Para que serve a linguagem?
A linguagem é uma atividade tão trivial, que se torna compatível ao andar, por exemplo. A maioria
das pessoas pertencentes a culturas bem diferentes sabe da real importância da linguagem para a vida de
todos nós. Pelo menos, da necessidade de sua prática para conversarmos, para lermos e escrevermos;
mesmo aqueles que não têm acesso à escrita, longe de serem poucos, espalhados pelo nosso universo
humano, têm, no entanto, esta noção. Mas a maior parte dos indivíduos de qualquer comunidade, que fala
uma dada língua, ainda que dotados de certo nível cultural, não têm um alcance maior da transcendência da
linguagem verbal para a vida de todos nós.
Prevalece, em geral, a noção limitada, embora essencial, da linguagem verbal como o principal modo
de comunicação. “Quem não se comunica, se trumbica”, um refrão utilizado pelo famoso homem de rádio e
de TV, o Chacrinha, significava precisamente isto e apenas isto: aquele que não se faz entender, por se valer
de expressão verbal a que falte clareza ou adequação a uma situação concreta, fica prejudicado em seu
intento de transmitir algo a alguém.
A Linguística, porém, com sua fundamentação científica, nos ensina que a linguagem verbal, atividade
livre, por isso mesmo criativa, não é meramente um modo de realização, o principal de os indivíduos se
comunicarem. Ela é também – e a compreensão desta verdade é essencial para se alcançar a plena
importância da linguagem articulada – forma de conhecer, ou seja, de o sujeito pensante apreender os
objetos (no seu sentido filosófico de tudo o que é passível de conhecimento), que a rigor, só ganham
existência para os homens quando recebem um nome.
A função para que as palavras foram inventadas é de uma transbordante beleza: nada menos que
nomear o mundo. Uma criança entra no mundo por elas. Quando uma pergunta “que é isso?” (é a pergunta
da filosofia), respondemos com o nome da coisa. Depois ela irá saber que coisa é esse nome. Nomes são as
coisas que sabemos.
Logo, a linguagem tem duas funções essenciais, sendo, pois, reiterando, uma atividade livre finalística:
uma forma de conhecer (função interna e cognoscitiva) e um modo de realização (função externa ou
manifestativa, ou comunicativa).
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UCHÔA, Carlos Eduardo Falcão. Iniciação à Linguística: fundamentos essenciais. 1. ed. Rio de Janeiro, Lexikon, 2019. p. 42-43.