Questões de Concurso Sobre coesão e coerência em português

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Q3300922 Português
Texto I.


A Escrita 


A nossa civilização é marcada pela linguagem gráfica. A escrita domina a nossa vida; é uma instituição social tão forte quanto a nação e o Estado. Nossa cultura é basicamente uma cultura de livros. Pela escrita acumulamos conhecimentos, transmitimos ideias, fixamos nossa cultura.

Nossas religiões derivam de livros: o islamismo vem do Corão, escrito por Maomé; os Dez Mandamentos de Moisés foi um livro escrito em pedra. Nosso cristianismo está contido em um livro, a Bíblia. É a cartilha, é o livro escolar, é a literatura expressa graficamente, é o jornal. Mesmo a televisão – e mais do que ela o cinema – lança mão dos recursos da linguagem escrita (legenda) para facilitar a comunicação.

Na engrenagem da sociedade moderna, a comunicação escrita senta-se em trono. São as certidões, os atestados, os relatórios, são os diplomas. O documento é basicamente um documento gráfico, e a simples expressão gráfica vale mais do que todas as evidências.

Numa quase caricatura podemos dizer que o atestado de óbito é mais importante que o cadáver, o diploma mais do que a habilitação. Sem a linguagem escrita é praticamente impossível a existência no seio da civilização. O analfabeto é um pária que não se comunica com o mundo, não influi e pouco é influenciado. 


AMARAL VIEIRA, R. A. O futuro da comunicação. Ed. Achiame. 1981. 
Leia a frase a seguir.

“Na engrenagem da sociedade moderna, a comunicação escrita senta-se em trono.”

Assinale a opção que mostra a forma de reescrever essa frase que modifica o seu sentido original. 
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Q3300508 Português
Acordar com o barulho do despertador pode ser o motivo do seu estresse todos os dias


Por Elissandra Silva






(Disponível em: https://www.minhavida.com.br/materias/materia-25608 – texto adaptado especialmente para esta prova).
Qual termo o pronome “ele” (l. 12) está retomando?
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Q3300507 Português
Acordar com o barulho do despertador pode ser o motivo do seu estresse todos os dias


Por Elissandra Silva






(Disponível em: https://www.minhavida.com.br/materias/materia-25608 – texto adaptado especialmente para esta prova).
A palavra “Embora” (l. 18) apresenta um sentido de:
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Q3299887 Português
Em relação ao exposto pelo texto, analise as assertivas abaixo, assinalando V, se verdadeiras, ou F, se falsas.

( ) A solicitação do ETA pode ser feita por meio do site oficial do governo britânico, com a opção de utilizar um aplicativo móvel, sendo a verificação de segurança realizada automaticamente durante o preenchimento do formulário, sem a necessidade de apresentação física dos documentos.
( ) Em 2024, o ETA foi introduzido inicialmente para cidadãos do Conselho de Cooperação do Golfo, com planos de expansão para outros países não europeus, como os Estados Unidos, Canadá e Austrália, em 2025. Esse novo sistema veio para substituir o processo de visto, embora de maneira opcional para os países afetados.
( ) O ETA pode ser solicitado por meio de sites de terceiros, que podem exigir uma taxa, mas o processo é mais seguro quando realizado através dos canais oficiais.

A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
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Q3299513 Português

Q5_6.png (341×232)


JANEIRO BRANCO. Disponível em: https://www.centrooftalmologicomg.com.br/blog/a-campanha-janeiro-branco/. Acesso em: 16 janeiro 2025.


