Questões de Concurso
Sobre tipologia textual em português
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O texto abaixo servirá de base para responder à questão.
Rodrigo Hübner Mendes *
*Mestre em gestão da diversidade humana pela Fundação Getúlio Vargas
Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/rodrigo-mendes/2021/06/11/capacitismo-raro-em-nos so-vocabulario-comum-em-nossa-atitude.htm. Acesso em: 26 set. 2022. [Adaptado]
Leia o texto abaixo e responda à questão.
Aconteceu em Natal
Sanderson Negreiros
O trânsito ontem à tarde na Rua João Pessoa estava uma delícia. Servido com caviar, batatinhas e molho pardo. Uma delícia de trânsito.
Às 16 horas em ponto, dei entrada com meu carango varonil na referida artéria. Por que as ruas chamavam-se antigamente de artérias? É porque nelas corria sangue, disse-me Vetusto, repórter policial, do tempo em que, ao morrer uma criança, escrevia-se: “Ontem, alou-se aos céus, a interessante garota”.
Cheguei no começo da João Pessoa e pensei com os três botões da minha camisa: vou provar a mim mesmo que sou edição modesta de Fittipaldi e atravessarei estas ruas em menos de meia hora. Não vos conto minha decepção: às 17h30 é que conseguia chegar no chamado Grande Ponto. E vos informo de minha epopeia, minha odisseia, minha ilíada.
Para passar ao largo do Centro Cearense, gastei 20 minutos. Havia carros por cima das calçadas, carros por cima dos outros e, num realismo fantástico, um Volks que tinha subido numa mangueira parnasiana.
Perguntareis: como isso é possível? Na Rua João Pessoa, depois das 4 da tarde, tudo é possível. Não sei ainda se tudo é permitido.
Pensei em Jean-Luc Godard, para filmar aquele apocalipse subdesenvolvido. Imprensara meu carango de tal maneira que fui jogado fora dele. Foi preciso o guarda para o caos, isto é, o trânsito; e dar vez aos meus direitos institucionais, dizendo-me: “O senhor pode voltar para o seu carro e assumir a direção”. Gostei e voltei.
Dei continuação ao fluxograma, ao esquema, ao organograma, ao... qualquer coisa de fila de carros que ia em demandada do Grande Ponto. De repente, aquele susto, inevitável: um corcel amarelo-hepatite ia por cima da parede. Como uma lagartixa profissional.
Depois de uma hora intensa de empurra-empurra, vi em minha frente uma camioneta parada, no meio da rua, que não era mais rua, mas um ringue. Fechei os olhos, e um sujeito gritou de trás: “Passe por cima. Passe por cima”.
Alguém botou um tobogã invertido e apenas liguei a primeira. Logo senti que havia ultrapassado mais um obstáculo olímpico.
A caminhada continuou. Quando atingi a possibilidade de passar em frente à APERN, uma mulher disse para mim: “Nunca me viu?”. Respondi: “Nunca. Never. A senhora pertence ao planeta Terra?”.
E segui em frente. Ia me esquecendo: nesse tempo todo, choveu cinco vezes e fez verão outras tantas. Ouvimos trovões pianíssimos, em fita gravada; e trovões reais, em alta fidelidade. Houve tempestade em curto circuito e tempestades que só conhecemos em filmes coloridos da Metro, como o que contava a queda de Roma.
O Grande Ponto era um mar de cabeças unânimes (perdoem a imagem). Um mar compacto; não havia brecha sequer para que alguém espirrasse sem atingir a moral do outro. Hippies, defensores da contracultura, ex-hippies, artistas pops, pintores ops, singulares personalidades que não pagam ainda o INPS.
E, diante de tal quadro, vi o impossível acontecer, pelo menos em Natal: um motorista impaciente levantou-se do seu carro e caminhou por cima das cabeças como pudesse se repetir a imagem do Evangelho: de Cristo andando sobre as águas.
- NEGREIROS, Sanderson. Aconteceu em Natal. In: SOBRAL, Gustavo; MACEDO, Helton Rubiano de (Orgs.).
Cinco cronistas da cidade. Natal: EDUFRN, 2017. p. 145-148.
Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/23773/1/Cinco%20cronistas%20da%20cidade.pdf.
