Questões de Concurso Sobre concordância verbal, concordância nominal em português

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Q2199578 Português

QUANDO OS MORTOS FALAM: A HISTÓRIA DA AUTÓPSIA



            A indagação da causa da morte sempre esteve presente em nossos pensamentos, seja você médico ou não. A palavra autópsia significa "ver por si próprio" e vem do grego clássico αυτοψία, sendo composta por αυτος (autós, "si mesmo") e όψις (ópsis, "visão"). Outro termo grego equivalente e de uso mais recente é νεκροψία (necropsia), composta de νεκρός (nekrós, "morto") e  όψις (ópsis, "visão"), isto é, a dissecação do cadáver para determinar, por meio da observação, a causa de morte ou a natureza da doença.


        As origens da autópsia (ou necrópsia) se confundem com a da própria medicina. Seus primeiros registros na antiguidade são, das dissecações com Herófilo e Erasístrato, no século II a. C. Considerado uma das principais figuras da medicina, o grego Galeno de Pérgamo (129 - 201) já recorria a esse recurso, realizando dissecações em animais como porcos, macacos, cavalos e cães, apontando as semelhanças anatômicas entre os órgãos que cumpriam a mesma função em espécies diferentes.


         No Século IX, o estudo do corpo humano após a morte voltou a crescer, principalmente graças à escola de medicina de Salermo, na Itália, e à obra de Constantino, que traduziu do árabe para o latim numerosos textos médicos gregos. Logo depois. Guglielmo de Saliceto, Rolando de Parma e outros médicos medievais enfatizaram a afirmação de Galeno, segundo a qual o conhecimento anatômico era importante para o exercício da cirurgia.


        Passando pelo período do Renascimento, a anatomia humana teve uma grande contribuição com artistas que buscavam nesta ciência as bases para retratarem de maneira mais precisa a figura humana. O mais famoso deles, Leonardo da Vinci, dissecou mais de trinta corpos de homens e mulheres de todas as idades. Dentre seus diversos trabalhos, ele ainda é reconhecido por seus esboços e obras baseados na arte da dissecação.


        Então chegamos ao  momento em que a Patologia passa a despontas como especialidade em si, separada do restante da medicina. A principal figura dessa guinada é Antonio Benivieni (1443 - 1502), médico florentino que foi o primeiro a colher sistematicamente dados de autópsias realizadas em seus pacientes. Em seguida, em 1543, o médico Andreas Vesalius lançaria o primeiro livro de anatomia humana: " De Humani Corporis Fabrica". Resultado de seus trabalhos como professor da Universidade de Pádua, onde realizou dissecações de cadáveres, a obra instituiu categoricamente o método correto de dissecação anatômica. Entre todos os nomes, porém, um dos que mais se destaca é o de Rudolf Ludwig Karl Virchow (1804 - 1878). Considerado a maior figura na história da patologia, ele foi um dos primeiros a utilizar o microscópio, um dos principais avanços da óptica em seu tempo, para analisar tecidos.


        Durante todo esse processo histórico, sistematizações e padronizações foram constantes e necessárias para tornar possível a evolução dos procedimentos da autópsia. De um princípio baseado na dissecação de órgãos, essa ciência passou para um método avançado de estudo que investiga a causa da morte de um paciente, permitindo desenvolver o conhecimento geral sobre a doença que o acometeu.


Adaptado de: https://www.sbp.org.br/quando-os-mortos-falam-a-historia-da -autopsia/. Acesso em: 15 mar.2023.

Qual das opções a seguir geraria um problema de concordância ao substituir a expressão destacada em "[...] ele foi um dos primeiros a utilizar o microscópio [...]".?
Alternativas
Q2199054 Português
Leia as expressões subsequentes, assinale a alternativa que não apresenta nenhum erro de concordância verbal ou nominal.
Alternativas
Q2199048 Português
Leia os enunciados a seguir, marque a opção que contraria as regras de concordância verbal. 
Alternativas
Q2198952 Português
Considere os itens a seguir:  
I - A maioria dos professores da escola gostam de ensinarem literatura. II - Todos os jogadores da equipe jogaram bem ontem. III - Minha mãe e meu pai me falou sobre a importância da educação. IV - A falta de atenção aos estudos são preocupantes. V - O número de vagas para o cargo de professor diminuiu neste ano. 
De acordo com as regras gramaticais da Língua Portuguesa, assinale a alternativa que apresenta corretamente o(s) item(ns) escrito(s) com a devida concordância verbal. 
Alternativas
Q2198951 Português
Considere os itens a seguir:
I - Os livros que você me emprestou foi muito útil para o meu trabalho. II - O grupo de amigos foram ao cinema juntos. III - A maioria dos alunos daquela turma escolheram História como disciplina optativa. IV - Cada um dos candidatos preparou suas propostas de governo. V - A cidade e as pessoas que vivem nela sofrem com a falta de saneamento básico.
De acordo com as regras gramaticais da Língua Portuguesa, assinale a alternativa que apresenta corretamente o(s) item(ns) escrito(s) com a devida concordância verbal.  
Alternativas
Q2198533 Português
No que se refere à concordância nominal e verbal, assinale a alternativa correta.
Alternativas
Q2198128 Português
O termo que preenche corretamente as lacunas é:
Quanto ___________ intercorrências ____________, melhor ______________. 
Alternativas
Q2197627 Português
Analise as frases a seguir.
I. Cada qual faz como melhor lhe __________. II. As escolas se ________ do material didático necessário. III. Os professores _________ o conteúdo antes das provas.

