Leia o texto para responder à questão.
A internet mudou o mundo – e também o meu mundo. Os
textos agora podem ter o tamanho que exigirem. E descobrir o seu tamanho é parte do desafio de escrever. Há quem
defenda que a internet foi feita para textos curtos e notícias
instantâneas. Só se fôssemos doidos de perder essa chance.
Na internet cabem todos os formatos, mas, para jornalistas
e para leitores, talvez a maior conquista seja a ampliação da
possibilidade de escrever – e de ler – textos de profundidade, analíticos, que respeitam a complexidade dos temas. E,
assim, ficar menos dependente da disputa por espaço e por
páginas, que, se é importante quando traduz um debate movido pela relevância, é também uma afirmação de poder e de
hegemonia de uma visão de mundo sobre outras.
O leitor não gosta de textos longos? Não é o que a
audiência tem mostrado. E agora há como provar. Me parece
que na internet o leitor abandona o lugar de entidade quase
metafísica, para encarnar em comentários, compartilhamentos e cliques. Tornando-se, ele mesmo, também um escritor,
na medida em que o texto continua a ser escrito a partir de
suas observações, no acréscimo de nuances e argumentos.
A leitura evolui para um debate – o que antes era vertical se
horizontaliza. Acredito que uma parte significativa dos leitores não avalia ou decide sua leitura pelo tamanho do texto,
mas pelo tamanho do respeito pelo seu tempo e pela sua
inteligência. Por aquilo que o texto faz ecoar nele – mesmo
quando o incomoda.
(Eliane Brum. A menina quebrada. Porto Alegre, Arquipélago, 2013. Adaptado)