     O corpo humano é uma máquina desenhada para o movimento. É dotado de dobradiças, músculos que formam alavancas capazes de deslocar o esqueleto em qualquer direção, ossos resistentes, ligamentos elásticos que amortecem choques, e sistemas de alta complexidade para mobilizar energia, consumir oxigênio e manter a temperatura interna constante.
     Se o corpo humano fosse projetado para os usos de hoje, para que pernas tão compridas e braços tão longos? Se é só para ir de um assento a outro, elas poderiam ter metade do comprimento. Se os braços servem apenas para alcançar o teclado do computador, para que antebraços? Seríamos anões de membros atrofiados, mas com um traseiro enorme, acolchoado, para nos dar conforto nas cadeiras.
     A possibilidade de ganharmos a vida sem andar é aquisição dos últimos cinquenta anos, com a disponibilidade de alimentos de qualidade acessíveis a grandes massas populacionais, saneamento básico, antibióticos e tecnologia para satisfazer as nossas necessidades.
     No entanto, os efeitos adversos desse estilo de vida não demoraram para surgir: sedentarismo, complicações cardiovasculares, degenerações neurológicas, etc. Se todos reconhecem que a atividade física faz bem para o organismo, por que ninguém se exercita com regularidade?
     Por uma razão simples: descontadas as brincadeiras da infância, fase de aprendizado, nenhum animal desperdiça energia. Só o faz atrás de alimento, sexo ou para escapar de predadores. É tão difícil abandonar a vida sedentária, porque malbaratar energia vai contra a natureza humana. Os planos para andar, correr ou ir à academia naufragam, no dia seguinte, sob o peso dos seis milhões de anos de evolução que desaba sobre nossos ombros.
    Quando você ouvir alguém dizendo que pula da cama louco de disposição para o exercício, pode ter certeza: é mentira. Essa vontade pode nos visitar num sítio ou na praia com os amigos, na rotina diária jamais. Digo por experiência própria. Há 20 anos corro maratonas, que me obrigam a levantar às cinco e meia para treinar. Tenho tanta confiança na integridade de meu caráter, que fiz um trato comigo mesmo: ao acordar, só posso desistir de correr depois de vestir calção, camiseta e calçar o tênis.
     Se me permitir tomar essa decisão deitado na cama, cada manhã terei uma desculpa. Não há limite para as justificativas que a preguiça é capaz de inventar nessa hora. Por isso, se você está à espera da chegada da disposição física para sair da vagabundagem, tire o cavalo da chuva: ela não virá. Praticar exercícios com regularidade exige disciplina militar, a mesma que você tem na hora de ir para o trabalho. Ai, que preguiça!
(www.drauziovarela.com.br. Publicado em 13.01.2014. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a frase reescrita apresenta concordância correta, de acordo com a norma-padrão.
Alternativas
Q1073140 Português
Leia o texto para responder à questão.


(Folha de S.Paulo, 12.06.2016. Adaptado)
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, o título do texto “Procuram-se mãos de tesoura” pode ser corretamente substituído, sem alteração de sentido, por:
Alternativas
Q1072640 Português

Leia com atenção o trecho da reportagem sobre o uso de protetor solar e responda a questão a seguir.


Apesar de ainda vermos alguns teimosos por aí, o protetor solar é figurinha carimbada das malas de quem vai passar as férias na praia ou vai curtir o sol do verão. Mas, com a chegada dos meses mais frios do ano, a história é outra. “Como no inverno não sentimos calor, as pessoas acreditam que não há grande risco em se expor sem o produto”, explica o dermatologista Marcus Maia, professor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na capital paulista. O problema é que o perigo existe, sim, e a responsável por ele é a radiação UVA.