Marque a opção que preenche CORRETA e respectivamente as lacunas.
Alternativas
Q2197625 Português
Há erro de concordância verbal em:
Alternativas
Q2197238 Português

A questão refere-se ao texto a seguir.


TEXTO

A cor da injustiça ambiental no Brasil

Carolina Azevedo e Samantha Prado


     Na semana do Carnaval, o litoral norte de São Paulo foi afetado por um desastre ambiental sem precedentes na história do Brasil. Foram mais de 680 milímetros de chuva acumulados no período de 24 horas, o maior registro do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) no país até o momento – o que resultou na devastação de diversas áreas nas cidades de Guarujá, Bertioga, São Sebastião, Caraguatatuba, Ilhabela e Ubatuba. Ao todo foram 65 mortos e mais de 2 mil pessoas entre desabrigados e desalojados.


        A situação não pode ser lida apenas como um evento extremo isolado. Desastres bastante similares têm ocorrido nos últimos anos, como as inundações em Petrópolis (RJ) e Pernambuco em 2022. O que esses episódios têm em comum? Os mais afetados são majoritariamente a população pobre e negra.


         Com o objetivo de analisar como os efeitos da crise ambiental se manifestam de forma territorialmente desigual, impactando desproporcionalmente certas populações a depender do seu grau de vulnerabilidade, o Instituto Pólis realizou o estudo “Racismo ambiental e justiça socioambiental nas cidades”. De acordo com a pesquisa, esse desequilíbrio é, em parte, a expressão da injustiça e do racismo ambientais nas cidades brasileiras. “Temos visto nos últimos anos, especialmente no verão, diversos desastres no país – e também quais foram suas vítimas. Acompanhamos um agravamento das situações e, com certeza, o negacionismo no momento de compreender as mudanças climáticas e seus impactos urbanos está dentro da lógica de como construímos as nossas cidades”, declara Maria Gabriela Feitosa dos Santos, uma das pesquisadoras que fez parte da produção do estudo.


     Existe um padrão recorrente inegável quanto à distribuição territorial da população nas cidades brasileiras. Observando o censo do IBGE de 2010, é possível ver que a renda é maior nas áreas onde a população residente é mais branca do que negra – territórios que condizem com condições de urbanização e saneamento melhores, contando com maior investimento público. Mais dados do censo mostram que os chamados aglomerados subnormais, áreas caracterizadas por um padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas com restrição à ocupação, reiteram o padrão territorial observado. Nas três cidades estudadas pelo Instituto Pólis – São Paulo, Recife e Belém –, o percentual de pessoas negras que residem em áreas desse tipo supera as médias de cada município, evidenciando a tendência de concentração desse grupo nesses territórios.


           Em outras palavras, a distribuição demográfica e racial das cidades evidencia que a população negra vive em piores condições ambientais e com menos recursos financeiros para lidar com os impactos de eventuais emergências ou desastres – colocando-a em situação de vulnerabilidade. “Por estarmos em uma sociedade racialmente estruturada, a desigualdade social é um instrumento que opera de acordo com essa lógica. Isso pode ser visto sobretudo no funcionamento da expansão imobiliária”, diz Maria Gabriela. As áreas onde o mercado imobiliário não tem interesse acabam sendo esquecidas pelo poder público, deixadas de lado no quesito de criação de infraestrutura e, por isso, tornam-se locais mais baratos e viáveis para serem ocupados pela população mais vulnerabilizada. “Essa desigualdade gera riscos socialmente produzidos. São escolhas feitas pelas políticas urbanas que a gente tem adotado e implementado, gerando uma lógica de ocupação de risco”, completa Feitosa dos Santos.


