“Aos 63 anos, Alícia, uma mulher casada, natural da
Guatemala, foi tomada por espanto pela oitava vez. Alternando
entre ansiedade e letargia, estado febril e muito sofrimento, ela
não fazia as tarefas de casa nem as peças de cerâmica. Da
mesma forma, perdeu o interesse pelos amigos e parentes e por
prazeres simples como comer. Muitos latino-americanos da
zona rural acreditam que o espanto seja causado pela fuga da
alma durante uma experiência assustadora.
Sem alma, as vítimas temem a morte e frequentemente
procuram os serviços de curandeiros. O curandeiro de Alícia, a
quem chamaremos Manuel, conduziu uma cerimônia de 13
horas para ela. Começando com uma festa para amigos e
parentes, procedeu às orações e culminou com uma sessão
médica: uma massagem com ovos (para tirar a doença) e
poções borrifadas pelo corpo. Durante todo o tempo, foi
assegurado que o espanto desapareceria. Para trazer de volta a
alma de Alícia, Manuel conduziu um pequeno grupo de
simpatizantes à margem do rio, onde se supunha que o espanto
ocorrera. Depois que os membros do grupo fizeram oferendas
aos espíritos do mal e imploraram para que a alma de Alícia
fosse resgatada, voltaram a casa, deixando pelo caminho
tampas de abóbora no formato de pratos, cheias de terra e
pedras, para que a alma perdida pudesse seguir pela escuridão.
Depois da cerimônia, Alícia – convencida de que a alma
dela fora recuperada – sentiu-se feliz. Suas queixas físicas e sua
ansiedade desapareceram, pelo menos temporariamente, e ela
reassumiu uma vida ativa.”