O texto JANEIRO BRANCO é constituído por imagens e palavras, que se articulam para auxiliar o estabelecimento de sentidos. Sobre essa articulação entre imagens e palavras no texto, é correto afirmar que 
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Q3299131 Português
A extensão universitária compõe o tripé “ensino-pesquisaextensão”. No entanto, sabe-se que a extensão acaba não tendo a devida atenção e investimento que os outros elementos. Há uma falha nesse entendimento que as universidades, principalmente, públicas precisam resolver. A extensão é o elo entre universidade e sociedade e propicia uma formação adequada ao futuro profissional, que pode, desde a sua graduação, experimentar a prática devidamente supervisionado. Aleixo e Nunomura (2019) apontam a incoerência entre a valorização da pesquisa em detrimento a extensão nas instituições públicas, isso se deve ao fato de apontar para
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Q3299076 Português
Texto para a questão

    Cuidar da nossa saúde às vezes lembra aquela olhadela que damos na cabine do avião a caminho de nosso assento. Por todo lado só vemos coisas complicadas: telas, indicadores, alavancas, luzes piscantes, manivelas, interruptores, mais alavancas... botões do lado esquerdo, botões do lado direito, botões no teto (não, fala sério, Por que eles põem botões no teto?). Desviamos o olhar, agradecidos pelo fato de os pilotos saberem o que estão fazendo. Como passageiros tudo que nos importa é se o avião vai ficar no céu. Quando a questão é nosso corpo, somos nós os passageiros ignorantes. Porém - reviravolta na história -, os pilotos também somos nós. E quando não sabemos como nosso corpo funciona, é como se estivéssemos em voo cego. Nós sabemos como queremos nos sentir. Queremos acordar com um sorriso, animados e empolgados para o novo dia. Queremos ter uma alegria no andar, livres de qualquer dor. Queremos passar momentos agradáveis com nossa família, com uma sensação de gratidão positividade. Mas pode ser complicado descobrir como chegar lá. São tantos botões que nos sentimos esmagados. O que fazer? Por onde começar? Temos que começar pela glicose. Por quê? Porque ela é a alavanca da cabine com o maior custo-benefício. É a mais fácil de compreender (graças aos monitores contínuos de glicose), afeta instantaneamente nossas sensações (porque influencia nossa fome e nosso humor), e muita coisa passa a se encaixar a partir do momento em que conseguimos controlá-la.

Adaptado de Inchauspé, Jessie. A revolução da glicose: equilibre os níveis de açúcar no sangue e mude sua saúde e sua vida. Trad. André Fontenelle. Objetiva, 2022
No texto, a relação entre a complexidade da cabine de um avião e a administração da saúde humana evidencia
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Ano: 2025 Banca: FUVEST Órgão: USP Prova: FUVEST - 2025 - USP - Auxiliar de Laboratório |
Q3298946 Português
Texto para a questão

Recado ao senhor 903

Vizinho,

    Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal — devia ser meia-noite — e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a lei e a polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e música no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo oceano Atlântico, ao norte pelo 1004 ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 — que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas — e prometo silêncio.
    ... Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho e come de meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela".
    E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

BRAGA, Rubem. In: Para gostar de ler. v. 1. São Paulo: Ática, 1996.¬¬
Neste trecho em que o autor escreve “... Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho e come de meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela". O conectivo destacado é um elemento de coesão textual que indica
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Q3298334 Português

Leia o Texto 2 para responder à questão.


Texto 2


                        Guerra


Guerra é esforço, é inquietude, é ânsia, é transporte...

É a dramatização sangrenta e dura

Da avidez com que o Espírito procura

Ser perfeito, ser máximo, ser forte!


É a Subconsciência que se transfigura

Em volição conflagradora... É a coorte

Das raças todas, que se entrega à morte

Para a felicidade da Criatura!


É a obsessão de ver sangue, é o instinto horrendo

De subir, na ordem cósmica, descendo

À irracionalidade primitiva...


É a Natureza que, no seu arcano,

Precisa de encharcar-se em sangue humano

Para mostrar aos homens que está viva!


ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. p. 63.

