Texto 1 - Fontes murmurantes
Não se trata de uma referência às fontes murmurantes
cantadas por Ary Barroso em sua "Aquarela do Brasil". As
fontes em questão são outras, estão atualmente em
debate nos meios jornalísticos e legais: o direito de
proteger o sigilo das "fontes".
Contrariando a maioria, diria até a unanimidade dos
colegas de ofício, sou contra este tipo de sigilo e,
sobretudo, contra as fontes em causa. Tenho alguns anos
de estrada, mais do que pretendia e merecia, e em minha
vida profissional nunca levei em consideração qualquer
tipo de informação que não fosse assumida pelo
informante.
Evidente que fui mais furado do que um ralador de coco.
Mas não fiz minha carreira no jornalismo na base de furos,
que nunca os dei e nunca os levei a sério, uma vez que a
maioria dos furos são, por natureza, furados.
O sigilo das fontes beneficia as fontes, e não o jornalista,
que geralmente é manipulado na medida em que aceita e
divulga as informações obtidas com a garantia do próprio
sigilo. São fontes realmente murmurantes, que transmitem
os murmúrios, as especulações e as jogadas inconfessáveis
dos interessados, que são os próprios informantes.
Digo "inconfessáveis" por um motivo óbvio: se fossem
confessáveis, as fontes não pediriam sigilo, confessariam o
que sabem ou supõem, assumindo a responsabilidade pela
informação.
Os defensores do sigilo das fontes se justificam com o
dever de informar a sociedade, como se esse dever fosse a
tábua da lei, o mandamento supremo acima de qualquer
outro mandamento ou lei. No fundo, aquela velha máxima
de que o fim justifica os meios, pedra angular em que se
baseou a Inquisição medieval e todos os movimentos
totalitários que desgraçaram a humanidade.
CONY, Carlos Heitor. Folha de São Paulo. 06/12/2005.
TEXTO 2
Na coluna desta semana, o professor Carlos Eduardo Lins da Silva
comenta o caso de processos sendo movidos por policiais do
Espírito Santo contra o jornal A Gazeta.
No carnaval, o jornal publicou uma charge em que um policial
está fantasiado de bandido e um bandido de policial. Os policiais
justificam que a charge é ofensiva à categoria, mas o colunista
alerta que atitudes como esta ferem a liberdade de expressão e
configuram censura prévia. O professor também comenta a
relação conturbada entre jornalistas e o Poder Judiciário no
Brasil.