Questões de Concurso Comentadas sobre significação contextual de palavras e expressões. sinônimos e antônimos. em português

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Q2262609 Português
Cusco

Cusco, que na linguagem quéchua (língua indígena local) significa "umbigo do mundo", é uma pequena cidade do Peru situada no vale sagrado dos Incas, no alto da cordilheira dos Andes. O local, que atrai turistas de todas as partes, está localizado em uma região de clima seco e frio o que ajuda a preservar construções dos antigos povos incas que se misturam com prédios de estilo colonial. As ruínas de Cusco - cidade que foi nomeada pela Unesco em 1983 Patrimônio Cultural da Humanidade -, são o que mais chamam a atenção de turistas. Vários templos, palácios e fortalezas centenárias estão espalhadas pela cidade (...). Os incas acreditavam que quanto mais perto do céu e do sol, mais feliz o povo seria, por isso, as casas e os vilarejos da cidade são perto das montanhas.

Juliana Venturi Tahamtani / R7.com. 2015.
No trecho: “Vários templos, palácios e fortalezas centenárias estão espalhadas pela cidade...”, a palavra sublinhada pode ser substituída por:
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Q2262415 Português
A Patagônia

   Localizada majoritariamente na Argentina, a Patagônia é um território de 1.043.000 km² no continente sul-americano com uma pequena extensão além da fronteira com o Chile.
    A Cordilheira dos Andes delimita a fronteira entre os dois países e ambos os lados possuem atrações incríveis, com paisagens que parecem pinturas com glaciares, rios de cores surpreendentes, lagoas, picos nevados e também estepes áridas. Sem contar com a presença de diversos animais como os adoráveis e simpáticos guanacos, uma espécie de lhama, que vivem na região, os pinguins, lobos marinhos e aves peculiares.
   Para deixar claro: a Patagônia é um espetáculo que aquece a alma de um viajante.

Juliana Venturi Tahamtani, http://catracalivre.com.br, 2022.
Baseado no texto, assinale a alternativa que melhor substitui a expressão sublinhada.: “Sem contar com a presença de diversos animais.” 
Alternativas
Q2262414 Português
A Patagônia

   Localizada majoritariamente na Argentina, a Patagônia é um território de 1.043.000 km² no continente sul-americano com uma pequena extensão além da fronteira com o Chile.
    A Cordilheira dos Andes delimita a fronteira entre os dois países e ambos os lados possuem atrações incríveis, com paisagens que parecem pinturas com glaciares, rios de cores surpreendentes, lagoas, picos nevados e também estepes áridas. Sem contar com a presença de diversos animais como os adoráveis e simpáticos guanacos, uma espécie de lhama, que vivem na região, os pinguins, lobos marinhos e aves peculiares.
   Para deixar claro: a Patagônia é um espetáculo que aquece a alma de um viajante.

Juliana Venturi Tahamtani, http://catracalivre.com.br, 2022.
No texto acima, o trecho “..., os pinguins, lobos marinhos e aves peculiares.”, a palavra sublinhada pode ser substituída por:
Alternativas
Q2258481 Português
Acerca das ideias, do vocabulário e das estruturas linguísticas do texto, julgue o item.
Na linha 20, o termo “utilizadas” aparece no plural e no feminino para concordar com a palavra “ruas”.

Alternativas
Q2258480 Português
Acerca das ideias, do vocabulário e das estruturas linguísticas do texto, julgue o item.
O adjetivo “elevado” (linha 18) foi empregado no texto com o sentido de crescente.

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Q2258479 Português
Acerca das ideias, do vocabulário e das estruturas linguísticas do texto, julgue o item.
A forma verbal “se tornou” (linha 13) indica permanência de estado.

Alternativas
Q2258478 Português
Acerca das ideias, do vocabulário e das estruturas linguísticas do texto, julgue o item.
A expressão “já” (linha 3) indica circunstância de tempo.
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Q2258477 Português
Acerca das ideias, do vocabulário e das estruturas linguísticas do texto, julgue o item.
As gerações mais jovens têm preferido usar os aplicativos de locomoção para se deslocar, em vez de investir em carros próprios.

Alternativas
Q2258476 Português
Acerca das ideias, do vocabulário e das estruturas linguísticas do texto, julgue o item.
Após a pandemia de covid‑19, o número de pedidos de tele‑entrega aumentou e o número de carros e motos nas ruas diminuiu.

