Leia o texto a seguir para responder à questão.
Leonardo da Vinci: o maior procrastinador
da história
Da Vinci quase nunca terminava seus trabalhos.
Mas por trás da procrastinação intensa está o
segredo da sua multidisciplinaridade
Leonardo da Vinci pintou uma das obras
mais emblemáticas da história: a Mona Lisa.
Oficialmente, a moça do sorriso enigmático e
olhar sedutor demorou 3 anos para ser pintada —
entre 1503 e 1506 —, mas pesquisadores
acreditam que Leonardo ficou finalizando o
retrato até 1519, ano de sua morte. Segundo
biógrafos, a pintura que hoje é o carro chefe do
Louvre está inacabada. E esta é apenas uma das
provas que indicam que Da Vinci era um
procrastinador notório.
Claro, ele era um gênio, e talvez apenas
tivesse ideias demais para uma cabeça só. Mas
meio milênio após sua morte, uma nova pesquisa
identificou uma possível explicação por trás da
série de projetos incompletos que o artista da
Renascença deixou ao longo da carreira:
Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade, ou TDAH.
Escrevendo no periódico inglês Brain,
pesquisadores do King’s College London e da
Universidade de Pavia, na Itália, consultaram
evidências históricas, incluindo relatos de
contemporâneos de Leonardo, e concluíram que
seus problemas com administração do tempo,
concentração e procrastinação poderiam ser
atribuídos ao déficit.
“Embora seja impossível fazer um
diagnóstico post-mortem para alguém que viveu
há 500 anos, estou confiante de que o TDAH é a
hipótese mais convincente e cientificamente
plausível para explicar a dificuldade de Leonardo
em terminar suas obras”, disse Marco Catani, um
dos autores do estudo.
Os pesquisadores destacam a tendência
de Leonardo de mudar constantemente de
projeto, bem como seu hábito de trabalhar
continuamente durante a noite, raramente
dormindo profundamente — segundo biógrafos, ele alternava ciclos rápidos de cochilos curtos
durante toda a noite.
No estudo, há também outras
características do renascentista que batem com o
possível diagnóstico tardio. Os cientistas contam
que Leonardo era canhoto – e também que
sobreviveu a um derrame no hemisfério esquerdo
aos 65 anos. Só que todas suas funções cognitivas
(e geniais) ficaram intactas. Os pesquisadores
acreditam que as duas coisas poderiam estar
relacionadas. Da Vinci pode ter “concentrado”
muitas de suas funções cerebrais em um
hemisfério do cérebro, justamente o que não foi
afetado pelo AVC. É uma característica rara,
presente em menos de 5% da população.
Além disso, diversas pesquisas sugerem
que Da Vinci tinha dislexia, devido a erros de
ortografia e escrita espelhada em seus cadernos.
Essa dificuldade de aprendizagem é
frequentemente diagnosticada ao lado do
TDAH. “Dominância hemisférica atípica,
canhoto e dislexia são mais prevalentes em
crianças com desordens de aprendizado,
incluindo TDAH”, escreveram os autores.
Os cientistas ainda pontuam que a
genialidade de Leonardo pode ter se beneficiado
dessa condição. “Nos tempos modernos, um
diagnóstico de TDAH prescinde do nível de
habilidade intelectual e é cada vez mais
reconhecido entre estudantes universitários e
adultos com carreiras bem-sucedidas.
Indiscutivelmente, se positivamente canalizado,
algumas características do TDAH podem trazer
uma vantagem: a mente vagando pode alimentar
a criatividade e a originalidade; a inquietação
pode mover-se para buscar novidades e ação
pelas mudanças”, escreveram os autores.
Revista Superinteressante. Leonardo da Vinci: o maior
procrastinador da história. Adaptado. Disponível em <https://super.abril.com.br/cultura/leonardo-da-vinci-omaior-procrastinador-da-historia/>.