Gal, Gracinha, Tropical, Fatal
O canto de Gal esteve por toda parte desde os anos 60,
escutá-la nos faz acreditar no que é lindo
Pedro Duarte
Imensa, Gal nos deixa muito. Nelson Motta chamou a
atenção para como, já no começo de sua trajetória, havia a voz
de veludo e a voz de cristal, com afinação impressionante, mas
também a voz de labaredas. No disco de estreia, Domingo, de
1967, junto com Caetano, a voz de veludo vinha da Bossa Nova.
“João bateu em mim como um destino”, ela dizia. Na
participação no Tropicalismo, como em “Mamãe coragem”, era
a voz cristalina, lírica. E depois aparece a voz de labaredas em
“Divino maravilhoso”. Era novembro de 1968, em um festival da
canção televisionado. Gal subiu ao palco, e a garota tímida que
era não subiu junto. Os arranjos de Gil, a extravagância na
roupa e um cabelo black power ressaltavam os agudos e berros.
Ruído na música. Expansiva, desafiadora e dionisíaca, Gal se
impôs ao público dividido entre aplausos e vaias. Ela conta que
aprendeu a defender o que fazia, olhando direto e firme para
quem a atacava. “É preciso estar atento e forte, não temos
tempo de temer a morte”, canta o refrão que pede atenção: tudo
é divino e maravilhoso, tudo é perigoso. Gracinha, Maria das
Graças, como foi conhecida no início, mudava. Seu nome agora
seria Gal. Ela devorou antropofagicamente o rock e Janis Joplin.
Depois que Caetano e Gil foram presos e exilados, Gal ficou no
Brasil e se tornou uma representante dessa geração.
Disponível em:<https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/musica/gal-
gracinha-tropical-fatal>. Acesso em: 14 nov. 2023.