Despertar para a realidade exige esforço e reflexão crítica.
Gabriela Lenz de Lacerda
A história do Brasil, como a própria história do mundo, é definida por
uma sucessão de violências.
A subjugação das mulheres tem relação com o próprio processo de
colonização, na medida em que se trata de formas de dominação e de
exploração necessárias ao desenvolvimento do capitalismo. A fim de
permitir a acumulação primitiva de capital, era necessário que as próprias
relações sociais fossem pautadas na violência e na hierarquização dos
seres humanos, com controle dos corpos que pudessem ser úteis ou
prejudiciais ao sistema.
Mais de 500 anos depois, não conseguimos romper essa persistência
história e, não por acaso, vivemos hoje no país mais desigual da América
Latina e em um dos mais desiguais do mundo. As violências praticadas
contra mulheres, contra descendentes dos africanos e indígenas
escravizados e contra a natureza são a herança que recebemos. Nós,
que habitamos essa porção de terra batizada de Brasil, fundada pela
violência, precisamos ter em mente que o racismo, o sexismo e a
desconexão com a natureza não apenas estruturam a nossa sociedade.
São estruturantes também da nossa própria subjetividade.
Despertar para a realidade pressupõe, assim, refletirmos de forma crítica
e profunda sobre o nosso próprio racismo, sexismo e colonialismo.
Se queremos realmente contribuir para a construção de um mundo
melhor, mais justo e igualitário, temos que retomar a lição de Paulo
Freire (2014): toda ação libertadora é necessariamente acompanhada
de uma profunda reflexão. Somente compreendendo a nossa própria
posição na estrutura social – nossos privilégios e vulnerabilidades –
e lembrando que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta
sozinho”, podemos, juntos, nos libertar em comunhão. A revolução
começa – mas não termina – dentro de nós!...
LACERDA, Gabriela Lenz de. Despertar para a realidade exige esforço e reflexão crítica.
Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/sororidade-em-pauta/despertar-para-a-
-realidade-exige-esforco-e-reflexao-critica/. Acesso em 09 mai. 2022.