Profissão: professor
*Olavo Nogueira Filho e Rodolfo Araújo
A literatura existente já consagra há algumas
décadas: ainda que não haja resposta única para
assegurar uma educação de qualidade, a solução
obrigatoriamente perpassa por professores bem
preparados, motivados e com boas condições de
trabalho.
Tal constatação nos foi reforçada quando, no
início de outubro, mês de comemoração do Dia do
Professor, lançamos na página do Facebook do
Todos Pela Educação – organização da sociedade
civil sem fins lucrativos e suprapartidária que
objetiva contribuir para a melhoria da qualidade
da educação básica pública brasileira – um
convite às professoras e professores: contar a
melhor história de sua carreira.
Recebemos centenas de respostas que não só
demonstram a extensão do impacto da docência,
mas revelam que parte importante da sua
satisfação profissional está ancorada numa sólida
tríade: preparo, motivação e boas condições de
trabalho. A resultante? Alunos engajados e que
aprendem.
Essa observação surge com ênfase nas
mensagens compartilhadas por dois professores:
uma delas conta-nos que a melhor parte da sua
carreira é ouvir de seus alunos a frase “a aula já
acabou?”, enquanto outro docente descreve seu
grande momento: “(quando um) aluno se sentou
na primeira fila e disse ‘não via a hora de ter essa
matéria com o senhor’”. Ambas as situações
refletem o poder de um trabalho pedagógico bem
conduzido, que de trivial nada tem.
Pensar a qualidade do que ocorre em sala
de aula passa pela conexão estabelecida entre
professor e aluno. A força desse vínculo é elemento
crucial para o desenvolvimento da criança e do
jovem, em que o processo de aprendizagem não
se dá de maneira transacional – focada apenas
no cumprimento de uma agenda de conteúdos
–, mas relacional, centrada também em diálogo,
abertura e respeito. O impacto destes laços,
uma vez fortalecidos, reflete-se não apenas em
resultados objetivos, mas também no estímulo
à permanência na escola. É isso que os relatos mostram e, não surpreendentemente, as próprias
pesquisas também. [...]
Quando olhamos para os aspectos
relacionados à motivação, um dos elementos
da tríade acima apresentada, a necessidade de
articulação de diferentes políticas torna-se ainda
mais clara: conforme descreve o professor da
Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Fernando
Abrucio, em publicação sobre os desafios da
formação docente no País, “(a partir de uma
revisão da literatura) pode-se concluir que a
motivação está vinculada a um sistema de
incentivo amplo, no qual é preciso articular várias
ações. Juntamente com medidas para fortalecer
a carreira (atração, retenção e desenvolvimento),
dar um sentido à atuação profissional, ao trabalho
coletivo da escola e ao relacionamento com
alunos e comunidade aparecem como as variáveis
motivadoras com maior impacto. A formação dos
professores, inicial e continuada, tem de levar em
conta essa complexidade”. [...]
Adaptado de: <https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,profis-sao-professor,70002135832>. Acesso em 10 jul. 2018.