Questões de Concurso Público Prefeitura de Manaus - AM 2012 para Especialista em Saúde Auditor do SUS, Cirurgião dentista
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Você reconhece quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior. Alguma coisa no rosto. A expressão de quem chegou à terrível conclusão de que Herodes talvez tivesse razão.
- Que respiração ofegante o senhor tem!
- Foi de tanto encher balão.
- Que dificuldade o senhor tem para caminhar!
- Foi de tanto levar canelada tentando apartar briga.
- Como suas mãos estão trêmulas!
- Foi de tanto me controlar para não esgoelar ninguém!
Respeito e consideração para quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior.
O pai e a mãe estão atirados num sofá, um para cada lado. Semiconscientes. Já é noite, mas a festa ainda não acabou. Sobram três crianças que não param de correr pela casa.
- Tenho uma ideia - diz o pai.
- Qual é?
- Vamos mandar eles brincarem no meio da rua. Esta hora tem bastante movimento.
- Não seja malvado. Daqui a pouco eles vão embora.
- Quando? Essas três foram as primeiras a chegar. Acho que os pais deixaram elas aqui e fugiram para o exterior.
Uma menina cruza a sala na corrida. Quando chegou, tinha o vestido mais engomado da festa. Depois de três banhos de guaraná e uma batalha de brigadeiro, parece uma veterana das trincheiras.
- Essa aí é a pior - diz o pai, num sussurro dramático.
- Essa baixinha! É um terror!
- Coitadinha. É a Cândida.
- Cândida?! É uma terrorista!
- Sshhh. - De onde é que saiu essa figura?
- É uma colega do Paulinho.
- E aquele ranhento que não para de comer?
- É o Chico. Também é colega.
- Será que não alimentam ele em casa? E o outro, o que está pulando de cima da mesa?
- É o Paulinho! Você não reconhece o seu próprio filho?
- Ele está coberto de chocolate.
- É que ele teve uma luta de brigadeiros com a Cândida...
- E perdeu, claro. A Cândida é imbatível. Guerra de brigadeiros, jiu-jítsu, vôlei com balão, hipismo com cachorro. Ela foi a única que conseguiu montar no Atlas.
- Por falar nisso, onde é que anda o Atlas?
- Fugiu de casa, lógico. Era o que eu devia ter feito.
- Ora, é só uma vez por ano...
- Você precisava me lembrar? Pensar que daqui a um ano tem outra...
- Você não pode falar. Você também gosta de fazer festa no seu aniversário.
- Mas nós somos finos. Nenhuma festa teve guerra de chocolate. Nos embebedamos como pessoas civilizadas.
- Ah é? E o anão com o trombone?
- Ah, não? A Araci é que sabe dessa história. Só que ela foi embora no mesmo dia. O Chico se aproxima.
- Tem mais cachorro, quente?
- Não, meu filho. Acabou. - Brigadeiro?
- Também acabou, Chico.
- Dá uma lambida na cabeça do Paulinho
- sugere o pai, sob um olhar de reprimenda da mãe. - Puxa, não tem mais nada?
- diz Chico. E se afasta, desconsolado.
- E ainda reclama, o filho da mãe!
- Shhh.
- Bom, você eu não sei, mas eu...
- Você o quê? - Vou tomar meu banho, se é que ainda tenho forças para ligar um chuveiro, e ver televisão na cama.
- E quando chegarem os pais? - Que pais?
- Os pais da Cândida e dos outros, ora.
- O que é que eu tenho com eles?
- Quando eles chegarem, você tem que receber. - Ah, não.
- Ah, sim!
- Mais essa?
Batem na porta. O pai vai abrir, esbravejando sem palavras. É um casal que se identifica como os pais da Cândida.
- Entrem, entrem.
- Entrem, entrem. - Nós só viemos buscar a...
- Não, entrem. A Cândida não vai querer sair agora. Ela é um encanto. Meu bem, os pais da Cândida. Sentem, sentem.
O pai esfrega as mãos, subitamente reanimado.
