Questões de Concurso Público Prefeitura de Milagres - CE 2018 para Professor de Português

Foram encontradas 28 questões

Q1752938 Português
TEXTO I
Trem - Bala
Ana Carolina Vilela

Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si
É sobre saber que em algum lugar alguém zela
por ti
É sobre cantar e poder escutar mais do que a
própria voz
É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre
nós

É saber se sentir infinito
Num universo tão vasto e bonito é saber sonhar
Então, fazer valer a pena cada verso
Daquele poema sobre acreditar

Não é sobre chegar no topo do mundo e saber
que venceu
É sobre escalar e sentir que o caminho te
fortaleceu
É sobre ser abrigo e também ter morada em
outros corações
E assim ter amigos contigo em todas as situações

A gente não pode ter tudo
Qual seria a graça do mundo se fosse assim?
Por isso, eu prefiro sorrisos
E os presentes que a vida trouxe pra perto de mim

Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de
comprar
E sim sobre cada momento sorriso a se
compartilhar
Também não é sobre correr contra o tempo pra ter
sempre mais
Porque quando menos se espera a vida já ficou
pra trás
Segura teu filho no colo
Sorria e abrace teus pais enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir

Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá

Segura teu filho no colo
Sorria e abrace teus pais enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir
(Concurso Milagres/2018) A estrofe que melhor justifica o título é:
Alternativas
Q1752940 Português
(Concurso Milagres/2018) Estabelecendo uma relação entre o texto Trem Bala e a Tirinha do Texto II, podemos inferir que:
Alternativas
Q1752941 Português
(Concurso Milagres/2018) Marque a opção em que a passagem bíblica estabelece o diálogo com os textos I e II:
Alternativas
Ano: 2018 Banca: CEV-URCA Órgão: Prefeitura de Milagres - CE Provas: CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor de Matemática | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Advogado | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Assistente Social | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Dentista | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Enfermeiro | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Fonoaudiólogo | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Educador Físico | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Engenheiro Civil | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Auditor de Controle Interno | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor de Educação Especial | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor Polivalente | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor de Geografia | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor de Biologia | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor de Espanhol | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor de Inglês | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor de Português | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor de História | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Professor de Educação Física | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Médico | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Procurador Jurídico | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Biólogo | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Fisioterapeuta | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Psicologia | CEV-URCA - 2018 - Prefeitura de Milagres - CE - Médico Veterinário |
Q1788584 Português

TEXTO I


Trem - Bala

Ana Carolina Vilela


Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si

É sobre saber que em algum lugar alguém zela

por ti

É sobre cantar e poder escutar mais do que a

própria voz

É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre

nós


É saber se sentir infinito

Num universo tão vasto e bonito é saber sonhar

Então, fazer valer a pena cada verso

Daquele poema sobre acreditar


Não é sobre chegar no topo do mundo e saber

que venceu

É sobre escalar e sentir que o caminho te

fortaleceu

É sobre ser abrigo e também ter morada em

outros corações

E assim ter amigos contigo em todas as situações


A gente não pode ter tudo

Qual seria a graça do mundo se fosse assim?

Por isso, eu prefiro sorrisos

E os presentes que a vida trouxe pra perto de mim


Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de

comprar

E sim sobre cada momento sorriso a se

compartilhar

Também não é sobre correr contra o tempo pra ter

sempre mais

Porque quando menos se espera a vida já ficou

pra trás

Segura teu filho no colo

Sorria e abrace teus pais enquanto estão aqui

Que a vida é trem-bala, parceiro

E a gente é só passageiro prestes a partir 


Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá

Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá


Segura teu filho no colo

Sorria e abrace teus pais enquanto estão aqui

Que a vida é trem-bala, parceiro

E a gente é só passageiro prestes a partir

Em uma leitura geral do texto, podemos inferir que:


I - Trata-se de uma temática universal e atemporal inerente ao ser – o existencialismo humano frente à fugacidade da vida.

II – Contraditório a tudo que representa o homem contemporâneo, o texto traça o caminho percorrido no mundo capitalista e realça o verdadeiro sentido da vida.

III – Reflete a cosmovisão individual de sua compositora e transformou-se em um grande sucesso devido, entre outras coisas, à melodia intimista e simples.