           A localização e as características dos aglomerados subnormais nas três cidades analisadas ilustram como a ocupação de áreas de potencial risco são apropriadas pela população vulnerabilizada como alternativa para a questão habitacional não tratada pelo Estado. Em São Paulo, o IBGE aponta que 355.756 domicílios em aglomerados subnormais encontram-se em áreas de encosta e margens de rios, córregos e lagos. É importante ressaltar que a ocupação de áreas de risco não advém de uma escolha, mas sim da total falta de alternativas habitacionais. “Chamamos atenção para a questão do déficit habitacional. Pessoas e famílias residem em áreas inapropriadas como uma última alternativa, uma resposta própria à questão habitacional que historicamente não tem sido equacionada pelo Estado como deveria ser”, diz a pesquisadora. 


          Todo esse quadro expõe a forma como os conceitos de justiça socioambiental e racismo ambiental são intrincados: enquanto o primeiro caracteriza a produção de impactos desiguais pelo meio ambiente, que sobrecarregam grupos minoritários e a população de baixa renda; o racismo ambiental evidencia as consequências dessas degradações, concentradas em bairros e territórios periféricos, onde vivem famílias mais pobres e há maior concentração de pessoas negras, indígenas e quilombolas.


            Para além do déficit habitacional, está a diferença de tratamento entre comunidades de baixa renda e condomínios de luxo em áreas sujeitas a desastres ambientais. Não bastando serem proibidas pela classe média e alta de construírem moradia nas faixas de terra mais seguras, populações assentadas em áreas de risco ambiental são frequentemente retiradas à força e sem qualquer garantia de direitos, enquanto moradores de condomínios e chácaras são tratados por autoridades com complacência.


         Esse é o caso de moradores das margens da Represa Billings, no extremo sul da cidade de São Paulo. Segundo mapeamento do Instituto Pólis, comunidades de baixa-renda do Jardim Noronha receberam de autoridades quatro ameaças de remoção, dada a fragilidade ambiental e o risco apresentado pela área de mananciais. O tratamento, no entanto, não se estendeu para o loteamento de chácaras Jardim Moraes Prado, bairro vizinho também colado à represa. O caso evidencia que a intervenção pública é também pautada pelo racismo ambiental, como explica Feitosa dos Santos: “Há uma tendência de criminalização de muitas dessas áreas em detrimento de ocupações de alto padrão que dividem a mesma área e ainda assim não são alvo da mesma criminalização que acontece com as ocupações. É necessário compreender esse cenário e incluir a população marginalizada dentro dessa demanda.”


          Ou seja, no contexto de desastres climáticos como as chuvas que assolaram o litoral paulista, políticas paliativas voltadas para regiões ricas das cidades não são o bastante, dado que as mudanças climáticas continuarão agravando a situação de comunidades periféricas a cada ano. “É necessário que se reverta essa lógica de políticas paliativas por políticas perenes, que antecedam esses fenômenos. Elas não necessariamente vão evitar mas vão dar capacidade de resiliência a essa população”, defende a pesquisadora.


          Para isso, é necessário entender a crise climática a partir de uma perspectiva social e racial, como propõe o Instituto Perifa Sustentável, que reivindica a democratização e a representatividade das juventudes nos locais de tomada de decisão em relação a políticas ambientais. Amanda Costa, diretora executiva do instituto, advoga: “Falar de clima é falar de um direito básico. Quando pensamos em direitos básicos pensamos em saúde, educação, transporte, mas o clima é uma questão transversal, que afeta todas as outras.” Como respostas, a ativista sustenta inverter a lógica que permeia a elaboração de políticas públicas nas cidades: partindo mais frequentemente de regiões ricas e majoritariamente brancas, políticas ambientais e sanitárias precisam colocar a periferia no centro.


          No entanto, em uma sociedade estruturalmente racista, quem mais sofre menos é ouvido. Os espaços de debate ambiental e de elaboração de políticas públicas ainda são dominados por homens brancos, como conta Mahryan Sampaio, do Instituto Perifa Sustentável: “O fato de eu dialogar com pessoas que não têm a mesma cor que eu mas estão ocupando os espaços de poder é um caso de racismo ambiental. Recentemente, Marina Silva nos convidou para conversar com os patriarcas e as matriarcas do ambientalismo brasileiro. Nós éramos as únicas pessoas pretas e jovens. Isso é racismo ambiental”.