- Quem sabe uma cervejinha? Querida, vá buscar.
Como Araci se foi, a própria mãe - que se ocupou com a festa desde de manhã cedo, que mal se aguenta em pé, que podia matar o marido - vai buscar a cerveja. Pisando nos embrulhos de doces, nos copos de papelão e nos balões estourados que cobrem o chão e que ela mesma terá que limpar no dia seguinte. Respeito e comiseração para as mães que tiveram festa de criança em casa, no dia seguinte.
Enquanto isso o pai acaba de abrir a porta para os pais do Chico e os manda entrar, entusiasmado com a ideia de começar sua própria festa.
- Querida, mais cerveja!
Luis Fernando Veríssimo. In: comédias da vida privada - 101
crônicas escolhidas. P. 223-225.
Você reconhece quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior. Alguma coisa no rosto. A expressão de quem chegou à terrível conclusão de que Herodes talvez tivesse razão.
- Que respiração ofegante o senhor tem!
- Foi de tanto encher balão.
- Que dificuldade o senhor tem para caminhar!
- Foi de tanto levar canelada tentando apartar briga.
- Como suas mãos estão trêmulas!
- Foi de tanto me controlar para não esgoelar ninguém!
Respeito e consideração para quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior.
O pai e a mãe estão atirados num sofá, um para cada lado. Semiconscientes. Já é noite, mas a festa ainda não acabou. Sobram três crianças que não param de correr pela casa.
- Tenho uma ideia - diz o pai.
- Qual é?
- Vamos mandar eles brincarem no meio da rua. Esta hora tem bastante movimento.
- Não seja malvado. Daqui a pouco eles vão embora.
- Quando? Essas três foram as primeiras a chegar. Acho que os pais deixaram elas aqui e fugiram para o exterior.
Uma menina cruza a sala na corrida. Quando chegou, tinha o vestido mais engomado da festa. Depois de três banhos de guaraná e uma batalha de brigadeiro, parece uma veterana das trincheiras.
- Essa aí é a pior - diz o pai, num sussurro dramático.
- Essa baixinha! É um terror!
- Coitadinha. É a Cândida.
- Cândida?! É uma terrorista!
- Sshhh. - De onde é que saiu essa figura?
- É uma colega do Paulinho.
- E aquele ranhento que não para de comer?
- É o Chico. Também é colega.
- Será que não alimentam ele em casa? E o outro, o que está pulando de cima da mesa?
- É o Paulinho! Você não reconhece o seu próprio filho?
- Ele está coberto de chocolate.
- É que ele teve uma luta de brigadeiros com a Cândida...
- E perdeu, claro. A Cândida é imbatível. Guerra de brigadeiros, jiu-jítsu, vôlei com balão, hipismo com cachorro. Ela foi a única que conseguiu montar no Atlas.
- Por falar nisso, onde é que anda o Atlas?
- Fugiu de casa, lógico. Era o que eu devia ter feito.
- Ora, é só uma vez por ano...
- Você precisava me lembrar? Pensar que daqui a um ano tem outra...
- Você não pode falar. Você também gosta de fazer festa no seu aniversário.
- Mas nós somos finos. Nenhuma festa teve guerra de chocolate. Nos embebedamos como pessoas civilizadas.
- Ah é? E o anão com o trombone?
- Ah, não? A Araci é que sabe dessa história. Só que ela foi embora no mesmo dia. O Chico se aproxima.
- Tem mais cachorro, quente?
- Não, meu filho. Acabou. - Brigadeiro?
- Também acabou, Chico.
- Dá uma lambida na cabeça do Paulinho
- sugere o pai, sob um olhar de reprimenda da mãe. - Puxa, não tem mais nada?
- diz Chico. E se afasta, desconsolado.
- E ainda reclama, o filho da mãe!
- Shhh.
- Bom, você eu não sei, mas eu...
- Você o quê? - Vou tomar meu banho, se é que ainda tenho forças para ligar um chuveiro, e ver televisão na cama.