Acesso em: 26 set. 2022.
Leia o texto abaixo e responda à questão.
Aconteceu em Natal
Sanderson Negreiros
O trânsito ontem à tarde na Rua João Pessoa estava uma delícia. Servido com caviar, batatinhas e molho pardo. Uma delícia de trânsito.
Às 16 horas em ponto, dei entrada com meu carango varonil na referida artéria. Por que as ruas chamavam-se antigamente de artérias? É porque nelas corria sangue, disse-me Vetusto, repórter policial, do tempo em que, ao morrer uma criança, escrevia-se: “Ontem, alou-se aos céus, a interessante garota”.
Cheguei no começo da João Pessoa e pensei com os três botões da minha camisa: vou provar a mim mesmo que sou edição modesta de Fittipaldi e atravessarei estas ruas em menos de meia hora. Não vos conto minha decepção: às 17h30 é que conseguia chegar no chamado Grande Ponto. E vos informo de minha epopeia, minha odisseia, minha ilíada.
Para passar ao largo do Centro Cearense, gastei 20 minutos. Havia carros por cima das calçadas, carros por cima dos outros e, num realismo fantástico, um Volks que tinha subido numa mangueira parnasiana.
Perguntareis: como isso é possível? Na Rua João Pessoa, depois das 4 da tarde, tudo é possível. Não sei ainda se tudo é permitido.
Pensei em Jean-Luc Godard, para filmar aquele apocalipse subdesenvolvido. Imprensara meu carango de tal maneira que fui jogado fora dele. Foi preciso o guarda para o caos, isto é, o trânsito; e dar vez aos meus direitos institucionais, dizendo-me: “O senhor pode voltar para o seu carro e assumir a direção”. Gostei e voltei.
Dei continuação ao fluxograma, ao esquema, ao organograma, ao... qualquer coisa de fila de carros que ia em demandada do Grande Ponto. De repente, aquele susto, inevitável: um corcel amarelo-hepatite ia por cima da parede. Como uma lagartixa profissional.
Depois de uma hora intensa de empurra-empurra, vi em minha frente uma camioneta parada, no meio da rua, que não era mais rua, mas um ringue. Fechei os olhos, e um sujeito gritou de trás: “Passe por cima. Passe por cima”.
Alguém botou um tobogã invertido e apenas liguei a primeira. Logo senti que havia ultrapassado mais um obstáculo olímpico.
A caminhada continuou. Quando atingi a possibilidade de passar em frente à APERN, uma mulher disse para mim: “Nunca me viu?”. Respondi: “Nunca. Never. A senhora pertence ao planeta Terra?”.
E segui em frente. Ia me esquecendo: nesse tempo todo, choveu cinco vezes e fez verão outras tantas. Ouvimos trovões pianíssimos, em fita gravada; e trovões reais, em alta fidelidade. Houve tempestade em curto circuito e tempestades que só conhecemos em filmes coloridos da Metro, como o que contava a queda de Roma.
O Grande Ponto era um mar de cabeças unânimes (perdoem a imagem). Um mar compacto; não havia brecha sequer para que alguém espirrasse sem atingir a moral do outro. Hippies, defensores da contracultura, ex-hippies, artistas pops, pintores ops, singulares personalidades que não pagam ainda o INPS.
E, diante de tal quadro, vi o impossível acontecer, pelo menos em Natal: um motorista impaciente levantou-se do seu carro e caminhou por cima das cabeças como pudesse se repetir a imagem do Evangelho: de Cristo andando sobre as águas.
- NEGREIROS, Sanderson. Aconteceu em Natal. In: SOBRAL, Gustavo; MACEDO, Helton Rubiano de (Orgs.).
Cinco cronistas da cidade. Natal: EDUFRN, 2017. p. 145-148.
Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/23773/1/Cinco%20cronistas%20da%20cidade.pdf.
Acesso em: 26 set. 2022.
Leia o texto abaixo e responda à questão.