           Para que populações periféricas possam viver com dignidade nas cidades brasileiras, é necessário pensar na questão climática de maneira interseccional, pois a injustiça ambiental no Brasil tem cor. Será apenas colocando pessoas pretas, indígenas e periféricas nos locais de tomada de decisão que discussões levantadas em fóruns como a COP 26 – da qual as ativistas do Perifa Sustentável participaram – podem se reverter em políticas efetivas de combate a desastres climáticos e tantas outras questões do dia a dia na periferia, das ruas tomadas por lixo ao problema do saneamento básico. “Colocar essas pessoas no poder é olhar para a base, par quem está no território e entende sua complexidade. O olhar que está lá tem cor e é limitado, pouco diverso, ele não inclui. Esse é um momento histórico para a questão ambiental, que viu um grande desmonte nos últimos quatro anos”, completa Costa.


Disponível em: <https://diplomatique.org.br/a-cor-da-injustica-ambiental-no-brasil/ >.

Acesso em: 3 de mar. 2023. [Adaptado]

No período “Existe um padrão recorrente inegável quanto à distribuição territorial da população nas cidades brasileiras”,
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Q2197170 Português
Os dentes dos pobres

por Olivier Cyran

        Em 1970, um jovem dentista de Autun, bafejado pelos ventos do Maio de 68, se lançou em um projeto audacioso: abrir, em Saône-et-Loire, um consultório destinado aos pobres. Bernard Jeault conseguiu obter um empréstimo bancário e aliciar para a aventura quatro colegas, prontos como ele a trair o evangelho de sua profissão: a prática liberal e o sucesso material. Trabalhariam juntos, com o mesmo equipamento e por um valor modesto. Adeus vida de figurões convidados para os saraus do subprefeito: socialização dos cuidados e bons dentes para todos!

        No entanto, a Ordem Nacional dos Cirurgiões-dentistas velava por seus interesses. Hostis à ideia de um atendimento com vocação social e temendo que essa subversão do modelo sacrossanto do pequeno empresário dentista abrisse uma brecha capaz de abalar todo o sistema, os sabichões travaram contra Jeault uma longa e implacável guerra. Arruinado, depois proibido de exercer a profissão em represália a uma obra em que relatava seus desenganos com os “arrancadores de dentes”, o “dentista dos pobres” amargou o desemprego, a assistência social e uma velhice com dificuldades, antes de morrer, em julho de 2019.

        Cinquenta anos após seu torpedeado projeto, as desigualdades de acesso aos serviços que ele esperava proporcionar continuam abissais. Os estragos podem ser observados desde a mais tenra idade. Segundo levantamentos de saúde escolar em cursos pré-primários da França, um quarto dos filhos de operários tem cáries não cuidadas, contra apenas 4% dos filhos de executivos, disparidade que aumenta na idade adulta. Estima-se que mais de um quarto dos casais de baixa renda não vai ao dentista por falta de meios. Como reconhecia o ministro da Saúde em 2011, “as desigualdades constatadas se traduzem, de um lado, por uma exposição desigual ao risco: os hábitos favoráveis à saúde bucodentária (escovação diária, exposição aos fluoretos, alimentação variada) são mais disseminados entre a população beneficiada por um melhor nível de educação e renda; de outro, um recurso também desigual aos tratamentos: os executivos consultam mais frequentemente o cirurgião-dentista que as categorias sociais pouco qualificadas”.

        Fraco consolo para os desfavorecidos do sistema francês, condenados a dores atrozes, a dificuldades de mastigação ou a um sorriso murcho que sabota sua vida amorosa, social e profissional: o fardo que carregam é largamente partilhado no mundo inteiro.

        Embora afetem milhões de pessoas e gerem sofrimentos consideráveis, essas desigualdades são muitas vezes negadas ou minimizadas. Os próprios dentistas repisam de bom grado o refrão, ventilado nas campanhas preventivas, segundo o qual a saúde dentária é essencialmente um problema de responsabilidade individual. Para ter uma dentição sadia, cabe a cada um respeitar as regras de higiene preconizadas desde o berço, seguir um regime alimentar equilibrado, evitar os doces, o álcool, o fumo e as drogas, não se expor ao cassetete do policial nem ao punho do marido violento – levar, em suma, uma existência virtuosa e protegida. Do contrário, a culpa será sua se seus dentes se estragarem.

        O sistema francês de cuidados dentários repousa em dois princípios: por um lado, a primazia do modelo liberal, que exige do profissional tirar o máximo de seu investimento; por outro, a organização de uma oferta de serviços de duas vias, na qual as intervenções reembolsadas a preço de “assistência social”, disponíveis para os pacientes modestos, rivalizam com as intervenções sem limite de preços, infinitamente mais lucrativas, como os implantes e as próteses. Entre o juramento que ele faz no primeiro dia de sua carreira – “Cuidarei do indigente e de quem quer que procure meus serviços” – e a tentação de privilegiar os clientes de alto valor agregado, o dentista se vê diante de um dilema que está pouco interessado em deslindar no interesse da saúde pública.

