Questões de Concurso Público Prefeitura de Araçariguama - SP 2023 para Bibliotecário
Foram encontradas 50 questões
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Arquiteto
|
Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Farmacêutico |
Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Nutricionista |
Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Psicopedagogo |
Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Assistente Social |
Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Bibliotecário |
Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Engenheiro Agrônomo |
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Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Fonoaudiólogo |
Q2234752
Noções de Informática
No MS-Word 2016 h· diversos tipos de atalhos
que ajudam na formatação, edição e alteração do
texto. Neste sentido, assinale a alternativa que
indique corretamente quais teclas que devem ser
utilizadas como forma de atalho para imprimir o
documento.
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Bibliotecário
|
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Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Psicólogo |
Q2236965
Português
Texto associado
Uma galinha
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque
não passava de nove horas da manhã. Parecia
calma. Desde sábado encolhera-se num canto da
cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém
olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,
apalpando sua intimidade com indiferença, não
souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se
adivinharia nela um anseio. Foi pois uma
surpresa quando a viram abrir as asas de curto
vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances,
alcançar a murada do terraço. Um instante ainda
vacilou - o tempo da cozinheira dar um grito - e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,
em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado.
Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora
num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de
uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da
dupla necessidade de fazer esporadicamente
algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um
calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado
onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com
urgência outro rumo. A perseguição tornou-se
mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido
mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma
luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que
decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem
nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era
um caçador adormecido. E, por mais ínfima que
fosse a presa, o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria,
arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e
enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade
tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre. Estápida, tímida e livre.
Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que
é que havia nas suas vísceras que fazia dela um
ser? A galinha é um ser. É verdade que não se
poderia contar com ela para nada. Nem ela
prÛpria contava consigo, como o galo crê na sua
crista. Sua única vantagem é que havia tantas
galinhas que, morrendo uma, surgiria no mesmo
instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar
sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em
triunfo por uma asa através das telhas e pousada
no chão da cozinha com certa violência. Ainda
tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos
e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura
afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida,
exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo
depois, nascida que fora para a maternidade,
parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se
sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando
e desabotoando os olhos. Seu coração, tão
pequeno num prato, solevava e abaixava as
penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca
passaria de um ovo. Só a menina estava perto e
assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu
desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se
do chão e saiu aos gritos:
- Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela
pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam
mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem
alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha.
O que não sugeria nenhum sentimento especial.
O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo,
sem propriamente um pensamento qualquer.
Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha.
O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
- Se você mandar matar esta galinha, nunca
mais comerei galinha na minha vida!
- Eu também! jurou a menina com ardor.
A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga - e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar.
Nesses momentos enchia os pulmões com o ar
impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas
cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais
contente. Embora nem nesses instantes a
expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na
fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando
milho - era uma cabeça de galinha, a mesma
que fora desenhada no começo dos séculos. Até
que um dia mataram-na, comeram-na e
passaram-se anos.
Clarice Lispector
O texto "Uma galinha", de Clarice Lispector, se trata de:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236966
Português
Texto associado
Uma galinha
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque
não passava de nove horas da manhã. Parecia
calma. Desde sábado encolhera-se num canto da
cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém
olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,
apalpando sua intimidade com indiferença, não
souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se
adivinharia nela um anseio. Foi pois uma
surpresa quando a viram abrir as asas de curto
vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances,
alcançar a murada do terraço. Um instante ainda
vacilou - o tempo da cozinheira dar um grito - e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,
em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado.
Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora
num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de
uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da
dupla necessidade de fazer esporadicamente
algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um
calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado
onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com
urgência outro rumo. A perseguição tornou-se
mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido
mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma
luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que
decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem
nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era
um caçador adormecido. E, por mais ínfima que
fosse a presa, o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria,
arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e
enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade
tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre. Estápida, tímida e livre.
Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que
é que havia nas suas vísceras que fazia dela um
ser? A galinha é um ser. É verdade que não se
poderia contar com ela para nada. Nem ela
prÛpria contava consigo, como o galo crê na sua
crista. Sua única vantagem é que havia tantas
galinhas que, morrendo uma, surgiria no mesmo
instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar
sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em
triunfo por uma asa através das telhas e pousada
no chão da cozinha com certa violência. Ainda
tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos
e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura
afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida,
exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo
depois, nascida que fora para a maternidade,
parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se
sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando
e desabotoando os olhos. Seu coração, tão
pequeno num prato, solevava e abaixava as
penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca
passaria de um ovo. Só a menina estava perto e
assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu
desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se
do chão e saiu aos gritos:
- Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela
pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam
mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem
alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha.
O que não sugeria nenhum sentimento especial.
O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo,
sem propriamente um pensamento qualquer.
Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha.
O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
- Se você mandar matar esta galinha, nunca
mais comerei galinha na minha vida!
- Eu também! jurou a menina com ardor.
A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga - e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar.
Nesses momentos enchia os pulmões com o ar
impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas
cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais
contente. Embora nem nesses instantes a
expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na
fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando
milho - era uma cabeça de galinha, a mesma
que fora desenhada no começo dos séculos. Até
que um dia mataram-na, comeram-na e
passaram-se anos.
Clarice Lispector
Considere os seguintes trechos:
I. Nem ela própria contava consigo; II. a galinha tinha que decidir por si mesma os
caminhos a tomar; III. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que, morrendo uma, surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma. Os pronomes "consigo", "si" e "sua" são, respectivamente:
I. Nem ela própria contava consigo; II. a galinha tinha que decidir por si mesma os
caminhos a tomar; III. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que, morrendo uma, surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma. Os pronomes "consigo", "si" e "sua" são, respectivamente:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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|
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Q2236967
Português
Texto associado
Uma galinha
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque
não passava de nove horas da manhã. Parecia
calma. Desde sábado encolhera-se num canto da
cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém
olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,
apalpando sua intimidade com indiferença, não
souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se
adivinharia nela um anseio. Foi pois uma
surpresa quando a viram abrir as asas de curto
vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances,
alcançar a murada do terraço. Um instante ainda
vacilou - o tempo da cozinheira dar um grito - e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,
em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado.
Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora
num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de
uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da
dupla necessidade de fazer esporadicamente
algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um
calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado
onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com
urgência outro rumo. A perseguição tornou-se
mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido
mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma
luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que
decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem
nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era
um caçador adormecido. E, por mais ínfima que
fosse a presa, o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria,
arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e
enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade
tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre. Estápida, tímida e livre.
Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que
é que havia nas suas vísceras que fazia dela um
ser? A galinha é um ser. É verdade que não se
poderia contar com ela para nada. Nem ela
prÛpria contava consigo, como o galo crê na sua
crista. Sua única vantagem é que havia tantas
galinhas que, morrendo uma, surgiria no mesmo
instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar
sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em
triunfo por uma asa através das telhas e pousada
no chão da cozinha com certa violência. Ainda
tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos
e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura
afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida,
exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo
depois, nascida que fora para a maternidade,
parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se
sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando
e desabotoando os olhos. Seu coração, tão
pequeno num prato, solevava e abaixava as
penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca
passaria de um ovo. Só a menina estava perto e
assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu
desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se
do chão e saiu aos gritos:
- Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela
pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam
mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem
alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha.
O que não sugeria nenhum sentimento especial.
O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo,
sem propriamente um pensamento qualquer.
Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha.
O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
- Se você mandar matar esta galinha, nunca
mais comerei galinha na minha vida!
- Eu também! jurou a menina com ardor.
A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga - e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar.
Nesses momentos enchia os pulmões com o ar
impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas
cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais
contente. Embora nem nesses instantes a
expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na
fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando
milho - era uma cabeça de galinha, a mesma
que fora desenhada no começo dos séculos. Até
que um dia mataram-na, comeram-na e
passaram-se anos.
Clarice Lispector
Considere o excerto: "E, por mais ínfima que fosse a presa, o grito de conquista havia soado." Neste contexto, a palavra "ínfima" poderia ser substituída, sem prejuízo de valor, por:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Psicólogo |
Q2236968
Português
Texto associado
Uma galinha
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque
não passava de nove horas da manhã. Parecia
calma. Desde sábado encolhera-se num canto da
cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém
olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,
apalpando sua intimidade com indiferença, não
souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se
adivinharia nela um anseio. Foi pois uma
surpresa quando a viram abrir as asas de curto
vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances,
alcançar a murada do terraço. Um instante ainda
vacilou - o tempo da cozinheira dar um grito - e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,
em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado.
Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora
num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de
uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da
dupla necessidade de fazer esporadicamente
algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um
calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado
onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com
urgência outro rumo. A perseguição tornou-se
mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido
mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma
luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que
decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem
nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era
um caçador adormecido. E, por mais ínfima que
fosse a presa, o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria,
arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e
enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade
tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre. Estápida, tímida e livre.
Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que
é que havia nas suas vísceras que fazia dela um
ser? A galinha é um ser. É verdade que não se
poderia contar com ela para nada. Nem ela
prÛpria contava consigo, como o galo crê na sua
crista. Sua única vantagem é que havia tantas
galinhas que, morrendo uma, surgiria no mesmo
instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar
sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em
triunfo por uma asa através das telhas e pousada
no chão da cozinha com certa violência. Ainda
tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos
e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura
afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida,
exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo
depois, nascida que fora para a maternidade,
parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se
sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando
e desabotoando os olhos. Seu coração, tão
pequeno num prato, solevava e abaixava as
penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca
passaria de um ovo. Só a menina estava perto e
assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu
desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se
do chão e saiu aos gritos:
- Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela
pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam
mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem
alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha.
O que não sugeria nenhum sentimento especial.
O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo,
sem propriamente um pensamento qualquer.
Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha.
O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
- Se você mandar matar esta galinha, nunca
mais comerei galinha na minha vida!
- Eu também! jurou a menina com ardor.
A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga - e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar.
Nesses momentos enchia os pulmões com o ar
impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas
cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais
contente. Embora nem nesses instantes a
expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na
fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando
milho - era uma cabeça de galinha, a mesma
que fora desenhada no começo dos séculos. Até
que um dia mataram-na, comeram-na e
passaram-se anos.
Clarice Lispector
O excerto "E então parecia tão livre. Estúpida, tímida e livre" se refere:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Psicólogo |
Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Fonoaudiólogo |
Q2236969
Português
Texto associado
Uma galinha
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque
não passava de nove horas da manhã. Parecia
calma. Desde sábado encolhera-se num canto da
cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém
olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,
apalpando sua intimidade com indiferença, não
souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se
adivinharia nela um anseio. Foi pois uma
surpresa quando a viram abrir as asas de curto
vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances,
alcançar a murada do terraço. Um instante ainda
vacilou - o tempo da cozinheira dar um grito - e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,
em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado.
Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora
num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de
uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da
dupla necessidade de fazer esporadicamente
algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um
calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado
onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com
urgência outro rumo. A perseguição tornou-se
mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido
mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma
luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que
decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem
nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era
um caçador adormecido. E, por mais ínfima que
fosse a presa, o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria,
arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e
enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade
tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre. Estápida, tímida e livre.
Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que
é que havia nas suas vísceras que fazia dela um
ser? A galinha é um ser. É verdade que não se
poderia contar com ela para nada. Nem ela
prÛpria contava consigo, como o galo crê na sua
crista. Sua única vantagem é que havia tantas
galinhas que, morrendo uma, surgiria no mesmo
instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar
sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em
triunfo por uma asa através das telhas e pousada
no chão da cozinha com certa violência. Ainda
tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos
e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura
afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida,
exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo
depois, nascida que fora para a maternidade,
parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se
sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando
e desabotoando os olhos. Seu coração, tão
pequeno num prato, solevava e abaixava as
penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca
passaria de um ovo. Só a menina estava perto e
assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu
desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se
do chão e saiu aos gritos:
- Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela
pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam
mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem
alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha.
O que não sugeria nenhum sentimento especial.
O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo,
sem propriamente um pensamento qualquer.
Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha.
O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
- Se você mandar matar esta galinha, nunca
mais comerei galinha na minha vida!
- Eu também! jurou a menina com ardor.
A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga - e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar.
Nesses momentos enchia os pulmões com o ar
impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas
cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais
contente. Embora nem nesses instantes a
expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na
fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando
milho - era uma cabeça de galinha, a mesma
que fora desenhada no começo dos séculos. Até
que um dia mataram-na, comeram-na e
passaram-se anos.
