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O labirinto dos manuais
Há alguns meses troquei meu celular. Um modelo lindo, pequeno, prático.
Segundo a vendedora, era capaz de tudo e mais um pouco. Fotografava, fazia
vídeos, recebia e-mails e até servia para telefonar. Abri o manual,
entusiasmado. “Agora eu aprendo”, decidi, folheando as 49 páginas. Já na
primeira, tentei executar as funções. Duas horas depois, eu estava prestes a
roer o aparelho. O manual tentava prever todas as possibilidades. Virou um
labirinto de instruções.
— Manual só confunde – disse didaticamente. – Dá uma de curioso.
Atualmente, estou de computador novo. Fiz o que toda pessoa minuciosa faria.
Comprei um livro. Na capa, a promessa: “Rápido e fácil” – um guia prático,
simples e colorido! Resolvi: “Vou seguir cada instrução, página por página. Do
que adianta ter um supercomputador se não sei usá-lo?”. Quando cheguei à
página 20, minha cabeça latejava. O livro tem 342! Cada vez que olho, dá
vontade de chorar! Não seria melhor gastar o tempo relendo Guerra e Paz?
Eu sei que para a garotada que está aí tudo parece muito simples. Mas o
mundo é para todos, não é? Talvez alguém dê aulas para entender manuais!
Ou o jeito seria aprender só aquilo de que tenho realmente necessidade, e não
usar todas as funções. É o que a maioria das pessoas acaba fazendo! (Walcyr
Carrasco, Veja SP, 19.09.2007. Adaptado)