        Sem dúvida, a atração do ganho tem aí seu papel. Não é por acaso que, no jargão dos especialistas europeus em evasão fiscal, “o investidor privado que cruza a fronteira com seu dinheiro escuso para aplicá-lo em um ambiente fiscal mais favorável é conhecido como dentista belga” – uma homenagem à profissão, não à bandeira. A sede de euros acentua a repugnância por aqueles que não os têm. No fim de 2018, o Defensor dos Direitos (uma autoridade independente francesa de defesa dos direitos dos cidadãos) conclamou as plataformas de marcação de consultas on-line, como a Doctolib, a bloquear em seus sites menções abertamente discriminatórias feitas por numerosos dentistas, como “os beneficiários da CMU (Cobertura Médica Universal) não serão aceitos no consultório”. A recusa de cuidados – aos beneficiários da CMU, mas também aos pobres em geral, crianças, idosos e deficientes – é moeda corrente na profissão, ainda que em geral disfarçada.

        Mas, embora os dentistas endossem o primeiro papel nesse sistema de triagem, nem por isso foram seus criadores. É a nomenclatura dos pagamentos editada pelos poderes públicos que, pondo em concorrência serviços gratuitos e serviços lucrativos, incita-os a negligenciar os primeiros para melhor se consagrar aos segundos. “Se você me pede um orçamento bucodentário, serão 23 euros, isto é, uma ninharia”, explica-nos um profissional aborrecido com sua profissão. “Assim, posso resolver o caso em quinze minutos ou decidir trabalhar a sério e gastar 45. Se fizer isso várias vezes ao dia, vou acabar na miséria.” Acabrunhado de trabalho e consciente de sua missão, ele próprio mal consegue pagar suas contas e ganhar a vida. Ao contrário, um colega menos escrupuloso, que despacha uma limpeza de dentes em dez minutos cronometrados – quando seriam necessários trinta, no mínimo – ganha confortavelmente a sua. Como resume nosso interlocutor, “os que cuidam de você de qualquer jeito ou inventam um pretexto para não cuidar são os mais bem-sucedidos”.

        A esse respeito, a reforma chamada de “o resto a custo zero”, em vigor desde janeiro de 2020, não mudou fundamentalmente o sistema. Se ela permite que o plano de saúde pague integralmente algumas próteses de baixo custo (e os planos de saúde se aproveitaram disso para aumentar seus preços), deixa intacta a lógica de negligência e rentabilidade que rege o dispositivo. Sim, existem profissionais heroicos que não medem esforços para cuidar da melhor maneira possível de quem os procura, com risco de burn-out, mas não é certo que sejam os mais numerosos entre os 42 mil dentistas instalados na França – dos quais 35 mil são particulares.

        Reconhecer o direito de cada um de ter dentes que mordam, tornar público o serviço, pagar aos dentistas salários que lhes permitam exercer sua arte sem se preocupar com o ganho ou com o financiamento da piscina de bolinhas em sua segunda residência: o projeto imaginado por Bernard Jeault há meio século merece sem dúvida uma segunda oportunidade. Por enquanto, a única utopia que parece capaz de abalar o sacrossanto modelo liberal se mostra ainda mais mercantil que este último. Com efeito, nos termos de uma lei de desregulamentação adotada em 2009 sob a égide de Roselyne Bachelot, então ministra da Saúde, clínicas odontológicas de baixo custo foram surgindo às centenas. Dentego, Dentimad, Dentifree, Dentalvie, Dentymed, Dentasmile. Apesar dos nomes, que evocam um concurso de onomástica publicitária, seriam “associações sem fins lucrativos”, que não deveriam render nada. Mas as liberalidades proporcionadas pela lei lhes permitem superar isso.


Disponível em: <https://diplomatique.org.br/os-dentes-dos-pobres/> Acesso em: mar. 2023 [Adaptado]
Considere o período abaixo.
        [...] um quarto dos filhos de operários tem cáries não cuidadas, contra apenas 4% dos filhos de executivos, disparidade que aumenta na idade adulta.
Em relação à concordância, de acordo com a norma padrão do português escrito, o verbo ter
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Q2196639 Português
Leia atentamente o texto a seguir para responder à questão de 01 a 05.

Estudo revela que brasileiros têm deficiência de vitamina D mesmo no verão

Por Agência Fiocruz

Um estudo foi realizado buscando estimar os níveis de vitamina D e sua  associação com estilo de vida, fatores sociodemográficos e medidas corporais em residentes de Salvador, Curitiba e São Paulo, cidades de diferentes regiões do Brasil. Os resultados mostraram que a alta prevalência de deficiência de vitamina D observada durante o verão em indivíduos saudáveis indica que o Brasil é um país de risco de deficiência de vitamina D, com prevalência próxima a países europeus.