- E quando chegarem os pais? - Que pais?
- Os pais da Cândida e dos outros, ora.
- O que é que eu tenho com eles?
- Quando eles chegarem, você tem que receber. - Ah, não.
- Ah, sim!
- Mais essa?
Batem na porta. O pai vai abrir, esbravejando sem palavras. É um casal que se identifica como os pais da Cândida.
- Entrem, entrem.
- Entrem, entrem. - Nós só viemos buscar a...
- Não, entrem. A Cândida não vai querer sair agora. Ela é um encanto. Meu bem, os pais da Cândida. Sentem, sentem.
O pai esfrega as mãos, subitamente reanimado.
- Quem sabe uma cervejinha? Querida, vá buscar.
Como Araci se foi, a própria mãe - que se ocupou com a festa desde de manhã cedo, que mal se aguenta em pé, que podia matar o marido - vai buscar a cerveja. Pisando nos embrulhos de doces, nos copos de papelão e nos balões estourados que cobrem o chão e que ela mesma terá que limpar no dia seguinte. Respeito e comiseração para as mães que tiveram festa de criança em casa, no dia seguinte.
Enquanto isso o pai acaba de abrir a porta para os pais do Chico e os manda entrar, entusiasmado com a ideia de começar sua própria festa.
- Querida, mais cerveja!
Luis Fernando Veríssimo. In: comédias da vida privada - 101
crônicas escolhidas. P. 223-225.
Você reconhece quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior. Alguma coisa no rosto. A expressão de quem chegou à terrível conclusão de que Herodes talvez tivesse razão.
- Que respiração ofegante o senhor tem!
- Foi de tanto encher balão.
- Que dificuldade o senhor tem para caminhar!
- Foi de tanto levar canelada tentando apartar briga.
- Como suas mãos estão trêmulas!
- Foi de tanto me controlar para não esgoelar ninguém!
Respeito e consideração para quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior.
O pai e a mãe estão atirados num sofá, um para cada lado. Semiconscientes. Já é noite, mas a festa ainda não acabou. Sobram três crianças que não param de correr pela casa.
- Tenho uma ideia - diz o pai.
- Qual é?
- Vamos mandar eles brincarem no meio da rua. Esta hora tem bastante movimento.
- Não seja malvado. Daqui a pouco eles vão embora.
- Quando? Essas três foram as primeiras a chegar. Acho que os pais deixaram elas aqui e fugiram para o exterior.
Uma menina cruza a sala na corrida. Quando chegou, tinha o vestido mais engomado da festa. Depois de três banhos de guaraná e uma batalha de brigadeiro, parece uma veterana das trincheiras.
- Essa aí é a pior - diz o pai, num sussurro dramático.
- Essa baixinha! É um terror!
- Coitadinha. É a Cândida.
- Cândida?! É uma terrorista!
- Sshhh. - De onde é que saiu essa figura?
- É uma colega do Paulinho.
- E aquele ranhento que não para de comer?
- É o Chico. Também é colega.
- Será que não alimentam ele em casa? E o outro, o que está pulando de cima da mesa?
- É o Paulinho! Você não reconhece o seu próprio filho?
- Ele está coberto de chocolate.
- É que ele teve uma luta de brigadeiros com a Cândida...
- E perdeu, claro. A Cândida é imbatível. Guerra de brigadeiros, jiu-jítsu, vôlei com balão, hipismo com cachorro. Ela foi a única que conseguiu montar no Atlas.
- Por falar nisso, onde é que anda o Atlas?
- Fugiu de casa, lógico. Era o que eu devia ter feito.
- Ora, é só uma vez por ano...
- Você precisava me lembrar? Pensar que daqui a um ano tem outra...
- Você não pode falar. Você também gosta de fazer festa no seu aniversário.
- Mas nós somos finos. Nenhuma festa teve guerra de chocolate. Nos embebedamos como pessoas civilizadas.
- Ah é? E o anão com o trombone?
- Ah, não? A Araci é que sabe dessa história. Só que ela foi embora no mesmo dia. O Chico se aproxima.
