Barcelona está experimentando o sentido de construir um
plano de cidade interconectada liderada por seus residentes e, com
isso, pensando pilotos de economia compartilhada, com o objetivo
de aproveitar ao máximo os dados locais — algo inovador por
estar na contramão do que as cidades inteligentes fizeram ao longo
dos últimos anos. O geógrafo Christopher Gaffney, da
Universidade de Zurich, aponta como falha a estratégia
carioca. Segundo o especialista, embora o uso desses sistemas no
Brasil seja significativo, as tecnologias das cidades inteligentes não
estão sendo utilizadas para resolver problemas de desigualdade ou
de governança sistêmica. A análise feita pelo geógrafo identifica
que o Rio focou muito em projetos de curto prazo e em uma coleta
de dados que não é feita de forma sistemática, com a visão de
alimentar o planejamento urbano de longo prazo. Para Daniel
Locktoroff, empresário e ex-vice-prefeito de planejamento urbano
de Nova Iorque, uma das principais barreiras para a transformação
profunda e rápida dos centros urbanos é a falta de diálogo entre
aqueles que vivem nas cidades de hoje e os que constroem as
tecnologias do amanhã.
A chief technology officer de Barcelona, Francesca Bria,
afirma que as cidades inteligentes foram implementadas a partir
de uma lógica centrada na tecnologia e não no cidadão.
Estratégias assim fazem com que as cidades tomem como ponto
de partida a infraestrutura e, só depois disso, pensem nos reais
problemas que queriam solucionar. Segundo ela, há o risco de
terminarmos em uma caixa-preta, em que as cidades perdem o
controle sobre seus dados e, por conseguinte, sobre o potencial
que esses dados têm na hora de fornecer insumos para a gestão.
Álvaro Barros Modesto et alii. O uso da tecnologia na gestão pública.
Comunitas. São Paulo, 2017, p. 118-119 (com adaptações).