Na primeira estrofe do poema, a referência ao ser humano bélico é feita por meio do termo “Espírito”. Na progressão textual, esse referente lexical é retomado por meio de 
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Q3297277 Português
Uma professora reparou que em sua turma há grande dificuldade com pontuação em textos dissertativos. Os alunos produzem longos parágrafos sem pausas adequadas, e isso prejudica a compreensão. Ela iniciou um projeto de reescrita, mas percebeu resistência devido à falta de exemplos concretos. Nesse cenário, qual ação conduz a resultados mais eficazes?
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Q3296746 Português

Imersão e inovação: o futuro pede uma educação além do acadêmico




Extraído de: https://www.metropoles.com/conteudo-especial/imersao-e-inovacao-o-futuro-pede-uma-educacao-alem-do-academico

De acordo com o texto só é correto afirmar que:
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Q3296611 Português
Considere o texto lacunado:

“A equipe elaborou o plano minuciosamente. _______, alguns membros manifestaram insatisfação com a versão final e, _______, o coordenador resolveu promover uma assembleia interna para revisões.”

Das alternativas abaixo, assinale a que melhor preenche as lacunas, mantendo a coesão e a coerência:
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Q3295797 Português
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.


[Eternidade do guarda-chuva]


    Ontem choveu demais e eu precisava ir a três pontos diferentes da cidade. Quando o moço do jornal veio apanhar a crônica que eu acabara de escrever, pedi-lhe que me comprasse um guarda-chuva que parecesse digno da classe média, e ele o fez com competência. Depois de cumprir meus afazeres voltei para casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e me pus a contemplá-lo. Senti então uma certa simpatia por ele, meu velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu lugar a um estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso para saber qual a origem desse carinho. 

    Pensando bem, ele talvez derive do fato de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno mais intenso a mudanças. Sou apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto da minha infância existe mais em sua forma primitiva. De máquinas como telefone, automóvel etc., nem é bom falar. Mil pequenos objetos de uso mudaram de forma, de cor, de material; em alguns casos, é verdade, para melhor; mas mudaram.  

    O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as sombrinhas, já se entregaram aos piores desregramentos futuristas e tanto abusaram que até caíram de moda. Ele permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis varetas. De junco fino ou pinho vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre ou rico, ele tem se mantido digno. Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem inventou; tem ao mesmo tempo algo de ridículo e de fúnebre, essa pequena barraca. Nada disso, entretanto, lhe tira o ar honrado. Entrou calmamente pela era atômica, e olha com ironia a arquitetura e os móveis chamados funcionais. Ele já era funcional muito antes de se usar esse adjetivo; e tanto que a fantasia, a inquietação e a ânsia de variedade do homem não conseguiram modificá-lo em coisa alguma.  

    Ali está ele, meio aberto, ainda molhado, choroso; descansa com uma espécie de humildade ou paciência humana; se tivesse liberdade de movimentos não duvido de que iria para cima do telhado quentar sol*, como fazem os urubus.

*quentar sol: forma popular para "esquentar ao sol"


(Adaptado de BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 1978, p. 217-218) 
Ao especular sobre a origem do carinho que passou a sentir pelo seu guarda-chuva, o autor considera que esse sentimento se deve ao fato de o guarda-chuva
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Q3295524 Português
O vigia recebe várias queixas de visitantes quanto à falta de iluminação noturna em certas áreas. Eles alegam insegurança e evitam circular nesses espaços. Como reduzir tais desconfortos?
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Q3294408 Português
Com relação à coesão e coerência, marque a única alternativa INCORRETA:
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Q3294225 Português
Assinale a alternativa abaixo que traz incoerência no enunciado:
Alternativas
Q3292275 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.


A terceira margem do rio


João Guimarães Rosa


Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!". Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?". Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.

Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.

No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a ideia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no aolonge, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.

Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.

A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele aguentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do seir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.

Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.

Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.

Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranquilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando ideia.

Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
Identifique o sentido INCORRETO expresso pelo uso dos elementos coesivos no texto.
Alternativas
Ano: 2025 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: VUNESP - 2025 - TJ-SP - Psicólogo Judiciário |
Q3291554 Português

Leia o texto para responder:


    Prefiro a prosa ao verso, como modo de arte, por duas razões, das quais a primeira, que é minha, é que não tenho escolha, pois sou incapaz de escrever em verso. A segunda, porém, é de todos, e não é — creio bem — uma sombra ou disfarce da primeira. Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte.

