Questões de Concurso
Sobre vícios da linguagem em português
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Quando o professor tenta ensinar o que ele próprio não domina
O linguista Sírio Possenti, professor da Unicamp, reproduziu semana passada em seu Facebook a chamada de uma dessas páginas de português que pululam na internet: “16 palavras em português que todo mundo erra o plural”.
Comentário de Possenti, preciso: “Pessoas querem ensinar português ‘correto’ mas não conseguem formular o enunciado segundo as regras que defendem (ou defenderiam)”. Convém explicar.
A língua padrão que as páginas de português buscam ensinar obrigaria o redator a escrever “palavras cujo plural todo mundo erra”. Ou quem sabe, mexendo mais na frase para evitar o já raro cujo, “casos de palavras em que todo mundo erra o plural”.
A forma que usou, com o “que” introduzindo a oração subordinada, chama-se “relativa cortadora” – por cortar a preposição – e é consagrada na linguagem oral: todo mundo diz “o sabor que eu gosto”, mesmo que ao escrever use o padrão “o sabor de que eu gosto”.
O problema com o caso apontado por Possenti não é tanto a gramática, mas a desconexão de forma e conteúdo – a pretensão do instrutor de impor um código que ele próprio demonstra não dominar.
No discurso midiático sobre a língua, isso é mato. Muitas vezes o normativismo mais intransigente é apregoado por quem não consegue nem pagar a taxa de inscrição no clube. “Português é o que nossa página fala sobre!”
Mesmo assim, o episódio de agora me deixou pensativo. E se o problema do conservadorismo que não está à altura de si mesmo for além das páginas de português? Poderia ser essa uma constante cultural em nosso paisão mal letrado, descalço e fascinado por trajes a rigor? Só um levantamento amplo poderia confirmar a tese. Seguem dois casos restritos, mas factuais.
Em abril de 2022, o então presidente do Superior Tribunal Militar (STM), general Luís Carlos Gomes Mattos, submeteu a gramática a sevícias severas ao protestar contra a revelação, pelo historiador Carlos Fico, de áudios em que o STM debatia casos de tortura durante a ditadura de 1964.
“Somos abissolutamente (sic) transparente (sic) nos nossos julgamento (sic)”, disse o general. “Então aquilo aí (sic), a gente já sabe os motivos do porquê (sic) que isso tem acontecendo (sic) agora, nesses últimos dias aí, seguidamente, por várias direções, querendo atingir Forças Armadas...”
Gomes Mattos enfatizou ainda a importância de cuidar “da disciplina, da hierarquia que são nossos pilares (das) nossas Forças Armadas”. Mas disciplina e hierarquia não deveriam ser princípios organizadores da linguagem também? Que conservadorismo é esse?
No início de fevereiro, o reitor da USP publicou uma nota em resposta a uma coluna em que Conrado Hübner Mendes fazia críticas ao STF. Frisando o fato evidente de que a coluna de Mendes expressava a opinião de Mendes, não da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior escreveu que “a liberdade de cátedra se trata de prerrogativa exclusiva dos docentes”.
Sim, é verdade que a expressão impessoal “tratar-se de” tem sido usada por aí com sujeito, como se fosse um “ser” de gravata-borboleta. Trata-se de mais um caso de hipercorreção, fenômeno que nasce do cruzamento da insegurança linguística com nossas velhas bacharelices.
Não é menos verdadeiro que a norma culta do português (ainda?) condena com firmeza esse uso, o que torna digna de nota sua presença num comunicado público emitido pelo mais alto escalão da universidade mais importante do país.
(RODRIGUES, SÉRGIO. Quando o professor tenta ensinar o que ele próprio não domina. Jornal Folha de S. Paulo, 2024.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/. Acesso em: janeiro de 2025. Adaptado.)
Leia com atenção as afirmativas abaixo:
I. Salvo algumas excessões, todos cumpriram devidamente o código de ética.
II. As servidoras público devem seguir as diretrizes éticas com rigor.
III. É fundamental agir com ética moral no serviço público.
IV. O chefe estará entrando em contato com os servidores para discutir os novos procedimentos.
V. Os gestores devem assistir aos servidores com mais atenção às suas necessidades.
Em quais das afirmativas lidas há o emprego do vício de linguagem conhecido como solecismo?
