Questões de Português - Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto para Concurso

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Q1960349 Português

        Em uma sociedade desigual, aqueles que alcançam o topo querem acreditar que seu sucesso tem justificativa moral. Em uma sociedade de meritocracia* , isso significa que os vencedores devem acreditar que conquistaram o sucesso através do próprio talento e empenho. Quem entra em uma universidade pública de prestígio com credenciais brilhantes se orgulha da conquista e considera que o fez por conta própria. Mas isso, de certa forma, é ilusório. Ainda que seja verdade o fato de a entrada refletir dedicação e empenho, não se pode dizer que foi somente resultado da própria ação. E o que dizer a respeito de pai, mãe e professores que ajudaram ao longo do caminho? E a sorte de viver em uma sociedade que cultiva e recompensa os talentos que eles por acaso têm?

        As pessoas que, por meio de um pouco de esforço e talento, prevalecem em uma meritocracia ficam endividadas de uma forma que a competição ofusca. À medida que a meritocracia se intensifica, o esforço nos absorve tanto que o fato de estarmos endividados sai de vista. Dessa maneira, até mesmo uma meritocracia justa, uma em que não haja trapaça, ou suborno, ou privilégios especiais para os ricos, induz a uma impressão equivocada: de que chegamos lá por conta própria. Os anos de árduo esforço exigidos de candidatos a universidades de elite praticamente os obriga a acreditar que o sucesso deles é resultado das próprias ações, e, se fracassarem, não terão a quem culpar, a não ser a si mesmos.

        Esse é um fardo pesado para pessoas jovens carregarem. Além disso, corrói sensibilidades cívicas. Porque quanto mais pensarmos em nós como pessoas que vencem pelo próprio esforço e que são autossuficientes, mais difícil será aprender a ter gratidão e humildade. E sem esses sentimentos é difícil se importar com o bem comum.

        O ingresso em universidades não é a única ocasião para discussões sobre mérito. Na política contemporânea, há uma abundância de debates acerca de quem merece o quê. Na superfície, esses debates são sobre o que é justo – todo mundo tem oportunidades verdadeiramente iguais para competir por bens desejáveis e posições sociais? No entanto, nossas discordâncias a propósito do mérito não são apenas em relação a ser justo mas também quanto a como definimos sucesso e fracasso, vencer e perder, e o comportamento que vencedores devem direcionar àqueles menos bem-sucedidos do que eles. Essas são questões bastante pesadas e que tentamos evitar, até o momento em que elas se lançam sobre nós. Precisamos perguntar se a solução para nossa política conflituosa é viver mais fielmente pelo princípio do mérito ou buscar um bem comum além da classificação e da luta.

* meritocracia: sistema de recompensa e/ou promoção fundamentado no mérito pessoal


(Michael J. Sandel. A tirania do mérito:

o que aconteceu com o bem comum? Trad. Bhuvi Libanio. – 4ª ed.

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021. Excerto adaptado)

Para o autor, em uma sociedade meritocrática, a conquista do sucesso
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Q1960344 Português

A loteria genética


        O morticínio e as iniquidades provocados por ideias supostamente científicas sobre genes e raças são conhecidos. Em boa medida por causa desse histórico sombrio, parte da sociedade passou as últimas décadas ignorando, quando não combatendo, pesquisas no campo da genética humana, particularmente da genética comportamental. Não é uma estratégia particularmente brilhante. Um dos maus hábitos da realidade é que ela não vai embora só porque você não gosta dos resultados que ela produz.

        Esse panorama começou a mudar nos últimos anos, com a publicação de livros escritos por cientistas com agenda abertamente progressista que mostram que os genes são relevantes para o comportamento humano. “The Genetic Lottery”, de Kathryn Paige Harden, é uma dessas obras. Seu maior mérito é apresentar e desmitificar o problema. Genes importam não só no âmbito individual mas também para os grandes desafios sociais, como a igualdade. O peso da genética no desempenho escolar de uma criança é igual ao da renda dos pais, ou seja, bem forte. E o desempenho escolar, vale lembrar, é uma variável-chave na definição da renda, felicidade e até do número de anos que a pessoa vai viver.