    Considero o verso como uma coisa intermédia, uma passagem da música para a prosa. Como a música, o verso é limitado por leis rítmicas, que, ainda que não sejam as leis rígidas do verso regular, existem todavia como resguardos, coações, dispositivos automáticos de opressão e castigo. Na prosa falamos livres. Podemos incluir ritmos musicais, e contudo pensar. Podemos incluir ritmos poéticos, e contudo estar fora deles. Um ritmo ocasional de verso não estorva a prosa; um ritmo ocasional de prosa faz tropeçar o verso.

    [...]

    Creio bem que, num mundo civilizado perfeito, não haveria outra arte que não a prosa. Deixaríamos os poentes aos mesmos poentes, cuidando apenas, em arte, de os compreender verbalmente, assim os transmitindo em música inteligível de cor. Não faríamos escultura dos corpos, que guardariam próprios, vistos e tocados, o seu relevo móbil e o seu morno suave. Faríamos casas só para morar nelas, que é, enfim, o para que elas são. A poesia ficaria para as crianças se aproximarem da prosa futura; que a poesia é, por certo, qualquer coisa de infantil, de mnemônico, de auxiliar e inicial.

(Fernando Pessoa; Bernardo Soares. Livro do Desassossego. 2013. Adaptado)

Na passagem do 2º parágrafo – Como a música, o verso é limitado por leis rítmicas, que, ainda que não sejam as leis rígidas do verso regular, existem todavia como resguardos, coações, dispositivos automáticos de opressão e castigo. –, as expressões destacadas contribuem para a progressão textual, estabelecendo entre as orações, correta e respectivamente, relações de sentido de:
Alternativas
Ano: 2025 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: VUNESP - 2025 - TJ-SP - Psicólogo Judiciário |
Q3291553 Português

Leia o texto para responder:


    Prefiro a prosa ao verso, como modo de arte, por duas razões, das quais a primeira, que é minha, é que não tenho escolha, pois sou incapaz de escrever em verso. A segunda, porém, é de todos, e não é — creio bem — uma sombra ou disfarce da primeira. Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte.

    Considero o verso como uma coisa intermédia, uma passagem da música para a prosa. Como a música, o verso é limitado por leis rítmicas, que, ainda que não sejam as leis rígidas do verso regular, existem todavia como resguardos, coações, dispositivos automáticos de opressão e castigo. Na prosa falamos livres. Podemos incluir ritmos musicais, e contudo pensar. Podemos incluir ritmos poéticos, e contudo estar fora deles. Um ritmo ocasional de verso não estorva a prosa; um ritmo ocasional de prosa faz tropeçar o verso.

    [...]

    Creio bem que, num mundo civilizado perfeito, não haveria outra arte que não a prosa. Deixaríamos os poentes aos mesmos poentes, cuidando apenas, em arte, de os compreender verbalmente, assim os transmitindo em música inteligível de cor. Não faríamos escultura dos corpos, que guardariam próprios, vistos e tocados, o seu relevo móbil e o seu morno suave. Faríamos casas só para morar nelas, que é, enfim, o para que elas são. A poesia ficaria para as crianças se aproximarem da prosa futura; que a poesia é, por certo, qualquer coisa de infantil, de mnemônico, de auxiliar e inicial.

(Fernando Pessoa; Bernardo Soares. Livro do Desassossego. 2013. Adaptado)

Na passagem do 1º parágrafo – Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte. –, o termo destacado mantém relação coesiva com a expressão
Alternativas
Q3290113 Português
Leia o Texto II e responda à questão.