Essa deficiência pode ser pior em cidades como São Paulo e  Curitiba durante o inverno, do que em Salvador, uma vez que o nível de  vitamina D nessa época do ano tende a cair 30%. O estudo, coordenado pelo pesquisador da Fiocruz Bahia, Edson Moreira, é o primeiro representativo que investigou os níveis de vitamina D em uma população saudável no Brasil. O trabalho foi publicado no Journal of the Endocrine  Society.

A vitamina D é responsável por manter as propriedades do cálcio e o funcionamento saudável do organismo por conta de suas ações no  intestino, rim, ossos e glândulas. Sua deficiência pode acarretar problemas sérios de saúde, como osteoporose, além de causar fraqueza muscular, aumento do risco de quedas ou fraturas.

Os dados da pesquisa foram adquiridos a partir de amostras de sangue de 1.004 doadores de ambos os sexos, durante o verão, no período de dezembro de 2020 a março de 2021. Informações sobre estilo de vida, sociodemográficos e medidas do corpo foram coletadas por meio de uma entrevista com um questionário padronizado. Foi considerado com insuficiência de vitamina D indivíduos com níveis abaixo de 30 ng/mL e com deficiência as pessoas com níveis abaixo de 20 ng/mL.

A prevalência de deficiência foi de 15,3% e insuficiência de 50,9%  no geral. Discriminando por cidade, a prevalência foi 12,1% de deficiência  e 47,6% de insuficiência em Salvador; 20,5% e 52,4% em São Paulo e 12,7% e 52,1% em Curitiba. Maior índice de massa corporal (IMC) e maior latitude do local onde o indivíduo vive foram preditores significativos de deficiência de vitamina D, enquanto a cor da pele (branca), tempos de exposição aos raios solares e uso atual de suplemento dietético foram protetores.

Esses dados podem motivar os gestores a promover ações que incentivem a população a aumentar a atividade física ao ar livre, principalmente em regiões com alta disponibilidade de sol. (...)

Disponível em https://revistagalileu.globo.com/saude/noticia/2023/05/estudo-revela-que-brasileiros-tem-deficienciade-vitamina-d-mesmo-no-verao.ghtml

Acessado em 16/05/2023
Uma regra de concordância foi desobedecida em
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Q2196259 Português
Texto 1

O mundo: um espaço construído

O mundo, para Hannah Arendt, não é simplesmente o que nos rodeia, mas um espaço construído pelo trabalho e constituído pela ação. Construções e artefatos garantem aos seres humanos um lugar duradouro no meio da vida e da natureza, onde tudo aparece e desaparece, isto é, vida e morte se alternam constantemente. Nesse espaço construído, os seres humanos podem criar formas de convivência e interação que vão além da preocupação com a mera sobrevivência ou continuidade da espécie, embora as necessidades básicas não deixem de existir e precisem ser supridas antes de termos a possibilidade de participar no mundo.

Arendt distingue entre a atividade humana que se preocupa com as necessidades vitais – o labor – e as atividades que dizem respeito ao mundo humano – o trabalho, a ação e o pensamento. O labor corresponde a uma das condições da nossa existência na Terra: a vida. Para cuidar da nossa vida, precisamos satisfazer nossas necessidades, assim como o faz também qualquer outra espécie de seres vivos. Para satisfazer a fome, por exemplo, produzimos alimentos que, em seguida, consumimos. Esse ciclo de produção e consumo, originariamente ligado aos processos biológicos, na modernidade, extrapola cada vez mais a satisfação das necessidades meramente biológicas e se estende a outras. Não consumimos apenas alimentos, mas estilos de vida, produtos “culturais”, emoções, imagens. Contudo, embora o processo de produção e consumo seja cada vez mais exacerbado, a lógica que lhe é inerente continua sendo a mesma: a satisfação das necessidades sejam essas biológicas ou não.

O trabalho, por sua vez, está relacionado à mundanidade do ser humano, isto é, à necessidade de construir um espaço duradouro no meio de uma natureza onde tudo aparece e desaparece constantemente. Assim, o ser humano fabrica artefatos, objetos de uso e espaços que não se destinam ao consumo imediato, mas que lhe possam ser úteis e que lhe garantem uma estabilidade para ter um lar que ele não possui por natureza. A ação é a atividade mais especificamente humana. O que nos impele a agir é a condição da pluralidade dos seres humanos. A ação diz respeito à convivência entre seres humanos, que são singulares, mas não vivem no singular e sim no plural, ou seja, com outros. Essa é a característica fundamental da existência humana.

A pluralidade possibilita aos seres humanos constituírem um âmbito de ação no qual cada um pode se revelar em atos e palavras, o que não faria sentido de modo isolado, mas ganha sua relevância numa esfera que se estabelece entre as pessoas. É com suas ações que as pessoas constantemente criam e recriam o “espaço-entre” e, assim, estabelecem um mundo comum. A comunicação é fundamental para que possamos estabelecer algo compartilhado por todos. É por meio dela que a subjetividade de nossas percepções adquire uma objetividade. Assim, a existência de uma diversidade de pontos de vista é constitutiva para o mundo comum, que partilhamos com nossos contemporâneos, mas também com aqueles que nos anteciparam e com os que darão continuidade à nossa ação depois de nós.

ALMEIDA, Vanessa Sievers de. Educação e liberdade em Hannah Arendt. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 34, n.3, p. 465-479, set./ dez. 2008. [Adaptado]
Assinale a alternativa correta, com base no texto 1. 
Alternativas
Q2195493 Português




(Disponível em: https://exame.com/colunistas/sua-carreira-sua-gestao/por-que-tantas-vagas-seguem-abertas/ – texto adaptado especialmente para esta prova).

Tendo em vista o fragmento “Em um país com tanta desigualdade como o Brasil, a promoção de práticas de educação inclusiva dentro das empresas é completamente pertinente”, se substituíssemos a palavra “promoção” pela sua forma plural, quantas outras alterações seriam necessárias para a correta concordância verbo-nominal no trecho analisado? 
Alternativas
Q2195020 Português
Marque a opção correta quanto à concordância verbal:
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Q2192897 Português
Em qual frase a concordância nominal está INCORRETA? 
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Q2192737 Português
Texto para responder a questão:

O empreendedorismo feminino vai salvar o planeta 

E se eu te contar que as mudanças climáticas afetam mais algumas pessoas do que outras? De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), as mulheres são quatro vezes mais impactadas por esses efeitos, devido a razões socioculturais e econômicas. Atualmente, 70% da população que vive em pobreza extrema é feminina, aproximadamente 900 milhões de mulheres. E a solução pode estar mais próxima do que imaginamos: apostar nas lideranças femininas.
A escritora Lindsey Jean Schueman apontou as razões principais que podem fazer de nós a solução para a crise climática. Além de sermos as mais impactadas (econômica e fisicamente), somos líderes melhores em tempos incertos, porque pensamos mais no coletivo. Outro ponto citado é a facilidade feminina em criar conexões (network) e buscar soluções inovadoras.
Transformando conhecimento em ação, as mulheres se consolidam como dínamos econômicos – companhias de capital de risco fundadas por nós superam em faturamento as dos homens em 63%. Também buscamos pela igualdade de oportunidades, afinal, recebemos apenas 2% do investimento masculino, e não podemos nos esquecer do nosso lado visionário – o Acordo de Paris, em 2015, foi encabeçado por 30 ‘leoas’.
Recentemente, tivemos a Convenção Anual da ONU Mulheres Brasil, em Nova York, que focou em ações de inclusão financeira e digitalização para mulheres, além da UN Women CSW67, maior encontro anual de equidade de gênero. Tive a oportunidade de participar do painel Fashion Impact Fund, que abordou a inserção de meninas negras na indústria da moda sustentável e ouvir Tamburai Chirume, cofundadora da ‘The African Academy of Fashion’ e Ngozi Okaro, diretora da ‘Custom Collaborative’.
Presenciar a atuação de empreendedoras internacionais de variados gêneros, raças e etnias me faz acreditar que ganhamos poder quando unimos e compartilhamos ideias, projetos, resultados e iniciativas. Mas não acho justa a tarefa de liderar o projeto de salvar o mundo. O caminho é convocar a todos, dividir as tarefas e atuar em prol de um futuro próspero. O que aconteceu na ONU provou que, quando mulheres empreendedoras recebem apoio, o mundo inteiro ganha.
(Janine Bitencourt*. Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/opiniao/espaco-doleitor/2023/03/29/interna_espaco-do-leitor,1474810/oempreendedorismo-feminino-vai-salvar-o-planeta.shtml.)
Considerando as relações de concordância e regência observadas de acordo com a norma padrão da língua, assinale a afirmativa correta. 
Alternativas
Q2192371 Português
Assinale a alternativa que apresenta a sentença com concordância incorreta:
Alternativas
Q2191376 Português
Na opinião das autoras, o Sítio do Picapau Amarelo é o Brasil. É a pátria como Lobato gostaria que fosse: _____ às experiências modernas. Dona Benta concretiza esse ponto de vista, pois, atenta aos eventos que se _____ no mundo, não se escandaliza com a tecnologia, embora _____ consequências que considera _____ .
Para que o texto esteja de acordo com a norma-padrão de concordância verbal e nominal, as lacunas devem ser preenchidas, respectivamente, por:
Alternativas
Q2189606 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

Vidro bioativo poderá tratar câncer ósseo

A engenheira de materiais paraibana Geovana Lira Santana conheceu as propriedades do F18, um vidro bioativo capaz de estimular a regeneração óssea, ao chegar à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) para fazer mestrado. Viu no novo material a possibilidade de realizar o desejo antigo de virar cientista e fazer pesquisas sobre câncer. A partir do F18, uma criação do Laboratório de Materiais Vítreos (LaMaV), do Departamento de Engenharia de Materiais (DEMa) da UFSCar, Santana trabalhou no desenvolvimento de um compósito com partículas magnéticas para tratar câncer ósseo.

Com a colaboração do Centro de Pesquisa, Educação e Inovação em Vidros (CeRTEV) e do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), dois Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela FAPESP, Santana desenvolveu um novo material para ser aplicado como enxerto no osso afetado por câncer. À matriz vítrea formada pelo vidro bioativo (ou biovidro) F18, patenteado pela UFSCar em 2015, ela incorporou manganitas de lantânio dopadas, ou seja, enriquecidas com estrôncio, um material que aquece quando exposto a um campo magnético alternado externo.

O resultado foi um compósito - material formado por dois ou mais componentes com propriedades complementares ou superiores às dos itens que lhe deram origem - com dupla função. A primeira é o combate às células tumorais pelo aquecimento controlado das partículas magnéticas; a segunda é a regeneração do tecido ósseo, em razão da capacidade de osteoindução do biovidro. "O vidro bioativo libera íons que alteram o pH do meio, estimulando a proliferação de células ósseas. Ele não apenas cria um ambiente favorável à regeneração do osso, como fazem os substitutos ósseos disponíveis no mercado, mas também promove a formação de tecido", resume a pesquisadora, que hoje faz doutorado no mesmo departamento. Além disso, o biovidro F18 tem forte ação bactericida, que dificulta infecções no pós-cirúrgico.

Iniciado em 2018, o projeto teve a orientação do engenheiro de materiais Edgar Dutra Zanotto, coordenador do LaMaV e do CeRTEV, e colaboração do professor do DEMa Murilo Crovace. Os resultados preliminares, publicados no periódico científico Materials em 2022, são promissores.

Outra característica relevante do novo material é que ele pode ser aquecido até no máximo 45 graus Celsius (ºC). Dessa forma, evita-se o superaquecimento do local e danos a células sadias vizinhas ao tumor. Em testes laboratoriais, as partículas magnéticas do compósito chegaram a 40ºC em poucos minutos ao serem submetidas a um campo magnético externo.

 "É uma temperatura bem próxima à ideal para o tratamento do tumor, por volta de 43 °C", conta Santana. "A formação de uma camada de hidroxicarbonato apatita, naturalmente presente no osso humano, permite a ligação do compósito com o tecido ósseo", explica a pesquisadora. Além de buscar os níveis ideais de aquecimento, as próximas etapas do projeto compreendem a realização de testes in vitro e estudos clínicos, ainda sem data prevista. Um pedido de patente do compósito foi depositado em 2021.

O médico radiologista Marcos Roberto de Menezes, coordenador da área de radiologia e intervenção guiada por imagem do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), avalia que, uma vez validado por estudos clínicos, o novo material poderá trazer boas perspectivas ao tratamento oncológico. Menezes é especialista no tratamento de câncer por termoablação, técnica que consiste na inserção de agulhas guiadas por imagem para destruição da célula tumoral por aumento de temperatura ou congelamento.

Retirado e adaptado de: TUNES, Suzel. Vidro bioativo poderá tratar câncer ósseo. Revista Pesquisa FAPESP. Disponível em: seoo s://revistapesquisa.fapesp.br/vidro-bioativo-podera-tratar-cancer-osseo/ Acesso em: 05 mai., 2023.
Assinale a alternativa que apresenta correção nas relações de concordância, segundo a norma culta da língua portuguesa:
Alternativas
Respostas
1561: C
1562: A
1563: B
1564: C
1565: D
1566: E
1567: C
1568: B
1569: E
1570: C
1571: C
1572: B
1573: C
1574: C
1575: C
1576: B
1577: A
1578: D
1579: D
1580: A