A encrenca com os raios UVA começa com a falta de informação: há certo desconhecimento sobre eles. Enquanto o UVB é mais predominante no verão do que na estação do frio, o UVA incide o ano inteiro e também ao longo de todo o dia. “Antes das 10 e depois das 17 horas, o horário em que teoricamente seria permitido tomar sol livremente, o UVA continua sendo emitido e, como não queima, durante muito tempo achou-se que ele era inofensivo”, expõe o dermatologista Sérgio Schalka, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

                                 (Abril, Saúde - Faça chuva ou faça sol, use protetor solar, s/d)

Assinale a alternativa que apresenta a forma correta para reescrever o trecho destacado abaixo, mantendo o mesmo sentido. “A encrenca com os raios UVA começa com a falta de informação: há certo desconhecimento sobre eles”.
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Q1072408 Português

                                   A cerimônia do adeus


      A primeira vez que eu me apaixonei eu tinha 6 anos. O nome dela era Julie Angulo (pronunciava-se julí angulô). Diziam que ela era superdotada. Chegou no nosso ano porque tinha pulado o ano anterior. Por ser um ano mais nova, era do meu tamanho.

      Só passou um ano entre nós mortais — logo pulou de ano outra vez e disparou como uma flecha em direção ao futuro. Acho que ela fez a escola inteira assim, brincando de amarelinha com o tempo. Eu, que fiquei preso no meu ano pra sempre, às vezes me pergunto onde ela está, se continua pulando os anos da vida e hoje em dia é bisavó, ou se escolheu um ano bom e resolveu ficar por lá.

      Aos 8 anos, me apaixonei pela Fanny Moffette (pronuncia-se faní moféte). Ela era canadense e tinha os cabelos brancos de tão amarelos e olhos cinzas de tão azuis. Tinha uns dez centímetros a mais que eu — dez centímetros aos 8 anos equivale a 80 centímetros hoje em dia.

      Um dia, descobriram que eu gostava dela. Começaram a cantar a velha canção, se é que se pode chamá-la assim, posto que só tem uma nota: “tá namoran-do, tá namoran-do”.

Ela teve uma reação, digamos, inusitada: pegou a minha cabeça e começou a bater com ela no chão para provar que a gente não estava namorando, que a gente nunca tinha namorado, que a gente nunca iria namorar. Gritava: “nunca, nunca”, enquanto batia com a minha cabeça no chão. As pessoas riam. Até que perceberam que a minha testa começou a sangrar.

      Aos 11 anos me apaixonei pela Alice. Ficamos meio amigos numa época em que a amizade entre meninos e meninas era tão rara quanto entre israelenses e palestinos. Alice me contava, não por sadismo, mas por ignorância, dos garotos que ela achava “gatos”. Um dia, me disse que tinha dado o primeiro beijo. Dei um abraço nela, “parabéns!”, e acho que fui chorar no banheiro.

      “A vida é uma longa despedida de tudo aquilo que a gente ama”, meu pai sempre repete (mas a frase é do Victor Hugo). Todos os amores terminam — alguns amigavelmente, chorando no banheiro, outros com humilhação pública e sangue na testa, outros com a morte. “Para isso temos braços longos, para os adeuses.”

      Alice se casou e eu estava lá, felizão. Fanny veio me pedir desculpas pelas porradas na cabeça. Somos muito amigos — no Facebook.

      Tem uma hora — e dizem que essa hora sempre chega — que para de doer. A parte chata é que, até parar de doer, parece que não vai parar de doer nunca.

      “Nunca! Nunca!” gritava a Fanny.

DUVIVIER, Gregório. Cerimônia do adeus. Folha de S.Paulo, São Paulo, 8 dez. 2014. FOLHAPRESS. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2014/12/ 15590 17- a cerimonia-do-adeus.shtml.

Dentre as afirmações a seguir referentes aos termos destacados em diferentes trechos do texto, a única correta é:
Alternativas
Q1072402 Português

                                   A cerimônia do adeus


      A primeira vez que eu me apaixonei eu tinha 6 anos. O nome dela era Julie Angulo (pronunciava-se julí angulô). Diziam que ela era superdotada. Chegou no nosso ano porque tinha pulado o ano anterior. Por ser um ano mais nova, era do meu tamanho.

      Só passou um ano entre nós mortais — logo pulou de ano outra vez e disparou como uma flecha em direção ao futuro. Acho que ela fez a escola inteira assim, brincando de amarelinha com o tempo. Eu, que fiquei preso no meu ano pra sempre, às vezes me pergunto onde ela está, se continua pulando os anos da vida e hoje em dia é bisavó, ou se escolheu um ano bom e resolveu ficar por lá.