- Tem mais cachorro, quente?
- Não, meu filho. Acabou. - Brigadeiro?
- Também acabou, Chico.
- Dá uma lambida na cabeça do Paulinho
- sugere o pai, sob um olhar de reprimenda da mãe. - Puxa, não tem mais nada?
- diz Chico. E se afasta, desconsolado.
- E ainda reclama, o filho da mãe!
- Shhh.
- Bom, você eu não sei, mas eu...
- Você o quê? - Vou tomar meu banho, se é que ainda tenho forças para ligar um chuveiro, e ver televisão na cama.
- E quando chegarem os pais? - Que pais?
- Os pais da Cândida e dos outros, ora.
- O que é que eu tenho com eles?
- Quando eles chegarem, você tem que receber. - Ah, não.
- Ah, sim!
- Mais essa?
Batem na porta. O pai vai abrir, esbravejando sem palavras. É um casal que se identifica como os pais da Cândida.
- Entrem, entrem.
- Entrem, entrem. - Nós só viemos buscar a...
- Não, entrem. A Cândida não vai querer sair agora. Ela é um encanto. Meu bem, os pais da Cândida. Sentem, sentem.
O pai esfrega as mãos, subitamente reanimado.
- Quem sabe uma cervejinha? Querida, vá buscar.
Como Araci se foi, a própria mãe - que se ocupou com a festa desde de manhã cedo, que mal se aguenta em pé, que podia matar o marido - vai buscar a cerveja. Pisando nos embrulhos de doces, nos copos de papelão e nos balões estourados que cobrem o chão e que ela mesma terá que limpar no dia seguinte. Respeito e comiseração para as mães que tiveram festa de criança em casa, no dia seguinte.
Enquanto isso o pai acaba de abrir a porta para os pais do Chico e os manda entrar, entusiasmado com a ideia de começar sua própria festa.
- Querida, mais cerveja!
Luis Fernando Veríssimo. In: comédias da vida privada - 101
crônicas escolhidas. P. 223-225.
“(...) sob um olhar de reprimenda da mãe.”
Você reconhece quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior. Alguma coisa no rosto. A expressão de quem chegou à terrível conclusão de que Herodes talvez tivesse razão.
- Que respiração ofegante o senhor tem!
- Foi de tanto encher balão.
- Que dificuldade o senhor tem para caminhar!
- Foi de tanto levar canelada tentando apartar briga.
- Como suas mãos estão trêmulas!
- Foi de tanto me controlar para não esgoelar ninguém!
Respeito e consideração para quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior.
O pai e a mãe estão atirados num sofá, um para cada lado. Semiconscientes. Já é noite, mas a festa ainda não acabou. Sobram três crianças que não param de correr pela casa.
- Tenho uma ideia - diz o pai.
- Qual é?
- Vamos mandar eles brincarem no meio da rua. Esta hora tem bastante movimento.
- Não seja malvado. Daqui a pouco eles vão embora.
- Quando? Essas três foram as primeiras a chegar. Acho que os pais deixaram elas aqui e fugiram para o exterior.
Uma menina cruza a sala na corrida. Quando chegou, tinha o vestido mais engomado da festa. Depois de três banhos de guaraná e uma batalha de brigadeiro, parece uma veterana das trincheiras.
- Essa aí é a pior - diz o pai, num sussurro dramático.
- Essa baixinha! É um terror!
- Coitadinha. É a Cândida.
- Cândida?! É uma terrorista!
- Sshhh. - De onde é que saiu essa figura?
- É uma colega do Paulinho.
- E aquele ranhento que não para de comer?
- É o Chico. Também é colega.
- Será que não alimentam ele em casa? E o outro, o que está pulando de cima da mesa?
- É o Paulinho! Você não reconhece o seu próprio filho?
- Ele está coberto de chocolate.
- É que ele teve uma luta de brigadeiros com a Cândida...
- E perdeu, claro. A Cândida é imbatível. Guerra de brigadeiros, jiu-jítsu, vôlei com balão, hipismo com cachorro. Ela foi a única que conseguiu montar no Atlas.
- Por falar nisso, onde é que anda o Atlas?
- Fugiu de casa, lógico. Era o que eu devia ter feito.
- Ora, é só uma vez por ano...
- Você precisava me lembrar? Pensar que daqui a um ano tem outra...
- Você não pode falar. Você também gosta de fazer festa no seu aniversário.
- Mas nós somos finos. Nenhuma festa teve guerra de chocolate. Nos embebedamos como pessoas civilizadas.
- Ah é? E o anão com o trombone?
- Ah, não? A Araci é que sabe dessa história. Só que ela foi embora no mesmo dia. O Chico se aproxima.
- Tem mais cachorro, quente?
- Não, meu filho. Acabou. - Brigadeiro?
- Também acabou, Chico.
- Dá uma lambida na cabeça do Paulinho
- sugere o pai, sob um olhar de reprimenda da mãe. - Puxa, não tem mais nada?
- diz Chico. E se afasta, desconsolado.
- E ainda reclama, o filho da mãe!
- Shhh.
- Bom, você eu não sei, mas eu...
- Você o quê? - Vou tomar meu banho, se é que ainda tenho forças para ligar um chuveiro, e ver televisão na cama.
- E quando chegarem os pais? - Que pais?
- Os pais da Cândida e dos outros, ora.
- O que é que eu tenho com eles?
- Quando eles chegarem, você tem que receber. - Ah, não.
- Ah, sim!
- Mais essa?
Batem na porta. O pai vai abrir, esbravejando sem palavras. É um casal que se identifica como os pais da Cândida.
- Entrem, entrem.
- Entrem, entrem. - Nós só viemos buscar a...
- Não, entrem. A Cândida não vai querer sair agora. Ela é um encanto. Meu bem, os pais da Cândida. Sentem, sentem.
O pai esfrega as mãos, subitamente reanimado.
- Quem sabe uma cervejinha? Querida, vá buscar.
Como Araci se foi, a própria mãe - que se ocupou com a festa desde de manhã cedo, que mal se aguenta em pé, que podia matar o marido - vai buscar a cerveja. Pisando nos embrulhos de doces, nos copos de papelão e nos balões estourados que cobrem o chão e que ela mesma terá que limpar no dia seguinte. Respeito e comiseração para as mães que tiveram festa de criança em casa, no dia seguinte.
Enquanto isso o pai acaba de abrir a porta para os pais do Chico e os manda entrar, entusiasmado com a ideia de começar sua própria festa.
- Querida, mais cerveja!
Luis Fernando Veríssimo. In: comédias da vida privada - 101
crônicas escolhidas. P. 223-225.
Você reconhece quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior. Alguma coisa no rosto. A expressão de quem chegou à terrível conclusão de que Herodes talvez tivesse razão.
- Que respiração ofegante o senhor tem!
- Foi de tanto encher balão.
- Que dificuldade o senhor tem para caminhar!
- Foi de tanto levar canelada tentando apartar briga.
- Como suas mãos estão trêmulas!
- Foi de tanto me controlar para não esgoelar ninguém!
Respeito e consideração para quem teve uma festa de criança em casa no dia anterior.
O pai e a mãe estão atirados num sofá, um para cada lado. Semiconscientes. Já é noite, mas a festa ainda não acabou. Sobram três crianças que não param de correr pela casa.
- Tenho uma ideia - diz o pai.
- Qual é?
- Vamos mandar eles brincarem no meio da rua. Esta hora tem bastante movimento.
- Não seja malvado. Daqui a pouco eles vão embora.
- Quando? Essas três foram as primeiras a chegar. Acho que os pais deixaram elas aqui e fugiram para o exterior.
Uma menina cruza a sala na corrida. Quando chegou, tinha o vestido mais engomado da festa. Depois de três banhos de guaraná e uma batalha de brigadeiro, parece uma veterana das trincheiras.
