Questões de Concurso Público Prefeitura de Princesa Isabel - PB 2024 para Enfermeiro

Foram encontradas 40 questões

Q3065199 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

As declarações adiante se reportam aos aspectos semânticos estabelecidos entre o título do texto e o texto, propriamente, no entanto uma delas está INCORRETA. Assinale-a:
Alternativas
Q3065200 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Considerando o texto em sua totalidade, podemos afirmar que ele, predominantemente, é:
Alternativas
Q3065201 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Dadas as assertivas:

I. Uma língua é dinâmica e, com o passar do tempo, pode apresentar evoluções e mudanças. II. Os falantes de uma língua, que já se acostumaram com sua natureza mutável, nunca se surpreendem com as transformações que nela ocorrem. III. As mudanças operadas em uma língua, resultantes de sua dinamicidade, a tornam menor, irreversivelmente, como código de linguagem.

Está(Estão) correta(s) a(s) seguinte(s) assertiva(s): 
Alternativas
Q3065202 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

As afirmações adiante se referem ao conteúdo do texto, mas pode ser que uma ou outra (ou algumas) não esteja(m) em consonância com ele. Coloque V para Verdadeiro e F para Falso e, em seguida, indique a sequência CORRETA:

( ) O tempo vai deixando as suas marcas nas formas da língua. ( ) A linguística registra algumas línguas que preservaram sua originalidade, e mantiveram-se imunes ao tempo. ( ) Quando afirmamos que uma nova forma “foi para o Houaiss”, queremos dizer que essa nova forma foi dicionarizada. ( ) As pessoas nem sempre conseguem perceber os movimentos de mudança que acontecem em uma língua.
Alternativas
Q3065203 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Marque a opção CORRETA, de acordo com o texto:
Alternativas
Q3065204 Português

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As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Releia e responda: “Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss.” Quando uma forma da língua “vai para o Houaiss” significa que essa forma se tornou dicionarizada, passou a integrar o repertório vocabular de um determinado idioma. Um dicionário tem a peculiaridade de apresentar diversas palavras cujos significados são explicados por outras palavras; ou seja, o código linguístico é usado para explicar o mesmo código linguístico. Quando isso ocorre, que função da linguagem é predominante?
Alternativas
Q3065205 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Esse texto é uma crônica escrita por alguém, o cronista, que a utiliza para produzir e transmitir o conteúdo de uma mensagem. Estamos diante de um exemplo de processo de comunicação, que é composto por alguns elementos. No caso específico dessa crônica, aponte o elemento da comunicação que figura como receptor da mensagem:
Alternativas
Q3065206 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Releia e responda: “E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou sub-repticiamente em pagar a conta no cartão de crédito” Dê a classe gramatical do termo sublinhado:
Alternativas
Q3065207 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Releia e responda: “... quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele.” De acordo com as normas gramaticais relativas ao processo de formação de palavras, identifique o tipo de processo que se aplica ao termo destacado:
Alternativas
Q3065208 Português
A passagem abaixo servirá de base para a próxima questão:

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra.” 
Dê a classe gramatical de visíveis:
Alternativas
Q3065209 Português
A passagem abaixo servirá de base para a próxima questão:

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra.” 
Dê a função sintática de “A língua”:
Alternativas
Q3065210 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Releia e responda: “um vendedor de rua oferecia “dolé”. Qual a função sintática exercida pela palavra grifada?
Alternativas
Q3065211 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Releia e responda: “E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo.” Do ponto de vista semântico, as duas expressões sublinhadas mantêm entre si uma relação de:
Alternativas
Q3065212 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Releia e responda: “Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua.” O conectivo destacado, entre a construção que introduz e a que o antecede, estabelece uma relação de:
Alternativas
Q3065213 Português

Leia o texto adiante e, em seguida, responda:


As palavras e o tempo

(Cristovão Tezza) 



Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.

A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.

Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.

20/09/2011

TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.

Releia e responda: “O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas,...” Classifique o período dessa construção:
Alternativas
Q3065344 Enfermagem
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) têm como principal objetivo oferecer cuidado integral à saúde mental da comunidade, atuando como serviços substitutivos à internação hospitalar. Considerando as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), qual das alternativas abaixo melhor descreve a função dos CAPS no tratamento de pessoas com transtornos mentais severos e persistentes?
Alternativas
Q3065345 Enfermagem
O modelo de atenção psicossocial implementado pelos CAPS visa a abordagem humanizada e integral dos pacientes com transtornos mentais, incentivando o protagonismo do usuário no processo de recuperação. Qual das alternativas a seguir melhor representa a importância da articulação dos CAPS com outros serviços da rede de saúde e assistência social?
Alternativas
Q3065346 Enfermagem
A diabetes mellitus tipo 2 é uma das doenças crônicas mais prevalentes em idosos e está associada a várias complicações. Entre os principais cuidados no manejo de um paciente idoso com diabetes, qual das alternativas abaixo é a mais adequada para evitar complicações e melhorar a qualidade de vida do paciente? 
Alternativas
Q3065347 Enfermagem
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é outra doença crônica comum em idosos. Sabemos que o controle da pressão arterial é fundamental para prevenir complicações como AVC e insuficiência cardíaca. Qual medida não faz parte das recomendações gerais para o controle da hipertensão em idosos?
Alternativas
Q3065348 Enfermagem
As doenças cardiovasculares, como insuficiência cardíaca e infarto agudo do miocárdio, são grandes responsáveis pela morbidade e mortalidade em idosos. Qual dos fatores abaixo NÃO está relacionado diretamente com o aumento do risco de doenças cardiovasculares na terceira idade?
Alternativas
Respostas
1: C
2: D
3: C
4: A
5: E
6: A
7: E
8: B
9: C
10: D
11: B
12: D
13: A
14: E
15: C
16: C
17: D
18: C
19: E
20: E