Alternativas
Q1798717 Português
TEXTO I

Ler pouco
Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) Sobre as informações contidas no texto:
I – Místico de relato de experiência com reflexões filosóficas, o texto fala dos processos de maturidade e preferências humanas; II – Utilizando recursos metonímicos, o texto acompanha todo o processo de evolução do ser humano, perpassando da avidez da juventude às limitações e seletividade da fase adulta; III – Apresenta profundo conhecimento de várias áreas do saber e utiliza-se da intertextualidade literal para fundamentar e justificar os argumentos.
Alternativas
Q1798718 Português
TEXTO I

Ler pouco
Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) Para o autor, a infância é:
Alternativas
Q1798719 Português
TEXTO I

Ler pouco
Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) À luz das ideias expostas do texto, o conhecimento instituído é:
Alternativas
Q1798720 Português
TEXTO I

Ler pouco
Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) Na expressão: “Cada vez que os abrimos é um encantamento novo!” O termo em destaque é classificado sintaticamente como:
Alternativas
Q1798721 Português
TEXTO I

Ler pouco
Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) “Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação.” A regra que justifica a colocação pronominal neste trecho é a mesma em: 
Alternativas
Q1798722 Português
TEXTO I

Ler pouco
Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) Observe o excerto: “Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: Tenho necessidade imediata desse livro?” O termo em destaque funciona como elemento:
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Q1798723 Português
TEXTO I

Ler pouco
Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) “Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros...” o termo em destaque é compreendido como:
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Q1798724 Português
TEXTO I

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   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) “Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu “maturidade”,  essa qualidade tão valorizada [...]” O fragmento destacado é classificado sintaticamente como um(a):
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Q1798725 Português
TEXTO I

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Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) “Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…” O termo em destaque é classificado:
Alternativas
Q1798726 Português
TEXTO I

Ler pouco
Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) Os textos I e II estabelecem diálogo, este se estreita no:
Alternativas
Q1798727 Português
TEXTO I

Ler pouco
Rubem Alves

   Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: ― Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?‖ E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
   Notei, à medida que envelhecia uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
   Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: ''Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…''E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu ''maturidade'', essa qualidade tão valorizada, como '' um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…'' Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: ''Nos Estados Unidos há casas de dez andares.'' E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
   O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: ''Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?'' Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: ''Você me ama?'' (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim…). ''Vou querer ler você de novo?'' Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
   Essa coisa de ''amor universal aos livros'' fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que ''a palavra grega que designa o ''sábio'' se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…'' E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: ''Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suína.''
   O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser ''sim'' ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
   Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: ''No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?'' A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: ''Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…'' Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…

TEXTO II

(Concurso Milagres/2018) Dada o excerto, classifique a oração em destaque: “Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo.
Alternativas
Q1798728 Português

Texto 

Construção

Chico Buarque de Holanda

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido


Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima


Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um

príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música


E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego


Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um
príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o
máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o
próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um
pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.

(Concurso Milagres/2018) Sobre o texto, é correto afirmar:


I - O texto prima pelo ritmo que é um elemento essencial na poesia, neste em específico, o ritmo é mais importante por se tratar de uma canção, onde a letra e a melodia se unem.

II - O tema da canção é o cotidiano de um trabalhador na construção civil. A forma que os versos são cadenciados nos dá a ideia de uma construção, de um movimento que começa, abranda e volta.

III - As dezessete proparoxítonas formam o alicerce musical da letra. São substantivos e adjetivos que sustentam as ações que se passam na canção. Essas ações são o percurso do operário da construção civil.

Alternativas
Q1798729 Português

Texto 

Construção

Chico Buarque de Holanda

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido


Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima


Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um

príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música


E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego


Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um
príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o
máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o
próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um
pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.
(Concurso Milagres/2018) Embora o texto seja um todo, ele é formado por partes. No caso desse, cada estrofe ocasiona uma leitura que vai confluir na ideia geral do texto. Observando cada estrofe podemos dizer que: I – A primeira e a quinta estrofes falam da saída para o trabalho, momento em que personagem despede-se da família; II – A segunda e a sexta estrofes são iguais e apresentam o dia do trabalhador da construção civil. Trabalho que é enfatizado pelo título do texto; III – A última estrofe serve apenas para retomar o que foi dito, é uma espécie de  refrão do texto que não acresce nenhuma carga semântica; IV – A terceira e a sétima estrofes refletem o repouso do trabalhador para confluir em um final trágico nas estrofes seguintes.
Alternativas
Q1798730 Português

Texto 

Construção

Chico Buarque de Holanda

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido


Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima


Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um

príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música


E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego


Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um
príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o
máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o
próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um
pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.
(Concurso Milagres/2018) O texto Construção se caracteriza pela repetição de palavras, tal recurso gera um efeito de:
Alternativas
Q1798731 Português

Texto 

Construção

Chico Buarque de Holanda

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido


Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima


Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um

príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música


E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego


Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um
príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o
máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o
próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um
pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.
(Concurso Milagres/2018) Observe o verso: “Morreu na contramão atrapalhando o público.” O processo de formação da palavra em destaque é:
Alternativas
Respostas
1: E
2: B
3: B
4: D
5: A
6: A
7: C
8: D
9: B
10: D
11: B
12: E
13: B
14: A
15: B
16: A
17: D
18: C
19: E
20: B