Texto CG1A1
Em 1947, o físico brasileiro César Lattes causou grande
impacto nos meios científicos internacionais e conquistou
reconhecimento com sua descoberta que elucidou alguns
problemas pendentes de solução no campo da radiação cósmica e
confirmou a teoria do físico japonês Hideki Yukawa sobre a
existência de uma partícula supostamente responsável pela
ligação entre prótons e nêutrons nos núcleos atômicos. Esse
último aspecto foi bastante para dar um relevo todo especial à
descoberta, enriquecendo seu significado com a possibilidade de
novas aberturas no controle das forças nucleares, tão cobiçado
depois das explosões atômicas. Toda a imprensa mundial e
brasileira aclamou a descoberta, e a ciência brasileira saiu do
porão para a sala de visitas.
No ano seguinte, Lattes voltou a causar impacto após
conseguir a produção artificial daquela partícula em um
acelerador do tipo circular, em Berkeley, nos Estados Unidos da
América. E em 1949, a física no Brasil começou a se
institucionalizar com a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas. Junto com ela, a ciência, em geral, também organizava
sua entidade representativa, com o surgimento da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) naquele
mesmo ano. Foi nesse caldo cultural que o almirante Álvaro
Alberto ganhou mais argumentos para persuadir o governo
brasileiro. Segundo seus depoimentos reproduzidos na coletânea
50 anos do CNPq contados pelos presidentes, organizada por
Shozo Motoyama, em maio de 1949, após a leitura de relatórios
sobre a questão atômica, o presidente Dutra enviou ao Congresso
Nacional um anteprojeto para criação do Conselho Nacional de
Pesquisas, já prevendo seu papel na política nuclear. Depois de
uma longa tramitação na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal, nascia o CNPq, com o almirante como seu primeiro
presidente.
Rodrigo Cunha. 60 anos do CNPq: da política nuclear ao desafio da descentralização.
In: Ciência e Cultura, São Paulo, v. 63, n.º 2, 2011 (com adaptações).