Declaração de bens
Augusto Severo Neto
Eu, Augusto Severo Neto, brasileiro, norte-rio-grandense, natalense e pirangiano por emoção e escolha, residente e domiciliado em Natal mesmo, em uma paisagem alta do Tirol, salvo nos fins de semana e feriados maiores, quando posso ser encontrado com a companheira em um trato de terra que possuímos diante do mar, em Pirangi, ou em arribadas maiores por terras de serem de lá, quando saímos à descoberta ou ao reencontro, venho, por meio deste documento, fazer uma declaração pública de bens e haveres, para que ninguém venha, depois, me imputar a pecha de possuidor de fortuna ilícita. Sim, porque, pondo de lado qualquer prurido modestoso, eu sou uma pessoa muito rica.
Não! Esperem aí! Não é esse tipo de riqueza que muitos estão pensando. Vou me explicar: fui menino rico porque meus pais me queriam bem e eu queria bem a eles. Daquele bem que não tolhe, não sufoca, nem acorrenta. Um bem de deixar ser ave, animal ou gente. Um bem de bem-me-quer e nunca malmequer.
Como se não bastasse isso aí de cima, havia mil coisas mais: lá em casa havia jardim com repuxo, rosas e muitas outras flores. Tinha beija-flor e zigue-zigue, que os mais estudiosos chamam de libélula. Tinha malvão, que chamavam também de língua-de-leão e servia para engraxar sapatos pretos e marrons. Tinha pé de jasmim e mimo-do-céu, que subia pelos postes do alpendre.
O quintal era outro departamento de riqueza: começava por uns pés de pitanga estrela-de-sangue que faziam uma cerca viva, chamada pelos adultos de seve. Daí por diante, só se vendo: tinha pé de juá que servia de pasta dental, araçazeiro, goiabeira (branca e vermelha), mangueiras de três ou quatro tipos, romã, pitombeira, araticum, banana, carambola e jenipapo e até uns pés de castanhola, bem altos, com copa bem grande, onde Cearense construiu para mim uma cabana do tipo Robinson Crusoé ou Tarzan, só que tinha escada de corda em vez de cipó.
Olhem que isso aí já é muita coisa para um menino rico, mas teve muito mais, já fora de casa, que eu vou contar: passei muitas férias em Pequessaba, vi o Rio Morto, de águas transparentes e muito fininhas, quase perdido dentro de um túnel de bananeiras gigantes; tomei banho na Lagoa das Piabas, que tinha muita traíra. Andei de carro de boi; escutei o estalo do chicote e a cantiga do carreiro; abri cancela e comparei os dois gemidos (carro de boi/cancela); montei em cavalo manso; subi em gameleira e em pé de fruta-do-conde; ouvi cantador de feira, tocador de fole, repentista e embolador; estive em casa de farinha e vi o rolete brincando de fazer rodinha de estrela branca de mandioca; comi grude de goma e pecado-maneiro bem quentinhos; vi fogueiras de São João (fogueiras de vergonha) e assisti pagador de promessas andando descalço no braseiro. Fui afilhado, noivo, compadre de fogueira, escutei histórias de assombração, dormi em rede com armador gemendo, ouvi grito de seriema, martelada de araponga e apito de saguim. Tive até alumbramento ao ver a filha do morador tomando banho nua no rio. De manhã, eu saia armado de baladeira e bodoque para derrubar fruta madura e tinha muita raiva quando os filhos dos moradores atiravam nas rolinhas. Foi lá em Pequessaba, onde, pela primeira vez, eu comi peba, tejuaçu e jacaré, e vi cobra-de-cipó, corre-campo e cobra-de-veado. Quando voltava do povoado, Chico Rola, casado com tia Bela, trazia alfenim, soda, pé de moleque, rosário e navio de castanha assada, confeito baratinha e chocolate charuto. É ser rico demais, não é não?
E o tempo foi passando e eu fui continuando rico de viver e de sentir. Até as dores e as saudades que experimentei foram ricas de sentimento. Ah vida bonita!...
Já meio rapaz, meio garoto, semitonando a voz, apaixonei-me, perdidamente, por uma artista de cinema e uma menina de Itabaiana que veio passar as férias em Natal. Como não podia fugir para Hollywood, fugi para a pequena cidade da Paraíba, o que, de resto, não adiantou grande coisa, pois meu pai já tinha entrado em entendimento com o juizado de menores e o vigário da paróquia, e eu fui recambiado. Mas foi bonito e valeu.