Alternativas
Q2258475 Português
Acerca das ideias, do vocabulário e das estruturas linguísticas do texto, julgue o item.
O setor de mobilidade urbana deve crescer bastante nos próximos anos.
Alternativas
Q2258473 Português

Com base nas ideias, no vocabulário e nas estruturas linguísticas do texto, julgue o item.


O emprego do sinal indicativo de crase no “a” em “estão relacionados a problemas de saúde” (linhas 26 e 27) acarretaria incorreção gramatical ao texto.

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Q2258472 Português

Com base nas ideias, no vocabulário e nas estruturas linguísticas do texto, julgue o item.


A forma verbal “há” (linha 24) poderia, sem prejudicar a correção gramatical do texto, ser substituída por existem, da seguinte forma: assim como existe prós, existe contras.

Alternativas
Q2258471 Português

Com base nas ideias, no vocabulário e nas estruturas linguísticas do texto, julgue o item.


A correção gramatical do texto seria mantida, caso o ponto final empregado na linha 21 fosse substituído por ponto de interrogação, da seguinte forma: A dúvida é saber se estamos no Antropoceno (a Era da Humanidade) ou na Era do Plástico?

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Q2257750 Português
Imagem associada para resolução da questão

Em relação ao texto acima, assinale a opção incorreta.
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Q2254849 Português
O grande mistério

    Há dias já que buscavam uma explicação para os odores esquisitos que vinham da sala de visitas. Primeiro houve um erro de interpretação: o quase imperceptível cheiro foi tomado como sendo de camarão. No dia em que as pessoas da casa notaram que a sala fedia, havia um soufflé de camarão para o jantar. Daí...
      Mas comeu-se o camarão, que inclusive foi elogiado pelas visitas, jogaram as sobras na lata do lixo e — coisa estranha — no dia seguinte a sala cheirava pior.
    Talvez alguém não gostasse de camarão e, por cerimônia, embora isso não se use, jogasse a sua porção debaixo da mesa. Ventilada a hipótese, os empregados espiaram e encontraram apenas um pedaço de pão e uma boneca de perna quebrada, que Giselinha esquecera ali. E como ambos os achados eram inodoros, o mistério persistiu.
    Os patrões chamaram a arrumadeira às falas. Que era um absurdo, que não podia continuar, que isso, que aquilo. Tachada de desleixada, a arrumadeira caprichou na limpeza. Varreu tudo, espanou, esfregou e... nada. Vinte e quatro horas depois, a coisa continuava. Se modificação houver, fora para um cheiro mais ativo.
    À noite, quando o dono da casa chegou, passou uma espinafração geral e, vítima da leitura dos jornais, que folheara na lotação, chegou até a citar a Constituição na defesa de seus interesses. 
    — Se eu pago empregadas para lavar, passar, limpar, cozinhar, arrumar e ama-secar, tenho o direito de exigir alguma coisa. Não pretendo que a sala de visitas seja um jasmineiro, mas feder também não. Ou sai o cheiro ou saem os empregados.
    Reunida na cozinha, a criadagem confabulava. Os debates eram apaixonados, mas num ponto todos concordavam: ninguém tinha culpa. A sala estava um brinco; dava até gosto ver. Mas ver, somente, porque o cheiro era de morte.
    Então alguém propôs encerar. Quem sabe uma passada de cera no assoalho não iria melhorar a situação?
    — Isso mesmo — aprovou a maioria, satisfeita por ter encontrado uma fórmula capaz de combater o mal que ameaçava seu salário. 
    Pela manhã, ainda ninguém se levantara, e já a copeira e o chofer enceravam sofregamente, a quatro mãos. Quando os patrões desceram para o café, o assoalho brilhava. O cheiro da cera predominava, mas o misterioso odor, que há dias intrigava a todos, persistia, a uma respirada mais forte.
    Apenas uma questão de tempo. Com o passar das horas, o cheiro da cera — como era normal — diminuía, enquanto o outro, o misterioso — estranhamente, aumentava. Pouco a pouco reinaria novamente, para desespero geral de empregados e empregadores.
    A patroa, enfim, contrariando os seus hábitos, tomou uma atitude: desceu do alto do seu grã-finismo com as armas de que dispunha, e com tal espírito de sacrifício que resolveu gastar os seus perfumes. Quando ela anunciou que derramaria perfume francês no tapete, a arrumadeira comentou com a copeira:
    — Madame apelou para a ignorância.
    E salpicada que foi, a sala recendeu. A sorte estava lançada. Madame esbanjou suas essências com uma altivez digna de uma rainha a caminho do cadafalso. Seria o prestígio e a experiência de Carven, Patou, Fath, Schiaparelli, Balenciaga, Piguet e outros menores, contra a ignóbil catinga.
    Na hora do jantar a alegria era geral. Não restavam dúvidas de que o cheiro enjoativo daquele coquetel de perfumes era impróprio para uma sala de visitas, mas ninguém poderia deixar de concordar que aquele era preferível ao outro, finalmente vencido.
    Mas eis que o patrão, a horas mortas, acordou com sede. Levantou-se cauteloso, para não acordar ninguém, e desceu as escadas, rumo à geladeira. Ia ainda a meio caminho quando sentiu que o exército de perfumistas franceses fora derrotado. O barulho que fez daria para acordar um quarteirão, quanto mais os da casa, os pobres moradores daquela casa, despertados violentamente, e que precisavam perguntar nada para perceberem o que se passava. Bastou respirar.
    Hoje pela manhã, finalmente, após buscas desesperadas, uma das empregadas localizou o cheiro. Estava dentro de uma jarra, uma bela jarra, orgulho da família, pois tratava-se de peça raríssima, da dinastia Ming.
    Apertada pelo interrogatório paterno Giselinha confessou- -se culpada e, na inocência dos seus três anos, prometeu não fazer mais.
    Não fazer mais na jarra, é lógico.
    