      Aos 8 anos, me apaixonei pela Fanny Moffette (pronuncia-se faní moféte). Ela era canadense e tinha os cabelos brancos de tão amarelos e olhos cinzas de tão azuis. Tinha uns dez centímetros a mais que eu — dez centímetros aos 8 anos equivale a 80 centímetros hoje em dia.

      Um dia, descobriram que eu gostava dela. Começaram a cantar a velha canção, se é que se pode chamá-la assim, posto que só tem uma nota: “tá namoran-do, tá namoran-do”.

Ela teve uma reação, digamos, inusitada: pegou a minha cabeça e começou a bater com ela no chão para provar que a gente não estava namorando, que a gente nunca tinha namorado, que a gente nunca iria namorar. Gritava: “nunca, nunca”, enquanto batia com a minha cabeça no chão. As pessoas riam. Até que perceberam que a minha testa começou a sangrar.

      Aos 11 anos me apaixonei pela Alice. Ficamos meio amigos numa época em que a amizade entre meninos e meninas era tão rara quanto entre israelenses e palestinos. Alice me contava, não por sadismo, mas por ignorância, dos garotos que ela achava “gatos”. Um dia, me disse que tinha dado o primeiro beijo. Dei um abraço nela, “parabéns!”, e acho que fui chorar no banheiro.

      “A vida é uma longa despedida de tudo aquilo que a gente ama”, meu pai sempre repete (mas a frase é do Victor Hugo). Todos os amores terminam — alguns amigavelmente, chorando no banheiro, outros com humilhação pública e sangue na testa, outros com a morte. “Para isso temos braços longos, para os adeuses.”

      Alice se casou e eu estava lá, felizão. Fanny veio me pedir desculpas pelas porradas na cabeça. Somos muito amigos — no Facebook.

      Tem uma hora — e dizem que essa hora sempre chega — que para de doer. A parte chata é que, até parar de doer, parece que não vai parar de doer nunca.

      “Nunca! Nunca!” gritava a Fanny.

DUVIVIER, Gregório. Cerimônia do adeus. Folha de S.Paulo, São Paulo, 8 dez. 2014. FOLHAPRESS. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2014/12/ 15590 17- a cerimonia-do-adeus.shtml.

Assinale a alternativa em que a modificação feita na oração em destaque “Chegou no nosso ano PORQUE TINHA PULADO O ANO ANTERIOR.” mantém o mesmo sentido original do período.
Alternativas
Q1072341 Português

O dia de Páscoa muda todo ano? A culpa é da astronomia

Por que não há uma data fixa para a Páscoa? Segundo afirmava Beda, o Venerável, religioso inglês que viveu no século VII, a Páscoa se dá no primeiro domingo depois da primeira lua cheia após o equinócio da primavera no hemisfério norte. “A astronomia está no coração do estabelecimento da data para a Páscoa. [A data] depende de dois fatos astronômicos – o equinócio da primavera e a lua cheia”, disse recentemente Marek Kukula, astronômo no Observatório Real de Greenwich, em Londres. Trata-se de um “feriado móvel”.

O complicado sistema de determinação da data da Páscoa é resultado da combinação de calendários, práticas culturais e tradições hebraicas, romanas e egípcias. O calendário egípcio era baseado no Sol, prática adotada primeiramente pelos romanos e posteriormente incorporada pela cultura cristã. O judaísmo baseia o calendário hebraico parcialmente na Lua, e o islamismo também utiliza fases da Lua. A data da Páscoa varia não somente pela tentativa de harmonizar os calendários lunares e solares, mas também há outras complicações que acabam interferindo, como o fato de diferentes vertentes do cristianismo usarem fórmulas distintas em seus cálculos.

Em 1582 foi criado o Calendário Gregoriano, adotado e promovido pelo papa Gregório para fazer com que a Páscoa caísse mais cedo e fosse mais fácil de ser calculada. Já as tradições ortodoxas dentro do cristianismo continuaram usando o Calendário Juliano em vez de aceitarem a reforma do calendário imposta pelo papa Gregório. As igrejas ortodoxas, portanto, continuaram a celebrar a Páscoa e o Natal em datas diferentes das tradições ocidentais ou romanas. Mas isso pode mudar?