E o tempo foi escorregando no tobogã do calendário e eu nele. Vivi tanta coisa!... Tive paixões eternas, fui aviador de aeroclube, andei pelo mundo, bebi muitas bebidas, comi de muitas comidas (confesso um tanto encabritado, por se tratar de um lugar comum, já tão explorado, mas feliz apesar disso), escrevi livros, fiz filhos e plantei árvores. Mas não parei, não senhor! Continuo navegando, escrevendo, amando e achando a paisagem e a vida muito bonitas. E também não vou à deriva. Tenho uma porção de amigos e amigas queridos: poetas, executivos, cantadores de feira, mascates, mulheres bem-comportadas, mulheres outonais, mulheres lindas e prostitutas até. Isso fora o que não lembro agora.
Tenho rumo certo – o antiporto e o imprevisto – e uma timoneira, eterna na sua temporalidade, que me deu de beber água da fonte real e me deu de presente todas as rotas, a Estrela Polar, a linha do Equador, a aurora boreal, os fogos de Santelmo, as rosas orvalhadas, as esteiras dos navios, o voo dos pássaros, o encontro da noite com o dia, o som dos carrilhões dos órgãos das grandes catedrais, o incêndio dos poentes, o canto das cigarras, as cores do arco-íris, além de muita, muita poesia mesmo.
Tem muito mais ainda. É que há um alumbramento embriagado de felicidade dentro de mim, que carrosseleia os meus haveres de alegria e beleza, que eu acabo deixando de citar muitos deles.
Isso posto e declarado, que seja devidamente registrado para conhecimento dos meus antepassados, dos meus contemporâneos, dos meus descendentes e de todos mais os quais se inteirem de que sou um homem imensamente rico.
SEVERO NETO, Augusto. Declaração de bens. In: SOBRAL, Gustavo; MACEDO, Helton Rubiano de (Org.). Cinco cronistas da cidade. Natal: EDUFRN, 2017. p. 11-16. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/23773/1/Cinco%20cronistas%20da%20cidade.pdf. Acesso em: 26 set. 2022.

A respeito da linguagem utilizada pelo autor, julgue (C ou E) o item a seguir.
Do ponto de vista da tipologia, o texto é predominantemente narrativo.
“Enquanto isso, a neblina e a escuridão tinham ficado tão densas que algumas pessoas surgiram com tochas, oferecendo-se para mostrar o caminho a quem estava a cavalo ou em carruagens. A antiga torre de uma igreja, cujo velho sino espiava disfarçadamente para Scrooge do alto de uma janela gótica, ficou invisível e deu as horas dentro das nuvens, com vibrações trêmulas, como se lá no alto a sua cabeça gelada estivesse batendo os dentes. O frio aumentava. Na esquina da rua principal, alguns operários que estavam consertando a tubulação de gás acenderam um grande fogo em um fogareiro, e logo se reuniu uma pequena multidão de homens e rapazes maltrapilhos em volta dele, esquentando as mãos e piscando os olhos, deliciados. Na fonte pública abandonada, uma gota prestes a pingar congelou-se e virou um pedaço solitário de gelo. O brilho das lojas iluminadas, com as vitrines decoradas com ramos de pinheiro e cerejinhas, avermelhava os rostos pálidos dos que passavam. As mercearias pareciam uma verdadeira festa, e era impossível acreditar que coisas tão fúteis quanto a compra, a venda e a pechincha tivessem alguma coisa a ver com elas. O prefeito, em sua poderosa prefeitura, dava ordens a seus cinquenta cozinheiros e empregados, para garantir que o Natal fosse comemorado com toda a fartura que merecia a casa oficial. E até o alfaiate, que havia sido multado por andar bêbado pelas ruas, preparava a massa para o bolo de Natal em sua pequena casa, enquanto sua esposa magrela saía com o filhinho para comprar carne.”
DICKENS, Charles. Um conto de natal (trad. A. Franchini e C. Seganfredo). São Paulo: LP&M, 2003.
