Você é mais tênis ou frescobol?
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a
sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver
a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é
aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário,
e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra
muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar,
interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto,
justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar
porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre
com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas
raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que
nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe
que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.
Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz
quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O
erro de um, no frescobol, é (...) um acidente lamentável que não
deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e
vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro
se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo
este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
Adaptado de “Você é mais tênis ou frescobol?” - Rubem Alves.
Utilize o texto acima para responder à questão.