        Harden faz um apanhado bem didático dos tipos de pesquisa genética que existem, as diferenças entre eles e como interpretá-los. Embora o senso comum pense os genes como determinantes, seu efeito sobre a maioria das características que nos interessam é muito mais probabilístico. Bons genes no ambiente errado não fazem milagres. E um ambiente propício pode fazer com que mesmo alguém que não tenha sido favorecido pela loteria genética se saia bem.

        Uma boa analogia é com a miopia. Ela é 100% genética, mas depende de certas condições ambientais para manifestar-se. Mais importante, mesmo quando ela dá as caras, a sociedade tem uma solução não genética 100% eficaz: óculos.


(Hélio Schwartsman. https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ helioschwartsman/2021/12/a-loteria-genetica.shtml. 18.12.2021. Adaptado)

Conforme o autor do texto,
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Q1960273 Português
A questão refere-se ao texto abaixo.

DIA DA EDUCAÇÃO: ter ensino superior amplia chances de crescimento salarial, revela pesquisa Mercado de trabalho busca profissionais com diploma

Hoje, 28 de abril, é o Dia da Educação. A data convida a sociedade a refletir sobre a importância do tema. Dentre as muitas formas de educar, o consenso atribui a essa palavra o ato de desenvolver um indivíduo para a formação cidadã.

A longo prazo, a educação é capaz de assegurar oportunidades e competividade na conquista e manutenção de um emprego, com melhores salários e cargos. Para a pedagoga e coordenadora do curso de Pedagogia da Anhanguera, Camila Fortuna, à medida que a taxa de escolaridade da população aumenta é natural que o mercado de trabalho também amplie seu nível de exigência na qualificação da mão de obra. “Os cargos disponíveis no mercado de trabalho exigem um diploma de nível superior. Com isso, a busca por uma carreira estável e bem-sucedida está atrelada à qualificação profissional oferecida em uma faculdade”, afirma.

Estado de Minas, Educação, 28/04/2022. Acesso em 01 mai. 2022 (adaptado).
Considerando o discurso e o tipo e gênero do texto, avalie as assertivas a seguir.
I- As aspas presentes em “Os cargos disponíveis no mercado de trabalho exigem um diploma de nível superior. Com isso, a busca por uma carreira estável e bem-sucedida está atrelada à qualificação profissional oferecida em uma faculdade” indicam o discurso de um locutor distinto do autor do texto.
II- O texto mescla, em sua composição, discurso direto e indireto.
III- A notícia publicada no jornal Estado de Minas foi escrita usando, predominantemente, o tipo textual injuntivo.
IV- O gênero notícia tem por objetivo principal refutar uma tese.
Estão corretas apenas as afirmativas
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Q1959703 Português

        Depois que vê a garota ele corre se olhar no espelho: não pode negar, meio feio? quase feio? Numa palavra, feio. Dia seguinte desiste do bigode ralo. Quem sabe costeleta ou cavanhaque? A menina o enfeitiça. Possuído, sim. Febrícula, sonho delirante, falta de ar, sede mas não de água. Ela surge enrolada no garfo do suculento espaguete à bolonhesa. De sainha xadrez na primeira tarde, ó deliciosa bolacha Maria com geleia de uva. Formigas de fogo mordem sob a camisa quando ela vem na rua, brincando com o arco-íris na ponta dos dedos.

        Consegue afinal apertar-lhe a mãozinha na luva de crochê, ri (descuidoso de ser feio) dentro de seus olhos glaucos. Discutem o narizinho, quem sabe arrebitado, segundo ela. E para ele, nada mais bonito que tal narizinho. Meio do sono acorda, olho arregalado no escuro. A sua imagem o percorre, impetuoso vento por uma casa de portas abertas. Ninguém por perto, fala sozinho. A mãe o acha mais magro. Quem dera ser o terceiro motociclista do Globo da Morte.

        Em guarda no portão, as mãos suadas, fumando. Ela aparece: um caramanchão florido de glicínia azul. Olhinho esquivo que fixa e foge. O sorriso (uma virgem fatal?) na pequena boca fresca. Um dentinho ectópico no lado esquerdo, onde a palavra tiau esbarra quando sai. Ah, se ela deixar, passa o resto da vida adorando esse dentinho. Espera outras vezes, fumando aflito, um cigarro aceso no outro. Ele mesmo um cigarro em chamas. A mocinha não quer lhe dar a mão. Como pode, uma santinha disfarçada na terra? Depois, deu.