    (PONTE PRETA, Stanislaw. O grande mistério. In: Rosamundo e os outros. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1963. P. 76.)
No trecho “Seria o prestígio e a experiência de Carven, Patou, Fath, Schiaparelli, Balenciaga, Piguet e outros menores, contra a ignóbil catinga.” (14º§), o termo destacado só NÃO pode ser substituído, sem afetar o sentido originalmente proposto, por:
Alternativas
Q2254843 Português
O grande mistério

    Há dias já que buscavam uma explicação para os odores esquisitos que vinham da sala de visitas. Primeiro houve um erro de interpretação: o quase imperceptível cheiro foi tomado como sendo de camarão. No dia em que as pessoas da casa notaram que a sala fedia, havia um soufflé de camarão para o jantar. Daí...
      Mas comeu-se o camarão, que inclusive foi elogiado pelas visitas, jogaram as sobras na lata do lixo e — coisa estranha — no dia seguinte a sala cheirava pior.
    Talvez alguém não gostasse de camarão e, por cerimônia, embora isso não se use, jogasse a sua porção debaixo da mesa. Ventilada a hipótese, os empregados espiaram e encontraram apenas um pedaço de pão e uma boneca de perna quebrada, que Giselinha esquecera ali. E como ambos os achados eram inodoros, o mistério persistiu.
    Os patrões chamaram a arrumadeira às falas. Que era um absurdo, que não podia continuar, que isso, que aquilo. Tachada de desleixada, a arrumadeira caprichou na limpeza. Varreu tudo, espanou, esfregou e... nada. Vinte e quatro horas depois, a coisa continuava. Se modificação houver, fora para um cheiro mais ativo.
    À noite, quando o dono da casa chegou, passou uma espinafração geral e, vítima da leitura dos jornais, que folheara na lotação, chegou até a citar a Constituição na defesa de seus interesses. 
    — Se eu pago empregadas para lavar, passar, limpar, cozinhar, arrumar e ama-secar, tenho o direito de exigir alguma coisa. Não pretendo que a sala de visitas seja um jasmineiro, mas feder também não. Ou sai o cheiro ou saem os empregados.
    Reunida na cozinha, a criadagem confabulava. Os debates eram apaixonados, mas num ponto todos concordavam: ninguém tinha culpa. A sala estava um brinco; dava até gosto ver. Mas ver, somente, porque o cheiro era de morte.
    Então alguém propôs encerar. Quem sabe uma passada de cera no assoalho não iria melhorar a situação?
    — Isso mesmo — aprovou a maioria, satisfeita por ter encontrado uma fórmula capaz de combater o mal que ameaçava seu salário. 
    Pela manhã, ainda ninguém se levantara, e já a copeira e o chofer enceravam sofregamente, a quatro mãos. Quando os patrões desceram para o café, o assoalho brilhava. O cheiro da cera predominava, mas o misterioso odor, que há dias intrigava a todos, persistia, a uma respirada mais forte.
    Apenas uma questão de tempo. Com o passar das horas, o cheiro da cera — como era normal — diminuía, enquanto o outro, o misterioso — estranhamente, aumentava. Pouco a pouco reinaria novamente, para desespero geral de empregados e empregadores.
    A patroa, enfim, contrariando os seus hábitos, tomou uma atitude: desceu do alto do seu grã-finismo com as armas de que dispunha, e com tal espírito de sacrifício que resolveu gastar os seus perfumes. Quando ela anunciou que derramaria perfume francês no tapete, a arrumadeira comentou com a copeira:
    — Madame apelou para a ignorância.
    E salpicada que foi, a sala recendeu. A sorte estava lançada. Madame esbanjou suas essências com uma altivez digna de uma rainha a caminho do cadafalso. Seria o prestígio e a experiência de Carven, Patou, Fath, Schiaparelli, Balenciaga, Piguet e outros menores, contra a ignóbil catinga.
    Na hora do jantar a alegria era geral. Não restavam dúvidas de que o cheiro enjoativo daquele coquetel de perfumes era impróprio para uma sala de visitas, mas ninguém poderia deixar de concordar que aquele era preferível ao outro, finalmente vencido.
    Mas eis que o patrão, a horas mortas, acordou com sede. Levantou-se cauteloso, para não acordar ninguém, e desceu as escadas, rumo à geladeira. Ia ainda a meio caminho quando sentiu que o exército de perfumistas franceses fora derrotado. O barulho que fez daria para acordar um quarteirão, quanto mais os da casa, os pobres moradores daquela casa, despertados violentamente, e que precisavam perguntar nada para perceberem o que se passava. Bastou respirar.
    Hoje pela manhã, finalmente, após buscas desesperadas, uma das empregadas localizou o cheiro. Estava dentro de uma jarra, uma bela jarra, orgulho da família, pois tratava-se de peça raríssima, da dinastia Ming.
    Apertada pelo interrogatório paterno Giselinha confessou- -se culpada e, na inocência dos seus três anos, prometeu não fazer mais.
    Não fazer mais na jarra, é lógico.
    
