OS AVÓS QUE NÃO QUEREM SER EXPLORADOS
Em playgrounds de parques, é comum se ver, durante as tardes de dias de semana, avós cuidando dos
netos após a escola. A imagem pode ser bonita e tocante, transmitindo a impressão de que essas avós ou
esses avôs gostam de cuidar dos netos e estão felizes em poder ajudar seus filhos nessa tarefa. Mas a
imagem engana.
Catarina Campos comunicou aos quatro filhos sua indisposição em passar a velhice cuidando de
neto(s), quando eles começaram a ter parceiros estáveis. Para essa mulher de 67 anos, uma coisa é
ajudar os filhos quando surge um problema específico e outra é cuidar dos netos em tempo integral,
diariamente.
"Se um dia eles não puderem e precisarem que eu vá buscar a criança na escola, por exemplo, não há
problema. Mas pegar o neto de manhã e ficar com ele o dia todo até os pais voltarem do trabalho,
definitivamente, não é correto, porque eu tenho a minha vida e quero aproveitar o meu tempo agora
que me aposentei", afirma.
"Tenho visto avós que vão buscar os netos de manhã, os levam à escola, dão alimentação e, às vezes, até
os filhos saem de férias e deixam os pequenos com eles", acrescenta sobre idosos que passam a ser os
principais cuidadores dos netos.
Embora admita que seus filhos gostariam de poder contar mais com ela, eles não reagiram mal diante
de sua negativa. "Pra mim, isso de deixar o filho comigo e aproveitar a vida não é justo. Só tenham
filhos se puderem cuidar deles! A minha obrigação eu já cumpri!", diz Catarina.
Ela critica a suposição, que muitos têm, de que "você pode ter filhos, que os avós cuidarão deles".
"Há avós que estão, praticamente, criando os netos", ela diz.
Catarina tem muitas amigas que, assim como ela, se recusam a cuidar dos netos o tempo todo, mas
também conhece avós que, pressionados pelos filhos, cuidam dos netos em tempo integral.
Nem todos têm a força de Catarina em estabelecer limites.
Avós autônomos, que curtem a vida e aproveitam o tempo do qual dispõem, que não querem assumir a
responsabilidade de cuidar dos filhos dos filhos, costumam ser vistos como egoístas. No entanto, é
importante lembrar que priorizar o próprio conforto e bem-estar em detrimento das necessidades dos
filhos é um direito daqueles que, por muitos anos, já trabalharam, cumprindo com suas obrigações, os
quais merecem gozar de paz e tranquilidade.
É legítimo o direito de uma velhice digna e saudável, podendo usufruir do tempo que o não ter de
trabalhar proporciona.
Não é justo que recaia sobre os avós, por vezes cansados e com limitações quanto à saúde inerentes à
idade, a obrigação de assumir o cuidado de netos, uma vez que aqueles já honraram com sua
obrigação. Igualmente, não é justo que os filhos cuidem de seus irmãos, o que pode comprometer a
infância.