Texto 1A1-II
O conhecimento científico é muito frequentemente
associado à formação escolar. Por conta disso, existe uma
tendência a restringir o conhecimento oferecido pela ciência a
determinadas esferas da vida. Nada mais limitante. A ciência
versa sobre a maioria dos assuntos relacionados à nossa
existência, inclusive aqueles raramente associados ao tema.
A má compreensão da abrangência da ciência leva a
outras questões, como o argumento de que o conhecimento
científico deixa a beleza do universo diminuída, fria, distante,
pois a fragmenta e a torna asséptica. Isso pode ajudar a explicar
por que as pessoas raramente associam o estudo de um assunto
como o amor à ciência. Uma eventual concepção de
incompatibilidade entre o conhecimento científico e os mais
diferentes temas que dizem respeito à vida cotidiana não faz
sentido.
A maioria das pessoas subestima o alcance e as
possibilidades que uma visão científico-racional de mundo
possui. Um olhar cético para o mundo pode permitir a redução
dos preconceitos, mais tolerância a visões políticas e ideológicas
divergentes, maior diálogo e consideração constante de que sua
compreensão pode ser equivocada ou incompleta. Mas, ao
mesmo tempo, esse exercício permite reconhecer que, ainda que
falha, a compreensão válida naquele momento é a melhor
possível à disposição.
Ronaldo Pilati. Ciência e pseudociência: por que acreditamos naquilo em que
queremos acreditar. São Paulo: Editora Contexto, 2018, p. 26-8 (com adaptações).