Clarice Lispector
Considere o trecho "Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos." Os elementos -na e -se, que ocorrem junto aos verbos, são, respectivamente:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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|
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Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Fonoaudiólogo |
Q2236970
Português
Texto associado
Uma galinha
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque
não passava de nove horas da manhã. Parecia
calma. Desde sábado encolhera-se num canto da
cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém
olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,
apalpando sua intimidade com indiferença, não
souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se
adivinharia nela um anseio. Foi pois uma
surpresa quando a viram abrir as asas de curto
vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances,
alcançar a murada do terraço. Um instante ainda
vacilou - o tempo da cozinheira dar um grito - e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,
em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado.
Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora
num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de
uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da
dupla necessidade de fazer esporadicamente
algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um
calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado
onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com
urgência outro rumo. A perseguição tornou-se
mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido
mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma
luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que
decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem
nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era
um caçador adormecido. E, por mais ínfima que
fosse a presa, o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria,
arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e
enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade
tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre. Estápida, tímida e livre.
Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que
é que havia nas suas vísceras que fazia dela um
ser? A galinha é um ser. É verdade que não se
poderia contar com ela para nada. Nem ela
prÛpria contava consigo, como o galo crê na sua
crista. Sua única vantagem é que havia tantas
galinhas que, morrendo uma, surgiria no mesmo
instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar
sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em
triunfo por uma asa através das telhas e pousada
no chão da cozinha com certa violência. Ainda
tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos
e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura
afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida,
exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo
depois, nascida que fora para a maternidade,
parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se
sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando
e desabotoando os olhos. Seu coração, tão
pequeno num prato, solevava e abaixava as
penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca
passaria de um ovo. Só a menina estava perto e
assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu
desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se
do chão e saiu aos gritos:
- Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela
pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam
mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem
alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha.
O que não sugeria nenhum sentimento especial.
O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo,
sem propriamente um pensamento qualquer.
Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha.
O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
- Se você mandar matar esta galinha, nunca
mais comerei galinha na minha vida!
- Eu também! jurou a menina com ardor.
A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga - e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar.
Nesses momentos enchia os pulmões com o ar
impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas
cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais
contente. Embora nem nesses instantes a
expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na
fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando
milho - era uma cabeça de galinha, a mesma
que fora desenhada no começo dos séculos. Até
que um dia mataram-na, comeram-na e
passaram-se anos.
Clarice Lispector
Considere o excerto "É verdade que não se poderia contar com ela para nada." Em relação à classe gramatical, as palavras "que", "não", "com" e "nada" são, respectivamente:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Avança SP - 2023 - Prefeitura de Araçariguama - SP - Engenheiro Agrônomo |
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Q2236971
Português
Texto associado
Uma galinha
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque
não passava de nove horas da manhã. Parecia
calma. Desde sábado encolhera-se num canto da
cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém
olhava para ela. Mesmo quando a escolheram,
apalpando sua intimidade com indiferença, não
souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se
adivinharia nela um anseio. Foi pois uma
surpresa quando a viram abrir as asas de curto
vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances,
alcançar a murada do terraço. Um instante ainda
vacilou - o tempo da cozinheira dar um grito - e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,
em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado.
Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora
num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de
uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da
dupla necessidade de fazer esporadicamente
algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um
calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado
onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com
urgência outro rumo. A perseguição tornou-se
mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido
mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma
luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que
decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem
nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era
um caçador adormecido. E, por mais ínfima que
fosse a presa, o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria,
arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga,
pairava ofegante num beiral de telhado e
enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade
tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre. Estápida, tímida e livre.
Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que
é que havia nas suas vísceras que fazia dela um
ser? A galinha é um ser. É verdade que não se
poderia contar com ela para nada. Nem ela
prÛpria contava consigo, como o galo crê na sua
crista. Sua única vantagem é que havia tantas
galinhas que, morrendo uma, surgiria no mesmo
instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar
sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em
triunfo por uma asa através das telhas e pousada
no chão da cozinha com certa violência. Ainda
tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos
e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura
afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida,
exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo
depois, nascida que fora para a maternidade,
parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se
sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando
e desabotoando os olhos. Seu coração, tão
pequeno num prato, solevava e abaixava as
penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca
passaria de um ovo. Só a menina estava perto e
assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu
desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se
do chão e saiu aos gritos:
- Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela
pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam
mudos a jovem parturiente. Esquentando seu
filho, esta não era nem suave nem arisca, nem
alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha.