        Brava, ainda mais linda. Toda rosa, o lenço no pescoço, gatinha na janela depois do banho. A curva altaneira da testa, os cachos loiros arrepiados ao vento. Ai, não, uma pérola na orelha. A pérola da orelha. Uma divina orelhinha esquerda, sabe o que é? A voz meio rouca: Adivinhe o que eu tenho na mão? “Bem, pode ser tanta coisa.” Bala de mel, seu bobo. Pra você que não merece. Já esquecido de timidez e feiura: “Sabe o que eu mais quero? É embalar você no colo.” Pronto, ofendida, lhe negaceou o rosto. De mal, até amanhã. Amanhã nosso herói vai cultivar uma barbicha.

(TREVISAN, Dalton. Namorada. Adaptado de: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Namorada)

Depreende-se do texto que a garota
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Q1959699 Português

        As redes sociais se apresentam como uma espécie de “praça pública virtual”, na qual indivíduos interagem e empresas anunciam seus produtos. Entretanto, ao contrário do espaço público tradicional (físico), plataformas de redes sociais moldam quem e o que encontraremos durante a conexão. A lógica por trás disso é que tenhamos um espaço customizado, no qual nos deparemos com aqueles que conosco se assemelham e com produtos que almejamos. Conectar-se de forma sadia às redes sociais demanda alguns cuidados. O primeiro deles, é saber como a maior parte das redes sociais funciona. Não ignorar que cada um de nós é o verdadeiro produto pode nos garantir experiência saudável nesse ambiente. Desconsiderar esse ponto é o atalho para vivenciar aquilo que se pode definir como conectividade tóxica.

        Um segundo aspecto, decorrente do anterior, diz respeito às pessoas, às notícias e aos produtos com os quais nos deparamos. Nosso histórico de acessos na internet permite que as plataformas direcionem conteúdo sob medida a cada um de nós. Isso inclui sugestões de amizade, apresentação de notícias e, claro, publicidade. A depender das configurações de nossos aparelhos eletrônicos, falas simples, mesmo enquanto não usamos tais dispositivos, podem ser captadas por mecanismos de inteligência artificial e transformadas em material que chega às nossas telas sem que nada busquemos. Um terceiro aspecto consiste em não nos deixarmos levar pelo aparente conforto que as redes propiciam. Com o uso frequente, permitimos que as plataformas criem nossa “própria bolha”.

        Levados pelo desejo, curvamo-nos à facilidade do consumo e tornamo-nos presas fáceis de golpes que prometem vantagens fantásticas e inverídicas. Diante de falsas notícias, que tendem a nos agradar ou atemorizar, abrimos mão da necessária reflexão, e preferimos compartilhá-las sem nem mesmo conferir se provêm de fonte confiável. Em ambos os casos, somos fantoches manipulados por interesses alheios.

(Adaptado de: AMARAL, Luiz Fernando. Conexão Sadia. Disponível em: Istoe.com.br/conexao − sadia)

Considerando o texto, uma conexão sadia
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Q1959698 Português

        As redes sociais se apresentam como uma espécie de “praça pública virtual”, na qual indivíduos interagem e empresas anunciam seus produtos. Entretanto, ao contrário do espaço público tradicional (físico), plataformas de redes sociais moldam quem e o que encontraremos durante a conexão. A lógica por trás disso é que tenhamos um espaço customizado, no qual nos deparemos com aqueles que conosco se assemelham e com produtos que almejamos. Conectar-se de forma sadia às redes sociais demanda alguns cuidados. O primeiro deles, é saber como a maior parte das redes sociais funciona. Não ignorar que cada um de nós é o verdadeiro produto pode nos garantir experiência saudável nesse ambiente. Desconsiderar esse ponto é o atalho para vivenciar aquilo que se pode definir como conectividade tóxica.

