Com base no texto a seguir, responda às
questões 47 e 48.
As janelas
Quem olha, de fora, através de uma janela
aberta, não vê jamais tantas coisas quanto quem
olha uma janela fechada. Não há objeto mais
profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais
tenebroso, mais deslumbrante do que uma janela
iluminada por uma vela. O que se pode ler à luz
do sol é sempre menos interessante do que o que
se passa atrás de uma vidraça. Nesse buraco
negro ou luminoso vive a vida, sonha a vida, sofre
a vida.
Além das vagas do teto, percebo uma mulher
madura, enrugada mesmo, pobre, sempre
inclinada sobre qualquer coisa e que nunca sai de
casa. Por seu rosto, por seus vestidos, por seus
gestos, por quase nada eu refaço a história dessa
mulher, ou antes, sua legenda e, às vezes, conto
a mim mesmo, chorando, essa história.
Se tivesse sido um pobre velho, eu, também,
refaria a dele, facilmente.
E me deito orgulhoso de ter vivido e sofrido
nos outros como se fosse em mim mesmo.
Talvez vocês me dirão: “Estás certo de que
esta fábula seja verdadeira?” Que importa o que
possa ser a realidade situada fora de mim, se ela
me ajuda a viver, a sentir que existo e o que sou?
BAUDELAIRE
Disponível em: <https://iedamagri.files.wordpress.com/2014/07/bau-delaire-spleen-de-paris.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2018