Relatório da ONU comprova que os esforços para recuperar a
cobertura atmosférica da Terra vêm finalmente dando
resultado. Isso, claro, se não tirarmos o pé
Por Guilherme Eler
9 nov 2018, 12h46
A importância dela para a existência humana é algo
que você escuta desde as aulas de ciências: sem a proteção
da camada de ozônio, uma película de gases que envolve a
Terra a 18 km de altura, a vida que levamos hoje
simplesmente não seria possível. Se essa barreira invisível
sumisse, abrindo passagem para todo raio ultravioleta
ultrapassar a atmosfera, um simples banho de sol de cinco
minutos já seria suficiente para tostar nossa pele – algo que
ameaçaria animais, tornaria o solo infértil e extinguiria
variedades inteiras de plantas, por tabela.
O famigerado “buraco”, que a cada dia diminuía a
proteção de ozônio do planeta, tornou-se uma preocupação
ambiental tão grave quanto o aumento da temperatura dos
oceanos. Em 1974, com uma descoberta que arremataria o
Nobel de Química anos mais tarde, os gases CFC
(clorofluorcarbonetos) assumiram o posto de grandes vilões a
serem combatidos. Eliminados para o ar com o borrifo de
aerossóis ou pelo funcionamento de ar-condicionados e
geladeiras, tais gases eram nocivos à proteção natural da
atmosfera. Isso porque os átomos de cloro, presentes nos
CFCs, quando em contato com o ozônio (O3) quebram suas
moléculas.
Estava dado o ultimato. Se não quiséssemos virar
camarões já a partir das décadas seguintes, tínhamos de
frear a utilização de gases do tipo. O chamado Acordo de
Montreal, assinado em 24 países em 1987, foi a primeira
grande medida que limitou a aplicação dos CFCs. Isso fez a
indústria de eletrodomésticos passar a pesquisar alternativas.
Em 2010, o uso de químicos do tipo acabou completamente
banido – com exceção da China, outro poluidor de peso.
E foi importante que tenha acontecido exatamente
assim. Se o tratado climático não tivesse vingado, o rombo na
película protetora poderia ser de 40% até 2013, projetavam
os cientistas em um levantamento feito há três anos.
Na linha do que sinalizou uma pesquisa publicada
na revista científica Nature em 2016, um relatório elaborado
pela ONU (Organização das Nações Unidas) afirma que a
camada de ozônio está se recuperando e já não corre tanto
risco.
Agora, dá até para fazer projeções mais otimistas: os
dados estimam que, se não tirarmos o pé das medidas que já
vêm dando certo, podemos recuperar por completo a camada
de ozônio até a década de 2060. Em certas áreas, como as
polares, é possível que a recuperação aconteça até antes.
Acredita-se que zonas como o Ártico e latitudes médias
possam chegar lá ainda em 2030.
Algo que pode jogar água no chope, contudo, é o
aumento da emissão de gases de efeito estufa. Como aponta
o relatório, tal fator pode alterar a circulação de massas de ar
atmosféricas, e causar uma distribuição desigual do ozônio.
Com o aquecimento global, é possível que haja menor
concentração de ozônio em regiões tropicais (o que inclui o
Brasil), no Ártico e nas áreas de latitudes médias – onde a
camada de ozônio já é menos densa.
Alegria de terráqueo costuma mesmo durar pouco. O
que, no caso, pode até ser um bom sinal. Pelo menos assim, não relaxamos com o ambiente – e jogamos pela janela o que
demorou algumas décadas para começarmos a consertar.
(Disponível em: <https://super.abril.com.br/ciencia/camada-de-ozonio-podese-recuperar-por-completo-ate-2060/>. Adaptado.)