Leia o trecho da entrevista a seguir, concedida pelo
historiador Leandro Karnal, e responda à questão:
Quais são hoje as grandes questões da
humanidade, inerentes à nossa época?
O ser humano está associado ao consumo,
a vida adquiriu uma dimensão virtual, imagem
é tudo, o outro é perigoso, família é meu centro,
esforço resolve qualquer questão, o melhor virá
logo em seguida se eu me sacrificar, informação
virou conhecimento, tecnologia resolve, juventude
será eterna, a vida pode ser controlada. Isto é
quase toda a nossa filosofia atual.
O senhor acredita que hoje as pessoas
estão tentando buscar o sentido da vida de uma
forma diferente? Há uma retomada às tentativas de
se compreender melhor?
Existem pessoas que se perguntam pela
árdua questão do sentido da vida. Mas, a maioria
busca a satisfação de necessidades rápidas
como o consumo. O mais desafiador seria pensar,
“sartreanamente”, que a vida em si não apresenta
um sentido prévio, mas que devemos descobrir
algo a partir da nossa realidade, pois a existência
precede a essência.
O desejo pela felicidade é uma constante
dos nossos tempos? Por que é importante falar
sobre a busca pela felicidade hoje?
Não. Ele é um projeto essencialmente
burguês do século XIX. A felicidade neste mundo
não era o foco da maioria das civilizações anteriores.
Como nós a entendemos, hoje, felicidade é um
grande projeto de classe média (que atinge gente
de todas as classes) que deve apresentar uma
vida integral, plena, com saúde, estrutura familiar,
bem sucedida e cheia de controles. Felicidade é
um projeto de classe média e isto marca todo o
aconselhamento sobre felicidade disponível nas
redes. Aristocratas e proletários pensam e agem
por outro caminho.
(Entrevista realizada pela ISTO É, 2016.)