"A integração da educação ambiental no currículo escolar é crucial para preparar as novas gerações para os desafios ecológicos do futuro. Ao ensinar sobre a importância da preservação e o impacto das ações humanas no meio ambiente, as escolas não apenas fornecem conhecimento essencial, mas também incentivam práticas sustentáveis desde cedo. Ignorar esse aspecto na educação é perder a oportunidade de formar cidadãos conscientes e comprometidos com a proteção do planeta. Portanto, a educação ambiental deve ser uma prioridade nas escolas, garantindo que todos os alunos estejam equipados para contribuir para um futuro mais sustentável."
Esse texto, possui, predominantemente, a tipologia:
As "Enciclopédias, textos científicos, resumos, reportagens informativas" são textos que possuem a seguinte tipologia textual predominante:
Leia o texto a seguir para responder à questão.
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
– dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.
O gigantesco experimento com árvores antigas que renova esperança no combate às mudanças climáticas
O gigantesco experimento com árvores antigas que renova esperança no combate às mudanças climáticas Cientistas da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, concluíram que árvores mais antigas se adapitam e respondem ao ambiente. Em um estudo com carvalhos ingleses de 180 anos expostos a altos níveis de dióxido de carbono por sete anos, os pesquisadores observaram que os carvalhos aumentaram a produção de madeira em quase 10%, contribuindo para a retenção de gases de efeito estufa e ajudando a combater o aquecimento global. O estudo, publicado na revista científica Nature Climate Change, destaca a importância de proteger e preservar florestas maduras para enfrentar as mudanças climáticas. Atualmente, o mundo perde o equivalente a um campo de futebol de floresta primária a cada seis segundos. "É uma prova de que a gestão cuidadosa das florestas existentes é crucial. As florestas antigas estão fazendo um grande trabalho para nós. O que não devemos fazer é derrubá-las." Os resultados são parte do experimento FACE (Free-Air Carbon Enrichment), conduzido pela Universidade de Birmingham desde 2016 em um bosque de 21 hectares em Staffordshire. O objetivo do FACE é entender em tempo real o impacto das mudanças climáticas sobre as florestas. No experimento, tubulações foram instaladas entre os carvalhos para liberar dióxido de carbono (CO2),simulando as condições que o planeta pode enfrentar se não reduzirmos as emissões de gases. Após sete anos, a equipe de pesquisadores descobriu que os carvalhos aumentaram sua produção de madeira, retendo CO2 por mais tempo e evitando seu efeito de aquecimento na atmosfera. Os carvalhos usaram o CO2 para produzir novas folhas, raízes e biomassa lenhosa. Embora novas folhas e raízes sejam depósitos temporários de CO2, a maior parte do gás foi convertida em formas que podem ser armazenadas por várias décadas. Estudos anteriores mostraram que árvores mais jovens podem aumentar a absorção de CO2, mas acreditava-se que as florestas maduras não eram tão adapitáveis. "É crucial entender o comportamento das árvores mais velhas, pois elas compõem a maior parte da cobertura florestal mundial", disse MacKenzie à BBC. Apesar dos resultados promissores, ele alertou que isso não é uma solução para o problema das emissões de combustíveis fósseis. "Não podemos simplesmente criar florestas suficientes para continuar queimando combustíveis fósseis como fazemos agora", afirmou. O experimento foi estendido até 2031 para continuar monitorando os carvalhos e verificar se o aumento na produção de madeira persiste. Richard Norby, professor da Universidade de Tennessee e autor do estudo, destacou a importância de manter o experimento por mais tempo para obter um registro mais longo e confiável. Os pesquisadores também esperam observar como os níveis elevados de CO2 afetam a longevidade das árvores e a biodiversidade local, como os insetos. Durante o estudo, notaram um aumento em algumas espécies de insetos, possivelmente devido às mudanças nas condições do ar.
(https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd6yn6970pzo#:~:text=Ap%C 3%B3s%20sete%20anos adaptado)
De acordo com a tipologia textual, o texto de Machado de Assis é:
O texto a seguir servirá de base para responder à questão.
Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior
Julián Fuks
Às vezes sinto que minha filha tem escrito mais do que eu, ou tem sido mais verdadeira no que escreve. Mais imediata, talvez, no desembaraço de seus sete anos de idade. Criou agora seu caderno de sentimentos, algo como um diário ilustrado onde ela registra cada emoção forte que a acomete. Eu olho a urgência com que ela corre para o caderno, o vigor com que empunha o lápis, a concentração com que passa a ignorar tudo o que a cerca. Nada mais lhe importa nesse momento, a escrita toma toda a sua existência, e assim cada emoção turbulenta de origem se faz satisfação e leveza. Escreveu algo de essencial, traçou em linhas exatas seu sentimento, deu a uma vaga abstração sua forma concreta. Quisera eu escrever dessa maneira.
Seu caderno se inicia com a mais simples e expressiva das páginas. Tutu triste, vê-se em letras pequenas, e embaixo seu autorretrato de olhos pesados e duas lágrimas gordas sobre as bochechas. Segue ainda por afetos límpidos: Tutu animada, raivosa, impaciente, sonolenta, Tutu sem acreditar no que está acontecendo, neste caso um desenho de si boquiaberta e de olhos vidrados. Depois disso ela parece ter percebido a necessidade de explorar as causas subjacentes aos sentimentos, como Balzac alguma vez decidiu dar as raízes ocultas de cada fato. Passou a anotar coisas como "Tutu empolgada com o acampamento", e "Tutu aliviada porque um homem horrível não ganhou as eleições".
"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador". Leio essa frase em Clarice Lispector e acredito entender algo sobre minha filha, e algo sobre mim. Clarice emenda que talvez por isso tome tantos anos entre um verdadeiro escrever e outro, ainda que se empunhe o lápis todos os dias por uma vida inteira. Para mim dá-se o mesmo, alinhavo palavras sempre que me visita o caderno de sentimentos. Ali, se o tivesse, talvez me fosse mais sincero dizer: "Julián embevecido de admiração por sua filha."
Não posso, no entanto, encerrar meu comentário sobre o caso nesse ponto, porque há um acontecimento recente muito mais digno de nota do que tudo isso que contei. Lê-se numa das páginas do caderno: "Tutu infeliz porque a Peps não está sendo uma boa pessoa". Não sei qual conflito a levou a registrar palavras tão acerbas contra a irmã, decerto alguma dessas pequenezas que diariamente trovejam na relação entre as duas, precedidas e sucedidas de risos desabridos e abraços enérgicos.
Penélope não deixou passar sem vingança a acusação insolente. Enquanto folheava o caderno da irmã e tentava decifrar as palavras escritas com que já começa a se familiarizar — começa a se irmanar, eu poderia dizer — acabou calhando de rasgar uma folha, digamos sem querer. Foi tal a indignação da irmã com o gesto destrutivo que me pareceu razoável mostrar a ela a página em que Tulipa descrevera sua decepção primeira e indagar com veemência: é isso o que você deseja? Essa é a emoção que você quer provocar na sua irmã, a infelicidade? Não seria preferível criar nela uma impressão mais positiva, e constar numa página que falasse de entusiasmo, carinho, alegria?
Penélope então me encarou com olhos indecifráveis, ainda um tanto severos, e respondeu com segurança e presteza: claro que sim, dou um jeito nisso. Correu até seu quarto, fechou-se ali por alguns minutos, criou entre os que a esperávamos um momento palpável de apreensão e suspense. Retornou com o semblante desanuviado, plena de satisfação e leveza. Numa folha avulsa ela desenhara a irmã com seu inseparável caderninho nas mãos, com um largo sorriso a lhe cruzar o rosto inteiro, e delineara na ortografia atrevida de seus quatro anos: "Tutu feliz porque a Peps se comportou bem."
Não pude senão me espantar com sua intrepidez, com sua decisão de se fazer autora da página que gostaria de ver. Sua sagacidade buscara um atalho: não era preciso suscitar na irmã o devido sentimento, a ficção poderia suprir bem esse seu desejo, e ainda expor o ridículo da bronca que o pai lhe dera. Ela é uma escritora diferente de nós, foi o que pensei, talvez mais inventiva, mais livre, menos submissa às insignificâncias da realidade e às suas emoções correspondentes. E ao pensá-lo entendi que, se tivesse afinal meu próprio caderno de sentimentos, também anotaria em página nova minha profunda admiração por ela.
Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros. Tulipa viu a página que a irmã depositara sobre a mesa, e sentiu que um sorriso largo lhe cruzava o rosto inteiro, sentiu uma comoção que lhe dominava o peito. Correu nesse mesmo instante para registrar o sentimento novo em seu caderno, para criar com suas mãos a exata correspondência com o desenho da irmã. Deu assim testemunho de uma ficção que se fez emoção tão verdadeira que foi capaz de coincidir com a vida. Também assim eu desejaria a minha escrita.
Disponível em:
https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2024/10/12/escrever-as-emocoes-o-sentido-de-dar-palavras-a-ebulicao-interior.htm. Acesso
em 18 out. 2024.
O texto de Julián Fuks trata-se de:
Assinale a alternativa CORRETA sobre a interpretação de textos verbais e não verbais.
Sobre tipologia textual, marque (V) verdadeiro ou (F) falso e assinale a alternativa devida.
( ) As tipologias textuais mais importantes são narração, descrição, dissertação, injunção, predição e dialogal.
( ) Narração: modalidade textual que tem o objetivo de contar um fato, fictício ou não, que aconteceu num determinado tempo e lugar, que envolve personagens.
( ) Na narração predomina o emprego de verbos no tempo pretérito, (passado), mas pode haver também o presente histórico.
( ) Os gêneros textuais mais comuns em que a narração predomina são: conto, fábula, crônica, romance, novela, depoimento, piada, relato.
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.
Fechando os olhos para escrever
A vida é espantosamente linda. Só parece curta porque percebemos as dádivas exclusivamente no período em que estamos apaixonados por alguém.
Como a paixão acontece pouco, até cinco vezes numa trajetória, terminamos por desprezar e desmerecer grande parte da beleza dos acasos. Não desfrutamos da tela LED do coração. Das cores. Da exuberância das sutilezas. Da vibração das coincidências. Não aproveitamos o manancial interior, aquela sensação de leveza, de emparelhamento com o destino.
Transferimos a responsabilidade a um outro pelo nosso enamoramento. Dependemos de um romance para experimentar esse superpoder, que fica adormecido longamente em nossa história. Não nos achamos bonitos com frequência, não nos achamos atraentes com constância.
O fato é que somos pouco apaixonados por nós mesmos. Se o despertar fosse por nós, pela nossa própria personalidade, compensaríamos o tempo perdido e inativo da entressafra dos relacionamentos amorosos. Resgataríamos o nosso dom, que somente é explorado a partir de terceiros.
O pessimismo se infiltra na rotina, e não nos permitimos as descobertas. Permanecemos no mesmo lugar conhecido, ainda que não seja nosso lugar predileto, justamente porque nos falta paixão.
Quem tem paixão tem também coragem, tem iniciativa, tem curiosidade. Os dias nunca serão iguais. Existe a disponibilidade para se aventurar. Se você está apaixonado por quem quer que seja, larga o pijama e a série para ir a uma festa desconhecida.
Não se trata de atentar mais para o entorno, para os lados, mas de dar mais chance para o nosso interior. Por que, nos momentos mais profundos da nossa existência, fechamos os olhos?
Quando beijamos quem amamos, fechamos os olhos.
Quando rezamos, fechamos os olhos. Quando cantamos uma música significativa, fechamos os olhos. Ou seja, nos instantes de maior emoção, ao invés de abrir os olhos e enxergar o que está ocorrendo, preferimos não ver nada. Para unicamente sentir. Sentir a pulsação desordenada e caótica da vida.
Fechar os olhos é a prova de que você se entregou ao momento. É quando você está inteiramente presente. É quando você confia de verdade. É quando você finalmente se escuta.
No fundo, nascemos para sonhar. Então, fechamos os olhos, para celebrar o autoencontro.
Fabrício Carpinejar - Texto Adaptado
https://www.otempo.com.br/opiniao/fabricio-carpinejar/2024/12/27/fechando-os-olhos-para-escrever
Com base no texto "Fechando os olhos para escrever", de Fabrício Carpinejar, identifique corretamente o tipo de composição predominante no trecho:
"A vida é espantosamente linda.
Só parece curta porque percebemos as dádivas exclusivamente no período em que estamos apaixonados por alguém."