O papa Tawadros 2o de Alexandria, líder da Igreja Ortodoxa Copta, espera que as diferentes vertentes do cristianismo consigam chegar a um acordo sobre essa importante questão. “Parece haver uma disposição entre parte das lideranças da Igreja Cristã para pelo menos avaliar esta possibilidade”, disse o bispo Angaelos, da Igreja Ortodoxa Copta na Grã-Bretanha. E o que os astrônomos acham de uma Páscoa unificada? 

“De certo modo, a astronomia ficaria fora da equação”, disse Marek Kukula. “Ainda seria necessário regular o calendário, mas a Páscoa deixaria de ser um feriado móvel e isso tornaria bem mais simples coisas como o planejamento de feriados escolares. Entretanto, se as pessoas vão querer fazer isso ou não, passa por uma questão religiosa.” E, levando em conta toda a história por trás da data, o debate sobre a questão ainda poderá se estender por muito tempo.

Obs.: Equinócio: período do ano em que o sol passa pelo Equador, fazendo com que os dias e as noites tenham a mesma duração.

Disponível em:<https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimasnoticias/bbc/2018/03/27/por-que-a-data-da-pascoa-variatanto-entenda-como-ela-e-determinada.htm>

Acesso em 28/março/2018. [Adaptado]

 Analise as afirmativas abaixo, considerando o texto.

1. As perguntas “Por que não há uma data fixa para a Páscoa?” (1º parágrafo), “Mas isso pode mudar?” (3º parágrafo) e “E o que os astrônomos acham de uma Páscoa unificada?” (4º parágrafo) podem ser vistas como vícios de linguagem, pois são feitas sem a necessidade de uma resposta.

2. A frase “a Páscoa se dá no primeiro domingo depois da primeira lua cheia após o equinócio da primavera no hemisfério norte” (1º parágrafo) pode ser reescrita, sem prejuízo de significado no texto, como “no hemisfério norte, dá-se a Páscoa no primeiro domingo posterior à primeira lua cheia que antecede o equinócio da primavera”.

3. O verbo haver tem valor existencial e não tem sujeito nas duas ocorrências, em: “Por que não uma data fixa para a Páscoa?” (1º parágrafo), “mas também outras complicações” (2º parágrafo).

4. Em relação à colocação pronominal, a expressão sublinhada em “o debate sobre a questão ainda poderá se estender por muito tempo” (5º parágrafo) pode ser reescrita como “se poderá estender” ou “poderá estender-se”, sem ferir a norma culta da língua escrita.

5. Em relação à acentuação gráfica, no conjunto “Páscoa”, “hemisfério”, “egípcias”, “judaísmo” e “história”, a única palavra que destoa por seguir uma regra diferente de acentuação é “Páscoa”.

Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas. 

Alternativas
Q1072292 Português

Texto 1 Universos paralelos

Stephen Hawking sempre foi conhecido pela sua dedicação incondicional ao trabalho. Apenas duas semanas antes da sua morte (ocorrida em 14/03/2018), aos 76 anos, o físico britânico terminou seu último artigo científico. E não foi coisa pequena. Ele estabeleceu toda a base teórica para descobrirmos um universo paralelo e, de quebra, previu o fim do nosso Universo. O conteúdo do artigo afirma que é possível encontrar evidências de um universo paralelo ao nosso (ou vários) através da datação de radiação no espaço profundo. Para confirmar a hipótese, seria necessário enviar uma sonda espacial para coletar as evidências.


Em 1983, Hawking descreveu que nosso Universo está em uma eterna expansão a partir de um pequeno ponto no espaço. Só que, para a tese fazer sentido, era necessário que o nosso Big Bang fosse acompanhado por infinitos outros, produzidos em diferentes universos. Foi a partir disso que surgiu a hipótese do cientista sobre o multiverso e que culminou no último estudo da sua vida – ele também abordou o nosso fim: desaparecer eventualmente na escuridão à medida que todas as estrelas esgotarem sua energia.


