A AMEAÇA DOS ULTRAPROCESSADOS
Eles já correspondem a um quarto das calorias que comemos. Estão relacionados a diversas doenças, como ansiedade, depressão e 25
tipos de câncer. E matam 57 mil pessoas por ano só no Brasil. Entenda como a indústria alimentícia manipula nosso paladar e nos vicia
em produtos nocivos.
Por Tiago Cordeiro e Bruno Garattoni
Atualizado em 28 de maio de 2024, às 19h27. Publicado em 17 de maio de 2024, às 10h00
Qual foi a última coisa que você comeu? Há boas chances de que tenha sido algo ultraprocessado – ou seja, que é o resultado
de uma sequência de técnicas industriais, com a adição de ingredientes artificiais, substâncias que modificam o sabor e processos que
alteram as propriedades físicas e químicas do alimento.
Os ultraprocessados já correspondem a 25% de todas as calorias consumidas no Brasil, de acordo com um estudo do Núcleo
de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP.
É bastante coisa, e está aumentando: há apenas seis anos, 19,6% das calorias que ingerimos vinham dos ultraprocessados. Em
outros países, o cenário é ainda mais impressionante: nos EUA, 55,5% das calorias consumidas pela população vêm de
ultraprocessados; na Inglaterra, são 56,8% e no Canadá, 48%.
Os ultraprocessados conquistaram o mundo porque custam pouco e, embora não sejam exatamente deliciosos, costumam ter
altos níveis de sal, açúcar e gordura, três ingredientes extremamente atraentes para o paladar humano. Mas eles também têm outro lado:
podem estar relacionados a uma série de doenças.
O consumo de ultraprocessados está associado a maior risco de 25 tipos de câncer, como descreveu um levantamento que
acompanhou 521 mil pessoas, de 10 países europeus, ao longo de uma década.
Esse (mau) hábito alimentar também está relacionado a depressão, ansiedade e declínio cognitivo, como apontou um relatório
produzido pela ONG americana Sapien Labs.
Ao avaliar a rotina alimentar e o estado de saúde de quase 300 mil pessoas em 70 países, ela concluiu que 53% das pessoas que
se alimentam de ultraprocessados várias vezes ao dia relatam sofrer de problemas relacionados à saúde mental – contra 18% dos
entrevistados que raramente procuram por esse tipo de comida.
Os danos são generalizados. “No geral, foram encontradas associações diretas entre a exposição a alimentos ultraprocessados
e 32 parâmetros de saúde que abrangem mortalidade, câncer e resultados de saúde mental, respiratório, cardiovascular, gastrointestinal
e metabólico”, resumem especialistas de diversas instituições importantes, incluindo a Universidade Johns Hopkins, a Universidade
de Sydney, e a Universidade de Sorbonne, em um trabalho que avaliou 45 outros estudos sobre alimentos ultraprocessados,
envolvendo 9,9 milhões de pessoas ao todo.
Essa análise apontou que a maior ingestão de ultraprocessados está associada a um aumento de 50% no risco de morte por
doenças cardiovasculares, de 48% a 53% mais risco de desenvolver transtornos mentais, e 12% mais probabilidade de sofrer diabetes
tipo 2.
Tem mais. Os ultraprocessados causam 57 mil mortes prematuras por ano no Brasil, como estima um estudo elaborado por
pesquisadores das USP, da Fiocruz, da Unifesp e da Universidade de Santiago (Chile).
É isso mesmo. Eles matam mais gente, a cada ano, do que os acidentes de trânsito (que vitimam em torno de 30 mil pessoas),
ou os homicídios (39.500 mortes no ano passado).
[...]
Disponível em: https://super.abril.com.br/saude/a-ameaca-dos-ultraprocessados/. Acesso em: 11 jun. 2024.