Texto CB1A1-I
Hoje, como outrora, o riso tem uma multidão de
significações possíveis, que vão da zombaria sarcástica que
exclui à complexidade amigável que censura. Ele pode ser bom,
mau ou neutro. Como fenômeno natural, o riso parece ter
evoluído pouco, a não ser no sentido de ter-se adquirido maior
controle do espírito. Nós rimos mais baixo e de maneira menos
desenfreada que nossos ancestrais, o que não surpreende
ninguém.
Contudo, além dessas alterações de forma superficial, foi
o lugar do riso, na vida e na sociedade, que mudou, assim como o
discurso sobre o riso, a maneira como ele é interpretado,
analisado, percebido. O fato de lhe terem consagrado numerosos
tratados, em todas as épocas, demonstra, ao menos, que todas as
sociedades lhe conferiram um lugar importante, e a maneira
como ele foi percebido é reveladora das grandes variações de
mentalidade.
Ao contrário do que sempre se escuta, os motivos de
hilaridade quase não mudaram. Rimos hoje quase das mesmas
coisas que antigamente. As técnicas variaram, mas sempre rimos
para zombar de nós, para acalmar nosso medo, para manifestar
nossa simpatia, para reforçar nossos vínculos e para excluir. O
simples enunciado dos motivos mostra que o riso é plural. Os
risos são muito diferentes e sempre o foram.
Georges Minois. História do riso e do escárnio. Tradução de Maria Elena Ortiz Assumpção.
São Paulo: Editora UNESP, 2003, p. 629-630 (com adaptações).