Stephen Hawking nunca escondeu que desejava ganhar um Nobel, chegando até a falar sobre isso abertamente em palestras. Caso consigam comprovar a teoria dos universos paralelos, ele certamente seria digno da honraria que tanto almejou. Infelizmente, as regras do Nobel não permitem premiações póstumas.

Uma das portas para universos paralelos, ele acreditava, seriam os buracos negros. “Se você cair em um buraco negro, não desista. Existe uma forma de sair de lá”, afirmou o físico em uma conferência no Instituto Real de Tecnologia de Estocolmo, como uma metáfora para a depressão.


Disponível em: <https://super.abril.com.br/ciencia/stephenhawking-escreveu-sobre-universos-paralelos-duas-semanasantes-de-morrer/> Adaptado. Acesso em: 22/março/2018.



Texto 2 Buraco negro

No início de 2017, um grupo de cientistas de todo o mundo se uniram com um objetivo em mente: captar uma imagem do buraco negro supermassivo Sagittarius A* (o asterisco se pronuncia “estrela”). Quase um ano depois, os dados foram coletados e começaram a ser analisados pelos pesquisadores.

Chamada de Event Horizon Telescope (EHT), ou Telescópio do Horizonte de Eventos, a iniciativa usa tecnologias de ponta para fotografar o buraco negro em questão, que fica no centro da Via Láctea e possui quatro milhões de vezes a massa do Sol.

Após coletadas, as informações foram enviadas para análise no MIT, nos Estados Unidos, e o Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha. As equipes das duas instituições estudarão os dados coletados e compararão suas conclusões entre si. Só então a fase final da análise das observações terá início, o que significa que é possível que, ainda em 2018, tenhamos a primeira imagem de um buraco negro.


Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/01/primeira-imagem-de-um-buraco-negro-pode-serdivulgada-em-2018.html> Adaptado. Acesso em: 22/março/2018.


Considere os trechos abaixo em seu contexto (texto 1).


I. Stephen Hawking sempre foi conhecido pela sua dedicação incondicional ao trabalho. (1º  parágrafo)

II. Só que, para a tese fazer sentido, era necessário que o nosso Big Bang fosse acompanhado por infinitos outros, produzidos em diferentes universos. (2º parágrafo)

III. Uma das portas para universos paralelos, ele acreditava, seriam os buracos negros. (4º parágrafo)


Leia as afirmativas a seguir:

1. Em I, “ao trabalho” funciona como complemento nominal de “dedicação”.

2. Em I e II, as preposições “pela” (por + a) e “por” introduzem termos que são agentes da passiva.

3. Em II, “Só que” introduz uma informação que contrasta com o conteúdo expresso no período precedente (no texto) e, ao mesmo tempo, restringe aquele conteúdo.

4. Em II e III, o vocábulo “para”, nas duas ocorrências, introduz oração subordinada que expressa ideia de finalidade.

5. Em III, a frase pode ser reescrita, sem prejuízo de significado e sem ferir a norma culta escrita, como: “Ele acreditava que os buracos negros seriam uma das portas para universos paralelos”.

Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.

Alternativas
Q1071872 Português

      Uma garotinha sobe em uma árvore. De galho em galho, ela se diverte, até que pede ajuda, não consegue descer. “Se subiu, desce”, diz o homem. Ela tenta, tenta e por fim consegue. Em poucos segundos, está no alto novamente: aprendeu a descer. Em torno dela, dezenas de crianças brincam com pedaços de madeira velha e canos, escalam grades, andam de patinete e dão cambalhotas – os adultos não reprimem. Essa grande bagunça é o recreio das crianças da Swanson Primary School, em Auckland, Nova Zelândia, e o homem é Bruce McLachlan, diretor que implementou na escola a política de zero regras.

      “Nós queremos que as crianças estejam seguras e queremos cuidar delas, mas acabamos embrulhando-as em algodão enquanto elas deveriam poder cair“, diz Mclachlan ao criticar a forma com que tratamos as crianças.

        A iniciativa do intervalo sem regras partiu de um experimento feito por duas universidades locais. A ideia é que ao dar às crianças a responsabilidade de cuidar de si mesmas, dá-se também a oportunidade de aprenderem com seus próprios erros. “Quando você olha para o nosso parquinho, parece um caos. De uma perspectiva adulta, parece que as crianças vão se machucar, mas elas não se machucam”, afirma.

      Ao manter as crianças livres para se divertir, foram registrados menos acidentes, casos de bullying e vandalismo, enquanto que a concentração das crianças nas aulas e a vontade de ir à escola aumentaram.

      O experimento deu tão certo que se tornou uma política permanente da escola.

(Bruna Rasmussen. https://www.hypeness.com.br/2015/01/conheca-aescola-sem-regras-e-seu-impacto-na-vida-dos-estudantes/ Adaptado)

Assinale a alternativa que, em conformidade com a norma-padrão, completa a frase a seguir:
As crianças se tornaram mais...
Alternativas
Q1071592 Português

      A cada governo que entra, o assunto educação deixa os holofotes provisórios da campanha eleitoral, onde costuma desfilar na linha de frente das promessas dos candidatos, e volta à triste prateleira dos problemas que se arrastam sem solução. Desta vez foi diferente: encerrada a votação, a educação prosseguiu na pauta de discussões acirradas. Infelizmente, o saldo da agitação não gira em torno de nenhuma providência capaz de pôr o ensino do Brasil nos trilhos da excelência – a real prioridade.

      A questão da hora é o projeto que pretende legislar sobre o que o professor pode ou, principalmente, não pode falar em sala de aula. Com o propósito de impedir a doutrinação, por professores, em classe, o projeto ameaça alimentar o oposto do que propõe: censura, patrulhamento, atitudes retrógradas e pensamento estreito. Segundo o especialista em educação Claudio de Moura Castro, não há como definir o que é variedade de pensamento e o que é proselitismo.

      Fruto do ambiente polarizado da sociedade brasileira, a discussão entrou pela porta da frente das escolas. Nesse clima de paixões exaltadas, no entanto, é preciso um esforço adicional para separar o joio do trigo. A doutrinação em sala de aula é condenável sob todos os aspectos – seja de esquerda ou de direita, religiosa ou ateia, ou de qualquer outra natureza. A escola é um lugar para o debate livre das ideias, e não para o proselitismo.

      Todo conhecimento é socialmente construído e, portanto, a aventura humana, por definição, nunca é neutra ou isenta de valores. A saída é discutir e chegar a um consenso sobre o que precisa ser apresentado ao aluno, e não vigiar e punir.

      Doutrinar é expor ideias e opiniões com o propósito de convencer o outro. A todo bom professor cabe estimular o confronto de ideias e o livre pensar, inclusive expressando seu ponto de vista, mas não catequizar – uma linha fina que exige discernimento constante.

      O mundo é diverso em múltiplos aspectos, e a escola é o lugar adequado para que essa diversidade seja discutida livremente. A melhor escola ainda é a que faz pensar – sem proselitismo.

(Fernando Molica, Luisa Bustamante e Maria Clara Vieira, Meia-volta, volver. Veja, 14.11.2018. Adaptado)

Assinale a alternativa que substitui os trechos destacados na passagem – Com o propósito de impedir a doutrinação, por professores, em classe, o projeto ameaça alimentar o oposto do que propõe... – de acordo com a norma-padrão de regência e emprego do sinal indicativo de crase.
Alternativas
Q1071588 Português

      A cada governo que entra, o assunto educação deixa os holofotes provisórios da campanha eleitoral, onde costuma desfilar na linha de frente das promessas dos candidatos, e volta à triste prateleira dos problemas que se arrastam sem solução. Desta vez foi diferente: encerrada a votação, a educação prosseguiu na pauta de discussões acirradas. Infelizmente, o saldo da agitação não gira em torno de nenhuma providência capaz de pôr o ensino do Brasil nos trilhos da excelência – a real prioridade.

      A questão da hora é o projeto que pretende legislar sobre o que o professor pode ou, principalmente, não pode falar em sala de aula. Com o propósito de impedir a doutrinação, por professores, em classe, o projeto ameaça alimentar o oposto do que propõe: censura, patrulhamento, atitudes retrógradas e pensamento estreito. Segundo o especialista em educação Claudio de Moura Castro, não há como definir o que é variedade de pensamento e o que é proselitismo.