- Essa aí é a pior - diz o pai, num sussurro dramático.
- Essa baixinha! É um terror!
- Coitadinha. É a Cândida.
- Cândida?! É uma terrorista!
- Sshhh. - De onde é que saiu essa figura?
- É uma colega do Paulinho.
- E aquele ranhento que não para de comer?
- É o Chico. Também é colega.
- Será que não alimentam ele em casa? E o outro, o que está pulando de cima da mesa?
- É o Paulinho! Você não reconhece o seu próprio filho?
- Ele está coberto de chocolate.
- É que ele teve uma luta de brigadeiros com a Cândida...
- E perdeu, claro. A Cândida é imbatível. Guerra de brigadeiros, jiu-jítsu, vôlei com balão, hipismo com cachorro. Ela foi a única que conseguiu montar no Atlas.
- Por falar nisso, onde é que anda o Atlas?
- Fugiu de casa, lógico. Era o que eu devia ter feito.
- Ora, é só uma vez por ano...
- Você precisava me lembrar? Pensar que daqui a um ano tem outra...
- Você não pode falar. Você também gosta de fazer festa no seu aniversário.
- Mas nós somos finos. Nenhuma festa teve guerra de chocolate. Nos embebedamos como pessoas civilizadas.
- Ah é? E o anão com o trombone?
- Ah, não? A Araci é que sabe dessa história. Só que ela foi embora no mesmo dia. O Chico se aproxima.
- Tem mais cachorro, quente?
- Não, meu filho. Acabou. - Brigadeiro?
- Também acabou, Chico.
- Dá uma lambida na cabeça do Paulinho
- sugere o pai, sob um olhar de reprimenda da mãe. - Puxa, não tem mais nada?
- diz Chico. E se afasta, desconsolado.
- E ainda reclama, o filho da mãe!
- Shhh.
- Bom, você eu não sei, mas eu...
- Você o quê? - Vou tomar meu banho, se é que ainda tenho forças para ligar um chuveiro, e ver televisão na cama.
- E quando chegarem os pais? - Que pais?
- Os pais da Cândida e dos outros, ora.
- O que é que eu tenho com eles?
- Quando eles chegarem, você tem que receber. - Ah, não.
- Ah, sim!
- Mais essa?
Batem na porta. O pai vai abrir, esbravejando sem palavras. É um casal que se identifica como os pais da Cândida.
- Entrem, entrem.
- Entrem, entrem. - Nós só viemos buscar a...
- Não, entrem. A Cândida não vai querer sair agora. Ela é um encanto. Meu bem, os pais da Cândida. Sentem, sentem.
O pai esfrega as mãos, subitamente reanimado.
- Quem sabe uma cervejinha? Querida, vá buscar.
Como Araci se foi, a própria mãe - que se ocupou com a festa desde de manhã cedo, que mal se aguenta em pé, que podia matar o marido - vai buscar a cerveja. Pisando nos embrulhos de doces, nos copos de papelão e nos balões estourados que cobrem o chão e que ela mesma terá que limpar no dia seguinte. Respeito e comiseração para as mães que tiveram festa de criança em casa, no dia seguinte.
Enquanto isso o pai acaba de abrir a porta para os pais do Chico e os manda entrar, entusiasmado com a ideia de começar sua própria festa.
- Querida, mais cerveja!
Luis Fernando Veríssimo. In: comédias da vida privada - 101
crônicas escolhidas. P. 223-225.
“Já é noite, mas a festa ainda não acabou."
I. Quando ele __________ os quadros, nós iremos à galeria.
II. Se eles se __________, o filho não estaria com tantos problemas na escola.
III. Vou estudar para que eu não __________ de ajuda.
Tenho confiança em você.
Assinale a alternativa cujo termo destacado não exerce a mesma função sintática que “em você”.
Depois de muito sofrimento, ele finalmente descansou.
Assinale a alternativa que apresenta a mesma figura de linguagem da oração acima.
Agora __ pouco, eu __ vi __ esquerda daquela esquina.