Há exatos cem anos, um grupo de artistas ocupou o Teatro
Municipal de São Paulo com uma programação de pintura,
escultura, poesia, literatura e música. Essa ação ficou conhecida
como a Semana de Arte Moderna ou Semana de 22, cuja intenção
foi apresentar uma ruptura dos protocolos de representação, a
partir da experimentação formal e da liberdade criadora. Seis
anos mais tarde, um desses agitadores culturais (como seriam
chamados nos dias de hoje), Oswald de Andrade (1890-1954),
publica no primeiro número da Revista de Antropofagia o
Manifesto que assim começa:
Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.
Filosoficamente.
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Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os
individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões.
De todos os tratados de paz.
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Tupy, or not tupy, that is the question.
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Só me interessa o que não é meu. Lei do homem.
Lei do antropófago.
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A revisão histórica desse marcante evento cultural de uma
determinada elite intelectual paulistana indica um duplo vértice
de ambiguidade. Por um lado, a Semana de 22 contribuiu para a
convergência de ideias estéticas do passado, no intuito de
consolidar um marco para uma tradição brasileira de artes. Por
outro lado, foi uma ação que ficou restrita a um grupo pequeno
de pessoas, cuja ruptura formal com as circunstâncias da
produção artística não causou impacto significativo na estrutura
da fruição e circulação de conteúdos estéticos de outras
realidades sociais brasileiras, como ainda pode ser identificado
nos dias de hoje.