      Fruto do ambiente polarizado da sociedade brasileira, a discussão entrou pela porta da frente das escolas. Nesse clima de paixões exaltadas, no entanto, é preciso um esforço adicional para separar o joio do trigo. A doutrinação em sala de aula é condenável sob todos os aspectos – seja de esquerda ou de direita, religiosa ou ateia, ou de qualquer outra natureza. A escola é um lugar para o debate livre das ideias, e não para o proselitismo.

      Todo conhecimento é socialmente construído e, portanto, a aventura humana, por definição, nunca é neutra ou isenta de valores. A saída é discutir e chegar a um consenso sobre o que precisa ser apresentado ao aluno, e não vigiar e punir.

      Doutrinar é expor ideias e opiniões com o propósito de convencer o outro. A todo bom professor cabe estimular o confronto de ideias e o livre pensar, inclusive expressando seu ponto de vista, mas não catequizar – uma linha fina que exige discernimento constante.

      O mundo é diverso em múltiplos aspectos, e a escola é o lugar adequado para que essa diversidade seja discutida livremente. A melhor escola ainda é a que faz pensar – sem proselitismo.

(Fernando Molica, Luisa Bustamante e Maria Clara Vieira, Meia-volta, volver. Veja, 14.11.2018. Adaptado)

Assinale a alternativa que reescreve livremente passagem do texto, de acordo com a norma-padrão de concordância e de pontuação.
Alternativas
Q1070979 Português

                     Leia o texto “De volta à tradição”, apresentado abaixo,

                     o qual é parte do capítulo de um livro, e, a partir dele,

                                responda a questão que o segue.


                                              De volta à tradição


      Em 1930, ocorreu uma mudança na vida de Villa-Lobos que deu à sua obra uma nova orientação, bastante forte. Iniciavam-se aí os quinze anos, aproximadamente, em que Villa-Lobos se dedicaria totalmente a seu país. Com isso, chegava ao fim o papel da vanguarda parisiense, marcada pela ousadia inovadora e pela criatividade experimental. Villa-Lobos manteve-se ligado ao pensamento nacional-brasileiro, mas não se relacionava mais com o público parisiense curioso e versado, que esperava dele uma música impressionante pouco convencional, exótica e excêntrica. Seus companheiros, agora, eram os funcionários do regime Vargas, que se prevaleciam da fidelidade nacional, e os professores de música pouco experientes e pouco viajados.

      O retorno às formas tradicionais da música brasileira deu-se simultaneamente com a dedicação à língua materna. Nessa fase, as obras vocais novamente adquiriram maior importância, e foi possível a Villa-Lobos mais uma vez cultivar o contato com os poetas. Dentre eles, sobressaíram-se dois, com os quais o compositor, além do trabalho profissional conjunto, também teve uma estreita amizade por toda sua vida: Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, os poetas mais musicados do Brasil. A relação deles com Villa-Lobos era de especial intensidade e confiança.

      Manuel Bandeira originava-se da grande cidade de Recife, no noroeste de Pernambuco. No início comprometido com o Simbolismo, Bandeira uniu-se, como muitos literatos e artistas de sua geração, ao Modernismo. Ele tinha amizade com uma série inteira de compositores, como Villa-Lobos, Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone, Frutuoso Viana e Jaime Ovale. [...]

Carlos Drummond de Andrade foi o poeta lírico brasileiro mais representativo do século XX. No início, dedicava-se a poemas satíricos e logo foi influenciado pelo Modernismo e por Walt Whitman. Sua obra, no decorrer de sua fase criativa, dividiu-se em diversas facetas, em poemas do cotidiano, em poemas políticos e posteriormente, também, em obras metafísicas, como “A máquina do mundo”. [...]