        Um segundo aspecto, decorrente do anterior, diz respeito às pessoas, às notícias e aos produtos com os quais nos deparamos. Nosso histórico de acessos na internet permite que as plataformas direcionem conteúdo sob medida a cada um de nós. Isso inclui sugestões de amizade, apresentação de notícias e, claro, publicidade. A depender das configurações de nossos aparelhos eletrônicos, falas simples, mesmo enquanto não usamos tais dispositivos, podem ser captadas por mecanismos de inteligência artificial e transformadas em material que chega às nossas telas sem que nada busquemos. Um terceiro aspecto consiste em não nos deixarmos levar pelo aparente conforto que as redes propiciam. Com o uso frequente, permitimos que as plataformas criem nossa “própria bolha”.

        Levados pelo desejo, curvamo-nos à facilidade do consumo e tornamo-nos presas fáceis de golpes que prometem vantagens fantásticas e inverídicas. Diante de falsas notícias, que tendem a nos agradar ou atemorizar, abrimos mão da necessária reflexão, e preferimos compartilhá-las sem nem mesmo conferir se provêm de fonte confiável. Em ambos os casos, somos fantoches manipulados por interesses alheios.

(Adaptado de: AMARAL, Luiz Fernando. Conexão Sadia. Disponível em: Istoe.com.br/conexao − sadia)

De acordo com o texto, as redes sociais
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Q1959344 Português

Texto 1

Índio


        Uma das consequências das Cruzadas (séculos XI a XIII) foi a descoberta das riquezas do Oriente: tecidos, pedras e metais preciosos, especiarias.

        Tudo isso passou a ter um valor extraordinário para os europeus do século XV (a canela chegou a valer mais do que o ouro!). E assim as grandes navegações para a Ásia se tornaram financeiramente atrativas.

        O genovês Cristóvão Colombo, o que botou o ovo em pé (como se fosse uma grande coisa: as galinhas já faziam isso muito antes dele), consegue, na Espanha, em 1492, o patrocínio dos reis Fernando II e Isabel I para uma viagem à Índia.

        Para chegar lá, os portugueses desciam até o final da África e dobravam à esquerda. Colombo, que sempre adorou viver na contramão da História, sai da Espanha, no dia 3 de agosto, e dobra à direita, convencido de que a Terra era redonda.

        Acertou na forma, mas errou no cálculo do diâmetro. Colombo chega às Bahamas, em 12 de outubro, e acha que alcançou a Índia. Por isso, ao ver uns selvagens locais, Colombo os chama de índios. Pronto, o nome ficou e o erro se consagrou: a partir daí, todo selvagem, nu ou seminu, passou a ser chamado de índio.


(PIMENTA, R. Casa da Mãe Joana, curiosidade na origem das palavras, frases e marcas. Ed. Campus. Rio de Janeiro-RJ. 2002)

“Para chegar lá, os portugueses desciam até o final da África e dobravam à esquerda. Colombo, que sempre adorou viver na contramão da História, sai da Espanha, no dia 3 de agosto, e dobra à direita, convencido de que a Terra era redonda.”


Depreende-se corretamente desse segmento do texto que

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Q1959343 Português

Texto 1

Índio


        Uma das consequências das Cruzadas (séculos XI a XIII) foi a descoberta das riquezas do Oriente: tecidos, pedras e metais preciosos, especiarias.

        Tudo isso passou a ter um valor extraordinário para os europeus do século XV (a canela chegou a valer mais do que o ouro!). E assim as grandes navegações para a Ásia se tornaram financeiramente atrativas.

        O genovês Cristóvão Colombo, o que botou o ovo em pé (como se fosse uma grande coisa: as galinhas já faziam isso muito antes dele), consegue, na Espanha, em 1492, o patrocínio dos reis Fernando II e Isabel I para uma viagem à Índia.

        Para chegar lá, os portugueses desciam até o final da África e dobravam à esquerda. Colombo, que sempre adorou viver na contramão da História, sai da Espanha, no dia 3 de agosto, e dobra à direita, convencido de que a Terra era redonda.

        Acertou na forma, mas errou no cálculo do diâmetro. Colombo chega às Bahamas, em 12 de outubro, e acha que alcançou a Índia. Por isso, ao ver uns selvagens locais, Colombo os chama de índios. Pronto, o nome ficou e o erro se consagrou: a partir daí, todo selvagem, nu ou seminu, passou a ser chamado de índio.