Tendo isso como referência, analise os enunciados a seguir:
I.Sônia, vi a Ister no shopping com sua irmã.
II.Falei com o supervisor que estava com náuseas.
III.Vi ela ontem pela manhã.
IV.A manga da blusa está encardida.
As frases que apresentam ambiguidade são:
"Conversei com dois casal de idosos que estavam no restaurante."
Os vícios de linguagem são desvios gramaticais cometidos pelo falante de forma involuntária. Esses erros decorrem, em geral, de falta de conhecimento ou distração, podendo gerar dificuldades na comunicação.
Os enunciados acima apresentam o mesmo vicio de linguagem denominado:
"E, de repente, quem ama muito nem diz 'eu te amo', economiza no 'eu te amo', porém é abundante na prática da reciprocidade."
Com base nos estudos sobre vícios de linguagem, analise a construção da frase e assinale a alternativa correta:
O futebol no meio da relação
No nosso primeiro encontro, Beatriz falou que não era Cruzeiro nem Atlético.
Eu brinquei:
— Então, é Coelho?
Ela riu, também não era adepta do simpático time do América.
Fiquei com aquela informação na cabeça: ela não gosta de futebol. Nem todos têm um time para chamar de seu.
Mas não comentei mais nada dali em diante. Paixão é greve de personalidade. O futebol desapareceu para mim no primeiro mês de namoro. Estava apaixonado. Só queria saber dela, de sair com ela.
Beatriz, por sua vez, achou que eu fosse um gentleman, um intelectual: poeta, pensador, autor de livros sobre relacionamentos e sobre a finitude da vida. Supôs que, nas horas vagas, eu privilegiaria livros, filmes, artes plásticas. Jamais cogitou a hipótese de que eu seria um fanático do esporte ou de um clube.
Quando visitamos Porto Alegre, minha cidade, já com seis meses de relacionamento, ela demonstrou seu interesse em conhecer a Fundação Iberê Camargo de tarde.
O amor já tinha chegado em mim. Amar é mostrar que você tem um mundo pretérito às afinidades momentâneas de casal.
Eu disse:
— Não posso!
Foi o meu "não" inicial no romance, o "não" fundador. Reuni as minhas forças para estrear a negativa.
Ela não compreendeu a rejeição:
— Não? Por quê? Tem compromisso?
Não queria que entendesse que estava fazendo pouco caso, tratei logo de explicar:
— Hoje tem jogo do Inter no Beira-Rio, não posso perder, quer vir junto?
Logo estendi uma camiseta vermelha com o nome dela nas costas, que eu recém havia comprado.
Ela ficou pálida, talvez tenha raciocinado com um frio na barriga: "onde eu me meti?".
Esclareci que era colorado doente, cônsul do Inter, ia em todos os jogos.
Ela estava com a boca aberta, de queixo caído:
— Então, você é daqueles que não deixam de assistir um jogo, que desmarcam qualquer evento?
— Sim. E não esqueça que são vários campeonatos: Brasileirão, Sul-Americana ou Libertadores, Copa do Brasil, Gauchão...
— Assiste todos?
— E mais: seco os meus rivais. Ou melhor, lavo, seco e passo os meus adversários.
— Mas não sobrará tempo para nada.
— Pois é, eu precisava desabafar!
— Você não é fanático, você é louco!
Depois, descobri com sua melhor amiga que ela tinha um único pré-requisito para um partidão: que ele não gostasse de futebol.
A vida não é perfeita, Beatriz, mas nosso amor é, dentro do possível, de acordo com o calendário da CBF e Conmebol.
Fabrício Carpinejar - Texto Adaptado.
https://www.otempo.com.br/opiniao/fabricio-carpinejar
Uma palavrinha
Uma senhora chegou perto de mim enquanto eu almoçava com a minha esposa no restaurante O Italiano. Pensei que quisesse uma selfie. Nada a ver, não era tietagem. Você se sente ainda mais anônimo quando deduz equivocadamente que alguém o reconheceu. A confusão levou-me a um profundo constrangimento.
Ela pediu uma palavrinha comigo.
Beatriz estranhou: que ser era aquele que aparecia de paraquedas, de repente, e solicitava uma conversa a sós com o marido?
A senhora unicamente me perguntou:
— Separar-se é complicado, não é?
E saiu. Foi embora. Largou a pergunta, a encomenda, a bomba reflexiva, e seguiu o seu rumo como um fantasma, entre mesas e mesas lotadas naquele domingo ensolarado. Sequer aguardou a minha resposta. Acabou sendo um consultório sentimental incidental.
Separar-se não é virar as costas, mas enfrentar de olhos arregalados uma mudança. Por isso é tão difícil. É mudar de casa, mudar de cenário, mudar de vida.
É ter que lidar com a frustração dos parentes que haviam se apegado à companhia de tanto tempo. É perder igualmente a família do par − o sogro, a sogra, os cunhados, os enteados.
É aguentar a saudade do que foi bom, o arrependimento do que foi ruim e, além disso, a tristeza do futuro irrealizado − os objetivos do casal que nunca serão alcançados, confinados nos rascunhos hipotéticos dos sonhos.
Separar-se, portanto, exige uma coragem monstruosa. É quando vocês não têm mais opção, não suportam mais se anular por alguém, não consegue mais ceder nada, restando apenas salvar a si mesmo.
Jamais diga a qualquer pessoa que se separar é fácil. É um desserviço. Pode ser necessário, a única saída, mas é duro. Pode ser imprescindível, mas é desolador.
Não é uma chave que você vira na porta, é uma chave que você devolve.
Fabrício Carpinejar - Texto Adaptado.
https://www.otempo.com.br/opiniao/fabricio-carpinejar/2024/6/7/uma-pa lavrinha
No trecho acima há um vício de linguagem denominado:
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.
'Bolha de calor' pode causar um dos setembros mais quentes da história do Brasil?
Uma forte onda de calor atinge o Brasil na primeira quinzena de setembro, segundo alguns dos principais institutos de meteorologia do Brasil. A previsão é de que os termômetros registrem temperaturas máximas entre 40°C e 45°C em alguns Estados nesse período.
Isso poderia elevar a média da temperatura para a época e pode tornar este um dos meses de setembro mais quentes já registrados no país. Mas por que isso acontece?
A BBC News Brasil ouviu especialistas para entender se isso é algo atípico e quais fenômenos estão causando esse calor fora do comum.
Segundo o MetSul Meteorologia, uma massa de ar quente está cobrindo boa parte do Brasil e vai ganhar ainda mais força nos próximos dias. A previsão é que ela se expanda e leve altas temperaturas inclusive para o sul do país, onde as temperaturas são mais amenas nesta época do ano.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão para os próximos em São Paulo é de temperaturas máximas de 33°C e 34°C até pelo menos a próxima sexta-feira. Cuiabá deve registrar máxima de 42°C na quinta e sexta.
Até mesmo a cidade de Curitiba, no Sul, pode registrar, segundo o Inmet, máximas de 33°C na terça e na quarta.
Guilherme Borges, meteorologista do Climatempo, diz que ele e seus colegas de trabalho avaliam que não é possível fazer projeções de que possamos ter recordes históricos.
"Vai ser forte, mas não é possível dizer que vai bater temperatura. Não temos como afirmar isso com base nos modelos que usamos. O que enxergamos são temperaturas entre 40 e 44°C nos próximos dias. Será uma onda de calor importante", diz.
Guilherme explica que essa onda de calor, chamada pelo MetSul de "bolha de calor", é causada pela estabilização de uma massa de ar quente e alta pressão atmosférica em boa parte do país.
"Ela intensifica a formação do ar quente de cima para baixo dificultando a formação de nuvens de chuva e deixando o tempo mais seco.
Ele explica que é normal esse calor no mês de setembro e que em 2023 também houve uma onda de calor semelhante, mas que ocorreu na segunda quinzena do mês e não na primeira como agora.
"Isso é culpa das mudanças climáticas, que têm um papel significativo nesses extremos de calor e chuva. Isso ocorre porque nosso planeta tem que dimensionalisar energia. Essas ondas de calor e chuva extremos ocorrem para compensar esse aquecimento", diz.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c049yknxxwlo#:~:text=De%20 acordo%20com%20o%20MetSul,7%C2%B0C%20em%202005
Na linguagem coloquial, é comum o falante fazer construção do tipo "A gente não podemos ser tão rígido". Esse tipo de construção representa um vício de linguagem conhecido como:
Na frase "A educação para a conscientização é a solução para a preservação e proteção do meio ambiente, promovendo a recuperação e conservação dos recursos naturais", temos o seguinte vício de linguagem:
A questão diz respeito ao texto. Leia-o atentamente antes de respondê-la.
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.
O gigantesco experimento com árvores antigas que renova esperança no combate às mudanças climáticas
O gigantesco experimento com árvores antigas que renova esperança no combate às mudanças climáticas Cientistas da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, concluíram que árvores mais antigas se adapitam e respondem ao ambiente. Em um estudo com carvalhos ingleses de 180 anos expostos a altos níveis de dióxido de carbono por sete anos, os pesquisadores observaram que os carvalhos aumentaram a produção de madeira em quase 10%, contribuindo para a retenção de gases de efeito estufa e ajudando a combater o aquecimento global. O estudo, publicado na revista científica Nature Climate Change, destaca a importância de proteger e preservar florestas maduras para enfrentar as mudanças climáticas. Atualmente, o mundo perde o equivalente a um campo de futebol de floresta primária a cada seis segundos. "É uma prova de que a gestão cuidadosa das florestas existentes é crucial. As florestas antigas estão fazendo um grande trabalho para nós. O que não devemos fazer é derrubá-las." Os resultados são parte do experimento FACE (Free-Air Carbon Enrichment), conduzido pela Universidade de Birmingham desde 2016 em um bosque de 21 hectares em Staffordshire. O objetivo do FACE é entender em tempo real o impacto das mudanças climáticas sobre as florestas. No experimento, tubulações foram instaladas entre os carvalhos para liberar dióxido de carbono (CO2),simulando as condições que o planeta pode enfrentar se não reduzirmos as emissões de gases. Após sete anos, a equipe de pesquisadores descobriu que os carvalhos aumentaram sua produção de madeira, retendo CO2 por mais tempo e evitando seu efeito de aquecimento na atmosfera. Os carvalhos usaram o CO2 para produzir novas folhas, raízes e biomassa lenhosa. Embora novas folhas e raízes sejam depósitos temporários de CO2, a maior parte do gás foi convertida em formas que podem ser armazenadas por várias décadas. Estudos anteriores mostraram que árvores mais jovens podem aumentar a absorção de CO2, mas acreditava-se que as florestas maduras não eram tão adapitáveis. "É crucial entender o comportamento das árvores mais velhas, pois elas compõem a maior parte da cobertura florestal mundial", disse MacKenzie à BBC. Apesar dos resultados promissores, ele alertou que isso não é uma solução para o problema das emissões de combustíveis fósseis. "Não podemos simplesmente criar florestas suficientes para continuar queimando combustíveis fósseis como fazemos agora", afirmou. O experimento foi estendido até 2031 para continuar monitorando os carvalhos e verificar se o aumento na produção de madeira persiste. Richard Norby, professor da Universidade de Tennessee e autor do estudo, destacou a importância de manter o experimento por mais tempo para obter um registro mais longo e confiável. Os pesquisadores também esperam observar como os níveis elevados de CO2 afetam a longevidade das árvores e a biodiversidade local, como os insetos. Durante o estudo, notaram um aumento em algumas espécies de insetos, possivelmente devido às mudanças nas condições do ar.
(https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd6yn6970pzo#:~:text=Ap%C 3%B3s%20sete%20anos adaptado)