Leia o texto a seguir, de modo a responder à questão
MUDANÇA DE ROTA
Biden assina decretos e encaminha projeto de lei para reverter a danosa e cruel política de imigração de Trump. Mas a abertura de
fronteiras não virá tão cedo. CAIO SAAD E AMAND PÉCHY
[...] Cumprindo promessas de campanha, Biden, com suas canetadas, criou uma força-tarefa para encontrar os pais de crianças
separadas deles à força na fronteira, uma das heranças mais cruéis da era Trump. Também ordenou uma revisão geral das normas
impostas pelo governo anterior para restringir os pedidos de asilo e, por fim, determinou uma ampla reformulação dos requisitos legais
para a imigração, que, nos últimos quatro anos, foram torcidos para torná-la o mais difícil possível. [...]
A proposta realmente abrangente do novo governo em relação à imigração está contida na chamada Lei de Cidadania dos
Estados Unidos, um calhamaço já enviado ao Congresso com a intenção de “restaurar a humanidade e os valores americanos no nosso
sistema”. O projeto de lei tem como ponto principal o chamado “caminho para a cidadania”, que permite que os quase 11 milhões de
imigrantes sem documento que chegaram antes do 1º de janeiro de 2021 solicitem autorização legal temporária para permanecer no
país. Em cinco anos, cumprindo requisitos como verificação de antecedentes, essas pessoas se tornariam elegíveis para o visto de
residência, o green card; mais três anos e poderiam ter cidadania plena. Aos 2,1 milhões de dreamers – aqueles que imigraram ainda
crianças e não conhecem outra vida – é dado o direito de solicitar o green card imediatamente. [...]
Direitos e respeito foram dois conceitos amplamente ignorados pelo governo Trump, que implantou mais de 400 ações
destinadas a restringir a permanência de estrangeiros no país. Por mais que favoreça mudanças, no entanto, nada vai ser alterado
imediatamente no governo Biden. [...] A agilização dos pedidos de asilo, que afeta a multidão de esperançosos amontoados em
acampamentos do lado mexicano da fronteira, depende de medidas sanitárias contra a Covid-19 e de um plano para acomodar recémchegados em grande escala – ou seja, não é para já. [...]
Segundo estudo da Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina, a presença de estrangeiros economicamente
ativos nos Estados Unidos é cada vez mais imprescindível. Entre 2010 e 2020, o país teve o crescimento populacional mais lento de sua
história. Ao mesmo tempo, os baby boomers envelheceram, elevando gastos com a previdência social e programas de saúde. “O país
vai precisar de mais adultos em idade produtiva para pagar por isso, e a renovação ficará por conta dos imigrantes”, aponta Nancy
Foner, socióloga da City University of New York. Será a ironia das ironias: uma força de trabalho não branca pagando os impostos que
sustentarão os americanos da gema. (Veja, 10/02/21)