Qual é o sentido que a palavra “como”, sinalizada no tercei...
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Ano: 2024
Banca:
ADM&TEC
Órgão:
Prefeitura de Timbaúba - PE
Prova:
ADM&TEC - 2024 - Prefeitura de Timbaúba - PE - Biomédico |
Q3068010
Português
Texto associado
Texto:
As crianças, as frustrações e o suicídio
Que atire a primeira pedra quem nunca recebeu ou não
foi tocado por um daqueles vídeos com crianças das
décadas de 50, 60 e 70 brincando na rua, correndo feito
loucas, cheias de hematomas, esfoladas de dar dó, suadas e
sujas de dar nojo, mas, como diria minha mãe, “rindo a
bandeiras despregadas”. E muitos de nós vivemos essa
infância, mas a sensação que temos é a de que, entre aquele
tempo e hoje, há a eternidade. Havia disputas acirradas?
Sem dúvida. Havia brigas? Muitas. Havia Bullying? Todo o
tempo.
Mas não víamos casos de suicídio entre crianças e
adolescentes como vemos hoje. E não estou falando das que
têm vidas desoladoras, mas das chamadas “crianças que
têm tudo”. É claro que vivíamos situações estressantes,
mesmo ______ os pais eram rigorosos demais e até violentos,
não nos ouviam porque achavam que criança não tinha que
falar, mas obedecer. Muitas de nós sofríamos de depressão
e ansiedade, como vemos hoje, mas acredito que essa
atividade física ao ar livre, a exposição ao sol, o contato
presencial com outras crianças, ajudavam-nos a esquecer,
pelo menos por alguns momentos, as agruras da vida.
Sim, as agruras da vida! ______ está redondamente
enganado aquele que pensa que criança que tem “tudo nas
mãos”, que “não precisa se preocupar com mais nada além
de brincar e estudar”, não tem motivo para se sentir infeliz.
As estatísticas estão aí para provar que isso não é verdade,
e várias são as causas para ideações e tentativas de suicídio
– problemas mentais, como depressão e transtorno de
personalidade Bordelense; perda de um ente querido, por
morte ou separação; Bullying; abusos sexuais; dificuldades
de aprendizagem. E alguns sinais não podem ser ignorados,
servindo de alerta, como alterações do apetite e do peso,
cansaço excessivo, baixa autoestima, agitação, desânimo,
isolamento, irritabilidade, ataques de raiva, comportamentos
estranhos como roupas que mais parecem esconderijos.
Mas uma coisa chama a minha atenção nas crianças e
nos adolescentes de hoje, que é o despreparo para lidar com
as frustrações, com as decepções. Aquelas crianças de
antigamente, às quais só restava obedecer, já tinham um
“não” para tudo e tinham que correr atrás do “sim” para
qualquer coisa que não fosse acordar, dormir, comer, tomar
banho, ir para a escola, fazer as lições. Toda e qualquer coisa
que saísse desse script demandava permissão que
precisava ser perseguida. Em geral, pedia-se à mãe, que
empurrava a responsabilidade para o pai, que a devolvia com
um “Se sua mãe disser que pode, tudo bem pra mim”. E lá ia
a criaturinha de volta para a mãe, com o coração aos pulos.
Hoje, a garotada já nasce com um “sim” para tudo. [o]s
pais, desejosos de serem “[o]s melhores pais do mundo” e,
cá entre nós, morrendo de medo de não [o] serem ou de
assim não serem considerados, raramente dizem “não” às
suas crias e, quando [o] fazem, diante do espanto e do
choque provocado, entram em pânico e voltam atrás nas
suas decisões, restabelecendo a calma nas relações. Só que
a vida não é feita só de “sins”, mas também de “nãos”. Aliás,
bem mais “nãos” do que “sins”. E quando [o] filhote começa
a dar [o]s primeiros passos fora da bolha de proteção, [o]
bicho pega, não alisa!
Um exemplo de ambiente que não passa a mão na
cabeça de ninguém é o das redes sociais. Mesmo para
muitos adultos, é difícil lidar com críticas, até mesmo
construtivas. Agora imagine o que é para uma criança ou um
adolescente acostumado aos “sins” receber “nãos” ou, o que
é pior, ser alvo dos haters, que disseminam o ódio, fazendo
comentários maldosos e até absurdos, criminosos. Muitas
crianças e adolescentes tiram a própria vida por não
suportarem o que lhes é dito pela internet. E a solução não é
impedir o uso das redes sociais, ______ elas são uma
realidade, são parte da nossa vida.
Assim, deixo aqui alguns conselhos aos pais que
desejam ser os melhores do mundo. Em primeiro lugar,
entenda que, em situações ordinárias, todos os pais e todas
as mães tentam ser os melhores pais e as melhores mães
do mundo, mas todos, sem exceção, falham ______ os
consumidores desses esforços, que são os filhos, costumam
ter uma noção diferente do pai ou da mãe ideal. Então tente
ser o pai que você gostaria de ter tido e vá se adaptando aos
seus filhos, aprendendo com eles, com os novos modelos
sociais, com os novos tempos. Siga firme e ponha todo o seu
amor nesse percurso.
Em segundo lugar, pense que seus pais provavelmente
também desejaram ser os melhores do mundo ou, no
mínimo, não cometer os erros cometidos pelos pais deles.
Assim, mesmo que você ache que eles não se saíram bem,
não cometa o erro de acreditar que eles fizeram tudo errado.
Em geral, começamos pensando que eles erraram em tudo,
depois começamos a pensar que eles acertaram em
algumas coisas e terminamos pensando que eles acertaram
muito, às vezes naquilo que abominávamos.
Em terceiro lugar, seu filho precisa mesmo é ser amado
– acolhido, respeitado, ouvido, orientado. Ele precisará ouvir
“sins” e “nãos”; precisará ouvir que a vida nem sempre é
como a gente quer que ela seja, exigindo de nós resiliência,
paciência, perseverança; precisará ouvir de você um pedido
de desculpas sempre que você entender que falhou com ele;
precisará entender que pais não são super-heróis, apenas
seres humanos tentando acertar, que continuam a nos amar
mesmo quando erram feio, mesmo quando nós erramos
feio.
E procure se conhecer, observar como você costuma
lidar com os “nãos” da vida, como reage diante das
frustrações. Você se mantém tranquilo, respira fundo e tenta
encontrar uma saída para o problema? Ou você é do tipo que
tem um ataque, desconta nos outros, enche a cara ou toma
um calmante e fica largado na cama babando? Lembre que
os nossos filhos estão sempre de olho em nós, aprendendo
com o que falamos, mas, principalmente, com o exemplo que
damos. Como dizem, a palavra convence, mas o exemplo
arrasta.
SANT’ANA, Maraci. As crianças, as frustrações e o suicídio.
Correio Braziliense, 23 de agosto de 2023. Opinião.
Disponível em:
https://blogs.correiobraziliense.com.br/consultoriosentime
ntal/as-criancas-e-as-frustracoes/. Acesso em: 25 jan.
2024. Adaptado.
Qual é o sentido que a palavra “como”, sinalizada no
terceiro e no último parágrafos do texto, atribui,
respectivamente, aos enunciados em que ocorre?