(PIMENTA, R. Casa da Mãe Joana, curiosidade na origem das palavras, frases e marcas. Ed. Campus. Rio de Janeiro-RJ. 2002)

“O genovês Cristóvão Colombo, o que botou o ovo em pé (como se fosse uma grande coisa: as galinhas já faziam isso muito antes dele), consegue, na Espanha, em 1492, o patrocínio dos reis Fernando II e Isabel I para uma viagem à Índia.”


Sobre os componentes desse segmento do texto, assinale a afirmação inadequada.

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Q1959340 Português

Texto 1

Índio


        Uma das consequências das Cruzadas (séculos XI a XIII) foi a descoberta das riquezas do Oriente: tecidos, pedras e metais preciosos, especiarias.

        Tudo isso passou a ter um valor extraordinário para os europeus do século XV (a canela chegou a valer mais do que o ouro!). E assim as grandes navegações para a Ásia se tornaram financeiramente atrativas.

        O genovês Cristóvão Colombo, o que botou o ovo em pé (como se fosse uma grande coisa: as galinhas já faziam isso muito antes dele), consegue, na Espanha, em 1492, o patrocínio dos reis Fernando II e Isabel I para uma viagem à Índia.

        Para chegar lá, os portugueses desciam até o final da África e dobravam à esquerda. Colombo, que sempre adorou viver na contramão da História, sai da Espanha, no dia 3 de agosto, e dobra à direita, convencido de que a Terra era redonda.

        Acertou na forma, mas errou no cálculo do diâmetro. Colombo chega às Bahamas, em 12 de outubro, e acha que alcançou a Índia. Por isso, ao ver uns selvagens locais, Colombo os chama de índios. Pronto, o nome ficou e o erro se consagrou: a partir daí, todo selvagem, nu ou seminu, passou a ser chamado de índio.


(PIMENTA, R. Casa da Mãe Joana, curiosidade na origem das palavras, frases e marcas. Ed. Campus. Rio de Janeiro-RJ. 2002)

Ao escrever “tecidos, pedras e metais preciosos, especiarias”, o autor do texto quer mostrar que o adjetivo “preciosos” se refere a
Alternativas
Q1959339 Português

Texto 1

Índio


        Uma das consequências das Cruzadas (séculos XI a XIII) foi a descoberta das riquezas do Oriente: tecidos, pedras e metais preciosos, especiarias.

        Tudo isso passou a ter um valor extraordinário para os europeus do século XV (a canela chegou a valer mais do que o ouro!). E assim as grandes navegações para a Ásia se tornaram financeiramente atrativas.

        O genovês Cristóvão Colombo, o que botou o ovo em pé (como se fosse uma grande coisa: as galinhas já faziam isso muito antes dele), consegue, na Espanha, em 1492, o patrocínio dos reis Fernando II e Isabel I para uma viagem à Índia.

        Para chegar lá, os portugueses desciam até o final da África e dobravam à esquerda. Colombo, que sempre adorou viver na contramão da História, sai da Espanha, no dia 3 de agosto, e dobra à direita, convencido de que a Terra era redonda.

        Acertou na forma, mas errou no cálculo do diâmetro. Colombo chega às Bahamas, em 12 de outubro, e acha que alcançou a Índia. Por isso, ao ver uns selvagens locais, Colombo os chama de índios. Pronto, o nome ficou e o erro se consagrou: a partir daí, todo selvagem, nu ou seminu, passou a ser chamado de índio.


(PIMENTA, R. Casa da Mãe Joana, curiosidade na origem das palavras, frases e marcas. Ed. Campus. Rio de Janeiro-RJ. 2002)

“Uma das consequências das Cruzadas (séculos XI a XIII) foi a descoberta das riquezas do Oriente: tecidos, pedras e metais preciosos, especiarias.”


Sobre os componentes desse parágrafo, assinale a afirmação inadequada.

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Q1959136 Português
Atenção: Para responder à questão, leia a crônica “Braga e Machado” de Carlos Drummond de Andrade.


       “Acontece em toda parte, mas no Rio tem um jeito especial de acontecer que me emociona mais.” Assim começa Rubem Braga uma de suas admiráveis crônicas, reunidas no Um pé de milho e o Um pé de milho é para mim a melhor coisa desta semana de que me compete dar contas ao leitor. Portanto, e sem vacilação, lede o Um pé de milho; e lede-o à boa e santa maneira, não solicitando ao autor um exemplar, que o famoso Braga é, como qualquer um de nós, um proletário das letras.

       Mas por que disse “cronista”? Grande poeta é o que ele é, e grande contista que, por uma imposição do temperamento, se furta à maçada de escrever contos. Não sei de muitos poemas, em nossa lira de hoje, que se comparem a “Passeio à infância”, “Da praia”, “Choro”, coisas que o Braga displicente foi largando pelos jornais. Por sua vez, “Aula de inglês” e “Eu e Bebu na hora neutra da madrugada” são contos com preguiça de se tornarem contos. Já em “História do caminhão”, a identificação do gênero será mais complexa, pois a composição é atravessada por uma corrente de surrealismo que conduz o Braga pelos rumos mais extraordinários, sem que este aparentemente a controle. Controla, apesar de tudo. Em suma, cronista, contista, poeta, está-se vendo que o que ele é verdadeiramente é um dos nossos mais altos escritores. Um Machado de Assis tendo a mais a poesia, a dolência e a pura comoção humana que são dons peculiares ao Braga.


(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Amor nenhum dispensa uma gota de ácido. Hélio de Seixas Guimarães (org.). São Paulo: Três Estrelas, 2019)

O autor questiona a si mesmo no seguinte trecho: 
Alternativas
Q1959134 Português
Atenção: Para responder à questão, leia a crônica “Braga e Machado” de Carlos Drummond de Andrade.


       “Acontece em toda parte, mas no Rio tem um jeito especial de acontecer que me emociona mais.” Assim começa Rubem Braga uma de suas admiráveis crônicas, reunidas no Um pé de milho e o Um pé de milho é para mim a melhor coisa desta semana de que me compete dar contas ao leitor. Portanto, e sem vacilação, lede o Um pé de milho; e lede-o à boa e santa maneira, não solicitando ao autor um exemplar, que o famoso Braga é, como qualquer um de nós, um proletário das letras.

       Mas por que disse “cronista”? Grande poeta é o que ele é, e grande contista que, por uma imposição do temperamento, se furta à maçada de escrever contos. Não sei de muitos poemas, em nossa lira de hoje, que se comparem a “Passeio à infância”, “Da praia”, “Choro”, coisas que o Braga displicente foi largando pelos jornais. Por sua vez, “Aula de inglês” e “Eu e Bebu na hora neutra da madrugada” são contos com preguiça de se tornarem contos. Já em “História do caminhão”, a identificação do gênero será mais complexa, pois a composição é atravessada por uma corrente de surrealismo que conduz o Braga pelos rumos mais extraordinários, sem que este aparentemente a controle. Controla, apesar de tudo. Em suma, cronista, contista, poeta, está-se vendo que o que ele é verdadeiramente é um dos nossos mais altos escritores. Um Machado de Assis tendo a mais a poesia, a dolência e a pura comoção humana que são dons peculiares ao Braga.


(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Amor nenhum dispensa uma gota de ácido. Hélio de Seixas Guimarães (org.). São Paulo: Três Estrelas, 2019)

Retoma uma expressão mencionada anteriormente no texto o termo sublinhado em:  
Alternativas
Q1959133 Português
Atenção: Para responder à questão, leia a crônica “Braga e Machado” de Carlos Drummond de Andrade.


       “Acontece em toda parte, mas no Rio tem um jeito especial de acontecer que me emociona mais.” Assim começa Rubem Braga uma de suas admiráveis crônicas, reunidas no Um pé de milho e o Um pé de milho é para mim a melhor coisa desta semana de que me compete dar contas ao leitor. Portanto, e sem vacilação, lede o Um pé de milho; e lede-o à boa e santa maneira, não solicitando ao autor um exemplar, que o famoso Braga é, como qualquer um de nós, um proletário das letras.