    (PONTE PRETA, Stanislaw. O grande mistério. In: Rosamundo e os outros. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1963. P. 76.)
O significado atribuído às palavras pode ser diferente considerando o contexto no qual estiverem inseridas. A partir de tal pressuposto, sem que haja prejuízo da coerência e sentido textuais apresentados, assinale a proposta inadequada de substituição para a palavra ou expressão destacada a seguir.
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Q2254818 Português
O compadre pobre

        O coronel, que então já morava na cidade, tinha um compadre sitiante que ele estimava muito. Quando um filho do compadre Zeferino ficava doente, ia para a casa do coronel, ficava morando ali até ficar bom, o coronel é que arranjava médico, remédio, tudo.
         Quase todos os meses o compadre pobre mandava um caixote de ovos para o coronel. Seu sítio era retirado umas duas léguas de uma estaçãozinha da Leopoldina, e compadre Zeferino despachava o caixote de ovos de lá, frete a pagar. Sempre escrevia no caixote: CUIDADO, É OVOS — e cada ovo era enrolado em sua palha de milho com todo carinho para não se quebrar na viagem. Mas, que o quê: a maior parte quebrava com os solavancos do trem.
        Os meninos filhos do coronel morriam de rir abrindo o caixote de presente do compadre Zeferino; a mulher dele abanava a cabeça como quem diz: qual… Os meninos, com as mãos lambuzadas de clara e gema, iam separando os ovos bons. O coronel, na cadeira de balanço, ficava sério; mas, reparando bem, a gente via que ele às vezes sorria das risadas dos meninos e das bobagens que eles diziam: por exemplo, um gritava para o outro — “cuidado, é ovos!”
        Quando os meninos acabavam o serviço, o coronel perguntava: — Quantos salvaram?
       Os meninos diziam. Então ele se voltava para a mulher: “Mulher, a quanto está a dúzia de ovos aqui no Cachoeiro?” A mulher dizia.
        Então ele fazia um cálculo do frete que pagara, mais do carreto da estação até a casa e coçava a cabeça com um ar engraçado: — Até que os ovos do compadre Zeferino não estão me saindo muito caros desta vez.
        Um dia perguntei ao coronel se não era melhor avisar ao compadre Zeferino para não mandar mais ovos; afinal, para ele, coitado, era um sacrifício se desfazer daqueles ovos, levar o caixote até a estação para despachar; e para nós ficava mais em conta comprar ovos na cidade.
        O coronel me olhou nos olhos e falou sério: — Não diga isso. O compadre Zeferino ia ficar muito sem graça. Ele é muito pobre. Com pobre a gente tem de ser muito delicado, meu filho.