NEGWER, M. Villa-Lobos. O florescimento da música brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 210-212. (adaptado)

Considerando-se o quarto parágrafo, se, em vez de “Carlos Drummond de Andrade”, o sujeito de “[...] foi o poeta lírico brasileiro mais representativo do século XX.” fosse “Bandeira e Drummond”, o predicado precisaria sofrer uma série de alterações para que ficasse adequado a esse novo sujeito. Assinale a alternativa que demonstra essa nova versão, com suas alterações adequadas, com o mínimo de modificações possíveis.
Alternativas
Q1070929 Português

Experiências parisienses


      Rubinstein apoiou fortemente Villa-Lobos na realização de seu sonho de longa data: ir a Paris para poder, lá, dedicar-se exclusivamente a seu trabalho de composição. Para fundar o projeto em uma base realista, Rubinstein sugeriu estabelecer um plano de financiamento que foi adotado por alguns amigos de Villa-Lobos. A imprensa relatou sobre isso: “Tudo indica que é chegado o momento de encaminhar para a Europa esse formoso talento que ontem foi delirantemente aplaudido”.

      Para colocar à disposição os meios necessários, o deputado Arthur Lemos apresentou uma proposta na câmara municipal de vereadores em julho de 1922 sob o título: “Para a divulgação de nossa música no exterior”. Foram pedidos 108 contos de réis – segundo a moeda de hoje, aproximadamente, 30 mil reais – para que pudessem ser realizados, ao total, 24 concertos com obras de compositores brasileiros nas capitais musicais da Europa. Já em 1912, Nepomuceno, Oswald, Braga e Nascimento haviam encaminhado uma iniciativa semelhante para o jovem compositor, muito promissor, Glauco Velásquez. O projeto contudo, fracassou, e Velásquez morreu dois anos mais tarde.

      A fim de propagar seu objetivo, Villa-Lobos realizou uma série de oito concertos – quatro no Rio de Janeiro, quatro em São Paulo –, os quais ele dedicou a algumas personalidades de destacada posição social: ao presidente Epitácio Pessoa, ao vice-presidente Estácio Coimbra, ao senador Marcílio Lacerda e ao milionário Arnaldo Guinle. [...]

      Apesar de todos os esforços, Villa-Lobos não conseguiu influenciar o ambiente no sentido intencionado. Não houve número considerável de público nem uma ressonância notável por parte da imprensa, e as personalidades importantes solicitadas também se mantiveram reservadas. O quarto concerto no Rio de Janeiro teve até mesmo de ser cancelado, já que não houve venda suficiente de ingressos. Ronald de Carvalho censurou, por conseguinte, em um artigo de jornal, a “decadência” do público no Rio de Janeiro. [...]

NEGWER, M. Villa-Lobos. O florescimento da música brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 141-142. (adaptado) 

As seguintes alternativas apresentam frases, que têm como base trechos do quarto parágrafo do texto. Todavia, algumas palavras delas foram alteradas, o que faz com que outros trechos tenham de ser adequados para que a gramática normativa continue sendo respeitada. Considerando as alternativas de modo independente do parágrafo no qual elas foram baseadas, assinale aquela que apresenta as alterações adequadas.
Alternativas
Q1070543 Português

Considerando a correção gramatical e a coerência das substituições propostas para vocábulos e trechos destacados do texto, julgue o item que se segue.


“cuja” (linha 9) por onde a

Alternativas
Q1070542 Português

Considerando a correção gramatical e a coerência das substituições propostas para vocábulos e trechos destacados do texto, julgue o item que se segue.


“vem desgastando” (linha 4) por tem desgastado

Alternativas
Q1070541 Português

Julgue o próximo item, no que diz respeito à correção gramatical e à coerência da proposta de reescrita para cada um dos trechos destacados do texto.


“Todas as privações sofridas em nome da boa forma, em última instância, convergem para as experiências de irrelevância e futilidade do eu.” (linhas de 45 a 47): Todas as privações sofridas em nome da boa forma contrariam, em última instância, as experiências de irrelevância e futilidade do eu.

Alternativas
Q1070540 Português

Julgue o próximo item, no que diz respeito à correção gramatical e à coerência da proposta de reescrita para cada um dos trechos destacados do texto.


“Mas como continuamos a precisar do outro para legitimar nossos ideais de eu” (linhas 6 e 7): Entretanto, por que continuamos a necessitar do outro para legitimar nossos ideais de eu

Alternativas
Respostas
3901: B
3902: B
3903: E
3904: B
3905: D
3906: C
3907: C
3908: A
3909: D
3910: B
3911: D
3912: D
3913: A
3914: D
3915: B
3916: A
3917: E
3918: C
3919: E
3920: E