Paulo Freire, o mentor da Educação para a consciência.
Por Márcio Ferrari
01/10/2008
Paulo Freire (1921-1997) foi o mais célebre educador brasileiro,
com atuação e reconhecimento internacionais. Conhecido
principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva
seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedagógico
assumidamente político. Para Freire, o objetivo maior da
educação é conscientizar o aluno.
Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da
sociedade, levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir
em favor da própria libertação. O principal livro de Freire se intitula
justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele contidos
baseiam boa parte do conjunto de sua obra.
Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver
a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela
ampla maioria das escolas (isto é, as "escolas burguesas"), que
ele qualificou de educação bancária. Nela, segundo Freire, o
professor age como quem deposita conhecimento num aluno
apenas receptivo, dócil.
Em outras palavras, o saber é visto como uma doação dos que
se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola
alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele
propunha para despertar a consciência dos oprimidos.
“Sua tônica fundamentalmente reside em matar nos educandos a
curiosidade, o espírito investigador, a criatividade", escreveu o
educador. Ele dizia que, enquanto a escola conservadora procura
acomodar os alunos ao mundo existente, a educação que
defendia tinha a intenção de inquietá-los. [...]
“Os homens se educam entre si mediados pelo mundo",
escreveu. Isso implica um princípio fundamental para Freire: o de
que o aluno, alfabetizado ou não, chega à escola levando uma
cultura que não é melhor nem pior do que a do professor. Em sala
de aula, os dois lados aprenderão juntos, um com o outro - e para
isso é necessário que as relações sejam afetivas e democráticas,
garantindo a todos a possibilidade de se expressar.
"Uma das grandes inovações da pedagogia freireana é considerar
que o sujeito da criação cultural não é individual, mas coletivo",
diz José Eustáquio Romão, diretor do Instituto Paulo Freire, em
São Paulo.
A valorização da cultura do aluno é a chave para o processo de
conscientização preconizado por Freire e está no âmago de seu
método de alfabetização, formulado inicialmente para o ensino de
adultos. Basicamente, o método propõe a identificação e
catalogação das palavras-chave do vocabulário dos alunos - as
chamadas palavras geradoras. Elas devem sugerir situações de
vida comuns e significativas para os integrantes da comunidade
em que se atua como, por exemplo, "tijolo" para os operários da
construção civil.
Diante dos alunos, o professor mostrará lado a lado a palavra e a
representação visual do objeto que ela designa. Os mecanismos
de linguagem serão estudados depois do desdobramento em
sílabas das palavras geradoras. O conjunto das palavras
geradoras deve conter as diferentes possibilidades silábicas e
permitir o estudo de todas as situações que possam ocorrer
durante a leitura e a escrita. "Isso faz com que a pessoa incorpore
as estruturas linguísticas do idioma materno", diz Romão. Embora
a técnica de silabação seja, hoje, vista como ultrapassada, o uso
de palavras geradoras continua sendo adotado com sucesso em
programas de alfabetização em diversos países do mundo.
[...]
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