Observando as escolhas de linguagem nesse texto de opinião,...
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Ano: 2024
Banca:
EVO Concursos
Órgão:
Câmara de São Tiago - MG
Prova:
EVO Concursos - 2024 - Câmara de São Tiago - MG - Contador |
Q3185577
Português
Texto associado
TEXTO 2
O adolescente se olha no espelho e se acha
diferente. Constata facilmente que perdeu aquela
graça infantil que, em nossa cultura, parece garantir
o amor incondicional dos adultos, sua proteção e
solicitude imediatas. Essa segurança perdida
deveria ser compensada por novo olhar dos
mesmos adultos, que reconhecesse a imagem
púbere como sendo a figura de outro adulto, seu
par iminente. Ora, esse olhar falha: o adolescente
perde (ou, para crescer, renuncia) a segurança do
amor que era garantido à criança, sem ganhar em
troca outra forma de reconhecimento que lhe
pareceria, nessa altura, devido. Ao contrário, a
maturação, que para ele é evidente, invasiva e
destrutiva do que fazia sua graça de criança, é recusada, suspensa, negada. Talvez haja
maturação, lhe dizem, mas ainda não é maturidade.
Por consequência, ele não é mais nada, nem
criança amada, nem adulto reconhecido. O que
vemos no espelho não é bem nossa imagem. É
uma imagem que sempre deve muito ao olhar dos
outros. Ou seja, me vejo bonito ou desejável se
tenho razões para acreditar que os outros gostam
de mim ou me desejam. Vejo, em suma, o que
imagino que os outros vejam. Por isso o espelho é
ao mesmo tempo tão tentador e tão perigoso para
os adolescentes: porque gostariam muito de
descobrir o que os outros veem neles. Entre a
criança que se foi e o adulto que ainda não chega,
o espelho do adolescente é frequentemente vazio.
Podemos entender então como essa época da vida
possa ser campeã em fragilidade de autoestima,
depressão e tentativas de suicídio. Parado na
frente do espelho, caçando as espinhas, medindo
as novas formas de seu corpo, desejando e
ojerizando seus novos pelos ou seios, o
adolescente vive a falta do olhar apaixonado que
ele merecia quando criança e a falta de palavras
que o admitam como par da sociedade dos adultos.
A insegurança se torna assim o traço próprio da
adolescência. Grande parte das dificuldades
relacionais dos adolescentes, tanto com os adultos quanto com seus coetâneos, deriva dessa
insegurança. Tanto uma timidez apagada quanto o
estardalhaço maníaco manifestam as mesmas
questões, constantemente à flor da pele, de quem
se sente não mais adorado e ainda não
reconhecido: será que sou amável, desejável,
bonito, agradável, visível, invisível, oportuno,
inadequado etc.?
CALLIGARIS, Contardo. A adolescência. São Paulo:
Publifolha, 2000. p. 24-25
Observando as escolhas de linguagem nesse
texto de opinião, assinale a alternativa que melhor
define o destinatário do texto, isto é, o provável leitor de Contardo: