FRIGORÍFICOS
Por Bloomberg Brasil
Publicado em 16 de dezembro de 2019
Produtos que imitam a carne podem ser a onda do momento,
mas os produtores da carne de verdade vão muito bem,
obrigado.
A fabricante de hambúrgueres veganos Beyond Meat dominou o
noticiário este ano de 2019 com uma estreia de enorme sucesso
no mercado financeiro e uma vertiginosa valorização de 200%
sobre suas ações.
Mas os frigoríficos Minerva e JBS não estão muito atrás. Até
empresas americanas prejudicadas pela guerra comercial com a
China, como a Tyson Foods, recentemente tiveram os maiores
ganhos nas ações em anos.
Por trás da disparada nos preços das ações dessas empresas
está a escassez de proteína animal na Ásia, onde a demanda por
importações de carne suína, bovina e de frango aumentou. A
peste suína africana está dizimando rebanhos da China ao
Vietnã, provocando situações que vão afetar o comércio de
carne por anos.
Enquanto a oferta de carne nos Estados Unidos bate recordes, a
demanda por lá também começa a dar sinais de aceleração. Os
preços do presunto naquele país estão próximos aos maiores
níveis sazonais devido à forte procura externa, elevando os
preços da carne de porco. Empresas como a Tyson Foods, com
sede em Springdale, Arkansas, relatam interesse “extremo” de compradores chineses por carne de frango, após a suspensão de
uma proibição que vigorou por vários anos.
A demanda doméstica por carne também é robusta nos Estados
Unidos, à medida que o consumo desse alimento aumenta junto
com a renda dos consumidores norte americanos, explicou Mike
Sands, dono da consultoria MBS Research, sediada em
Memphis.
O movimento ainda tem fôlego, de acordo com Heather Jones,
analista de renda variável e proprietária da Heather Jones
Research. Cerca de 8% do volume mundial de proteína foi
exterminado pela peste suína e a oferta deve chegar ao ponto
mínimo no primeiro semestre de 2020.
O salto das ações de empresas de proteína animal coincide com
o avanço de negócios de imitação de carne. Em novembro de
2019, as vendas de alternativas à carne subiram 40% com a
chegada de mais produtos aos supermercados, de acordo com
dados da firma de pesquisas IRI.
Embora substitutos à base de plantas representem apenas 1%
do mercado de carne dos Estados Unidos, que movimenta US$
86 bilhões, as vendas podem chegar a US$ 15 bilhões nos
próximos cinco a sete anos, segundo a empresa Hormel Foods,
que lançou uma linha própria.
Por ora, as empresas tradicionais não parecem temer a perda de
clientes. Além do movimento causado pela peste suína, a
expansão da população global significa que a produção de
alimentos precisa aumentar 70% até 2050, de acordo com
estimativas da Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês). O aumento
da renda geralmente significa aumento do consumo de proteína.
Nos Estados Unidos, os frigoríficos também se beneficiaram
após um incêndio atingir uma unidade da Tyson Foods em
agosto de 2019. Assim, com a capacidade reduzida, criou-se um
excesso de animais vivos, o que derrubou os preços do gado.
Paralelamente, compradores de carne bovina entraram em
pânico com a perspectiva de escassez desse alimento e
aceitaram pagar mais caro por ele. Assim, as margens de lucro
dos frigoríficos bateram recordes.
Nos Estados Unidos, quatro empresas dominam o segmento de
processamento de carne bovina e o Departamento de Agricultura
daquele país iniciou uma investigação sobre concorrência
desleal.
“As margens dos frigoríficos melhoraram até que fez sentido
economicamente funcionar agressivamente não apenas durante
a semana, mas também aos sábados”, disse Mike Sands, da
MBS. “As margens da carne bovina têm sido muito boas, mas
isso é necessário para impedir que o setor fique com gado sem
condições.”
Adaptado. Fonte: http://bit.ly/38SoAeV.