Leia o texto para responder à questão.
Vão-livre do Masp vira casa para crianças e adultos.
Deitado sobre um colchão, Hippierre Freitas, 34, estica
o pescoço para ver as horas. Da sua cama improvisada
no meio do vão-livre do Masp, ele avista um dos relógios
eletrônicos da avenida Paulista e se situa no horário. “É meu
relógio particular”, diz ele, enfiado debaixo de uma pilha de
cobertores. O mesmo colchão serve de “habitação” para a
vira-lata Maloqueira, a única distração capaz de mobilizar
a atenção do grupo de dez meninos, que também têm
como casa o espaço entre os famosos pilares vermelhos da
construção de Lina Bo Bardi.
Em comum, histórias de agressão, de desestruturação
familiar, conflitos na comunidade onde vivem ou ameaças são
o que mantém crianças e adultos longe de casa, de acordo
com a Secretaria de Assistência Social.
Viver nas ruas para fugir de conflitos familiares não é
exclusividade das crianças. Há 13 anos vivendo nas calçadas
da Paulista, Thiago Rodrigo Simões, 29, conta que tem casa
e família no extremo da zona leste da capital, mas mantém a
rotina de alternar duas semanas dormindo no chão do vão-livre do Masp com uma semana em que volta para casa
“para tomar banho e trocar de roupa.” Eles aqui na rua são
a minha família de verdade, me sinto mais confortável aqui
do que na minha casa. Tenho um estilo aventureiro”, diz ele,
que divide o colchão com Hippierre e a cachorra.
Sobre a escolha do vão-livre para se instalar, Thiago
cita a segurança como principal atrativo. “Aqui tem muitas
câmeras. Se eu der alguma coisa na sua mão, os policiais
ali já ficam ligados”, diz ele apontando uma base da Polícia
Militar instalada no outro lado da avenida, em frente ao
Parque Trianon.
Enquanto isso, uma equipe do museu montava um palco
a poucos metros do colchão para uma atração musical.
“Agora vou ver um show de graça sem nem sair da minha
cama”, diz Thiago. “O vão, como o próprio nome diz, é livre,
e deve ser ocupado.”
(Folha de S. Paulo, 09.06.2019. Adaptado)