Texto II

Teste genético ajuda a prevenir câncer de mama e de ovário

Detecção por amostra de sangue viabiliza intervenção antes de a doença surgir

    O teste genético para saber se uma pessoa tem chances de desenvolver câncer é feito a partir da coleta de uma simples amostra de sangue ou saliva e pode salvar mais de uma vida – a do paciente e a dos que compartilham com ele o mesmo histórico genético. O procedimento existe há cerca de uma década, mas, segundo especialistas, houve avanço expressivo no entendimento sobre os códigos revelados, permitindo resultados mais rápidos e tratamento preventivo mais preciso.
    “O que mudou foi a leitura dos genes, que se tornou mais completa. Lemos [agora] parte dos genes que antigamente não conseguíamos. Além disso, como mais pessoas estão fazendo o teste, conhecemos um maior número de mutações e podemos classificá-las melhor”, afirma a médica Bruna Zucchetti, oncologista especialista em câncer de mama do Hospital Nove de Julho.
    A profilaxia vai desde o uso de medicações para cada tipo de mutação encontrada até a indicação de cirurgia redutora de risco. No caso de mutações BRCA1 e BRCA2, o médico pode solicitar a remoção de ovários (ooforectomia), glândulas mamárias (adenomastectomia), tubas uterinas e útero (histerectomia) para evitar o desenvolvimento de um câncer agressivo.
    A mutação de BRCA 1 e 2 pode ser apresentada por homens e mulheres, sendo indicativa de risco genético para câncer de mama (masculino e feminino), ovários, pâncreas e próstata. “O teste genético não faz diagnóstico de câncer. Nas pacientes que já têm [a doença], é feito para orientar o seguimento e a necessidade de cirurgias profiláticas para reduzir o risco de novo câncer”, explica Zucchetti. O exame, portanto, ajuda a definir o melhor tratamento e orienta a testagem de outros membros da família.
    O DNA para pesquisa de mutação de BRCA1 e 2 é extraído das células de uma amostra de sangue, que pode ser coletada por qualquer pessoa e sem necessidade de nenhum preparo prévio. Arecomendação da Sociedade Americana de Oncologia é que todas as mulheres com menos de 65 anos que tenham diagnóstico de câncer de mama, independentemente do histórico familiar, façam o teste genético.
    “A cirurgia redutora de risco – ou profilática – reduz consideravelmente a chance de desenvolver um tumor de mama e ovário”, diz Zuchetti. A remoção das glândulas mamárias, nesses casos, é feita dos dois lados e antes dos 40 anos. Já os ovários têm recomendação de remoção também bilateral, mas após os 40 anos. “É indicado que todas as mulheres com diagnóstico de mutação de BRCA1 ou 2 realizem essas duas cirurgias profiláticas”, aponta a oncologista.
    Zuchetti diz que os exames genéticos têm ficado mais acessíveis, mas ainda encontram barreiras para serem realizados via rede pública e até por convênios, mas que a expectativa para o futuro é que mais pacientes tenham acesso e possam realizar o teste.


Fonte: CASTRO, Danielle. Folha de S. Paulo, 08 abril 2024, B4, com adaptações.
Considere a passagem transcrita e avalie as assertivas que seguem: “O teste genético não faz diagnóstico de câncer. Nas pacientes que já têm [a doença], é feito para orientar o seguimento e a necessidade de cirurgias profiláticas para reduzir o risco de novo câncer”, explica Zucchetti. O exame, portanto, ajuda a definir o melhor tratamento e orienta a testagem de outros membros da família.” (4º§).

I- Há elipse da expressão “o teste genético” antes de “é feito”.
II- O termo “exame” está sendo empregado para retomar o referente “teste genético”.
III- O termo “tratamento” está retomando “diagnóstico” por uma relação de catáfora.
IV- A expressão “[a doença]” retoma “câncer” por uma relação de anáfora.
V- O elemento “portanto” estabelece relação conclusiva entre as ideias apresentadas.

É CORRETO o que se afirma apenas em:
Alternativas
Respostas
1: D
2: B
3: B
4: A
5: C
6: B
7: B
8: D
9: B
10: C
11: E
12: C
13: A
14: C
15: B
16: C
17: E
18: E
19: D
20: C