O que não sugeria nenhum sentimento especial.
O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo,
sem propriamente um pensamento qualquer.
Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha.
O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
- Se você mandar matar esta galinha, nunca
mais comerei galinha na minha vida!
- Eu também! jurou a menina com ardor.
A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto. Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga - e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado. Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar.
Nesses momentos enchia os pulmões com o ar
impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas
cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais
contente. Embora nem nesses instantes a
expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na
fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando
milho - era uma cabeça de galinha, a mesma
que fora desenhada no começo dos séculos. Até
que um dia mataram-na, comeram-na e
passaram-se anos.
Clarice Lispector
No texto, ocorrem as palavras "indiferença" e
"inconsciente". As palavras mencionadas têm em
comum em seus processos de formação:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
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Q2236972
Português
Assinale a alternativa que apresenta uma oração
subordinada adverbial com valor proporcional.
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236973
Português
Assinale a alternativa que apresenta todas as
palavras grafadas corretamente quanto ao uso de
hífen.
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236974
Português
Considere o trecho a seguir: "O padre de Assunção pediu ao frade um lenço de pano e um sapato de couro; este para o Dia de Reis, aquele para o dia de Santo Amaro." Os pronomes "este" e "aquele" no trecho dado retomam, respectivamente:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236975
Matemática
A figura geométrica ilustrada a seguir representa
a planta de um terreno plano de um bairro.
É correto afirmar que a área do terreno, em m², È igual a:
É correto afirmar que a área do terreno, em m², È igual a:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236976
Matemática
A raiz quadrada do cubo de um número X
positivo é igual ao triplo deste número X. Logo,
é correto afirmar que 150% de X é igual a:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236977
Matemática
A tabela a seguir apresentada as notas que 02
(dois) candidatos receberam em um concurso
público.
Sabendo que os pesos de cada disciplina do concurso, ou seja, Português, Matemática e Legislação são respectivamente iguais a 3; 3 e 4, È correto afirmar que:
Sabendo que os pesos de cada disciplina do concurso, ou seja, Português, Matemática e Legislação são respectivamente iguais a 3; 3 e 4, È correto afirmar que:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236978
Matemática
Sabendo que o volume de um prisma de base
quadrada é igual a 54 cm³ e que a altura do prisma
é igual ao dobro da raiz quadrada da área de sua
base, é correto afirmar que cada lado da base
quadrada do prisma mede:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236979
Matemática
Amélia e Bia são as únicas sócias em uma fábrica
de cartões. Sabendo que o capital social da
empresa é de R$ 37.000,00 e que o capital social
de Amélia menos 2/3 do capital social de Bia é
igual a R$ 0,00, pode-se afirmar que o capital
social de Bia é de:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236980
Matemática
Qual o valor total do montante obtido por um
investimento ao final de 5 meses, considerando
que o capital inicial investido foi de R$ 1.410,00,
capitalizado a uma taxa de juros simples de 8%
ao mês?
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236981
Matemática
Um triângulo retângulo possui uma área igual a
59,34 m². Sabendo que o segundo maior lado do
triângulo retângulo mede 17,20 m, qual seria o
valor de seu terceiro maior lado?
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236982
Matemática
Uma empresa possui um total de 145
funcion·rios, dos quais 20% idade acima de 50
anos, 26 funcionários tÍm idade entre 30 e 50
anos e os demais têm idade abaixo de 30 anos.
Logo, é correto afirmar que o percentual de
funcionários abaixo de 30 anos é
aproximadamente igual a:
Ano: 2023
Banca:
Avança SP
Órgão:
Prefeitura de Araçariguama - SP
Provas:
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Q2236983
Matemática
A média simples entre 3 números inteiros
(identificados como A, B e C) diferentes e
positivos é igual a 51. Sabendo que B = 3A e que
C = 2B + 23; È correto afirmar que o número C é
igual a: