Como Surgiram os Homens
Existem várias lendas entre os índios sobre como
os homens surgiram na Terra. Uma delas é esta:
A selva era deserta. Nem uma aldeia, nem uma rede
pendurada, nem uma fogueira, nem uma cabana, nem
famílias, nem roçado. O dia nascia, mas só iluminava
o vazio. Só dava luz à solidão. Os pássaros voavam e só
pousavam nos galhos das árvores. Nem um telhado, nem
uma palha trançada. Os peixes nadavam nos rios sem uma
canoa como companhia. Até que surgiu o primeiro dos
homens. Era jovem e belo e corria livre pela mata. Era
amigo das matas e dos animais. Caçava só para comer,
nadava com os peixes do rio, dormia com os macacos,
sonhava com os pássaros. Tinha tudo para ser feliz.
Mas o índio começou a ficar triste. Sentia-se
sozinho. Via que os animais tinham companheiros e ele
vivia numa grande solidão. Ele queria ter uma companheira
e seres iguais a ele para conversar. Um dia, o rapaz foi
conversar com sua amiga onça e contou sua tristeza:
- Queria tanto uma companheira. Queria muito
correr, conversar e brincar com outros parecidos comigo.
A onça ouviu em silêncio o lamento do amigo.
Pensou bastante e resolveu contar o segredo de como o
índio poderia ter seus companheiros. A onça disse com
cuidado nos ouvidos do nosso herói o grande segredo. O
segredo da criação dos homens. O índio ficou feliz com a
descoberta e logo começou a trabalhar como a onça
ensinou. Foi até a mata e cortou árvores fazendo grossas
toras. Pegou um grande pilão e socou as toras nele. Depois
passou pimenta, fincou as toras num descampado e esperou
a noite chegar.
Quando anoiteceu, fez uma fogueira ao redor de
cada uma das toras. Mas nada aconteceu. Ninguém
apareceu. E nosso herói chorou muito. Mesmo assim, ele
não desistiu. Talvez tivesse errado no tipo de árvore que
cortou. Voltou para a floresta e cortou toras de outra árvore.
E fez tudo como na primeira vez: socou as toras no pilão,
passou pimenta e as fincou todas no descampado. Quando
anoiteceu, acendeu uma fogueira em volta de cada tora.
Novamente, a madeira não se transformou em gente. E o
herói mais uma vez chorou. Foi um choro tão sofrido, tão
grande, que o coitado adormeceu ali mesmo. No meio do
descampado, as toras continuavam fincadas no chão.
Quando o Sol foi nascendo devagar e acertando
seus raios em cada uma das toras, elas se transformaram.
Uma a uma foram virando gente. Com o calor do Sol, os
índios despertaram e viveram. Eram tão belos e jovens que todos os animais fizeram uma festa para homenageá-los. E
nosso herói viu com alegria o surgimento dos índios. Ele
trocou olhares com uma bela índia e os dois se
apaixonaram. Logo toda a terra estava povoada.
E até hoje, no Alto Xingu, os índios dançam
comemorando esse dia.
Disponível em: https://www.saobernardo.sp.gov.br. Acesso em
05/04/2024.