(BRAGA, R. O Compadre Pobre. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 2013. Fragmento.)
De acordo com o significado atribuído ao vocábulo em destaque no contexto, assinale a correspondência correta.
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Q2254817 Português
O compadre pobre

        O coronel, que então já morava na cidade, tinha um compadre sitiante que ele estimava muito. Quando um filho do compadre Zeferino ficava doente, ia para a casa do coronel, ficava morando ali até ficar bom, o coronel é que arranjava médico, remédio, tudo.
         Quase todos os meses o compadre pobre mandava um caixote de ovos para o coronel. Seu sítio era retirado umas duas léguas de uma estaçãozinha da Leopoldina, e compadre Zeferino despachava o caixote de ovos de lá, frete a pagar. Sempre escrevia no caixote: CUIDADO, É OVOS — e cada ovo era enrolado em sua palha de milho com todo carinho para não se quebrar na viagem. Mas, que o quê: a maior parte quebrava com os solavancos do trem.
        Os meninos filhos do coronel morriam de rir abrindo o caixote de presente do compadre Zeferino; a mulher dele abanava a cabeça como quem diz: qual… Os meninos, com as mãos lambuzadas de clara e gema, iam separando os ovos bons. O coronel, na cadeira de balanço, ficava sério; mas, reparando bem, a gente via que ele às vezes sorria das risadas dos meninos e das bobagens que eles diziam: por exemplo, um gritava para o outro — “cuidado, é ovos!”
        Quando os meninos acabavam o serviço, o coronel perguntava: — Quantos salvaram?
       Os meninos diziam. Então ele se voltava para a mulher: “Mulher, a quanto está a dúzia de ovos aqui no Cachoeiro?” A mulher dizia.
        Então ele fazia um cálculo do frete que pagara, mais do carreto da estação até a casa e coçava a cabeça com um ar engraçado: — Até que os ovos do compadre Zeferino não estão me saindo muito caros desta vez.
        Um dia perguntei ao coronel se não era melhor avisar ao compadre Zeferino para não mandar mais ovos; afinal, para ele, coitado, era um sacrifício se desfazer daqueles ovos, levar o caixote até a estação para despachar; e para nós ficava mais em conta comprar ovos na cidade.
        O coronel me olhou nos olhos e falou sério: — Não diga isso. O compadre Zeferino ia ficar muito sem graça. Ele é muito pobre. Com pobre a gente tem de ser muito delicado, meu filho.

(BRAGA, R. O Compadre Pobre. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 2013. Fragmento.)
No trecho “Quando os meninos acabavam o serviço, o coronel perguntava: — Quantos salvaram?” (4º§), o travessão foi empregado para:
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Q2254179 Português
Eu sei, mas não devia

    Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

    A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, àmedida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. 

    A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café́correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

    A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração. 

    A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

    A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

    A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

    A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

    A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

    A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia. Crônica nº 157, Jornal do Brasil. Revista de Domingo. Em: 24/09/1972.) 

“A ir ao cinema e engolir publicidade.” (7º§) Considerando o termo em destaque, o significado contextual está corretamente indicado em:
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Q2254176 Português
Eu sei, mas não devia

    Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

    A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, àmedida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. 

    A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café́correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

    A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração. 

    A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

    A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

    A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

    A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

    A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

    A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia. Crônica nº 157, Jornal do Brasil. Revista de Domingo. Em: 24/09/1972.) 

Para o emprego adequado dos vocábulos em um texto, deve‐se ater ao significado e ao contexto. Assinale a afirmativa em que a substituição da palavra sublinhada altera o significado original.
Alternativas
Respostas
381: C
382: A
383: E
384: E
385: E
386: E
387: C
388: C
389: E
390: C
391: C
392: E
393: E
394: E
395: C
396: A
397: B
398: B
399: A
400: C