       Mas por que disse “cronista”? Grande poeta é o que ele é, e grande contista que, por uma imposição do temperamento, se furta à maçada de escrever contos. Não sei de muitos poemas, em nossa lira de hoje, que se comparem a “Passeio à infância”, “Da praia”, “Choro”, coisas que o Braga displicente foi largando pelos jornais. Por sua vez, “Aula de inglês” e “Eu e Bebu na hora neutra da madrugada” são contos com preguiça de se tornarem contos. Já em “História do caminhão”, a identificação do gênero será mais complexa, pois a composição é atravessada por uma corrente de surrealismo que conduz o Braga pelos rumos mais extraordinários, sem que este aparentemente a controle. Controla, apesar de tudo. Em suma, cronista, contista, poeta, está-se vendo que o que ele é verdadeiramente é um dos nossos mais altos escritores. Um Machado de Assis tendo a mais a poesia, a dolência e a pura comoção humana que são dons peculiares ao Braga.


(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Amor nenhum dispensa uma gota de ácido. Hélio de Seixas Guimarães (org.). São Paulo: Três Estrelas, 2019)

O autor do texto dirige-se explicitamente a seu leitor no seguinte trecho: 
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Q1959075 Português
Atenção: Para responder à questão, leia o trecho inicial do conto “Virginius: narrativa de um advogado”, de Machado de Assis. 


      Não me correu tranquilo o S. João de 185...
      Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
      “O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chama-se Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.”
      Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus amigos e conhecidos... Nada pude descobrir. 
      Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a cavalo e parti.
      Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava um amigo meu, antigo companheiro da academia. 
      Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e admirado.
      − A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
      − Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
      − Tens o bilhete contigo?
      − Tenho.
      Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
      − É a letra de Pai de todos.
      − Quem é Pai de todos?
      − É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade.
      − Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
      − Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina. Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao julgamento de Pai de todos.
      O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
      − Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me contarás.
      − É melhor. Julião é inocente...


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)

Considere os seguintes trechos:

I. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos. (7° parágrafo) II. – Tens o bilhete contigo? (10° parágrafo) III. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade. (15° parágrafo)

Retoma uma expressão mencionada anteriormente no texto o termo sublinhado APENAS em
Alternativas
Q1959073 Português
Atenção: Para responder à questão, leia o trecho inicial do conto “Virginius: narrativa de um advogado”, de Machado de Assis. 


      Não me correu tranquilo o S. João de 185...
      Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
      “O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chama-se Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.”
      Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus amigos e conhecidos... Nada pude descobrir. 
      Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a cavalo e parti.
      Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava um amigo meu, antigo companheiro da academia. 
      Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e admirado.
      − A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
      − Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
      − Tens o bilhete contigo?
      − Tenho.
      Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
      − É a letra de Pai de todos.
      − Quem é Pai de todos?
      − É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade.
      − Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
      − Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina. Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao julgamento de Pai de todos.
      O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
      − Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me contarás.
      − É melhor. Julião é inocente...


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)

De acordo com o amigo do narrador, o título atribuído a Pio mostra-se
Alternativas
Q1959069 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)
O trecho sublinhado expressa um desejo em:
Alternativas
Q1959067 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)

“Agora, a morte tem limites.” (verso 53)


Implícito a esse verso está a ideia de que, antes, a morte mostrava-se

Alternativas
Q1959066 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)
O eu lírico manifesta-se explicitamente no poema em:
Alternativas
Q1958951 Português
No que se refere às ideias e a aspectos linguísticos do texto anterior, julgue o item a seguir.

Na sequência narrativa do texto, o toque dos amantes, mencionado no terceiro período do primeiro parágrafo, constitui a virada no relacionamento, que promove a mudança do apaixonamento para o desentendimento.
Alternativas
Q1958949 Português
No que se refere às ideias e a aspectos linguísticos do texto anterior, julgue o item a seguir.

O trecho “e ter esta sede era a própria água deles” (primeiro período do primeiro parágrafo) descreve o desejo amoroso como um desejo que se autoalimenta. 
Alternativas
Respostas
2801: E
2802: B
2803: A
2804: C
2805: C
2806: A
2807: A
2808: C
2809: D
2810: E
2811: A
2812: C
2813: B
2814: A
2815: A
2816: E
2817: A
2818: B
2819: E
2820: C