Texto CG1A1-II
A contínua ampliação das sociedades humanas no interior
do universo “físico”, alheio ao homem, contribuiu para estimular
um modo de falar que sugere que “sociedade” e “natureza”
ocupariam compartimentos separados, impressão esta que foi
reforçada pelo desenvolvimento divergente das ciências naturais
e das ciências sociais. Todavia, o problema do tempo coloca-se
em termos tais que não podemos esperar resolvê-lo, se
explorarmos suas dimensões física e social independentemente
uma da outra. Se transformarmos em verbo o substantivo
“tempo”, constataremos de imediato que não se pode separar
inteiramente a determinação temporal dos acontecimentos sociais
e a dos acontecimentos físicos. Com o desenvolvimento dos
instrumentos de medição do tempo fabricados pelo homem, a
determinação do tempo social ganhou autonomia, certamente, em
relação à do tempo físico. A relação entre as duas foi se tornando
indireta, mas nunca foi totalmente rompida, porquanto não pode
sê-lo. Durante muito tempo, foram as necessidades sociais que
motivaram a mensuração do tempo dos “corpos celestes”. É fácil
mostrar como o desenvolvimento desse segundo tipo de medida
foi e continua a ser dependente do desenvolvimento do primeiro
tipo, a despeito das influências recíprocas.
Norbert Elias. Sobre o tempo. Rio de Janeiro:
Zahar, 1998, p. 38-9 (com adaptações).