Novo filme de super-herói israelense da
Disney toca na ferida dos árabes
(...)
Sabra, a super-heroína israelense, fez inúmeras
aparições nos quadrinhos da Marvel ao longo
dos anos, estrelando ao lado de ícones como o
Incrível Hulk, Homem de Ferro e os X-Men.
Mais de quarenta anos após a introdução de
Sabra, a Marvel da Disney planeja trazê-la para
o filme “Capitão América: Nova Ordem
Mundial”, com lançamento previsto para 2024.
Isso criou um alvoroço entre aqueles que
temem que reviver a personagem de Sabra
espalharia estereótipos ofensivos sobre os
árabes e a desumanização dos palestinos no
cinema.
Os críticos dizem que muitos dos personagens
árabes com os quais ela interagiu nos
quadrinhos são mostrados como misóginos,
antissemitas e violentos, e estão questionando
se os retratos perturbadores dos árabes terão
um desempenho diferente no filme.
“Essa história em quadrinhos não sugere nada
de positivo sobre como este filme vai se
desenrolar”, disse Yousef Munayyer, um
escritor e analista palestino-americano baseado
em Washington, D.C. “Todo o conceito” de
transformar espiões israelenses em heróis “é
insensível e vergonhoso”. (...)
Waleed F. Mahdi, autor de “Arab Americans
in Film: From Hollywood and Egyptian
Stereotypes to Self-Representation”, disse que
a “aliança EUA-Israel” na narrativa
cinematográfica desde a década de 1960
coloca as agências policiais e de inteligência
americanas e israelenses como forças do bem
“comprometidas em deter a violência que tem
sido colocada principalmente como algo ligado
a árabes e muçulmanos”.
“O anúncio da Marvel sobre adaptar a
personagem de Sabra é um reflexo desse
legado”, disse ele à CNN.
Um porta-voz da Marvel Studios disse à CNN
que “os cineastas estão adotando uma nova
abordagem com a personagem de Sabra, que
foi introduzida pela primeira vez nos
quadrinhos há mais de 40 anos”, acrescentando
que os personagens do Universo
Cinematográfico da Marvel “sempre são
imaginados para a tela e o público de hoje”.
Mesmo assim alguns israelenses dizem que
Sabra pode não ser uma super-heroína para
nossos tempos. Etgar Keret, um autor
israelense, roteirista e romancista gráfico, disse
à CNN que a personagem original de Sabra foi
criada em uma era diferente com uma “história
simples e clara”.
“Esta Sabra foi criada antes de duas intifadas
(revoltas palestinas), foi criada antes do
fracasso dos Acordos de Oslo – foi criada em
uma realidade e estado de espírito totalmente
diferentes”, disse ele. “E agora […] é difícil
manter esse tipo de ícone de simplicidade”. (...)
A personagem Sabra, da Marvel, foi criada
antes do massacre de Sabra e Shatila (em 1982)
e não tem relação com isso, mas o anúncio de
trazê-la aos cinemas apenas uma semana antes
do 40º aniversário do massacre tocou na ferida
dos árabes, que acusam o estúdio de cinema de
ser insensível a um dos eventos mais trágicos
da história do povo palestino.
“Não está apenas no momento ou no nome,
mas também no fato de que o massacre em si
foi liderado por uma milícia ligada à Mossad
em território sob controle militar israelense”,
disse Munayyer.
“Dado tudo isso, é difícil não concluir que as
pessoas da Marvel são abjetamente ignorantes
sobre a região, sua história e a experiência
palestina (...).
Embora Sabra não seja a primeira vez que a
agência de inteligência de Israel recebe o bom
tratamento de Hollywood, essa é a primeira
vez que Mossad recebe um status sobrenatural
ao nível de uma super-heroína de grande
sucesso. Especialistas dizem que é uma vitória
de relações públicas para a agência.
Avner Avraham, ex-oficial da Mossad e
fundador da Spy Legends Agency, que presta
consultoria para filmes e programas de TV
retratando espiões israelenses, disse que o novo retrato ajudará uma geração mais jovem
a aprender sobre a Mossad.
“Esta é a maneira ‘TikTok’, a maneira dos
desenhos animados de conversar com a nova
geração, e eles aprenderão sobre a palavra
Mossad”, disse Avraham. “Isso ajuda o
branding. Vai agregar um público diferente”.
(...)
Uri Fink, um cartunista israelense que diz ter
criado um personagem de super-herói
israelense semelhante em 1978, teme, no
entanto, que os “progressistas” que trabalham
na Marvel possam transformar a agente
israelense em um personagem negativo. “Eles
não estão bem atualizados, não têm uma
descrição exata do conflito israelensepalestino”, disse ele à CNN.
Avraham ecoou essa preocupação,
especulando que ela pode ser retratada como
uma personagem que faz o bem para Israel,
mas “coisas ruins para outras pessoas”.
https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/
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(Adaptado)