Texto 2
A variação linguística é uma realidade que, embora
razoavelmente bem estudada pela sociolinguística, pela
dialetologia e pela linguística histórica, provoca, em geral,
reações sociais muito negativas. O senso comum tem escassa
percepção de que a língua é um fenômeno heterogêneo que
alberga grande variação e está em mudança contínua. Por isso,
costuma folclorizar a variação regional, demoniza a variação
social e tende a interpretar as mudanças como sinais de
deterioração da língua.
O senso comum não se dá bem com a variação linguística e
chega, muitas vezes, a explosões de ira e a gestos de grande
violência simbólica diante de fatos de variação. Boa parte de
uma educação de qualidade tem a ver precisamente com o
ensino de língua – um ensino que garanta o domínio das
práticas socioculturais de leitura, da escrita e da fala nos
espaços públicos.
E esse domínio inclui o das variedades linguísticas
historicamente identificadas como as mais próprias a essas
práticas – isto é, as variedades escritas e faladas que devem
ser identificadas como constitutivas da chamada norma culta.
Isso pressupõe, inclusive, uma ampla discussão sobre o próprio
conceito de norma culta e suas efetivas características no Brasil
contemporâneo.
ZILLES, A. M; FARACO, C. A. Apresentação. In: ZILLES, A. M; FARACO, C.
A. (org.). Pedagogia da variação linguística: língua, diversidade e ensino.
São Paulo: Parábola, 2015. [Adaptado].